III
Parte
CONCÍLIO
DE TRENTO
(1543-1563)
XIX
CONCÍLIO ECUMÊNICO
(CONTRA
OS INOVADORES DO SÉCULO XVI)
Sessão VI (13-1-1547)
Decreto sobre a justificação
Do capitulo 1 ao capitulo
5
792 a. Em vista da doutrina errada que nestes tempos se tem espalhado não sem
dano para muitas almas e grave detrimento para a unidade da Igreja, para louvor
e glória de Deus Onipotente, para tranquilidade da Igreja e salvação das almas,
o sacrossanto Concílio Ecumênico e Geral de Trento, legitimamente congregado no
Espírito Santo…, tem a intenção de expor a todos os fiéis de Cristo a sã e
verdadeira doutrina da justificação, ensinada pelo sol de justiça (Mal
4, 2), Cristo Jesus, autor e consumador de nossa fé (Hb 12, 2),
transmitida pelos Apóstolos e sempre retida pela Igreja Católica sob a direção
do Espírito Santo e manda mui severamente que para o futuro ninguém ouse crer,
pregar ou ensinar de outro modo do que está determinado e declarado no presente
decreto.
Cap. 1 – A insuficiência da natureza e da lei para justificar os homens
793. Declara em primeiro lugar o santo Concílio que, para se entender de
modo correto e puro a doutrina da justificação, é necessário cada um reconheça
e confesse que, tendo todos os homens pela prevaricação de Adão, perdido a
inocência (Rom 5, 12; 1 Cor 15, 22) e se tornado imundos (Is 64, 6) e
(como diz o Apóstolo) por natureza filhos da ira (Ef 2, 3), conforme [o
Concílio] expôs no decreto sobre o pecado original, de tal forma eram servos
do pecado (Rom 6, 20) e sujeitos ao poder do demônio e da morte, que não só
os gentios por força da natureza [cân. 1], mas também os judeus pela força da
letra da lei de Moisés não podiam livrar-se ou levantar-se [daquele estado],
posto que neles o livre arbítrio de modo algum fosse extinto [cân. 5],
[tiveram] contudo as suas forças atenuadas e inclinadas [ao mal].
Cap. 2 – O mistério da vinda de Cristo
794. Assim o Pai celestial, o Pai das misericórdias e o Deus de toda
a consolação (2 Cor 1, 3), quando veio aquela feliz plenitude dos tempos
(Ef 1, 10), enviou aos homens Jesus Cristo, seu Filho, que foram anunciado
e prometido a muitos Santos Padres antes da Lei e sob a Lei, a fim de remir os
judeus que viviam sob a lei e [para] que os povos, que não seguiam a
justiça, alcançassem a justiça (Rom 9, 30) e todos recebessem a adoção
de filhos (Gal 4, 5). A este propôs Deus como propiciação pela fé
no seu sangue pelos nossos pecados (Rom 3, 25), não só pelos nossos, mas
também pelos de todo o mundo (1 Jo 2, 2).
Cap. 3 – Quem é justificado por Cristo
795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante
nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é
comunicado o merecimento de sua Paixão. Porque assim como os homens de fato não
haveriam de nascer na injustiça, se não tivessem tido origem em Adão – pois,
por meio dele e em conseqüência desta origem contraem na conceição a injustiça
que lhes é própria – assim também jamais seriam justificados, se não
renascessem em Cristo [cân. 2 e 10]. Pois é por este renascimento, em virtude
do mérito da Paixão, que a graça, por meio da qual são justificados, lhes é
concedida. Por este benefício o Apóstolo exorta a rendermos sempre graças
ao Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz (Col
1, 12) e nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao reino de seu
amado Filho, no qual temos redenção e remissão dos pecados (Col 1, 13 s).
Cap. 4 – A justificação do pecador
796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como sendo
uma passagem daquele estado em que o homem, nascido filho do primeiro Adão,
[passa] para o estado de graça e de adoção de filhos (Rom 8, 15) de Deus
por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso. – Esta transladação,
depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração
[cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da
Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não
poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
Cap. 5 – A necessidade de os adultos se prepararem para a justificação
797. Declara ainda [o Santo Concílio]: o início da justificação dos
adultos deve brotar da graça proveniente de Deus [cân. 3] por Jesus Cristo, a
saber, de sua vocação, pela qual são chamados, sem qualquer merecimento da
parte deles. Assim, aqueles que estavam afastados de Deus pelos pecados, se
dispõem [amparados] pela sua graça, que excita e auxilia (per eius excitantem
atque adiuvantem gratiam), a alcançarem a conversão e a própria justificação,
consentindo livremente nesta graça e livremente cooperando com ela [cân. 4 e
5]; de forma que, tocando Deus o coração do homem com a iluminação do Espírito
Santo, fica o homem por um lado não totalmente inativo, recebendo aquela
inspiração, que poderia também rejeitá-la; por outro lado, não pode ele de sua
livre vontade, sem a graça de Deus, elevar-se à justificação [cân. 3] diante de
Deus. Por isso, quando nas Sagradas Escrituras se diz: Convertei-vos a mim e
eu me converterei a vós (Zac 1, 3), somos lembrados de nossa liberdade;
quando, porém, respondemos: Convertei-nos, Senhor a vós, e seremos convertidos
(Lam. Jer 5, 21), confessamos que a graça de Deus nos previne.
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