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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Fundações internacionais e as manifestações no Brasil



Padre Paulo Ricardo propõe uma leitura espiritual das numerosas marchas que a população brasileira tem realizado nas grandes cidades. Enquanto os analistas debatem sobre o verdadeiro significado político do descontentamento do povo brasileiro, somos chamados a fazer uma leitura mais profunda dos acontecimentos. Estamos diante de uma "primavera brasileira" ou estas passeatas são, na verdade, as folhas de outono que, varrendo as ruas, prenuncia um rigoroso inverno?

Tratado da Castidade - 6ª Parte - Fim

TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)

6ª Parte
§ VI. DO VOTO DE CASTIDADE


I. Uma alma que consagra a Deus a sua virgindade torna-se uma esposa de Jesus Cristo, e por isso o Apóstolo não hesita em escrever (II Cor 11, 2): "Eu vos desposei com um Esposo, com Cristo, para vos apresentar a Ele como virgem pura". Jesus Cristo mesmo se dá como Esposo das virgens, na parábola das dez virgens: "Saíram ao encontro do Esposo... e entraram com Ele para as núpcias" (Mat 25, 10). O Divino Salvador deixa-se chamar pelos outros fiéis de Mestre, Pastor e Pai; quer, porém, ser chamado de Esposo pelas almas virgens. Esses desponsais com o Senhor, se realizam por meio da fé: "Eu me desposarei contigo pela fé" (Os 2, 20). A virtude da virgindade é um fruto especialíssimo dos merecimentos de Jesus Cristo, e por isso se diz, no Apocalipse (14, 4), que as virgens formam o cortejo do Cordeiro. A Santíssima Virgem revelou a uma alma devota que uma esposa de Jesus Cristo deve, acima de todas as virtudes, amar a pureza, porque ela a torna de modo especial semelhante a seu Divino Esposo. São Bernardo diz que todas as almas justas são esposas do Senhor, "mas de um modo particular vale isso das almas virgens", como nota Santo Antônio de Pádua. Por isso São Fulgêncio chama a Jesus Cristo o Esposo de todas as virgens consagradas a Deus.
 
Uma moça que quer permanecer no mundo e casar-se, se é prudente, se informa com todo o cuidado a respeito dos que solicitam a sua mão, para conhecer o mais digno e o mais capaz de torná-la feliz aqui na terra. A pessoa religiosa, por sua vez, desposa-se, pelos votos, com Nosso Senhor Jesus Cristo. Procuremos a esposa dos Cânticos, que sabe perfeitamente avaliar as qualidades desse Esposo Divino, e perguntemos-lhe: 'Quem é o vosso amado, ó santa esposa? Quem é aquele que possui todo o vosso coração e vos tornou a mais feliz das mulheres?' Ela responde: 'Meu Amado é branco e vermelho: é branco por Sua pureza, e vermelho pela chama do amor em que se abrasa por Sua esposa; em uma palavra, Ele é tão belo, tão perfeito em todas as virtudes, que não há nem pode haver um outro esposo mais nobre ou mais amoroso que Ele'. "Nem quem O iguale em Sua grandeza, nem em Sua beleza, nem em Sua generosidade", diz Santo Euquério. Por isso escreve Santo Inácio de Antioquia: "Aquelas bem-aventuradas virgens, que se consagraram a Jesus Cristo, podem estar certas de que não encontrarão, nem no céu nem na terra, um esposo tão belo, tão nobre, tão rico, tão amável como Aquele que lhes foi dado, Jesus Cristo".

Santa Clara de Montefalco dizia que prezava tanto sua virgindade, que antes quereria sofrer durante toda a sua vida as penas do inferno, do que perder esse valioso tesouro. Com toda a razão, pois, muitas virgens virtuosas renunciaram a casamentos principescos para permanecerem esposas de Jesus Cristo. Santa Joana, infanta de Portugal, renunciou à mão de Luís XI, rei da França; a Beata Inês de Praga, à do imperador Frederico II; Isabel, filha do rei da Hungria e herdeira do reino, à de Henrique, arquiduque da Áustria, e muitas outras procederam do mesmo modo.

Uma virgem que se consagra ao Senhor, diz Teodoreto, está livre de todo o cuidado inútil. Não tem outra coisa a fazer senão entreter-se contínua e familiarmente com Deus. Isso indica o Apóstolo quando diz que a virgem "é santa no corpo e na alma" (I Cor 7, 34); santa no corpo pela castidade, santa no espírito por seu comércio íntimo com Deus. "Se ela não tivesse outra recompensa a esperar, diz Santo Anselmo, só por estar livre dos cuidados seculares e não ter outra obrigação, já deveria ser tida por sumamente feliz". Do que se vê que as virgens não só receberão uma imensa glória no Céu, mas já serão recompensadas antecipadamente aqui na terra, com uma paz inalterável. As virgens que se consagram ao amor de Jesus Cristo, ofertando-Lhe o lírio da pureza do coração, tornam-se tão agradáveis a Deus como os Santos Anjos, - certamente um efeito sublime da castidade virginal. Todas as virgens que buscam a perfeição são esposas queridas de Jesus Cristo, porque Lhe consagraram seu corpo e sua alma, e nada mais buscam nesta vida que agradar-Lhe. São João foi o discípulo amado de Jesus, porque guardou a virgindade. Justamente por esse motivo amava-o Jesus mais que aos outros discípulos, como a Igreja o insinua quando diz: "Foi escolhido como virgem pelo Senhor, e mais amado que todos os outros".

