Nosso Canal

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Discurso de Natal à Cúria Romana: Bento XVI fala sobre a “profunda falsidade” da ideologia de gênero e o diálogo.


DISCURSO
AUDIÊNCIA COM A CÚRIA ROMANA
VATICANO

Sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!

Tradução CN -
Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.

Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Começo pelas viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajeto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um ato que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências econômicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Bento XVI pede aos teólogos “adesão responsável” ao Magistério da Igreja.

IHU – Bento XVI recebeu, em audiência, os membros da Comissão Teológica Internacional que acabam de realizar sua sessão plenária. O Papa manifestou seu apreço pela mensagem da Comissão, em razão do Ano da Fé, e que “ilustra muito bem a maneira específica como os teólogos, servindo fielmente a verdade da fé, podem participar no esforço evangelizador da Igreja”.
A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 07-12-2012. A tradução é do Cepat.

Essa mensagem retoma as questões do documento “A teologia hoje. Perspectivas, princípios e critérios”, que apresenta, de alguma forma, “o código genético da teologia católica, ou seja, os princípios que definem sua identidade e, portanto, garantem sua unidade na diversidade de suas conquistas (…). Num contexto cultural em que alguns são tentados em privar a teologia de seu status acadêmico, por sua relação intrínseca com a fé ou em prescindir da dimensão crente e confessional da teologia, com o risco de confundi-la com as ciências religiosas, esse documento relembra oportunamente que a teologia é confessional e racional, de modo inseparável, e que sua presença dentro da instituição acadêmica garante uma visão ampla e integral da própria razão humana”.

Entre os critérios da teologia católica, o Papa destacou que o documento menciona a atenção que os teólogos devem reservar ao “sensus fidelium”. “O Concílio Vaticano II, reafirmando o papel específico e insubstituível que compete ao Magistério, sublinhou, no entanto, que todo o Povo de Deus participa na função profética de Cristo (…). Este dom, o “sensus fidei”, é para o crente uma espécie de instinto sobrenatural, que possui uma conaturalidade vital com o próprio objeto da fé (…), e um critério para discernir se uma verdade pertence ou não ao depósito vivo da tradição apostólica. Também tem um valor proporcional porque o Espírito Santo não cessa de falar às Igrejas e de levá-las à verdade inteira”.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Atentado contra a Virgem negra de Czestochowa, símbolo nacional da Polônia.


Por Religión en Libertad | Tradução: Fratres in Unum.com – Neste domingo [dia 9] pela manhã um homem de 58 anos tentou danificar o ícone da Virgem negra de Czestochowa, que está sob a custódia do mosteiro de Jasna Gora, no sul da Polônia.

O agressor arremessou um objeto contra a imagem, que é muito venerada por todos os poloneses e, após o pontificado de João Paulo II, que a visitou várias vezes como Papa, também por milhões de católicos em todo o mundo.
“Os vigias do mosteiro reagiram imediatamente e detiveram o homem, entregando-o às autoridades”, explicou a porta-voz da polícia local de Czestochowa, Joanna Lazar.

Segundo informações, a imagem da Virgem, protegida por um cristal, não sofreu danos, embora alguns dados indiquem que o objeto lançado teria sido um vasilhame de tinta preta. Ainda não se sabe as motivações do homem detido.

O ícone chegou ao país em 1382 proveniente de Bizâncio e, desde então, forma parte da identidade nacional polonesa, sendo-lhe atribuídos numerosos milagres.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nem todos estão capacitados para a guerra

Por São João de Ávila, segundo sermão da Epifania.
Os que não acabaram

Vinham os magos, decididos. Quem não se decide a servir a Deus por toda a vida ou morrer à sua procura não está capacitado para a guerra. Deus ordenava aos israelitas que, à hora de entrarem em combate numa guerra, se anunciasse por meio de um arauto que todos os que estivessem construindo uma casa e ainda não a tivessem acabado, e todos os que tivessem plantado uma vinha e ainda não tivesse colhido os frutos, e todos os casados e todos os medrosos - voltasse para suas casas (Deut 20, 5 e segs.; 1 Mac 3, 56 e Jz 7, 3). 

- "Padre, que quereis dizer com isso?" Que nem todos estão capacitados para a guerra. Porque dirás: - "Não acabei o que estava fazendo". Tereis o corpo na guerra e o coração em casa (cf. t 6, 21). Esses são os homens sobrecarregados com as ocupações da vida: - "Que farei, que comerei, como sustentarei os meus filhos?" (cf. Mt 6, 25 e 31). Julgais que, preocupando-vos em demasia, conseguireis manter-vos. Infeliz o homem que não se apoia em Deus, mas que vive pensando se choverá muito ou se não choverá! 

