V Parte
Meios de perseverança
I. O que devem fazer
especialmente os jovens
ARTIGO I.
Como se ao de haver nas tentações
Também na vossa tenra idade, amados
jovens o demônio vos arma laços para vos cair em pecado e assim tornar a vossa
alma sua escrava e inimiga de Deus. Deveis pois vigiar atentamente para não
sucumbirdes quando fordes tentados, isto é, quando o demônio vos instiga a
fazer mal.
Muito
contribuirá a preservar-vos das tentações o evitar as ocasiões, as más
conversas e os espetáculos públicos, onde não há nada de bom e de onde sempre
vem algum dano á alma.Procurai estar sempre ocupados no vosso ofício, no
estudo, no canto, na música e quando não tendes nada para fazer, armai altarzinhos,
arranjai imagens ou quadros ou ide entreter-vos algum tempo em diversões
honestas, bem entendido, com licença dos pais.Faze com que o demônio não te
encontre nunca desocupado, diz São Jerônimo.
Quando fordes tentados, não espereis
que a tentação se apodere de vosso coração, mas fazei logo uma coisa para
livrar-vos dela, ou pelo trabalho ou pela oração. E se a tentação continuar,
fazei o sinal da cruz, beijai algum objeto, bento dizendo: Maria, auxílio dos
cristãos, rogai por mim; ou então: São Luis, fazei com que não ofenda o meu
Deus. Indico-vos este santo, porque foi proposto pela Igreja como padroeiro
especial e modelo da juventude. Ele, com efeito, para vencer as tentações,
fugia de todas as ocasiões; jejuava frequentemente a pão e água, açoitava-se de
tal forma que as roupas, as paredes e o chão ficavam salpicados de seu sangue
inocente. Foi assim que são Luis obteve uma completa vitória sobre todas as
tentações. Assim a obtereis também vós, se procurardes imitá-lo ao menos na
mortificação dos sentidos, especialmente na modéstia, e se vos encomendardes de
coração a ele quando fordes tentados.
ARTIGO II.
Remédios para algumas ciladas de que o
demônio usa para enganar a mocidade
O primeiro laço que o demônio
costuma armar-vos para alcançar a ruína das vossas almas, é sugerir-vos o
pensamento de que será muito difícil que durante quarenta, cinquenta ou
sessenta anos, que vos promete de vida, possais caminhar pela difícil vereda da
virtude, sempre afastados dos prazeres.
Quando o demônio nos sugerir este
pensamento, respondei-lhe: Quem me assegura que eu chegue a essa idade?A minha
vida está nas mãos de Deus; pode ser que um dia de hoje seja o último da minha
vida.Quantos da minha idade estavam ontem alegres, cheios de vida e de saúde e
hoje são levados á sepultura!Quantos meus companheiros desapareceram deste
mundo na flor dos anos!E não poderia acontecer isto também a mim!E mesmo quando
tivéssemos que trabalhar alguns anos para Nosso Senhor, não teremos uma
recompensa extraordinária na eternidade de glória e de gozo, no Céu!Além disto,
nós vemos que os que vivem na graça de Deus estão sempre alegres e também no
tempo das aflições têm o coração feliz.Pelo contrário, os que se entregam aos
prazeres vivem mal humorados, inquietos e por mais que se esforcem em achar a
paz nos seus divertimentos, sentem-se cada vez mais infelizes: Non est pax
ímpiis, diz Nosso Senhor.
Acrescentará
alguém: Somos moços; se começamos a pensar na eternidade, no inferno, isto nos
tornará melancólicos e pode até dar-nos volta ao juízo.De acordo, que o
pensamento de uma eternidade feliz, o pensamento de um suplício que não há de
acabar nunca mais, seja um pensamento triste e aterrador.Dizei-me porém: Se só
o pensar nisto pode dar volta ao juízo, que seria se para lá fossemos
realmente? Melhor será portanto pensar nisso agora, para não cair no futuro,
pois é certo que se nisso pensarmos bem, não cairemos em tamanha
desgraça.Observai porém que se é triste o pensamento do inferno, enche-nos de
consolação a esperança daquele Paraíso onde se gozam todos os bens.Por isso é
que os Santos, enquanto pensavam seriamente na eternidade das penas, viviam em
grande alegria, com a firme esperança em Deus de serem delas preservados e de
chegar um dia a posse dos bens infinitos, que Nosso Senhor reserva a quem o
serve.Animo pois, ó meus caros, começai a servir ao Senhor e experimentareis
quanto é doce e agradável o seu serviço e de quanta consolação encherá ele o
vosso coração no tempo e na eternidade.
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