As virgens são chamadas, na Sagrada Escritura, as primícias de Deus: "São virgens; esses seguem o Cordeiro aonde quer que Ele vá. Esses foram comprados dentre os homens, para serem as primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apoc 14, 4). Mas por que são chamados primícias de Deus? O Cardeal Hugo responde: "Como os primeiros frutos são mais agradáveis que os outros, assim também as virgens consagradas a Deus agradam mais ao Coração deste e constituem o objeto de seu especial amor".

Diz-se ainda, na Sagrada Escritura, que o Esposo Divino "se apascenta entre os lírios" (Cânt 2, 16). Esses lírios representam as virgens que conservam sua pureza por amor de Deus. Um expositor nota o seguinte nessa passagem dos Cânticos: "Enquanto o demônio procura a imundície da impureza, Jesus Cristo se apascenta [isto é, descansa,] entre os lírios da castidade".

O que, porém, deve aumentar consideravelmente a nossos olhos o valor da virgindade, é o louvor extraordinário que lhe tece o Espírito Santo, dizendo: "Tudo o que se aprecia não é comparável a uma alma continente" (Ecli 26, 20). Isso mesmo nos deu a entender a Santíssima Virgem, quando disse ao Arcanjo que Lhe anunciava a divina maternidade: "Como se dará isso, se não conheço varão?" (Lc 1, 14). Maria, com essas palavras, mostrou que preferiria renunciar à dignidade de Mãe de Deus, a perder o tesouro de Sua virgindade.

Segundo São Cipriano, a pureza virginal é a rainha de todas as virtudes e o complemento de todos os bens. Santo Efrém escreve que as virgens que guardam a sua pureza por amor de Jesus Cristo, serão favorecidas por Ele em todos os pontos. São Bernardo acrescenta que a virgindade habilita a alma, de um modo todo especial, a ver o Divino Esposo nesta vida pela fé, e na outra pela luz da glória. Imensa é a glória que Jesus Cristo prepara no Céu às Suas esposas que na terra Lhe consagraram sua virgindade. Nosso Senhor mostrou um dia à Sua grande serva Lucrécia Orsini os sublimes tronos que ocuparão aqueles que serviram a Jesus Cristo em pureza virginal. Ao que exclamou ela: "Oh! Quão agradáveis não são a Jesus e a Maria as virgens!" Os teólogos afirmam que as virgens receberão no Céu uma auréola especial, sendo ornadas com uma luzente coroa de honra e glória, pois se diz na Sagrada Escritura, a respeito das virgens: "Ninguém podia cantar esse cântico, senão aqueles cento e quarenta e quatro mil que foram comprados na terra". Explicando essa passagem, diz Santo Agostinho que a glória que Jesus Cristo concede às Virgens não confere aos outros Santos.
 
II. Grande é a satisfação de Jesus Cristo quando alguém se associa ao número de Suas esposas. Isso declaram aquelas palavras dos Cânticos: "Vinde, ó filhas de Sião, e vede o rei Salomão com o diadema com o qual o coroou sua mãe no dia de suas núpcias, no dia da alegria de seu coração" (Cânt 3, 11). Isso, porém, vale só daquelas almas que se consagraram sem restrição ao amor do Esposo Divino. Desposando Jesus uma tal alma, quer que todo o Céu se alegre com Ele e entoe hinos de regozijo: "Alegremo-nos e exultemos e demos-Lhe glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro e Sua esposa está ornada" (Apoc 19, 7). Os ornatos com que Jesus quer ver ataviadas Suas esposas são as virtudes, particularmente o amor e a pureza, que são apresentadas nos Cânticos como coroas de prata e de ouro: "Nós te faremos umas cadeias de ouro listradas de prata" (Cant 1, 10). São estas as vestes pomposas e as joias com que o Senhor atavia Suas esposas, e das quais fala Santa Inês: "Ele circundou minha direita e meu pescoço com um colar de pedras preciosas, revestiu-me com um hábito bordado a ouro e ornado com artísticos relevos e deslumbrantes adornos".

Os seculares buscam coisas terrenas, mas as esposas de Jesus Cristo nada mais querem senão Deus; por isso delas se pode afirmar ao pé da letra: "Esta é a geração dos que buscam a Deus" (Sl 23, 6). "Ó esposas do Redentor, exclama São Tomás de Villanova, não deveis buscar qual de vós sobrepuja as outras por seu nascimento, seus talentos ou fortuna; examinai, antes, quem é mais agradável ao Esposo Divino, quem vive unida mais intimamente a Ele, quem é mais humilde, pobre e obediente". Ouçamos também o que diz o Espírito Santo: "Filho, quando entrares ao serviço de Deus... prepara tua alma para a tentação" (Ecli 2, 1), para sofreres com humildade e paciência, pois "o ouro e a prata se provam no fogo, e os homens que Deus quer receber, na fornalha da humilhação" (Id. v. 5). "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mat 6, 24), a Deus e ao mundo. quem, portanto, quiser consagrar-se a Deus deve renunciar ao mundo, e quem quiser tornar-se esposa de Jesus Cristo deverá exclamar incessantemente: "Deus só é todo o meu tesouro e meu único bem".

