IV e Ultima Parte
A Agonia de Jesus, pelo Santo Padre Pio
Ele não quer limitar a torrente do Seu
amor! É preciso que o homem saiba quanto ama o Homem-Deus. É preciso que o
homem saiba até que abismos de abjeção pode levar amor tão completo. Embora a
Justiça do Pai esteja satisfeita com o suor do Sangue preciosíssimo, o homem
carece de provas palpáveis deste amor.
Jesus seguirá pois até ao fim: até à
morte ignominiosa sobre a cruz. O contemplativo conseguirá talvez intuir um
reflexo desse amor que o reduz aos tormentos da santa agonia no Jardim das
Oliveiras. Aquele, porém, que vive, entorpecido pelos negócios materiais,
procurando muito mais o mundo do que o Céu, deve vê-lO também pelo aspecto
externo, pregado à cruz, para que, ao menos, o comova a visão do Seu Sangue e a
Sua cruel agonia.
Não.
O Seu coração, transbordante de amor,
não está ainda contente! Domina-O a aflição, e ora de novo: “Pai, se este
cálice não pode ser afastado, sem que eu bebe, faça-se a tua vontade”.
A partir deste instante, Jesus responde
do fundo do Seu coração abrasado de amor, ao grito da humanidade que reclama a
Sua morte como preço da Redenção. À sentença de morte que Seu Pai pronuncia no
Céu, responde a Terra reclamando a Sua morte. Jesus inclina a sua adorável
cabeça: “Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu o beba, faça-se
a Tua vontade”.
E eis que o Pai lhe envia um anjo de consolação. Que alívio pode um anjo oferecer ao Deus da força, ao Deus invencível, ao Deus Todo-Poderoso? Mas este Deus quis tornar-se inerme. Tomou sobre os ombros toda a nossa fraqueza. É o Homem das Dores, em luta com a agonia.
Ora ao Pai por Si e por nós. O Pai recusa atendê-lO, pois deve morrer por nós. Penso que o anjo se prostra profundamente diante da Beleza eterna, manchada de pó e sangue, e com indizível respeito suplica a Jesus que beba o cálice, pela glória do Pai e pelo resgate dos pecadores.
Rezou assim, para nos ensinar a recorrer ao Céu, unicamente quando as nossas almas estão desoladas como a Sua.
Ele, a nossa força, virá ajudar-nos,
pois que consentiu em tomar sobre os ombros todas as nossas angústias.
Sim, meu Jesus, é preciso que bebais o
cálice até ao fundo! Estais votado à morte mais cruel. Jesus, que nada possa
separar-me de Vós, nem a vida nem a morte! Se, ao longo da vida, só desejo
unir-me ao Vosso sofrimento, com infinito amor, ser-me-á dado morrer conVosco
no Calvário e conVosco subir à Glória. Se Vos sigo nos tormentos e nas
perseguições tornar-me-eis digno de Vos amar um dia, no Céu, face a face,
conVosco, cantando eternamente o Vosso louvor em ação de graças pela cruel
Paixão.
Vede! Forte, invencível, Jesus ergue-se
do pó! Não desejou Ele o banquete de sangue com o mais forte desejo? Sacode a
perturbação que o invadira, enxuga o suor sangrento da face, e, em passo firme
dirige-se para a entrada do Jardim.
Onde ides, Jesus? Ainda há instantes,
não estavas empolgado pela angústia e pela dor? Não Vos vi eu, trêmulo, e como que
esmagado sob o peso cruel das provações que vão tombar sobre Vós? Aonde ides
nesse passo intrépido e ousado? A quem vais entregar-vos?
— Escuta, Meu filho. As armas da oração ajudaram-Me a vencer; o espírito dominou a fraqueza da carne. A força foi-Me transmitida, enquanto orava, e agora eis-Me pronto a tudo desafiar. Segue o Meu exemplo e arranja-te com o Céu, como Eu fiz. Jesus aproxima-Se dos apóstolos. Continuam a dormir! A emoção, a hora tardia, o pressentimento de alguma coisa horrível e irreparável, a fadiga — e ei-los mergulhados em sono de chumbo. Jesus tem piedade de tanta fraqueza. “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.
Jesus exclama. “Dormi agora e
repousai”. Detém-se por instante. Ouvem que Jesus Se vai aproximando, e
entreabrem os olhos...
Jesus continua a falar: “Basta. É
chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos
pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar”.
Jesus vê todas as coisas com os Seus olhos divinos. Parece dizer: Meus amigos e
discípulos, vós dormis, enquanto que os Meus inimigos velam e se aproximam para
virem prender-Me! Tu, Pedro, que há pouco te julgavas bastante forte para Me
seguir até na morte, também tu dormes agora! Desde o princípio tens-Me dado
provas da tua fraqueza! Está, porém, tranqüilo.
Aceitei sobre Mim a tua fraqueza e
rezei por ti. Depois de confessares a tua falta, serei a tua força e
apascentará os Meus rebanhos...
E tu, João, também tu dormes? Tu, que
acabavas de sentir as pulsações do Meu coração, não pudeste velar uma hora
comigo!
Levantai-vos, vamos partir, já não há
tempo para dormir. O inimigo está à porta! É a hora do poder das trevas!
Partamos. De livre vontade, vou ao encontro da morte. Judas acorre para
trair-Me, e Eu vou ao seu encontro. Não impedirei que se cumpram à risca as
profecias. Chegou a Minha hora: a hora da misericórdia infinita.
Ressoam os passos; archotes acesos
enchem o jardim de sombras e púrpura. Intrépido e calmo, Jesus avança seguido
pelos discípulos.
— Ó meu Jesus, dai-me a Vossa força
quando a minha pobre natureza se revolta diante dos males que a ameaçam, para
que possa aceitar com amor as penas e aflições desta vida de exílio. Uno-me com
toda a veemência aos Vossos méritos, às Vossas dores, à Vossa expiação, às
Vossas lágrimas, para poder trabalhar conVosco na obra da salvação. Possa eu
ter a força de fugir ao pecado, causa única da Vossa agonia, do Vosso suor de
sangue, e da Vossa morte. Afasteis de mim o que Vos desagrada, e imprimi
no meu coração com o fogo do Vosso santo amor todos os Vossos sofrimentos.
Abraçai-me tão intimamente, em abraço tão forte e tão doce, que nunca eu possa
deixar-Vos sozinho no meio dos Vossos cruéis sofrimentos.
Só desejo um único alívio: repousar sobre o Vosso coração. Só desejo uma única coisa: partilhar da Vossa Santa Agonia. Possa a minha alma inebriar-se com o Vosso Sangue e alimentar-se com o pão da Vossa dor!
Amém.
Fim
Pio de
Pietrelcina
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