(São Gregório Magno, Papa, Sermões
sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp.
205 a 209).
Eis os sinais que acompanharão aqueles que terão acreditado: em meu
nome, eles expulsarão os demônios, eles falarão em línguas novas, eles pegarão
em serpentes, e se tiverem bebido algum veneno mortal, ele não lhes fará nenhum
mal. Eles imporão suas mãos aos doentes e estes serão curados” (São Marcos,
XVI,16).
Será que, meus caros irmãos, pelo fato de que vós não fazeis nenhum
destes milagres, é sinal de que vós não tendes nenhuma fé?
Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé
crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos
árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que
elas se enraizaram, cessamos de regá-las.
Eis porque São Paulo dizia:”O dom das línguas é um milagre não para os
fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22).
Sobre esses sinais e esses poderes, temos nós que fazer observações mais
precisas?
A Santa Igreja, faz todo dia, espiritualmente, o que ela realizava então
nos corpos, por meio dos Apóstolos. Porque, quando os seus padres, pela graça
do exorcismo, impõem as mãos sobre os que crêem, e proíbem aos espíritos
malignos de habitar sua alma, faz outra coisa que expulsar os demônios?
Todos esses fiéis que abandonam o linguajar mundano de sua vida passada,
cantam os santos mistérios, proclamam com todas as suas forças os louvores e o
poder de seu Criador, fazem eles outra coisa que falar em línguas novas?
Aqueles que, por sua exortação ao bem, extraem do coração dos outros a
maldade, agarram serpentes.
Os que ouvem maus conselhos sem, de modo algum, se deixar arrastar por
eles a agir mal, bebem uma bebida mortal, sem que ela lhes faça mal
algum.
Aqueles que todas a vezes que vêem seu próximo enfraquecer, para fazer o
bem, e o ajudam com tudo o que podem, fortificam, pelo exemplo de suas ações,
aqueles cuja vida vacila, que fazem eles senão impor suas mãos aos doentes, a
fim de que recobrem a saúde?
Estes milagres são tanto maiores pelo fato de serem espirituais, são
tanto maiores porque repõem de pé, não os corpos, mas as almas.
Também vós, irmãos caríssimos, realizais, com a ajuda de Deus, tais
milagres, vós os realizais, se quiserdes.
Pelos milagres exteriores não se pode obter a vida. Esses milagres
corporais, por vezes, manifestam a santidade. Eles não criam a santidade.
Os milagres espirituais agem na alma. Eles não manifestam uma vida
virtuosa. Eles fazem vida virtuosa.
Também os maus podem realizar aqueles milagres materiais. Mas os
milagres espirituais só os bons podem fazê-los.
É por isso que a Verdade diz, de certas pessoas:
“Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que
nós profetizamos, que nós expulsamos os demônios e que realizamos muitos
prodígios? E Eu lhes direi:”Eu não vos conheço. Afastai-vos de Mim, vós que
fazeis o mal” (São Mateus VII, 22-23).
Não desejeis, ó irmãos caríssimos, fazer os milagres que podem ser
comuns também aos réprobos,, mas desejai esses milagres da caridade e do amor
fraterno dos quais acabamos de falar: eles são tanto mais seguros pelo fato de
que são escondidos, e porque acharão, junto a Deus, uma recompensa tanto mais
bela quanto eles dão menor glória diante dos homens”.
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