A Grande Guerra - "Uma missão
especial incumbe pois à família" (Pio XII)
O que equivale a dizer
que em parte é graças aos esposos e aos pais cristãos que se perpetuam as
funções de Cristo, esposo e gerador, e as funções da Sua Igreja: Esposa
espontâneamente fecunda e santificadora. De feito, Cristo não quis que "a
Igreja nasça, por assim dizer, do Seu trabalho. Mistério terrível, certamente,
e que nunca se meditará bastante: a salvação de grande número de almas depende
das preces e das mortificações voluntárias, para este fim suportadas, dos
membros do Corpo místico, e do trabalho de colaboração que os pastores e os
fiéis, especialmente os pais e mães de família, devem prestar ao nosso Divino
Salvador (Mystici Corporis, n. 43). Com efeito, diz Pio XII, "nessa
colaboração dos leigos no apostolado, colaboração tão importante de promover
nos nossos dias, uma missão especial incumbe à família, pois o espírito da
família influi essencialmente no espírito das gerações jovens" (Summi
Pontiiicatus, n. 69). Realmente, o "pai que vive, que pensa, que fala, que
age como cristão, mesmo quando se trata de coisas e de interesses deste mundo,
não se faz educador e mestre de seu filho que o observa? E, assim, não é ele
pai uma segunda vez, não já do corpo dele, mas do seu espírito, pela profunda
influência que exerce sobre o espírito do filho, transfundindo-lhe o seu
espírito de fé? Assim, o pai fará do filho um cristão tal como ele próprio o
é" (Pio XII, A. C. Ital., 1942).
A boa educação
religiosa dos filhos
Sem dúvida, a comunidade
conjugal não recebeu de Cristo o mandato que faz da Hierarquia católica,
propriamente a Igreja docente, confirmada na sua missão pelo poder infalível do
Magistério romano. Sem embargo, sempre na ordem comunitária que é a ordem do
amor, os pais têm uma graça de estado como educadores. O seu casamento, como
sacramento da união de Cristo com a Igreja, confere-lhes um poder que se traduz
num dever, para eles, de orientarem os filhos que eles puseram no mundo rumo ao
seu fim último, Cristo, o Deus Trino. Se não receássemos desvalorizar termos
sagrados aos quais se deve deixar toda a sua significação, a propósito desse
poder conviria falar de "sacerdócio particular", sacerdócio que aliás
depende dos leigos batizados e confirmados, com isto a mais no entanto: que o
casamento abre aos pais, sem outra delegação, uma jurisdição própria sobre
esses pequenos seres nascidos da sua união de graça.
Essa função é tão
pessoal, ou, pelo menos, tão inerente à condição dos pais, que a Igreja jamais
passará por cima da vontade destes para batizar ou iniciar a instrução
religiosa de seus filhos, a menos que estes, tendo atingido a idade de
discrição, manifestem querer e poder perseverar.
A experiência demonstra,
com efeito, que nada iguala nem substitui a primeira educação religiosa do
filho pela família. Aliás, por essa educação religiosa cumpre entender não
somente as explicações orais dadas pela mãe e pelo pai a seus filhos, mas
também e sobretudo o exemplo das suas virtudes, a ambiência da sua fé, da sua
esperança e da sua caridade. A primeira educação da personalidade opera-se, com
efeito, por impregnação. Coisa que fazia Pio XI dizer que, se "a educação
é necessariamente obra do homem em sociedade, e não do homem isolado", e
se para este fim três sociedades se perfilam para cumprirem semelhante tarefa:
a família, a Igreja e o Estado, todavia é à família que cabe o reivindicar
sozinha o direito de primeira animação, visto ser ela "o primeiro meio natural
e necessário à educação", e visto haver sido ela "precisamente
destinada a esse fim pelo Criador".
Passada essa primeira
fase em que a educação total de seus filhos compete como própria aos pais,
estes últimos conservam "a gravíssima obrigação de velar, segundo todo o
seu poder, pela educação tanto religiosa e moral quanto física e cívica de seus
filhos" (c. 1113). Por essa forma eles colaboram imediatamente nas tarefas
da Igreja docente, proporcionando a esta uma eficácia que, sem o apoio deles,
quase se não poderia esperar dela, pois, como o afirma Pio XII, "sem a boa
educação religiosa dos filhos, o Corpo místico estaria exposto aos mais graves
perigos". Ao contrário, "enquanto no lar doméstico brilhar a chama
santa da fé em Jesus Cristo, enquanto os pais se empregarem em formar e em
modelar a vida de seus filhos conformemente a essa fé, a juventude estará
sempre pronta a reconhecer o Redentor em suas prerrogativas régias, e a se opor
àqueles que quiserem bani-lO da sociedade ou violar sacrilegamente os seus direitos"
(Pio XII, Summi Pontiiicatus, n. 89).
Necessidade de uma
espiritualidade conjugal
Vê-se o quanto importa
que os esposos cristãos sejam, para semelhantes tarefas, animados de uma
verdadeira espiritualidade de lar militante cristão.
Na sua vida íntima, a sua
união é para eles instrumento de graças transformantes, o seu casamento uma
vocação e um estado de santidade... Citemos somente felizes realizações na
ordem da vida religiosa familiar: oração da noite em comum, leitura da Bíblia, preparação
e assistência coletiva à missa do domingo, etc. Muitos pais procuram tomar a
seus filhos o sentido cristão das horas familiares: horas quotidianas, tais
como as refeições, as vigílias, os trabalhos, os lazeres; horas excepcionais
como os nascimentos, as doenças, os lutos. Procuram eles assim criar uma
atmosfera cristã por uma decoração e por um arranjo apropriado da casa...
Sumário
Com o sacramento da
Ordem, o matrimônio é destinado a prover às necessidades orgânicas e sociais da
Igreja, a tal ponto que a missão conjugal aparece como que complementar da
missão hierárquica conferida ao sacerdócio. Com efeito, se a hierarquia,
constituída pelo sacramento da Ordem e investida dos próprios poderes de
Cristo, "batiza, ensina, governa, liga, desliga, oferece, sacrifica, e
assim provê diretamente à comunicação da vida de Cristo e ao governo do povo
cristão, a comunidade conjugal, por seu lado, em virtude do sacramento que lhe
confere uma presença especial de Cristo e da Igreja, possui o privilégio de criar
um meio de graça santificante, e de assim provar ao "incremento exterior e
ordenado da comunidade cristã".
Bem mais, tem ela missão,
poder e graça de estado para orientar positivamente, pela obra da educação, os
filhos que ela pôs no mundo, rumo ao seu fim último, Cristo, o Deus Trinitário.
Cumpre ela assim uma obra estreitamente ligada à obra sacerdotal, e representa,
na missão redentora e santificadora da Igreja, o auxílio indispensável que o
Corpo traz à Cabeça.
A comunidade conjugal
tem, assim, o seu lugar marcado na Igreja.
Tais sendo as coisas,
vê-se o quanto importa que os esposos cristãos sejam, para semelhantes tarefas,
animados de verdadeira espiritualidade conjugal e familiar, a fim de que, na
sua vida íntima, a sua união seja verdadeiramente, para eles, instrumento de
graças transformantes, e que, na sua vida social, ela seja para o seu lar um
princípio de irradiação apostólica.
(Excerto
de Código familiar, síntese doutrinária - Fundada em Malines em 1920 sob a
presidência do Cardeal Mercier)
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