Dos Escritos de São Vicente de Paulo,
presbítero
(Cf. Correspondance, Entretiens,
Documents, ed. P. Coste, Paris 1920-1925, passim)
(Séc.XVII)
Não temos de avaliar os pobres por suas
roupas e aspecto, nem pelos dotes de espírito que pareçam ter. Com frequência
são ignorantes e curtos de inteligência. Mas muito pelo contrário, se
considerardes os pobres à luz da fé, então percebereis que estão no lugar do
Filho de Deus que escolheu ser pobre. De fato, em seu sofrimento, embora quase
perdesse a aparência humana – loucura para os gentios, escândalo para os judeus
– apresentou-se, no entanto, como o evangelizador dos pobres: Enviou-me
para evangelizar os pobres (Lc 4,18). Devemos ter os mesmos
sentimentos de Cristo e imitar aquilo que ele fez: ter cuidado pelos
indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes valor.
Com efeito, Cristo quis nascer pobre,
escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma
quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo
tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os
pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na
mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por
isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os,
pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e,
compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me
tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o
coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que
derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele
nossos corações e guardando-os repletos.
Corpo incorrupto
|
Deve-se preferir o serviço dos pobres a
tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar
remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação
como se estivésseis em oração. Não vos perturbeis com angústia ou medo de estar
pecando por causa de abandono da oração em favor do serviço dos pobres. Deus
não é desprezado, se por causa de Deus dele nos afastarmos, quer dizer,
interrompermos a obra de Deus, para realizá-la de outro modo.
Portanto, ao abandonardes a oração, a
fim de socorrer a algum pobre, isto mesmo vos lembrará que o serviço é prestado
a Deus. Pois a caridade é maior do que quaisquer regras, que, além do mais,
devem todas tender a ela. E como a caridade é uma grande dama, faz-se
necessário cumprir o que ordena. Por conseguinte, prestemos com renovado ardor
nosso serviço aos pobres; de modo particular aos abandonados, indo mesmo à sua
procura, pois nos foram dados como senhores e protetores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário ou pergunta!