Dou-te este sinal para que vejas se estás apoiado em Deus: se nas dificuldades te afliges, se nos sofrimentos te encolhes, não estás apoiado em Deus. Na hora da angústia me reconfortastes (Sl 4,2), diz Davi. - "Não posso Eu sustentar-te sem a chuva?", diz-te o Senhor. Aquele que se apóia em Deus não se deixa abater nem pelos sofrimentos, nem pelas angústias, nem pela morte, nem pelo inferno. Quem não se apóia n'Ele, quanto medo sente, como anda preocupado. 

Disse Jesus Cristo: Não vos preocupeis pela vossa vida, nem pelo vosso corpo, nem pelo que vestireis (Mt 6, 25-31). Estais tão cheios de preocupações com o muito comer e beber que, se a palavra de Deus entrar nos vossos corações, um minuto depois será sufocada! (cf. Mt 13,22). Trabalhai e ganhai o suficiente para comer, que Deus assim o quer, mas essas preocupações e angústias desmedidas são sinal de que não estais apoiados em Deus. Quem se encontra nesse estado não irá para a guerra. 

Os sensuais e os medrosos

Em segundo lugar, os casados, que aqui quer dizer os sensuais. Diz o sábio: Qualquer palavra sábia, ouvida por um homem sensato, será louvada por ele e dela se aproveitará. Que a ouça um luxurioso, e lhe parecerá desagradável e a arremessará para trás das costas (Ecli 21, 18). Não há pecado que mais entorpeça a alma do que este. Jovem lascivo, olha que dentro em pouco essa tua carne será alimento para vermes e se transformará em cinzas. Podes retirar-te: não irás para a guerra. 

Em terceiro lugar, estão os medrosos, os que se preocupam com o que se pode dizer deles. Observamos à esposa: - "Tens dez saias e a tua irmã apenas uma; tens seis mantilhas e a tua irmã apenas uma, com a qual vai à missa. Isso não é fraternidade: não pareces acreditar que Jesus Cristo está no pobre. Vende essa saia, contenta-se com uma ou duas, e com as outras compra para a tua irmã". - "Mas que dirão os outros de mim? Compreendo que o que me mandas é bom, mas queres que eu pareça a empregada das outras? Se as minhas amigas fizessem o mesmo, eu também o faria".

Ó louca! Como vives, com o mundo ou com Deus? Depois, ireis a Deus, dizendo: - "Paga-me". E o Senhor te dirá: - "Os serviços que me prestastes, Eu vo-los pagarei, mas os que andastes prestando ao meu inimigo, como quereis que vo-los pague?"

É difícil encontrar quem ande só. E se é para ir só, então é melhor ir por onde foi Jesus Cristo. Não pelas pompas, jóias ou brocados, embora por aí sigam muitos reis. Não ousarás ir de mãos dadas com Jesus Cristo por onde Ele foi? É impossível que quem abriu uma conta com o mundo tenha outra aberta com Deus. Ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6, 24 e Lc 16, 13). Quem é amigo deste mundo por isso mesmo tornou-se inimigo de Deus. O medroso diz: - "Dirão que sou um hipócrita!" Deves procurar a Deus com decisão, aconteça o que acontecer. Cortem-lhe a cabeça, que nem assim o abandonarei. 

Disse Jesus Cristo: O que vos é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados (Mt 10, 27). É com esta condição que Deus te dá a conhecer a verdade: que digas em público o que te disseram em segredo. Gostaríeis de ser como aqueles de quem fala São Paulo que retêm a verdade na injustiça? (Rom 1, 18). Quem tem a verdade e não a confessa nem se comporta de acordo com ela está prendendo a verdade na injustiça. Onde está o rei dos judeus? Nós já o conhecemos. Devemos professar esta verdade custe o que custar. Vede como é o mundo: os reis magos vêm de longe à procura do Salvador, e os que estão na terra d'Ele nem se dão conta da Sua presença. 

Livro: O mistério do Natal, São João de Ávila.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Por que numa manjedoura?


Por São João de Ávila, Sermão de Natal.
Pregado no dia de Santo Estevão (26 de dezembro)

E o reclinou numa manjedoura (Lc 2, 7).

Por que numa manjedoura? Precisamos da luz de Deus para compreendê-lo. 

Minha Mãe, mais terna que todas as mães, por que tiraste o Menino dos Vossos braços e O colocaste na manjedoura? Não vês que aí não há almofadas? Senhora, não estava mais quente e mais aconchegante nos Vossos braços do que na dura manjedoura? Então por que O colocaste aí? Porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2, 7). Que condenação das minhas riquezas, dos meus prazeres e dos meus desvarios! 
 
Senhor, Vós que dais morada aos homens e ninhos às aves, Vós que a todos recebeis, não tendes um lugar para Vós mesmo? Se não havia lugar na hospedaria, não haveria lugar no Vosso regaço, Senhora? Vós valeis mais que os palácios, que os homens e os anjos; mais contente está Ele nos Vossos braços do que em palácios ou mesmo nos céus. Não havia lugar no Vosso colo? Dizei-nos, pelo amor que tens ao Vosso Filho, por que O tirastes do Vosso regaço e O colocaste na manjedoura.