São José de Calazans diz que, se não se der a Jesus todo o coração, não se Lhe deu nada. Isso é inteiramente verdade, porque nosso coração já é em si muito pequeno para amar dignamente a um Deus que merece um amor infinito; e esse pequeno coração deveria ainda ser dividido entre Deus e as criaturas?

Como poderás, pois, tu, alma cristã, te incomodares com o mundo, depois de te consagrares a Deus? Esquece de tudo o mais e procura guardar o teu coração inteiro para teu Divino Esposo, que escolheste para Lhe dedicares todo o teu amor. Eu disse: teu coração inteiro, porque Jesus Cristo quer que Sua esposa seja "um jardim fechado e uma fonte selada" (Cânt 4, 12); um jardim fechado, pois não deve receber a ninguém mais senão a seu Divino Esposo; uma fonte selada, porque esse Divino Esposo é zeloso e não permite que encontre entrada no coração de sua esposa outro amor que o amor por Ele. Por isso diz-Lhe: "Quero que me coloques como um selo sobre teu coração e sobre teu braço" (Cant 8, 6), para que a ninguém mais ames senão a Mim, e para que todos os teus atos sejam feitos com a única intenção de Me agradares. O Amado é colocado como um selo sobre o coração e o braço, diz São Gregório, quando a alma mostra por sua vontade (isto é, o coração) e por suas ações (isto é, o braço), quanto ama a seu celeste Esposo.
 
Quando o amor divino reina numa alma, expulsa toda a afeição que não se refere a Deus, pois "o amor é forte como a morte" (Id. it.). Como nada há que possa resistir à veemência da morte quando é chegada a sua hora, assim também não há nenhum impedimento e nenhuma dificuldade que não seja superada pelo amor divino, quando ele se apodera de um coração. "Se um homem der todas as riquezas de sua casa, ele as desprezará como se nada tivesse dado" (Id., v. 7). Um coração que ama a Deus, despreza tudo o que lhe oferece e pode oferecer o mundo; numa palavra, ele despreza tudo o que não é Deus. São Bernardo diz que Deus, como nosso Senhor, exige de nós temor; como Pai, respeito; como Esposo, porém, unicamente amor.

A Venerável Francisca Farnese não conhecia meio mais eficaz para estimular a si e às suas companheiras a tender à perfeição, do que a recordação de que eram esposas de Jesus Cristo. Está fora de dúvida, dizia ela, que cada uma de vós foi escolhida por Deus para se tornar santa, pois que vos concedeu agrande honra de vos fazer Suas esposas. E, de fato, é essa uma graça inapreciável, que exige uma fiel cooperação. Santo Agostinho escreveu a uma virgem consagrada a Deus: "Tens um Esposo que é mais belo que tudo o que existe no Céu e na terra, e que te deu um penhor seguro de Seu amor escolhendo-te para Sua esposa. Podesc oncluir disso quão obrigada estás a pagar o Seu amor". Ó esposa de Jesus Cristo, não te ocupes mais contigo e com o mundo; não pertences mais ao mundo, nem a ti mesma, mas a Deus; e cuida unicamente em viver para esse Esposo que escolheste.

Escolheste a Deus por Esposo, mas primeiramente te escolheu o Senhor para Sua esposa. Quantas almas não deixou Ele no mundo, não lhes concedendo os favores que a ti fez? O Salvador preferiu-te a todas essas almas, não por seres mais digna, mas por te amar mais que às outras. Por isso te diz o Senhor, pela boca do Profeta (Ez 16, 8), que o tempo que te resta de vida é "um tempo para amar". Deves ligar-te a Jesus, teu Esposo, com toda a tua confiança e, com todo o teu amor, prender-te a Ele, que te amou desde a eternidade, que te criou por Sua bondade, e te chamou a Seu santo amor por meio de tantas graças especiais. Por isso, se o mundo solicitar o teu amor, ó esposa de Jesus Cristo, diz-lhe com Santa Inês: "Aparta-te de mim, pábulo da morte. Desejas o meu amor, mas eu não posso amar a mais ninguém do que a meu Deus, que me amou primeiro". "Porque és a esposa de um Deus, diz São Jerônimo, reveste-te de um santo orgulho". Os seculares se orgulham de sua união com pessoas nobres e ricas; tu, porém, podes te gloriar de uma sorte muito melhor, porque te tornaste esposa de um Rei Celeste. Dize, pois, cheia de alegria e santo orgulho: "Achei a quem meu coração ama; prende-lo-ei com meu amor e não O largarei mais" (Cant 3, 4). De fato, é uma imensa felicidade para uma virgem quando ela pode gloriar-se e dizer: "Aquele a quem os Anjos do Céu desejam servir, é meu Esposo.  Meu Criador escolheu-me para Sua esposa, e, como Ele é o Rei e o Senhor do mundo, cingiu-me igualmente com uma coroa de rainha".

Deves saber, entretanto, ó esposa do Senhor que lês esses louvores, que não possuis irrevogavelmente essa coroa enquanto permaneceres aqui na terra; poderás perdê-la novamente por tua culpa; para que ninguém ta roube, segura-a fortemente (Apoc 3, 11). Renuncia às criaturas, une-te cada vez mais intimamente a Jesus Cristo pel oamor e pela oração, e suplica-Lhe sem cessar que não permita que te tornes outra vez infiel. Deves dizer-Lhe: Ó Jesus, meu divino Esposo, não permitais que me separe de Vós.

