Dos Sermões de Santo André de Creta,
bispo
(Oratio 10 in
Exaltatione sanctae crucis: PG97,1018-1019)
(Séc.VIII)
Celebramos a festa da cruz; por ela as
trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da cruz e junto com o
Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o
pecado, obtenhamos os céus. A posse da cruz é tão grande e de tão imenso valor
que seu possuidor possui um tesouro. Chamo com razão tesouro aquilo que há de
mais belo entre todos os bens pelo conteúdo e pela fama. Nele, por ele e para
ele reside toda a nossa salvação, e é restituída ao seu estado original.
Se não houvesse a cruz, Cristo não
seria crucificado. Se não houvesse a cruz, a vida não seria pregada ao lenho
com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes
da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o
documento do pecado, não teríamos sido declarados livres, não teríamos provado
da árvore da vida, não se teria aberto o paraíso. Se não houvesse a cruz, a
morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno.
É, portanto, grande e preciosa a cruz.
Grande sim, porque por ela grandes bens se tornaram realidade; e tanto maiores
quanto, pelos milagres e sofrimentos de Cristo, mais excelentes quinhões serão
distribuídos. Preciosa também porque a cruz é paixão e vitória de Deus: paixão,
pela morte voluntária nesta mesma paixão; e vitória porque o diabo é ferido e
com ele a morte é vencida. Assim, arrebentadas as prisões dos infernos, a cruz
também se tornou a comum salvação de todo o mundo.
É chamada ainda de glória de Cristo, e
dita a exaltação de Cristo. Vemo-la como o cálice desejável e o termo dos
sofrimentos que Cristo suportou por nós. Que a cruz seja a glória de Cristo,
escuta-o a dizer: Agora, o Filho do homem é glorificado e nele Deus é
glorificado e logo o glorificará (Jo 13,31-32). E de novo: Glorifica-me
tu, Pai, com a glória que tinha junto de ti antes que o mundo existisse (Jo
17,5). E repete: Pai, glorifica teu nome. Desceu então do céu uma voz:
Glorifiquei-o e tornarei a glorificar (Jo 12,28), indicando aquela glória
que então alcançou na cruz.
Que ainda a cruz seja a exaltação
de Cristo, escuta o que ele próprio diz: Quando eu for exaltado,
atrairei então todos a mim (cf. Jo 12,32). Bem vês que a cruz é a
glória e a exaltação de Cristo.
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