Grave-se isto nos vossos corações: tudo o que a Virgem Maria fez com o Seu Filho foi por graça e iluminação do Espírito Santo. Assim como o concebeu pelo Espírito Santo, assim também aprendeu d'Ele a cuidar do Seu Filho. Essa mesma graça nos é necessária, tanto para que Cristo entre nas nossas almas como para que possamos conservá-lO e não O percamos. Mas continuamos a perguntar: Senhora, por que o tiraste dos Vossos braços e O colocaste na manjedoura? 

Para me curar. 

O próprio Filho, pela ação do Espírito Santo, A inspirou a colocá-lO na manjedoura. E já que foi Ele quem A inspirou, perguntemos-Lhe: - "Por que quereis, Menino, sair dos braços da Vossa Mãe e colocar-Vos na manjedoura?" - "Para dar uma grande bofetada na vossa tibieza e frouxidão!"

Não o fez sem causa, e praza a Deus que, tendo agido assim, alcance de nós o que deseja. - "Senhor, por que na manjedoura?" - "Porque Adão, ao pecar, foi jogado no lugar dos animais. O homem que vive da opulência e não reflete é semelhante ao gado que se abate (Sl 48, 21)". Seu criou este mundo para os animais e o paraíso terrestre para os homens. Adão pecou, e por isso vive no lugar dos animais. E porque este Menino veio pagar o mal que Adão cometera, sai do lugar onde estava tão feliz, o ventre de Sua Mãe bendita, e é desterrado para o lugar dos animais. 

Dizei-me: há lugar mais desprezível para um recém-nascido do que uma manjedoura e, depois de crescido, do que uma cruz? Senhor, sabíeis que o homem tem o coração empedernido, e por isso o Alto teve de descer tão baixo, a fim de dizer aos homens que eles se enganam ao procurar riquezas, honras e deleites na terra: "Ou Cristo está enganado" - diz São Bernardo - "ou os homens mentem e se enganam com as suas riquezas e deleites. Ora, é impossível que Cristo se engane, mas os homens enganam-se facilmente"* .

Como podes, homem regalado, continuar a viver entre molícies e deleites, vendo Cristo numa manjedoura?Não te envergonhas, tu que só buscas honrarias? Como podes suportá-lo? Se te lembrares de que Cristo está numa manjedoura, não sentirás vergonha de tanto te enalteceres neste mundo? Ele é o Filho muito amado de Deus Pai, mas quando nasce é numa manjedoura, quando morre é numa cruz! 

In Nativ. Domini sermo, 3, 1; ML 183, 123.

Livro: O Mistério do Natal, São João de Ávila.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Em torno de 300 mártires espanhóis do século XX serão beatificados em outubro de 2013


MADRI, 26 Nov. 12 / 09:32 am (ACI/Europa Press).- A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Espanhola decidiu que a cerimônia de beatificação de mais ou menos 300 mártires do século XX na Espanha, prevista para o dia 27 de outubro de 2013, seja celebrada em Tarragona pela sua grande historia de fé cristã e de mártires, pois os primeiros mártires da história romana, do século III, foram o bispo de Tarragona, São Frutuoso e seus dois diáconos Augurio e Eulogio.
Dom Juan Antonio Martínez Camino
Além disso, o porta-voz e secretário geral da CEE, Dom Juan Antonio Martínez Camino, indicou que 147 mártires dos que serão beatificados são de Tarragona, entre eles está Dom Manuel Borrás, que foi bispo auxiliar da diocese, e 66 sacerdotes diocesanos.

Por isso, o Arcebispo de Tarragona manifestou "seu especial interesse" para que a celebração fosse celebrada ali. Do mesmo modo, apontou que a organização desta beatificação corresponderá ao Escritório para as Causas dos Santos da CEE junto com a diocese anfitriã.

O Plano Pastoral da CEE recolhe como uma das grandes ações, a beatificação dos mártires do século XX na Espanha e se recordam as palavras do Papa Bento XVI quando, ao convocar o Ano da Fé, assinalou que "pela fé, os mártires entregaram sua vida como testemunho da verdade do Evangelho, que os tinha transformado e feito capazes de chegar até o maior dom do amor com o perdão dos seus perseguidores".

Por outra parte, a Assembleia Plenária acordou a constituição de uma 'Junta Episcopal pró V Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus' que se cumprirá em 2015 e que estará formada pelo presidente da CEE, o Bispo de Ávila, o Arcebispo de Sevilha, o Bispo de Salamanca, o Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral, o presidente da Comissão Episcopal de Vida Consagrada e o Secretário geral da CEE.

Esta Junta será a encarregada de traçar os lineamentos gerais das ações que serão realizadas e constituirá mais adiante uma Comissão Executiva, encarregada de coloca-las em prática.

Do mesmo modo, os bispos aprovaram os balanços e liquidação orçamentária do ano 2011 do Fundo Comum Interdiocesano, da Conferência Episcopal e dos organismos que dela dependem.

Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo


HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Basílica Vaticana
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
Domingo, 25 de Novembro de 2012

Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!