E quando as criaturas quiserem apoderar-se de teu e daí expulsar Jesus Cristo, dize desassombradamente com o Apóstolo, confiada na assistência divina: "Quem me separará do amor de Jesus Cristo? Nem a morte, nem a vida, nem criatura alguma será capaz de nos separar do amor de Deus" (Rom 8, 35).

[Nota: Quando o Santo Doutor fala da santa virgindade, refere-se às almas, tanto das mulheres quanto dos homens]


(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Escola da Perfeição Cristã, compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, tradução do padre José Lopes, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955, páginas 186-204 e 338- 343).

quarta-feira, 19 de junho de 2013

As manifestações do “Movimento passe livre" segundo Padre Cristóvão

Por Padre Cristóvão
Vendo a vibração de certos católicos ditos conservadores com as manifestações organizadas pelo “Movimento passe livre” em São Paulo, que eclodiu em outras tantas por todo o país, penso ser importante alertar para os seguintes aspectos: 


1. O movimento é uma organização geneticamente revolucionária, regida pelos princípios do Fórum Social Mundial (cf. http://mpl.org.br/node/2). Sua organização é anárquica (http://mpl.org.br/node/5, vide “horizontalidade”) e seus esforços se colocam em sintonia com os dos demais movimentos de desintegração social, como o gayzismo, o laicismo beligerante, o etnicismo etc. (cf. http://mpl.org.br/node/1). Embora alegue seu apartidarismo, confessa seu não antipartidarismo. Parece tão ingênuo e impoluto… E o diz propositalmente para parecê-lo. Mas…

 
O princípio para avaliar uma manifestação de massa é o uso político que dela se faz, que quase sempre não coincide com o motivo declarado explicitamente pelos manifestantes. De modo que, acima de tudo, atente-se que a não dependência partidária explícita não é sinônimo de independência da gerência partidária implícita. Aliás, de onde vem o dinheiro usado pela organização? E o comando para a mobilização das mídias, que acabaram se transformando em meio direto de convocação das hostes?

2. As críticas dirigidas pelos manifestantes ao PT são de que este não é tão comunista como queriam que fosse. Sendo assim, a vitória não é do partido, mas da mentalidade comunista, hegemonicamente presente na cultura popular. Este é o resultado da não oposição ideológica à revolução gramsciana, há décadas invicta em nossa nação.

3. Para quem pensa ser contraditório a esquerda colocar-se contra si mesma, não se esqueça de que a psicologia dialética é essencialmente suicida. Desta forma, na elaboração marxista, o socialismo é apenas uma etapa autodestrutiva para a implantação do comunismo; e aquela, estrategicamente, seria antecedida eventualmente por outras etapas, de igual modo autoaniquilatórias. Portanto, o PT é consciente de ser apenas uma etapa a ser superada naquele horizonte; e isto não é acidental, é totalmente programado para ser assim.

4. Historicamente, o movimento revolucionário sempre trabalhou:

a) com uma dinâmica contraditória, para espalhar confusão e dissolução na sociedade;

b) com a matização dos mesmos preceitos em modelos diferentes de radicalidade, para fugirem da acusação de extremismo, enquanto falsamente se encaminham para a execução dos mesmos objetivos;

c) com a implantação do vitimismo e da revolta, como elemento aglutinador de forças beligerantes;

d) fazendo com que este laboratório de engenharia social culminasse com a eliminação de alguns de seus opositores (a Igreja ou outras instituições conservadoras). Assim, por exemplo, começaram a revolução francesa e a guerra civil espanhola, todas, na origem, meras manifestações inocentes de vitimismo e, no fim, assassinas e anticlericais.

Adendo.
Em 1936, aconteceu uma aparição de Nossa Senhora no Brasil, em Pernambuco, na cidade de Pesqueira, na vila de Cimbres, num lugarejo denominado Sítio da Guarda. A aparição, pouco conhecida, foi aprovada pela autoridade eclesiástica da época.

Ali, a Virgem disse a duas meninas: “Minhas filhas, virão tempos calamitosos para o Brasil! Dizei a todo o povo que se aproximam três grandes castigos, se não for feita muita penitência e oração”.

O sacerdote, depois, as interrogou durante uma aparição, na qual ele perguntava diretamente à Virgem (em latim e alemão, idiomas ignorados pelas videntes) e Ela respondia às crianças, que lhe transmitiam a resposta:
“- Que significa o sangue que corre das vossas mãos?”
“- O sangue que inundará o Brasil”.
“-Virá o comunismo a penetrar no Brasil?”
“- Sim”.
 “- Os padres e os bispos sofrerão muito?”
 “- Sim.”
“- Será como na Espanha?”
“- Quase”.
“- Quereis que se pregue sobre este assunto?”
“- Sim”.

Tempos depois, a Virgem voltou a aparecer a uma das videntes, dizendo-lhe: “Nunca mais me manifestarei aqui em Guarda e os três castigos não virão JÁ, porque o povo está melhor; mas é necessário ainda rezar muito e fazer penitência”.
* * *
Apresentamos a seguir artigo extraído do blog do Planalto, que curiosamente está fora do ar desde o início da tarde. O link para acesso em cache é este.


