I
Parte
A
Agonia de Jesus, pelo Santo Padre Pio
Espírito Divino iluminai a minha inteligência, inflamai o meu
coração, enquanto medito na Paixão de Jesus. Ajudai-me a penetrar nesse
mistério de amor e sofrimento do meu Deus, que, feito homem sofre, agoniza,
morre por mim. Ó Eterno, ó Imortal, descei até nós para sofrer um martírio
inaudito, a morte infame sobre a cruz no meio dos insultos, de impropérios e
ignomínias, a fim de salvar a criatura que O ultrajou e continua a atolar-se na
lama do pecado.
O homem saboreia o pecado e, por causa do pecado, Deus está mortalmente triste;
os tormentos duma agonia cruel fazem-nO suar sangue!...
Não, não posso penetrar neste oceano de amor e de dor sem a ajuda da Vossa
graça, ó meu Deus. Abri-me o acesso à mais íntima profundidade do coração de
Jesus, para que eu possa participar da amargura que O conduziu ao Jardim das
Oliveiras, até às portas da morte — para que me seja dado consolá-lO no seu
extremo abandono. Ah! Pudesse eu unir-me a Cristo, abandonado pelo Pai e por Si
próprio, a fim de expirar com Ele!
Meu Anjo da guarda velai para que as minhas faculdades se concentrem todas na
agonia de Jesus e nunca mais se desprendam... No termo da Sua vida terrestre,
depois de se nos ter inteiramente entregue no Sacramento do Seu amor, o Senhor
dirige-se ao Jardim das Oliveiras, conhecido dos discípulos, mas de Judas também.
Pelo caminho ensina-os e prepara-os para a Sua Paixão iminente convida-os, por
Seu amor, a sofrer calúnias, perseguições até à morte, para os transfigurar à
semelhança d'Ele, modelo divino. No momento de começar a Sua Paixão amaríssima,
não é n'Ele que pensa; pensa em ti.
Que abismos de amor não contém o Seu Coração! A Sua Santa Face é toda tristeza, toda ternura. As Suas palavras jorram da profundidade mais íntima do Seu coração, e são todas palpitação de amor.
— Ó Jesus, o meu coração perturba-se quando penso no amor que Vos obriga a
correr ao encontro da Vossa Paixão. Ensinastes-nos que não há amor maior que
dar a vida por aqueles a quem se ama. Eis que estais prestes a selar estas
palavras com o Vosso exemplo. No Jardim da Oliveiras, o Mestre afasta-se
dos discípulos e só leva três testemunhas da Sua Agonia: Pedro, Tiago e João.
Eles, que O viram transfigurado sobre o Tabor, terão força para reconhecer o
Homem-Deus neste ser, esmagado pela angústia da morte?
Ao entrar no Jardim disse-lhes: “Ficai aqui! Velai e rezai para não cairdes em
tentação. Acautelai-vos, porque o inimigo não dorme. Armai-vos antecipadamente
com as armas da oração para não serdes surpreendidos e arrastados para o pecado.
É a hora das trevas”. Tendo-os exortado, afastou-se à distância de uma pedrada
e prostrou-Se com a face em terra. A sua alma está mergulhada num mar de
amargura e extrema aflição.
É tarde. Na lividez da noite
agitam-se sombras sinistras. A Lua parece injetada de sangue. O vento agita as
árvores e penetra até aos ossos. Toda a natureza como que estremece de secreto
pavor! Ó noite, como nunca houve outra semelhante.
Eis o lugar onde Jesus vem orar. Ele despoja a Sua santa Humanidade da força à
qual tem direito pela sua união com a Divina Pessoa, e mergulha-a num abismo de
tristeza, de angústia, de abjeção. O seu espírito parece submergir-se...
Via antecipadamente toda a sua Paixão.
Vê Judas, seu apóstolo tão amado, que o vende por alguns dinheiros.
Ei-lo a caminho de Getsêmani, para o trair e entregar! Todavia, ainda há
pouco não o alimentou com a sua carne, não lhe deu a beber o seu sangue?
Prostrado diante dele, lavou-lhe os pés, apertou-os contra o coração, beijou-os
com os seus lábios. Que não fez ele para o reter à beira do sacrilégio, ou pelo
menos para o levar a arrepender-se!
Não!
Ei-lo que corre para a
perdição... Jesus chora. Vê-se arrastado pelas ruas de Jerusalém onde ainda há
alguns dias o aclamavam como Messias. Vê-se esbofeteado diante do
sumo-sacerdote. Ouve os gritos: À morte! Ele, o autor da vida, é arrastado como
um farrapo de um para outro tribunal. O povo, o seu povo tão amado, tão
cumulado de bênçãos, vocifera contra Ele, insulta-o, reclama aos gritos a sua morte,
e que morte, a morte sobre a cruz. Ouve as suas falsas acusações. Vê-se
flagelado, coroado de espinhos, escarnecido, acusado como falso rei.
Vê-se condenado à cruz, subindo ao Calvário, sucumbindo ao peso do madeiro,
trêmulo, exausto...
Ei-lo chegado ao Calvário, despojado das roupas, estendido sobre a cruz,
impiedosamente trespassado pelos pregos, ofegante entre indizíveis torturas...
Meu Deus! Que longa agonia de três horas, até sucumbir no meio dos apupos da
gentalha, ébria de cólera!
Ei-lO com a garganta e as entranhas, devoradas por sede ardente. Para estancar essa sede, dão-Lhe vinagre e fel.
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