A solenidade de Jesus Cristo Rei do universo, que hoje coroa o Ano Litúrgico, vê-se enriquecida com a recepção no Colégio Cardinalício de seis novos membros, que convidei, como é tradição, para concelebrar comigo a Eucaristia nesta manhã. A cada um deles dirijo a minha saudação mais cordial, agradecendo ao Cardeal James Michael Harvey as amáveis palavras que em nome de todos me dirigiu. Saúdo os outros Purpurados e todos os Prelados presentes, bem como as ilustres Autoridades, os Senhores Embaixadores, os sacerdotes, os religiosos e todos os fiéis, especialmente quantos vieram das dioceses que estão confiadas ao cuidado pastoral dos novos Cardeais.

Neste último domingo do Ano Litúrgico, a Igreja convida-nos a celebrar Jesus Cristo como Rei do universo; chama-nos a dirigir o olhar em direcção ao futuro, ou melhor em profundidade, para a meta última da história, que será o reino definitivo e eterno de Cristo. Estava com o Pai no início, quando o mundo foi criado, e manifestará plenamente o seu domínio no fim dos tempos, quando julgar todos os homens. As três leituras de hoje falam-nos desse reino. No texto evangélico que ouvimos, tirado do Evangelho de São João, Jesus encontra-Se numa situação humilhante – a de acusado – diante do poder romano. Foi preso, insultado, escarnecido, e agora os seus inimigos esperam obter a sua condenação ao suplício da cruz. Apresentaram-No a Pilatos como alguém que aspira ao poder político, como o pretenso rei dos judeus. O procurador romano faz a própria investigação e interroga Jesus: «Tu és rei dos judeus?» (Jo 18, 33). Na resposta a esta pergunta, Jesus esclarece a natureza do seu reino e da própria messianidade, que não é poder terreno, mas amor que serve; afirma que o seu reino de modo algum se confunde com qualquer reino político: «A minha realeza não é deste mundo (...) o meu reino não é de cá» (v. 36).

É claro que Jesus não tem nenhuma ambição política. Depois da multiplicação dos pães, o povo, entusiasmado com o milagre, queria pegar n’Ele e fazê-Lo rei, para derrubar o poder romano e assim estabelecer um novo reino político, que seria considerado como o reino de Deus tão esperado. Mas Jesus sabe que o reino de Deus é de género totalmente diverso; não se baseia sobre as armas e a violência. E é justamente a multiplicação dos pães que se torna, por um lado, sinal da sua messianidade, mas, por outro, assinala uma viragem decisiva na sua actividade: a partir daquele momento aparece cada vez mais claro o caminho para a Cruz; nesta, no supremo acto de amor, resplandecerá o reino prometido, o reino de Deus. Mas a multidão não entende, fica decepcionada, e Jesus retira-Se para o monte sozinho para rezar, para falar com o Pai (cf. Jo 6, 1-15). Na narração da Paixão, vemos como os próprios discípulos, apesar de terem partilhado a vida com Jesus e ouvido as suas palavras, pensavam num reino político, instaurado mesmo com o uso da força. No Getsêmani, Pedro desembainhara a sua espada e começou a combater, mas Jesus deteve-o (cf. Jo 18, 10-11); não quer ser defendido com as armas, mas deseja cumprir a vontade do Pai até ao fim e estabelecer o seu reino, não com as armas e a violência, mas com a aparente fragilidade do amor que dá a vida. O reino de Deus é um reino completamente diferente dos reinos terrenos.

Por isso, diante de um homem indefeso, frágil, humilhado como se apresenta Jesus, um homem de poder como Pilatos fica surpreendido – surpreendido, porque ouve falar de um reino, de servidores – e faz uma pergunta, a seu ver paradoxal: «Logo, Tu és rei!». Que tipo de rei pode ser um homem naquelas condições!? Mas Jesus responde afirmativamente: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz» (18, 37). Jesus fala de rei, de reino, referindo-Se não ao domínio mas à verdade. Pilatos não entende: poderá haver um poder que não se obtenha com meios humanos? Um poder que não corresponda à lógica do domínio e da força? Jesus veio para revelar e trazer uma nova realeza: a realeza de Deus. Veio para dar testemunho da verdade de um Deus que é amor (cf. 1 Jo 4, 8.16) e que deseja estabelecer um reino de justiça, de amor e de paz (cf.Prefácio). Quem está aberto ao amor, escuta este testemunho e acolhe-o com fé, para entrar no reino de Deus.

Encontramos esta perspectiva na primeira leitura que ouvimos. O profeta Daniel prediz o poder de um personagem misterioso colocado entre o céu e a terra: «Vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído» (7, 13-14). São palavras que prevêem um rei que domina de mar a mar até aos confins da terra, com um poder absoluto, que nunca será destruído. Esta visão do profeta, uma visão messiânica, é esclarecida e realiza-se em Cristo: o poder do verdadeiro Messias – poder que não mais desaparece e nunca será destruído – não é o poder dos reinos da terra que surgem e caem, mas o poder da verdade e do amor. Assim entendemos como a realeza, anunciada por Jesus nas parábolas e revelada aberta e explicitamente diante do Procurador romano, é a realeza da verdade, a única que dá a todas as coisas a sua luz e grandeza.
 