A presidenta Dilma Rousseff elogiou, nesta terça-feira (18), o civismo da população brasileira, que foi às ruas em manifestações nas principais cidades do país. Segundo Dilma, foi bom ver tantos jovens e adultos defendendo um país melhor. Em discurso, a presidenta disse ainda que está ouvindo as vozes pela mudança.

“O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de ontem comprovam a energia da nossa democracia. A força da voz da rua e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, (…) juntos com a bandeira do Brasil, cantando o hino nacional e dizendo com orgulho ‘sou brasileiro’ e defendendo um país melhor”, disse.
 
A presidenta afirmou que seu governo está empenhado e comprometido com a transformação social. Ela citou como exemplo a elevação de 40 milhões de pessoas à classe média. Segundo Dilma, as pessoas mudam porque o Brasil mudou, com mais inclusão, elevação de renda, acesso ao emprego e à educação.

“Surgiram cidadãos que querem mais e que tem direito a mais. Sim, todos nós estamos diante de novos desafios. Quem foi ontem às ruas querem mais. As vozes das ruas querem mais cidadania, mais saúde, mais educação, mais transporte, mais oportunidades. Eu quero aqui garantir a vocês que o meu governo também quer mais, e que nós vamos conseguir mais para o nosso país e para o nosso povo”, afirmou.

Princípios cristãos para manifestações democráticas

Para se construir um País melhor não é necessário destruir o que temos agora
 Roma, 18 de Junho de 2013 (Zenit.orgPe. Anderson Alves

Pe. Anderson Alves
Segundo as declarações[i] de alguns organizadores dos atuais protestos no Brasil, podemos perceber que as manifestações estão sendo organizadas por grupos de profunda inspiração marxista, que julgam que o atual governo não é tão radical como deveria ser[ii]. Por isso, pretendem mudar todo o sistema, aproveitando-se de pessoas de boa vontade, que justamente querem mudanças na vida social. Assim, pessoas bem intencionadas são usadas por grupos radicais que analisam a realidade de modo dialético e que, no fundo, pretendem uma revolução violenta, popular e nada democrática. Algo de semelhante ocorre em diversos países do mundo. Como esses grupos radicais não ganham suficientes votos, pretendem impor suas ideias por meio da força de alguns “heróis” e pela manipulação emotiva das grandes massas.

Sendo assim, agem transmitindo a ideia de que farão uma manifestação pacífica, incitando os sentimentos e a boa vontade de muitos. Atraem muita gente que realmente se manifesta de modo pacífico; porém, em certo momento, acabam utilizando métodos violentos para sofrer uma justa resposta das ordens de segurança e se apresentarem como vítimas do Estado repressor. O objetivo é desestabilizar os governos e todos os partidos políticos, através da manipulação popular. Depois das manifestações passam a ideia de que a violência não era intencional, mas que foram pessoas “infiltradas” que a promoveram.

Em síntese, no atual momento devemos ter espírito crítico para averiguar se os violentos são “aproveitadores” e “infiltrados” nas manifestações, ou se são os seus mesmos organizadores, que se aproveitam do apoio popular para justificar assim suas ideias e métodos revolucionários.

De qualquer modo, sobre as manifestações populares, pode-se dizer que em todos os países democráticos existem e deve ser protegido o direito de se manifestar nas ruas: seja por meio de passeatas, seja por meio de greves. Mas isso deve ser feito com ordem. Na prática significa:

1) As manifestações públicas devem ser programadas e devem contar com a autorização do poder público. Devem ser em dia, hora e local determinados. A polícia deve estar presente para garantir o direito das pessoas se manifestarem, sem serem agredidas. Evidentemente, a polícia também não pode ser agredida e os bens públicos ou privados não devem ser destruídos ou danificados; para se construir um País melhor não é necessário destruir o que temos agora;

2) As manifestações não podem paralisar cidades inteiras, porque os que tem o direito de protestar devem respeitar o direito de quem não quer participar. O direito de protestar não pode negar a ninguém o direito de ir e vir, por exemplo. Avenidas públicas importantes não podem ser totalmente fechadas. Não pode ser impedida a circulação de ambulâncias, da polícia, dos bombeiros ou de quem simplesmente não quer participar nos protestos. Por isso, o ideal é que esses atos ocorrram nos domingos ou feriados;

3) As greves devem ser justas e, na medida do possível, criativas, sem causar graves danos às empresas ou ao País. Na Itália, por exemplo, recentemente um grupo de pedreiros fez uma greve trabalhando um dia na reforma de praças públicas. Assim demonstravam que não falta trabalho e que os trabalhadores devem ser valorizados.

Por fim, as manifestações devem ter objetivos concretos e realizáveis. Reivindicar tudo significa o mesmo que reivindicar nada, pois se tudo é direito, nada é direito. Em palavras mais sábias e claras: “Os direitos individuais, desvinculados de um quadro de deveres que lhes confira um sentido completo, enlouquecem e alimentam uma espiral de exigências praticamente ilimitada e sem critérios. A exasperação dos direitos desemboca no esquecimento dos deveres. Estes delimitam os direitos porque remetem para o quadro antropológico e ético cuja verdade é o âmbito onde os mesmos se inserem e, deste modo, não descambam no arbítrio. Por este motivo, os deveres reforçam os direitos e propõem a sua defesa e promoção como um compromisso a assumir ao serviço do bem. (...) A partilha dos deveres recíprocos mobiliza muito mais do que a mera reivindicação de direitos” (Papa Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 43).


