Blog: Caríssimos leitores, começaremos a publicar o livro Carta aos Amigos da Cruz do grande santo, São
Luís Maria de Montfort. Convidamos a todos a nos acompanhar nesta belíssima
leitura. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1954
Dom
Estevão Bittencourt, O.S.B.
I Parte
da publicação
da publicação
Prefácio
É um grande apóstolo da Cruz que expande sua alma nesta carta. A
exemplo de S. Paulo, Montfort “só quer saber... Jesus Cristo, e Jesus Cristo
crucificado (I Cor., II, 2); Cristo pregado na Cruz, que é escândalo para os
Judeus, para o mundo loucura, mas, para os eleitos... é Sabedoria de Deus” (I
Cor., I, 23-24)
Em seu livro intitulado “O Amor da Sabedoria eterna”, belas
páginas já cantavam o mistério de nossa salvação, principalmente, entre outras,
aquelas em que é celebrada a união indissolúvel de Jesus com a Cruz(n° 168 e
segs.). Num lirismo não igualado, demonstra aé que não se pode amar a um sem amar
a outra. E é o programa da vida cristã, proposto pelo Divino Mestre a todos os
seus discípulos, que São Luís Maria comenta sem artifícios, para uso dos seus
queridos “Amigos da Cruz”.
Ao pregar em Nantes, em 1708, uma missão na paróquia de São
Similiano, o Padre de Montfort havia agrupado, numa Confraria dos Amigos da
Cruz, os seus ouvintes mais fervorosos. Ao passar por essa cidade, em várias
ocasiões, os gavia animado a perseverar em seu fervor primitivo. Bem cedo
foi-lhe preciso reduzir as conversas particulares o seu ministério junto a
eles. Assim aconteceu notadamente durante o decorrer do verão de 1714, quando o
santo missionário empreendeu sua viagem à Normandia. Não pôde com efeito, usar
publicamente da palavra; a interdição que pesava sobre ele, desde o incidente
do Calvário de Pont-Château, não havendo sido ainda levantada.
Rennes era sua segunda etapa depois de Nantes. Lá também os
Jansenistas vigiavam e suas intrigas reduziram ao silêncio o seu temível
adversário. A seu pedido, os Padres Jesuítas abriram ousadamente a porta do
colégio onde outrora havíam formado sua jovem alma. O apóstolo aí se refugiou
em retiro; durante oito dias contemplou o mistério do Calvário. Incessantemente
face a face e coração a coração com o Homem das Dores e com sua Mãe Santíssima,
hauriu novas luzes e as mais ardentes chamas.
É o fruto de sua contemplação que, “no seu último dia de retiro”,
quis fazer saborear aos seus fervorosos discípulos, nas páginas de uma carta em
que o ardor de apóstolo consumido de desejo de atrair as almas para o caminho
da cruz, se tempera sabiamente de prudência nos conselhos práticos que lhes
apresenta.
Quererá isto dizer que se deva ver na “Carta Circular aos Amigos
da Cruz” uma improvisação? Decerto que Não; é ela que o santo viveu e pregou
durante toda a sua vida. São testemunhas disto os seus dois cânticos sobre “A
força da paciência” (39 estrofes e 8 versos) e “O triunfo da Cruz” (31 estrofes
do mesmo comprimento), que ele vinha rimando, segundo se julga, desde o
Seminário, e onde encontramos quase todos os elementos da Carta. É testemunha
disto o lugar que dá, no alto de seus 62 “Oráculos”, ao programa do Divino
Mestre: “Se alguém quiser vir após mim...”, e que aqui se encontra longamente
desenvolvido. É testemunha, disto, principalmente, o belo capítulo intitulado
“O triunfo da eterna Sabedoria na Cruz e pela Cruz”, capítulo XIV de “O Amor da
Eterna Sabedoria”, obra escrita, sem dúvida, em sua juventude sacerdotal.