Na segunda leitura, o autor do Apocalipse afirma que também nós participamos na realeza de Cristo. Na aclamação dirigida «Àquele que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue», declara que Ele «fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e seu Pai» (1, 5-6). Aqui está claro também que se trata de um reino fundado na relação com Deus, com a verdade, e não de um reino político. Com o seu sacrifício, Jesus abriu-nos a estrada para uma relação profunda com Deus: n’Ele tornamo-nos verdadeiros filhos adoptivos, participando assim da sua realeza sobre o mundo. Portanto, ser discípulos de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus. Depois o autor do Apocalipse estende o olhar até à segunda vinda de Jesus – quando Ele voltar para julgar os homens e estabelecer para sempre o reino divino – e recorda-nos que a conversão, como resposta à graça divina, é a condição para a instauração desse reino (cf. 1, 7). É um vigoroso convite dirigido a todos e cada um: converter-se sem cessar ao reino de Deus, ao domínio de Deus, da Verdade, na nossa vida. Pedimo-lo diariamente na oração do «Pai nosso» com as palavras «Venha a nós o vosso reino», que equivale a dizer a Jesus: Senhor, fazei que sejamos vossos, vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que em Vós tudo se submeta ao Pai da misericórdia e do amor.

A vós, amados e venerados Irmãos Cardeais – penso de modo particular àqueles que foram criados ontem –, se confia esta responsabilidade impelente: dar testemunho do reino de Deus, da verdade. Isso significa fazer sobressair sempre a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes. Fazei-vos imitadores de Jesus, que diante de Pilatos, na situação humilhante descrita pelo Evangelho, manifestou a sua glória: a glória de amar até ao fim, dando a própria vida pelas pessoas amadas. Esta é a revelação do reino de Jesus. E por isso, com um só coração e uma só alma, rezemos: «Adveniat regnum tuum». Amen.



© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana

domingo, 25 de novembro de 2012

Carta da IDSC: Nossa vida na Cruz de Jesus


 IRMANDADE DOS DEFENSORES DA SAGRADA CRUZ
IDSC

Carta aos amados irmão
na fé em Cristo Jesus
02-10-2012

Amados irmãos na fé e na esperança Naquele que foi elevado na Cruz e desta forma nos atraiu para Ele (Cf. Jo 12, 32). Por Ele, Jesus Cristo, fomos santificados e chamados a deixar todo o pecado a fim de sermos santos e irrepreensíveis diante de Deus (Ef. 1,4).

Caríssimos, foi pela Cruz que Nosso Senhor se dignou salvar-nos e glorificar ao Pai Celeste. Foi através deste sinal que Ele, Jesus Cristo, nos demonstrou o seu infinito e terno amor. Fez da Cruz o seu trono e dos espinhos sua coroa, seu manto real foi a nudez de um corpo chagado, pois Ele fez do escândalo da Cruz a nossa salvação.
Irmãos é pelo grandioso sinal (da Cruz) e pelo amor que temos a Aquele que neste sinal foi suspenso, que somos chamados de defensores da Sagrada Cruz, pois vemos na Cruz mais do que um pedaço de madeira, vemos sim nela, o estandarte visível da Vitória de Cristo sobre o pecado. É na Cruz, árvore da Vida, que encontramos o fruto da salvação, Jesus Cristo.

É esta realidade que defendemos a realidade que fomos salvos por Cristo e que fomos restaurados e chamados a uma vida nova. Vida esta, onde já não deverá existir mais espaço para o pecado. Pelo batismo somos chamados de filhos de Deus, e assim o somos verdadeiramente por meio de Cristo. Como filhos de Deus já não pertencemos ao mundo nem as trevas, entretanto devemos apresentar este Cristo ao mundo, sempre que possamos sobretudo, pelo nosso testemunho de vida (1Ts 5,5).

 Nós como filhos de Deus já não vemos a Cruz como o mundo a vê, a vemos como a síntese de nossa fé, pois é nela que Jesus mostra a sua verdadeira humanidade iniciada na encarnação e é por meio dela, que contemplamos a glorificação de Cristo na ressurreição. Foi pela Cruz que Jesus se fez obediente a vontade do Pai, se despojando de toda sua dignidade Divina por amor a nós pobres. É também pela Cruz, seguindo seus passos, que nós seus filhos devemos ser obedientes a Ele. Desta forma, nossas vidas devem ser vividas na Cruz como um perene sacrifício oferecido à Deus, unindo nossas pequenas cruzes a Cruz de Cristo, oferecendo à Deus o nosso sacrifício imperfeito em união ao único e verdadeiro sacrifício perfeito e agradável aos alhos de Deus, oferecido por Jesus e renovado a cada Missa que se celebra.

