Cardinale Giuseppe Siri |
Entendo
oportuno chamar a atenção para um problema que está se tornando extremamente
importante: o problema do hábito eclesiástico. [...] De fato, estamos
testemunhando a maior decadência do hábito eclesiástico. [...] O hábito
condiciona fortemente e, às vezes, até forja a psicologia de quem o veste. O
traje [eclesiástico], de fato, é um compromisso quando de sua tomada, em sua
conservação e em sua substituição. É a primeira coisa que se vê, a última que
se depõe. Ele lembra o compromisso, a pertença, o decoro, o vínculo, o espírito
de conjunto, a dignidade! Isto o faz de forma contínua. Cria, portanto, limites
à ação; evoca constantemente esses limites; aciona a barreira do pudor, do bom
nome, do próprio dever, da repercussão pública, das consequências das
interpretações maldosas.
[...]O
hábito não faz o monge por inteiro, mas certamente o faz em uma notável parte;
em sua maior parte, conforme cresce a sua fraqueza de temperamento. [...] Por
esta razão, a questão de um uniforme se agiganta no campo eclesiástico e requer
a atenção de todos os que querem salvar as vocações e ter perseverança nos
deveres, disciplina, piedade e santidade que aceitaram! [...]
Acontece
que, em algumas cidades da Itália (não citaremos nomes, obviamente, mas estamos
completamente certos do que dizemos), por causa da ausência do recato imposto
pelo “sagrado uniforme”, chega-se a entretenimentos ainda proibidos pelo Código
de Direito Canônico [de 1917]: boates, casas de má reputação e pior. Estamos a
par das prisões de seminaristas feitas em cinemas infames e em outros locais
menos recomendáveis. Tudo por causa do hábito traído! [...] O balanço que se
faz. Aqui está:
-
descrédito;
- desconfiança;
- insinuações fáceis e, às vezes, graves;
- padres que, começando pelo hábito e pelo desmantelamento da
primeira humilde defesa, acabam onde acabam…
- crises sacerdotais, totalmente culpáveis aos responsáveis,
porque começadas com a recusa das cautelas necessárias, exigidas pelo Direito
Canônico e pelo Conselho dos Bispos…, com resultados ruinosos e insensatos…
- seminários
que se esvaziam e não resistem, enquanto no mundo, tanto na Europa como na
América, os seminários estão cheios, quando ordenados de acordo com a sua
verdadeira origem, com hábito eclesiástico rigoroso, na verdadeira obediência
ao Decreto conciliar Optatam
totius;
- almas que se arrastam pela vida sem ter mais nenhuma capacidade
de decisão, após a contaminação delas com o mundo.
[...] Eu
creio que, em nosso tempo, justamente por suas características, possa ser
difícil existir o espírito eclesiástico sem existir o desejo e o respeito pelo
hábito eclesiástico.
[...] Aqui
não estamos falando apenas de “hábito eclesiástico”, mas de batina. E tenhamos
a coragem de encarar os fatos, sem medo algum do que pode ser dito. [...]
Cardinale Giuseppe Siri |
Alguns, para
boicotar o uso da batina, ou para se justificar por ter cedido à moda atual
contrária à batina, afirmam: “de qualquer maneira, a batina é um hábito
litúrgico”, pretendendo, assim, esgotar o eventual uso da batina apenas na
liturgia. Isto é claramente falso e capciosamente hipócrita! [...] Francamente,
é claro que o clergyman [...] não é a solução mais desejada. Quem não ama a sua
batina será capaz de continuar a amar o seu serviço a Deus? O próximo não
substitui a Deus! Não é um soldado quem não ama a sua farda. [...] A direção a
ser tomada é:
- que, mesmo que a lei permita o clergyman, este não representa,
no meio de nosso povo, a solução ideal;
- que quem entende possuir o integral espírito eclesiástico deve
amar a sua batina; [...]
- que a defesa da batina é a defesa da vocação e das vocações.
Meu dever como pastor me obriga a olhar muito longe. Tive que
constatar que a introdução do clergyman, além da lei e das depravações do
hábito eclesiástico, são a causa, provavelmente a primeira, do grave declínio
da disciplina eclesiástica na Itália. Quem ama o sacerdócio, não brinque com o
seu uniforme!
[Excerto: Card. Giuseppe Siri, A Te
sacerdote, vol. II, Frigento: Casa Mariana, 1987, pp. 67-73].
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