Testemunham-no ainda os seus três planos
de sermões sobre “O Amor da Cruz”, e outro sobre “A Exaltação da
Santa Cruz”, seguido de “XV Práticas para se conduzir nas cruzes com
perfeição”. Testemunha-o, por fim, a Cruz coberta de máximas que fez erguer no
Hospital de Poitiers, “no meio da sala em que reuniu as primeiras Filhas da
Sabedoria”.
Ao encontrar, na Carta-Circular, as riquezas da Escritura, dos
Padres da Igreja e dos teólogos, onde Montfort hauriu o melhor de sua doutrina,
não se pode deixar de reconhecer a parte
de influência exercida sobre ele por M. Boudon, ilustre arcipreste de Evreux.
“Les sainctes voyes de la Croix ”,
por este autor, eram, segundo o testemunho de M. Blain, condissípulo de Luís
Maria, seu livro preferido no Seminário de São Sulpício. Encontramos na “Carta
ao Amigos da Cruz” várias passagens extraídas do livro de M. Boudon. Já não
havia “Le sainct esclavage de la
Mère de Dieu”, pelo
mesmo autor, feito as delícias do Seminarista que deveria escrever um dia o
“Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem?”
Gostamos - e a justo título - de ver em Montfort o grande apóstolo
de Nossa Senhora. Sua perfeita devoção a Maria, porém, é apenas um meio, -o
meio por excelência,- de conduzir a almas a Jesus. “Se estabelecemos a sólida
devoção à Santíssima Virgem é apenas para mais perfeitamente estabelecer a de
Jesus Cristo, é apenas para dar um meio fácil e seguro de encontrar Jesus
Cristo”(V.D., n° 62).
Procuremos lembrar-nos disto ao ler e meditar a “Carta sobre a
Escravidão à Santíssima Virgem”e talvez também o seu luminoso tratado da
“Verdadeira Devoção”. A presente “Carta” lhes está ligada, ousamos dizer, como
desenvolvimento, como complemento do pensamento do santo autor, “no desígnio
que Ele tem de formar um verdadeiro devoto de Maria e um Verdadeiro discípulo
de Jesus Cristo”(V.D., n° III).
Mal acabava de ser escrita a “Carta Circular”, foi impressa, na
própria Rennes, graças aos bons ofícios de M. d’Orville. Espalhou-se ela assim,
largamente, entre os amigos da Cruz e as almas devotas. O manuscrito,
entretanto, foi piedosamente conservado. Em 1770, o Revmo. Pe. Besnard,
superior geral da Companhia de Maria e das filhas da Sabedoria, atesta que esse
manuscrito se acha em poder dos Missionários de Saint-Laurent-sur-Sèvre. Desde
então, entretanto, ignora-se o seu paradeiro. Terá ele desaparecido durante a guerra
da Vendéa?
Dada a falta do manuscrito, cuja perda devemos lamentar, dada a
falta mesmo de antigos exemplares impressos, utilizamos para esta edição o
texto de 1830, publicado pelo Revmo. Pe. Delin, escritor geralmente fidelíssimo
em suas transcrições e que fez dessa fidelidade lei.
Permitimo-nos apenas adotar pontuação e parágrafos mais conformes
ao gosto do leitor moderno. Pelo mesmo motivo foram postos em evidência os
sumários sugeridos pelo texto, que não trazia nem sub-títulos, nem divisões.
Foram acrescentados em nota alguns esclarecimentos úteis, bem como as
principais referências das passagens da Sagrada Escritura de que a “Carta” está
repleta. Como para as outras obras do santo, números entre colchetes,
independentes da paginação, facilitarão as voltas ao texto.
Foi tomada para modelo, na apresentação desta “Carta”, a
“Edição-Tipo” (1926) da “Carta sobre a Escravidão à Santíssima Virgem”, ou “O
Segredo de Maria” (I). Assim as duas cartas irão juntas à conquista das almas,
para maior glória de Jesus e de sua Mãe.
A.P.D.
(1) “O Segredo de Maria” e o “Método de Rezar o Rosário, também de
Montfort.
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