[ii] O “Movimento Passe Livre” que está organizando grandes manifestações em São Paulo tem seu estatuto publicado na internet. Dizem explicitamente que a “via parlamentar não deve ser o sustentáculo do MPL, ao contrário, a força deve vir das ruas”. Afirmam que têr como “perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população”. Cfr. http://mpl.org.br/node/1

(18 de Junho de 2013)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Tratado da Castidade - 5ª Parte

TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)

5ª Parte

 § V. DA VIRGINDADE

Santo Afonso
São Cipriano (De disc. et hab. virg.) denomina a multidão de virgens que se consagram ao amor de seu Divino Esposo, de "a mais nobre porção da Igreja de Cristo". Vários outros Santos Padres, como Santo Efrém, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo, São Crisóstomo, escreveram livros inteiros em louvor da virgindade. Não é minha intenção expor aqui todos os méritos e vantagens que adquirem as pessoas que consagraram a Deus sua virgindade; disso tratarei extensamente no capítulo IV da III parte, que trata do voto de castidade [que reproduzimos logo abaixo]. Aqui farei seguir, simplesmente, uma instrução para os que levam uma vida virginal sem terem emitido o voto de castidade.

As almas virgens são extraordinariamente belas aos olhos de Deus: "Serão como os Anjos de Deus no Céu" (Mat 22, 30). Barônio conta que na morte de uma virgem, chamada Geórgia, uma multidão de pombos adejavam ao redor da casa e, quando seu cadáver foi transportado à igreja, pousaram no teto, exatamente em cima do lugar onde se achava o caixão, e daí não se retiraram até ser sepultada a piedosa virgem (An. 480). Essas pombas certamente eram Anjos, que queriam prestar as últimas honras àquele corpo virginal.

As almas virginais, que renunciaram ao casamento para se dedicarem exclusivamente ao amor de Jesus Cristo, tornam-se esposas do Filho de Deus. Nos Santos Evangelhos, Jesus Cristo é chamado Pai, Mestre, Pastor das almas; referindo-se as virgens, porém, dá-Lhe o nome de Esposo: "Elas saíram a receber o Esposo e a Esposa" (Mat 25, 1). Por isso, tinha razão Santa Inês, respondendo, segundo Santo Ambrósio, aos que lhe ofereciam a mão do filho do prefeito de Roma: "Ofereceis-me um esposo? Já encontrei um muito melhor" (De virg., 1. 1). Semelhante resposta deu Santa Domitila, sobrinha do imperador Domiciano, aos que queriam persuadi-la a casar-se com Aureliano: "Dizei-me: a quem deveria escolher por esposo uma jovem pedida em casamento por um monarca e por um camponês? Para casar-me com Aureliano, teria de renunciar ao Rei do Céu. Ora, isso seria uma loucura inominável, que nunca praticarei". E, firme nessa resolução, deixou-se queimar viva, para poder permanecer fiel a Jesus Cristo, a Quem consagrara sua virgindade.

Quem poderá imaginar a glória que Deus reserva a Suas castas esposas lá no Céu? Os teólogos são de opinião que no Céu existe uma glória especial reservada às virgens, uma coroa ou alegria particular, de que estão privados os outros Santos. Mas, dir-me-á uma ou outra jovem: 'Ora, casando-me também poderei santificar-me'. Não receberás a resposta da minha boca, mas da de São Paulo, que te dirá também a diferença que existe entre as virgens e as casadas: "A mulher virgem pensa nas coisas que são do Senhor, para que seja santa no corpo e no espírito. Mas, a que é casada, pensa nas coisas que são do mundo, em como agradar ao marido. Em verdade, digo isso para vosso proveito... para vos exortar ao que vos convém e vos facilita a orar ao Senhor sem embaraço" (I Cor 7, 34).

Deve-se, pois, notar que as casadas, sem dúvida alguma, podem ser santas segundo o espírito, ao passo que as virgens, que amam a Deus, o são de corpo e espírito. Tome-se também em consideração estas palavras: "O que facilita servir a Deus sem impedimento". Quantos impedimentos não encontram as casadas na sua tendência à santidade! E esses obstáculos são tanto maiores, quanto mais elevada a sua condição [social].

Para nos fazermos santos temos de empregar os meios e, antes de tudo, nos consagrar à oração mental, receber amiúde os Santos Sacramentos, e pensar sem interrupção em Deus. Ora, quando uma senhora casada achará tempo para cuidar naquilo que é do Senhor? Ela se ocupará com as coisas deste mundo, diz São Paulo, cuidará em agradar a seu marido, olhará pelas necessidades de sua família, pelo seu sustento e vestes, vigiará a educação de seus filhos, atenderá aos parentes e amigos, pensará continuamente nos seus afazeres; seu coração ficará assim dividido entre seus filhos, seu marido e Deus. Como encontrar tempo para se entregar a longas orações mentais, para receber muitas vezes a Comunhão, se nem lhe resta tempo para cuidar de todas as obrigações de sua casa e estado? O marido quer ser atendido, os filhos gritam e choram, querendo mil coisas diversas. Como meditar entre tantos cuidados e perturbações? Muitas mães de família nem mesmo aos domingos podem ir à igreja. É verdade, ela pode conservar a sua boa vontade, mas sempre lhe será custoso cuidar, como convém, do que é do Senhor. Não há dúvida de que pode adquirir grandes merecimentos em razão de tais provações, entregando-se à Vontade de Deus que, em tais condições, não que mais do que um sacrifício perene de resignação e paciência; mas, no meio de tantas distrações e tribulações, é quase impossível, é mesmo heroísmo, praticar a virtude da paciência e conformidade, sem o exercício da oração e a recepção dos Sacramentos... Mas, prouvera a Deus que as senhoras casadas nada mais tivessem a deplorar que a falta de tempo necessário para seus exercícios de piedade.

