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sábado, 11 de agosto de 2012

Contempla a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo


Da Carta a Santa Inês de Praga, de Santa Clara, virgem

(Edit. I. Omaechevaria, Escritos de Santa Clara, Madrid 1970, pp. 339-341)
(Séc.XIII)

Feliz a quem foi dado participar do sagrado convívio, de forma a aderir com todas as veras do coração àquele cuja beleza as santas multidões dos céus admiram sem cessar. Sua ternura o move; sua contemplação fortalece; sua benignidade cumula, sua suavidade satisfaz, sua lembrança ilumina docemente, seu odor revitaliza os mortos, e a sua gloriosa visão encherá de gozo os habitantes da Jerusalém do alto. Ele é o esplendor da eterna glória, fulgor da luz eterna, espelho sem defeito (Sb 7,26). Olha todos os dias neste espelho, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e contempla sempre nele tua face. Assim te adornarás toda inteira, por dentro e por fora, coberta envolta de brocados, enfeitada com as vestes e as flores de todas as virtudes, como convém à filha e esposa castíssima do sumo Rei. Neste espelho refulgem a ditosa pobreza, a santa humildade e a indizível caridade, como poderás contemplar, pela graça de Deus, no espelho todo.

 Quero dizer: vê no começo do espelho a pobreza daquele que foi posto no presépio, envolto em faixas. Ó admirável humildade, ó estupenda pobreza! O rei dos anjos, o Senhor do céu e da terra é deitado numa manjedoura! No centro do espelho, considera a humildade, quando não a ditosa pobreza, os inúmeros sofrimentos e penas que suportou pela redenção do gênero humano. No fim desse espelho, contempla a indizível caridade que o levou a sofrer no lenho da cruz e nele morrer a mais ignominiosa das mortes. Este espelho, posto no lenho da cruz, aos que passavam para ver estas coisas, advertia: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor igual à minha dor (Lm 1,12). Respondamos, então, numa só voz, num só espírito ao que clama e se queixa: Lembro-me intensamente e dentro de mim meu coração definha (Lm 3,20). Assim te inflamarás cada vez mais fortemente comeste ardor de caridade, ó rainha do rei celeste.

Contemplando, depois, suas inexprimíveis delícias, riquezas e honras perpétuas, suspirando pela veemência do desejo do coração e do amor, exclames: Atrai-me, e correremos atrás de ti ao odor de teus perfumes (Ct 1,3 Vulg.), ó esposo celeste. Correrei sem parar, até que me introduzas em tua adega, teu braço esquerdo ampare minha cabeça e tua direita me abrace feliz e que me beijes com teu ósculo de suprema felicidade (cf. Ct 2,4.6). Entregue a esta contemplação, não te esqueças desta pobrezinha, tua mãe, pois sabes estar indelevelmente gravada tua suave lembrança nas tábuas de meu coração e que para mim és a mais querida de todas.

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