Esta união do sacrifício de Cristo com o nosso, só é possível pelo batismo que recebemos e se torna presente ao assistirmos a Santa Missa, assim pertencemos já aqui na terra do Reino de Cristo e agora nos cabe sermos coerente e levar este reino a mais corações. Para sermos coerentes é necessária, a busca da configuração com Cristo, renunciando ao mundo e as seduções de Satanás e tomando a cada dia a cruz com alegria e amor (Mc 8, 34).   

É perceptível o quanto o sinal salvífico da Cruz foi e é um sinal que causa a muitos um desconforto e até uma hostilidade ferrenha, que se manifesta em atos pessoais ou públicos, que visam tornar tal sinal esquecido e visto como ultrapassado.  Cabe a nós sermos propagadores e anunciadores da Cruz de Nosso Senhor Jesus, primeiramente com nossas vidas e é através desta vivência que nosso apostolado terá força na Igreja.

Lembro-vos, pois que este sinal é um caminho árduo por três motivos: colocamos em primeiro lugar, nós mesmos, ou seja, essa entrega pessoal diária feita por amor e no amor a Deus esvaziar-se de si mesmo e deixar-se encher de Cristo e em sua imitação constante (Cf. 2Cor 5, 17). Em segundo lugar, o mundo e suas mentiras que sempre viu na Cruz o escândalo da vida, que pelo amor se faz ablação ao seu Senhor, que pela Cruz vence o mundo e nos chama à com Ele vencer também. "Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo". (Jo 16,33) Em terceiro lugar, a batalha constante contra a antiga serpente – Satanás, que visto por muitos como, inexistente, continua a operar e perder as almas e que em tudo quer nos vencer pelo pecado. Aqui volta a necessidade de abandonarmo-nos em Deus e renunciar minuto a minuto nossas próprias paixões e tendências. É através desta confiança em Deus que atingiremos pouco a pouco essa semelhança com Jesus.

Para concluir exorto-vos amados irmãos que nossas vidas tornem-se cada vez mais um reflexo mais límpido da vida de Cristo, amando a Igreja como Ele mesmo a amou. Que o nosso nome de defensores da Sagrada Cruz não se perca no poético e utópico, mas que se torne real aos olhos de Deus e dos homens, por meio do combate espiritual constante, pelo ardor de levar o amor de Cristo aos corações e pela defesa perseverante e militante da Fé verdadeira que se encontra na Única Igreja de Cristo.

Que a defesa da Fé se faça na verdadeira caridade aos irmãos e para a Maior Gloria de Deus e salvação das almas.

Fraternalmente em Cristo Jesus, do qual me fiz eternamente servo.


Sem. Pedro Afonso Tavares Lins
Diretor gera da
 IDSC

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sandro Magister: Bento XVI sempre considerou um engano dizer "Igreja pecadora"


ROMA, (ACI).- O vaticanista Sandro Magister afirmou em um recente artigo que o termo "Igreja pecadora" nunca foi considerado certeiro pelo Papa Bento XVI, pois embora esta fórmula esteja de moda, é alheia à tradição cristã.

Magister se referiu ao artigo do L'Osservatore Romano sobre o encontro entre o Papa e os cardeais por seu quinto aniversário de eleição pontifícia, e no qual o jornal escreveu que "o Pontífice tem feito referência aos pecados da Igreja, recordando que ela, ferida e pecadora, experimenta mais o consolo de Deus".

Entretanto, adverte Magister, "é duvidoso que 
Bento XVI tenha se expressado dessa maneira. A fórmula ‘Igreja pecadora’ nunca foi dele. E sempre a considerou equivocada".

Como exemplo, citou a homilia da Epifania de 2008, onde "definiu a Igreja de um modo totalmente distinto: ‘Santa e composta por pecadores’".

"E se examinarmos bem encontraremos que ele sempre a definiu desse modo. Ao final dos exercícios de 
Quaresma de 2007, Bento XVI agradeceu ao pregador –que esse ano havia sido o Cardeal Giacomo Biffi– ‘por haver-nos ajudado a amar mais a Igreja, a 'immaculata ex-maculatis', como nos ensinaste com (citando) São Ambrósio’".

A expressão "immaculata ex-maculatis", explica o vaticanista, "está em uma passagem do comentário de São Ambrósio ao Evangelho do Lucas" e significa "que a Igreja é Santa e sem mancha, mesmo quando acolhe nela homens manchados de pecado".

Magister explicou que o Cardeal Biffi publicou em 1996 um ensaio dedicado a este tema e que continha no título "uma expressão mais ousada ainda, aplicada à Igreja: ‘Casta meretrix’, meretriz casta"; fórmula usada pelo "catolicismo progressista" para dizer "que a Igreja é Santa ‘mas também pecadora’ e deve sempre pedir perdão pelos ‘próprios’ pecados"; e que Hans Küng afirma que foi usada "frequentemente desde a época patrística".

