Tanto S. Mateus
como S. Lucas nos falam de S. José como varão descendente de uma estirpe
ilustre: a de David e de Salomão, reis de Israel. Historicamente, os pormenores
dessa descendência são algo confusos. Não sabemos qual das duas genealogias que
os evangelistas trazem corresponde a Maria - Mãe de Jesus, segundo a carne - e
qual a S. José, que era seu Pai segundo a lei judaica. Nem sabemos se a cidade
natal de José era Belém, onde se dirigiu para se recensear, ou Nazaré, onde
vivia e trabalhava.
Sabemos, no
entanto, que não era uma pessoa rica; era um trabalhador como milhões de homens
no mundo. Exercia o ofício fatigante e humilde que Deus escolheu também para Si
quando tomou a nossa carne e viveu trinta anos como uma pessoa mais entre nós.
Cristo que passa, 40
Como dizíamos, José
era artesão da Galileia, um homem como tantos outros. E que pode esperar da
vida um habitante de uma aldeia perdida, como era Nazaré? Apenas trabalho,
todos os dias, sempre com o mesmo esforço. E, no fim da jornada, uma casa pobre
e pequena, para recuperar as forças e recomeçar o trabalho no dia seguinte.
José = "Deus
acrescentará"
Mas o nome de José
significa em hebreu Deus acrescentará. Deus dá à vida santa dos que cumprem a
sua vontade dimensões insuspeitadas, o que a torna importante, o que dá valor a
todas as coisas, o que a torna divina. À vida humilde e santa de S. José, Deus
acrescentou - se me é permitido falar assim - a vida da Virgem Maria e a de
Jesus Nosso Senhor. Deus nunca se deixa vencer em generosidade. José podia
fazer suas as palavras que pronunciou Santa Maria, sua Esposa: Quia fecit mihi
magna qui potens est, fez em mim grandes coisas Aquele que é todo poderoso quia
respexit humilitatem, porque pôs o seu olhar na minha pequenez.
José era
efetivamente um homem corrente, em quem Deus confiou para realizar coisas
grandes. Soube viver exatamente como o Senhor queria todos e cada um dos
acontecimentos que compuseram a sua vida. Por isso, a Sagrada Escritura louva
José, afirmando que era justo. E, na língua hebreia, justo quer dizer piedoso,
servidor irrepreensível de Deus, cumpridor da vontade divina; outras vezes
significa bom e caritativo para com o próximo. Numa palavra, o justo é o que
ama a Deus e demonstra esse amor, cumprindo os seus mandamentos e orientando
toda a sua vida para o serviço dos seus irmãos, os homens.
Cristo que passa, 40
Ensinou o seu
ofício a Jesus
Mas, se José
aprendeu de Jesus a viver de um modo divino, atrever-me-ia a dizer que, no
aspeto humano, ensinou muitas coisas ao Filho de Deus. Há qualquer coisa que
não me agrada no titulo de pai adotivo com que às vezes se designa José, porque
tem o perigo de fazer pensar que as relações entre José e Jesus eram frias e
externas. Certamente que a nossa fé nos diz que não era pai segundo a carne, mas
não é essa a única paternidade.
A José —lemos num
sermão de Santo Agostinho — não só se lhe deve o nome de pai, mas este é-lhe
devido mais do que a qualquer outro..
Jesus tinha os
modos de José
José amou Jesus
como um pai ama o seu filho, tratou-o dando-lhe tudo que de melhor tinha. José,
cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão:
transmitiu-lhe o seu ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus
chamando-lhe indistintamente faber e fabri filius: artesão e filho do artesão.
Jesus trabalhou na oficina de José e junto de José. Como seria José, como teria
atuado nele a graça, para ser capaz de levar a cabo a tarefa de desenvolver no
aspeto humano o Filho de Deus?
Por isso, Jesus
devia parecer-se com José no modo de trabalhar, nos traços do seu carácter, na
maneira de falar. No realismo de Jesus, no seu espírito de observação, no seu
modo de se sentar à mesa e de partir o pão, no seu gosto por falar dum modo
concreto tomando como exemplo as coisas da vida corrente, reflete-se o que foi
a infância e a juventude de Jesus e, portanto, a sua convivência com José.
Não é possível
desconhecer a sublimidade do mistério. Esse Jesus que é homem, que fala com o
sotaque de uma determinada região de Israel, que se parece com um artesão
chamado José, esse é o Filho de Deus. E quem pode ensinar alguma coisa a Deus?
Mas é realmente homem e vive normalmente: primeiro como menino; depois, como
rapaz que ajuda na oficina de José; finalmente como homem maduro, na plenitude
da idade. Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos
homens.
Cristo que passa, 55
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