III
Parte
A Agonia de Jesus, pelo Santo Padre Pio
Tem de cobrir-se com toda a lama fétida da
corrupção humana. Tem de expiar cada pecado à parte, e restituir ao Pai toda a
glória roubada. Para salvar o pecador, tem de descer a esta cloaca. Mas, isto
não O detém. Vaga monstruosa, essa lama rodeia-O, submerge-O, oprime-O.
Ei-lO em frente do Pai, Deus da Justiça, Ele, Santo dos Santos, vergado ao peso
dos nossos pecados, tornando-Se igual aos pecadores. Quem poderá sondar o Seu
horror e a Sua extrema repugnância? Quem compreenderá a extensão da horrível
náusea, do soluço de desgosto? Tendo tomado todo o peso sobre Ele, sem exceção
alguma sente-Se esmagado por monstruoso fardo, e geme sob o peso da Justiça
divina, em face do Pai que permitiu ao Seu filho se oferecesse como vítima
pelos pecados do mundo, e se transformasse numa espécie de maldito.
A sua pureza estremece diante desta massa infame mas ao mesmo tempo vê a Justiça ultrajada, o pecador condenado... No Seu coração defrontam-se duas forças, dois amores. Vence a Justiça ultrajada. Mas, que espetáculo infinitamente lamentável! Este homem, carregado com todos os nossos crimes. Ele, essencialmente Santidade, confundido, embora exteriormente, com os criminosos... Treme como um folha.
Para poder afrontar esta terrível agonia abisma-Se na oração. Prostrado diante
da Majestade do Pai, diz: “Pai, afasta de mim este cálice”. É como se dissesse:
“Pai, quero a tua glória! Quero o cumprimento da tua justiça. Quero a
reconciliação do gênero humano. Mas não por este preço! Que Eu, santidade
essencial, seja assim salpicado pelo pecado, ah! não... isso não! Ó pai, a quem
tudo é possível, afasta de mim este cálice e encontra outro meio de salvação
nos tesouros insondáveis da tua sabedoria. Porém, se não quiseres, que a tua
vontade, e não a minha, se faça!
Desta vez ainda, fica sem efeito a prece do Salvador. Sente a angústia mortal,
ergue-Se a custo em busca de consolação. Sente como as forças O abandonam.
Arrasta-Se penosamente até junto dos discípulos. Uma vez mais, encontra-os a
dormir. A Sua tristeza torna-se mais profunda. E contenta-Se simplesmente em os
acordar. Sentiram-se confusos? Sobre isto nada sabemos. Só vemos Jesus
indizivelmente triste. Guarda para Ele toda a amargura deste abandono.
Mas Jesus, como é grande a dor que leio no Vosso coração, transbordante de tristeza. Vos vejo afastando-Vos dos Vossos discípulos, ferido, todo magoado! Pudesse eu dar-Vos algum reconforto, consolar-Vos um pouco... mas, incapaz de mais nada, choro aos Vossos pés. Unem-se às Vossas as lágrimas do meu amor e da minha compunção. E elevam-se até ao trono do Pai, suplicando que tenha piedade de nós, que tenha piedade de tantas almas, mergulhadas no sono do pecado e da morte.
Jesus volta ao lugar onde rezara, extenuado e em extrema aflição. Cai, sim, mas
não Se prostra. Cai sobre a terra. Sente-Se despedaçado por angústia mortal e a
Sua prece torna-se mais intensa.
O Pai desvia O olhar, como se Ele fosse o mais abjeto dos homens. Parece-me
ouvir os lamentos do Salvador:
Se, ao menos as criaturas por causa de quem eu tanto sofro quisessem
aproveitar-se das graças obtidas através de tantas dores! Se, ao menos
reconhecessem pelo seu justo valor, o preço pago por mim para resgatar e
dar-lhes a vida de filhos de Deus! Ah! este amor despedaça-me o coração, bem
mais cruelmente do que os carrascos que irão, em breve, despedaçar-me a
carne...
Vê o homem que não sabe, porque não quer saber; e blasfema do Sangue Divino e,
o que é bem mais irreparável, serve-se desse Sangue para sua condenação.
Quão poucos o hão de aproveitar, quantos outros correrão ao encontro do próprio extermínio!
Na grande amargura do Seu coração, continua a repetir: “Quæ utilitas im sanguine meo? Quão poucos aproveitaram o Meu Sangue!
O pensamento, porém, deste pequeno número basta para afrontar a Paixão e morte.
Nada existe, não há ninguém que possa dar-Lhe sombra de consolação. O Céu
fechou-Se para Ele. O homem, embora esmagado ao peso dos pecados, é ingrato e
ignora o Seu amor. Sente-se submerso num mar de dor e grita no estertor da
agonia: “A minha alma está triste até a morte”.
Sangue
Divino, que jorras, irresistivelmente do Coração de Jesus, corres por todos os
seus poros para lavar a pobre Terra ingrata. Permite-me que eu te recolha,
Sangue tão precioso, sobretudo estas primeiras gotas. Quero guardar-te no
cálice do meu coração. És prova irrefutável deste Amor, única causa de teres
sido vertido. Quero purificar-me através de ti, Sangue preciosíssimo! Quero com
ele purificar todas as almas, manchadas pelo pecado. Quero oferecer-te ao Pai.
É o sangue do Seu Filho Bem-Amado que caiu sobre a Terra para a purificar. É o
Sangue do Seu Filho que ascende ao Seu trono para reconciliar a Justiça
ultrajada. A alegria é na verdade muito mais veemente do que a dor.
Jesus chegou então ao fim do caminho doloroso?
Não.
Não.
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