XIII
Parte
CONCÍLIO DE TRENTO
(1543-1563)
XIX CONCÍLIO ECUMÊNICO
(CONTRA OS INOVADORES DO SÉCULO XVI)
Sessão XIV (25-11-1551)
Doutrina sobre a Penitência
Cap. 7. — A
reservação de casos
Cap. 8. — A
necessidade e o fruto da satisfação
904.
Enfim, no que diz respeito à satisfação, a qual, como todas as demais partes da Penitência, de um lado sempre foi em todo o tempo recomendada ao povo cristão
pelos nossos Santíssimos Padres, por outro lado nesta nossa idade, sob o
pretexto de piedade, é impugnada por aqueles que têm aparências de piedade,
porém negaram a sua virtude (2 Tim 3, 5), declara o santo Concilio ser
totalmente falso e alheio à palavra de Deus afirmar que o Senhor nunca perdoa a
culpa, sem que também se perdoe toda a pena [cân. 12 e 15]. Claros são os
exemplos que se acham nas Sagradas Letras, com o que, além da Tradição divina,
manifestamente se evidencia e se refuta este erro (cfr. Gen 3, 16 ss; Num 12,
14 s; 20, 11 s; 2 Rs 12, 13 s, etc.). E na verdade, a razão da justiça divina
parece requerer que de um modo diverso recebam do Senhor a graça os que por
ignorância pecaram antes do Batismo, e de outro os que, uma vez libertados da
escravidão do pecado e do demônio, e tendo recebido o dom do Espírito Santo,
cientes do que fazem, não recearam violar o templo de Deus (1 Cor 3, 17)
e contristar o Espirito Santo (Ef 4, 30). E também convém à divina
clemência que os pecados não nos sejam perdoados sem alguma satisfação, a fim
de que, apresentando-se a ocasião (Rom 7, 8), julgando esses pecados
leves, não caiamos em maiores culpas, [mostrando-nos] injuriosos e contumeliosos
ao Espirito Santo (Heb 10, 29), entesourando assim ira para o dia da ira
(Rom 2, 5; Tg 5, 3). Estas penas satisfatórias servem certamente para apartar
sumamente do pecado e constituem como que um freio a reprimir os penitentes,
fazendo-os mais acautelados e vigilantes para o futuro; curando também os
remanescentes do pecado com atos de virtude contrários aos hábitos viciosos que
adquiriram vivendo mal. Nem jamais na Igreja de Deus se entendeu haver caminho
algum mais seguro para apartar o iminente castigo do Senhor, do que praticarem
os homens estas obras de penitência com verdadeira dor de alma (Mt 3, 28; 4,
17; 11, 21, etc.). A isto acresce que, quando satisfazemos padecendo pelos
pecados, fazemo-nos conformes a Cristo Jesus, que satisfez pelos nossos pecados
(Rom 5, 10; l Jo 2, 1 s), do qual procede toda a nossa suficiência
(2 Cor 3, 5), recebendo daqui um certíssimo penhor de que, se padecemos com
ele, com ele seremos glorificadas (cfr. Rom 8, 17). Nem se deve dizer que
esta nossa satisfação, com que pagamos pelos nossos pecados, é tal, que não
seja por Cristo Jesus; pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, tudo
podemos com a cooperação daquele que nos conforta (cfr. Filip 4,
13). E assim não tem o homem de que se gloriar, mas toda a nossa glória
(cfr. l Cor l, 31; 2 Cor 10, 17; Gal 6, 14) está em Cristo, em que vivemos e
em quem nos movemos (cfr. At 17, 28), em quem satisfazemos, produzindo
dignos frutos de penitência (Lc 3, 8), que dele tiram a sua virtude, por
ele são oferecidos ao Pai e por ele aceitos pelo Pai [cân. 13 s].

Cap. 9. — As obras
de satisfação
906.
Ensina ainda [o santo Concílio] ser tão grande a liberalidade da divina
bondade, que não só podemos satisfazer para com Deus Pai por Jesus Cristo, com
as penas que de livre vontade aceitamos em vingança do pecado ou impostas por
arbítrio do sacerdote conforme o delito, mas também — o que é a maior prova de
amor — com castigos temporais infligidos por Deus, se os aceitarmos com
paciência [cân. 13].
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