A má conduta do marido, os desgostos causados pelos filhos, os negócios da casa, as molestas atenções que se devem à sogra e aos cunhados, as suspeitas, as inquietações de consciência quanto à vida conjugal e educação dos filhos, tudo isso origina um mar de tribulações, no qual passam sua vida entre suspiros e lágrimas. E felizes se conseguirem salvar sua alma e alcançarem de Deus a graça de não deixarem o inferno desta vida para se precipitarem no inferno eterno! Esta é a bela sorte das jovens que se consagram ao mundo... [grifo do original]

Mas, entre tantas mulheres casadas, não haverá uma só que se santifique? Sim, existem também Santas casadas. Porém, quais são estas? As que se santificam pelo martírio, que sofrem tudo por amor de Deus, com uma paciência que nada abala. Mas, quantas se elevarão a tal perfeição? Ah! Mui poucas. E se encontrares uma tal, verás que deplora amargamente ter escolhido o partido do mundo, tendo podido, com tanta facilidade, consagrar-se a Jesus Cristo.

Verdadeiramente felizes são aquelas virgens que se consagram por inteiro e exclusivamente ao seu Divino Salvador. Estas estão livres dos perigos em que se acham as casadas. Seu coração está desembaraçado do apego aos filhos e marido, aos bens transitórios, ao luxo vão ou a outras coisas do mundo.

E, quando as mulheres casadas se vêem obrigadas a empregar muitos cuidados e grandes somas com seu traje, para aparecer ao mundo à altura de sua posição e agradar a seu marido, a virgem que se consagrou a Jesus Cristo se contenta com um vestido simples e desataviado, pois, do contrário, daria escândalo. Todos os seus pensamentos e cuidados tendem a agradar a Jesus, a quem dedicou seu corpo, sua alma, seu amor todo. Assim, possui ela também mais liberdade de espírito para pensar em Deus e mais tempo para se entregar à oração e receber os Sacramentos.
 
Se não te sentes chamada, alma cristã, ao estado conjugal, nem ao religioso, mas desejas fazer-te santa no mundo, como verdadeira esposa de Jesus Cristo, toma a peito os seguintes conselhos: Para a santificação, não é suficiente que uma virgem traga ilibada a sua pureza e use o nome de esposa de Jesus Cristo; é preciso também praticar as virtudes de uma esposa de Jesus. No Evangelho é o reino dos Céus comparado a umas virgens. Mas que virgens? Às virgens prudentes e não às loucas. Aquelas foram introduzidas na sala das núpcias; a estas foi a porta fechada e ouviram do Esposo: Não deixais de ser virgens, mas eu não vos reconheço por esposas minhas. As verdadeiras esposas de Jesus seguem o Esposo para onde quer que Ele vá (Apoc 14, 4). que quer dizer seguir o Esposo? Santo Agostinho explica que é prender-se a Ele (De s. virg., c. 7). Depois de Lhe teres sacrificado teu corpo, deves ainda consagrar-Lhe todo o teu coração, de tal forma que só te ocupes em amá-lO. Para isso, deves empregar os meios para pertencer exclusivamente a Ele.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Tratado da Castidade - 4ª Parte

TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)

4ª Parte

§ IV. DA GUARDA DO CORAÇÃO
  
Santo Afonso
A modéstia dos olhos pouco nos servirá se não vigiarmos sobre o nosso coração. "Aplica-te com todo o cuidado possível à guarda do teu coração, diz o Sábio (Prov 4, 27), porque é dele que procede a vida". É aqui o lugar apropriado para se dizer algumas palavras sobre as amizades e, primeiramente, sobre as santas, depois sobre as puramente naturais e, afinal, sobre as perigosas.


1) Descrevendo São Paulo a corrupção moral dos gentios, enumerava entre seus vícios a falta de sentimento e de susceptibilidade para a amizade. A amizade, segundo São Tomás, é mesmo uma virtude. A perfeição não proíbe se entretenham amizades, diz São Francisco de Sales; exige somente que sejam santas e edificantes, a saber, só devem ser mantidas aquelas uniões espirituais por meio das quais duas, três ou mais pessoas, comunicam entre si seus exercícios de devoção, seus desejos piedosos e sentimentos nobres, tornando-se como que um só coração e uma só alma para a glória de Deus e o bem espiritual próprio e alheio. Com toda a razão podem tais almas exclamar: "Vede quão bom e suave é habitarem os irmãos em união" (Sl 132, 1). São Francisco diz mais que, em tal caso, o suave bálsamo da caridade destila de coração em coração por meio dessas mútuas comunicações, e bem pode-se dizer que Deus lança Sua benção sobre tais amizades, por toda a eternidade (Fil., III, c. 19).