"Frequentemente? Pelo que sabemos, em todas as obras dos Padres, a fórmula só aparece uma vez: no comentário de são Ambrósio ao Evangelho do Lucas. Nenhum outro Padre latino ou grego jamais a usou, nem antes nem depois", esclareceu Magister. 

O vaticanista acrescentou que São Ambrósio aplicou este termo em relação à simbologia de Raabe, a prostituta de Jericó que "hospedou e salvou em sua própria casa a uns israelitas fugitivos"; e que já antes deste Padre da Igreja, tinha sido vista como "protótipo" da Igreja. "A fórmula ‘fora da Igreja não existe salvação’, nasceu precisamente do símbolo da casa salvadora de Raabe", explicou Magister.

O Cardeal Biffi, indicou Magister, explicou que a expressão casta meretrix, "longe de aludir a algo pecaminoso e reprovável, quer indicar (…) a santidade da Igreja. Santidade que consiste tanto na adesão sem hesitações e sem incoerências a Cristo seu esposo ('casta') como na vontade da Igreja de alcançar a todos para levar a todos à salvação ('meretrix')".

O vaticanista sublinhou que o fato de que "aos olhos do mundo a Igreja possa aparecer ela mesma manchada de pecados e golpeada pelo desprezo público, é uma sorte que remete à de seu fundador Jesus, que também foi considerado um pecador pelas potências terrenas de seu tempo". 

Entretanto, recordou que a Igreja é Santa por seu fundador e por isso pode acolher "os pecadores e sofrer com eles pelos males que padecem e curá-los". "Em dias calamitosos como os atuais, cheios de acusações que querem invadir precisamente a santidade da Igreja, esta é uma verdade que não se deve esquecer", afirmou.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anglicanos rejeitam a ordenação de mulheres bispo


LONDRES, 21 Nov. 12 / 01:23 pm (ACI/EWTN Noticias).- O sínodo dos anglicanos na Inglaterra rejeitou ontem a ordenação de mulheres "bispos", postura que era apoiada pelo arcebispo de Canterbury e líder máximo da comunhão anglicana, Rowan Williams, e pelo seu recentemente designado sucessor, Justin Welby.

Para ser aceita, a proposta devia obter o apoio de dois terços do Sínodo Geral dos anglicanos. Embora tenha passado pelos bispos e pelos membros do clero anglicano, não teve o respaldo dos leigos.

Conforme assinala a BBC de Londres, "o debate sobre a nomeação de mulheres bispo é um dos temas que provocou mais divisões no seio da Igreja Anglicana que já votou a favor de ordenar mulheres sacerdotes faz 20 anos".

A comunhão anglicana sofreu uma importante ruptura interna logo depois que algumas de suas comunidades, como a igreja episcopal dos Estados Unidos, aprovassem a ordenação de bispos homossexuais e mulheres "bispos".

Em novembro de 2009, o Papa Bento XVI publicou a constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, na qual estabelece a forma como os anglicanos, que assim o queiram, possam ingressar na comunhão plena da Igreja Católica.

Em 15 de janeiro de 2011, a Santa Sé anunciou a criação oficial do Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham para a Inglaterra e Gales, como "uma estrutura canônica que permite uma reunião corporativa de tal modo que os ex-anglicanos podem ingressar na plena comunhão com a Igreja Católica preservando elementos de seu patrimônio anglicano".

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Aquela que acreditou em virtude da fé, também pela fé concebeu


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 25,7-8: PL 46,937-938)
(Séc.V)

Prestai atenção, rogo-vos, naquilo que Cristo Senhor diz, estendendo a mão para seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12,49-50). Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente. 
Vede se não é assim como digo. O Senhor passava acompanhado pelas turbas, fazendo milagres divinos, quando certa mulher exclamou: Bem-aventurado o seio que te trouxe. Feliz o ventre que te trouxe! (Lc 11,27) O Senhor, para que não se buscasse a felicidade na carne, que respondeu então? Muito mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lc 11,28). Por conseguinte, também aqui é Maria feliz, porque ouviu a palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade na mente mais do que a carne no seio. Verdade, Cristo; carne, Cristo; a verdade-Cristo na mente de Maria; a carne-Cristo no seio de Maria. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.

Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!

Portanto, irmãos, dai atenção avós mesmos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede de que modo o sois. Diz: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12,49). Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe (cf. Mt 12,50). Pensai: entendo irmão, entendo irmã; é uma só a herança, e é essa a misericórdia de Cristo que, sendo único, não quis ficar sozinho; quis que fôssemos herdeiros do Pai, co-herdeiros seus.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Para debate — Terminologia: “Forma Extraordinária” é um nome aceitável? E será que é o nome oficial?


Por Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com
Nunca pensamos que seria necessário escrever isso, uma vez que ambos os aspectos de que trataremos parecem ser óbvios, e parecem ter sido óbvios desde 2007. Assim, há tantos mal-entendidos com relação á expressão “Forma Extraordinária“, que nos sentimos compelidos a esclarecer dois pontos.
  