Tais amizades são recomendadas pela Escritura mesma, em termos eloquentes: "Nada se pode comparar com o valor de um amigo fiel, e o valor do ouro e da prata não iguala a bondade de sua fidelidade" (Ecli 6, 16). "Um amigo fiel é um remédio para a vida e a mortalidade, e os que temem o Senhor encontram um tal" (Idem). Mas como podeis aconselhar as amizades particulares, dirá alguém, quando elas são tão rigorosamente condenadas por todos os ascetas? Respondo: As amizades particulares são proibidas unicamente nos claustros e com toda a razão, pois é imperiosamente necessário que todos os religiosos se amem mutuamente com amor fraterno, para que haja uma vida comum claustral. Ora, num claustro, as amizades particulares podem facilmente ocasionar perturbações dessa mútua caridade, dando ocasião a invejas, suspeitas e outras misérias humanas. São Basílio não hesitou dizer que as amizades particulares em um convento são uma sementeira perpétua de invejas, de desconfianças e inimizades. O mesmo acontece nas famílias em que o pai ou a mãe tem mais carinhos para um filho que para os outros. Os filhos de Jacó odiavam seu irmão José, porque seu pai lhe dedicava um amor especial.
 
Não há, além disso, nenhum motivo de se alimentar tais amizades num estado religioso, pois, num convento, onde reinam a disciplina e a ordem, todos os membros tendem ao mesmo fim, à perfeição, e não é necessário travar amizades particulares para animar-se mutuamente ao serviço de Deus e ao trabalho do aperfeiçoamento próprio.

Os que, vivendo no mundo, desejam dedicar-se à prática da virtude verdadeira e sólida, precisam, pelo contrário, de se unir aos outros por uma amizade santa e edificante, para poderem, por meio dela, se animar, se auxiliar e se estimular ao bem. Há no mundo poucas pessoas que tendem à perfeição e muitas que não possuem o espírito de Deus e, por isso, é preciso que os bons, quanto possível, evitem os que podem impedir seu adiantamento espiritual e travem amizade com os que os podem auxiliar na prática do bem.

2) Quanto às amizades puramente naturais, deve-se dizer que elas têm seu fundamento na nossa natureza, que nos compele a amar nossos pais, nossos benfeitores e todos aqueles em quem vemos belas qualidades e com quem simpatizamos. Esta espécie de amizade é o laço da família e da sociedade, mas facilmente degenera em amizades falsas; por exemplo, se os pais, por um carinho demasiado, toleram as faltas de seus filhos, ou se um amigo ofende a Deus para agradar a seu amigo, etc. As amizades naturais só são agradáveis a Deus se as santificarmos por meio da boa intenção; por exemplo, amando a nossos pais e amigos por amor de Deus.

3) Por amizades perigosas entendem-se, em particular, as sensuais, isto é, aquelas que se baseiam sobre uma complacência sensual, sobre a fruição comum de prazeres dos sentidos, sobre certas qualidades fúteis e vãs de espírito e coração. Essas amizades são já por si perigosas, mesmo que, no começo, nada tenham de inconveniente, e devemos guardar nosso coração desembaraçado delas.

a) "Quem não evita relações perigosas, cai facilmente no abismo", diz Santo Agostinho (Serm. 293). O triste exemplo de Salomão bastaria para nos encher de terror. Depois de ter sido amado tanto por Deus, servindo ao Espírito Santo de mão para escrever, travou relações com mulheres pagãs, já na sua velhice, e caiu tão profundamente que chegou a sacrificar aos deuses. Isso, porém, não nos deve estranhar, pois, será para admirar que alguém se queime, permanecendo no meio das chamas? - pergunta São Cipriano (De sing. cler.). Mas em nossas conversas, graças a Deus, não ocorre nada de mal, dirá alguém. Respondo: Todas as amizades que têm sua origem em afeições meramente materiais são, pelo menos, um grande impedimento à perfeição, ainda que não dessem ocasião a outras coisas. Elas, no mínimo, fazem-nos perder o espírito de oração e recolhimento interior; a alma que está presa por uma afeição natural poderá achar-se corporalmente na igreja, mas seu espírito estará se entretendo com o objeto de seu amor; perderá o amor aos Santos Sacramentos; não será mais sincera para com seu confessor, temendo que ele a obrigue a romper com essa cadeia e, envergonhando-se de lhe descobrir sua afeição, não lhe dirá a causa de sua tibieza, e assim se agrava, de dia para dia, seu estado lastimoso. Ao ouvir que fala mal da pessoa amada, se enfurece, defende-a calorosamente; descuida-se da obediência, pois quando o confessor a exorta a renunciar a tal amizade, procura mil desculpas para não ter de obedecer.

Não é só grande a perda espiritual que se sofre com essas amizades baseadas sobre certas qualidades externas duma pessoa, mas, principalmente se for doutro sexo, é também enorme o perigo que se corre de se se perder eternamente. No começo tais amizades parecem indiferentes, mas tornam-se pouco a pouco pecaminosas e, enfim, arrastam a alma ao pecado mortal. "São como o fogo e a palha, e o demônio não cessa de assoprar até irromper o incêndio", diz São Jerônimo.