(1) Por que o nome “Forma Extraordinária” foi introduzido pelo Santo Padre no motu proprio Summorum Pontificum? Resposta: a fim de resolver um enigma da legislação litúrgica.

Tradicionalmente, ao longo da história da Igreja – pelo menos desde que a diferenciação dos ritos tornou-se clara e vinculada a patriarcados e áreas geográficas específicas – padres bi-ritualistas têm sido excepcionais. Eles ainda são uma exceção. Além disso, o Papa sentiu a necessidade de finalmente desfazer a injustiça que havia se perpetuado – e defendida pela maioria dos canonistas – desde o advento da Constituição Apostólica Missale Romanum, de Paulo VI (1969), que criou o Novus Ordo Missae: ele, e os documentos anteriores e subsequentes que modificaram todos os ritos de sacramentos, ab-rogaram o Rito Romano Tradicional?

O uso do termo “forma” resolveu ambos os problemas: ele não fez com que todos os padres na Igreja Latina, incluindo a vasta maioria de padres seculares, se tornassem imediatamente bi-ritualistas (na lei), o que seria bastante não tradicional; e, mais importante, ele resolveu o aparente problema da impossibilidade da ab-rogação de um rito litúrgico de origem imemorial. (Esse era um problema aparente porque, conforme o Papa deixou implícito ao dizer que “Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial,” os Ritos e Usos litúrgicos imemoriais da Igreja Latina não poderiam e não podem simplesmente ser ab-rogados) Em certo sentido, é um artifício, uma construção intelectual nobre, uma vez que a celebração comum da Missa Tradicional em Latim e a Missa Novus Ordo parecem expressar dois ritos muito distintos – mas o uso de tais construções legais é bastante comum no direito, e não há nada imoral nisso. O uso da terminologia esclareceu que a celebração da Missa Tradicional é um rito solene de cada padre na Igreja Latina.

(2) Apesar disso, a expressão “Forma Extraordinária” NÃO é o nome “oficial” do Rito Romano Tradicional. Este é apenas uma das muitas maneiras de se referir a ele. Na realidade, como podemos perceber, nos muitos textos dos documentos oficiais, vários nomes diferentes são utilizados para fazer referência ao Rito Romano Tradicional.

O próprio motu proprio fala em suas primeiras palavras do “uso extraordinário” e da “forma antiga” (antiqua forma) do Rito Romano. Em seus artigos, faz-se referência ao “Missal Romano promulgado por São Pio V e repromulgado pelo Beato João XXIII” (ou seja, o Missal de São Pio V também é “oficial” como o “Missal do Beato João XXIII” – não é de se admirar que o Cardeal Navarette-Cortes tenha utilizado o termo em 2008); ela é uma “expressão extraordinária” (extraordinaria expressio), e também “Forma Extraordinária” (forma extraordinaria). Ela também é chamada pelo motu próprio de “tradição litúrgica anterior”.

Os ritos dos sacramentos de acordo com o Ritual Romano Tradicional são caracterizados como de acordo com o ritual mais antigo (Rituale antiquior), e o mesmo adjetivo se aplica ao [rito] Pontifical e à própria forma: forma anterior (forma antiquior).

Todos esses nomes estão incluídos em um breve texto do próprio motu proprio Summorum Pontificum!
 
Na carta aos bispos, menciona-se também a “liturgia romana anterior à reforma de 1970″. O Papa diz na carta que não há “dois ritos” (embora, na carta, ele utilize o nome “rito novo”! – deixando-nos bastante à vontade para também utilizarmos a expressão rito antigo…), mas também utiliza nomes diferentes para ele naquele documento: “uso”, a “Forma anterior”, “missal de 1962″, “Missal antigo”, “tradição litúrgica latina antiga” (a propósito, um nome muito bonito).

Na instrução Universae Ecclesiae, faz-se referência à expressão “forma extraordinária”, mas também há todos os tipos de expressões diferentes: “uso”, “Usus antiquior“, “Missal de 1962”…

Estes são apenas nomes “oficiais” utilizados amplamente nos próprios documentos – sem esquecer a necessidade de clareza que requer um uso contínuo de expressões que estão estabelecidas no vernáculo, como, por exemplo, Missa Tradicional em Latim (MTL) em inglês, e “Missa Tridentina” (mesmo se não particularmente exato) em inglês e em diversas línguas europeias. Sem mencionar o uso muito respeitável (por exemplo, pelo ex-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei Cardeal Castrillon Hoyos) das expressões “Rito Gregoriano” e “Liturgia Romana Clássica”.

PORTANTO: (1) não se sinta, de modo algum, forçado a utilizar o nome Forma Extraordinária, como se ele fosse o único nome aceitável – ele não é nem mesmo o nome exclusivo utilizado nos próprios documentos;

(2) não reclame quando outras pessoas o utilizarem, como se fosse ilegítimo ou inaceitável; se você não gosta dele, tudo bem, apenas não o utilize.