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terça-feira, 17 de setembro de 2013

III Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort

III Parte 
da publicação

Segunda Parte

Práticas da Perfeição Divina Cristã

O programa do Divino Mestre
[13] Toda a perfeição cristã, com efeito, consiste:
1°: em querer tornar-se santo: “Se alguém quiser vir após mim”;
2°: em abster-se: “renuncie a si mesmo”;
3°: em sofrer: “carregar sua cruz”;
4°: em agir: “siga-me”

1° - Querer tornar-se Santo:

“Se Alguém Quiser Vir Após Mim”

A) “Se alguém...”

“Si quis”, se alguém, alguém, e não alguns, para marcar o pequeno número dos eleitos que se querem tornar conformes a Jesus Cristo crucificado, carregando a cruz. É tão pequeno esse número, tão pequeno, que se o soubéssemos ficaríamos pasmados de dor.

É tão pequeno que não há apenas um em cada dez mil, como foi revelado a vários santos, - entre outros a São Simeão Estilita, segundo narra o santo abade Nilo, bem como Santo Efrém, São Basílio e alguns outros. (35) É tão pequeno que, se Deus quisesse reuni-los, gritar-lhes-ia, como se outrora pela boca do profeta: Congregamini unus et unus, reuni-vos de um a um, um desta província, outro deste reino...(36).

B) Se alguém quiser...

[15] Si quis vult, se alguém tiver vontade verdadeira, firme e determinada, não pela natureza, o costume, o amor próprio, o interesse ou o respeito humano, mas, por uma graça toda virtuosa do Espírito Santo, que não se dá a todos: non omnibus datum est nosse myterium(37). O conhecimento do mistério da Cruz, na prática, só é dado a poucas pessoas. Para um homem subir ao Calvário e aí se deixar pregar na Cruz com Jesus, em sua própria pátria, é preciso que seja um bravo, um herói, um determinado elevado em Deus, que despreze o mundo e o inferno, seu corpo e sua vontade própria; um determinado a deixar tudo, a tudo empreender e a tudo sofrer por Jesus Cristo.

Sabei, queridos Amigos da Cruz, que aqueles dentre vós que não têm esta determinação, andam com um pé só, voam com uma só asa e não são dignos de estar no meio de vós, porque não são dignos de ser chamados Amigos da Cruz, que devemos amar, com Jesus Cristo, corde magno et animo volenti (38). Basta uma meia vontade, neste caso, para por, como uma ovelha preta, o rebanho a perder. Se em vosso aprisco já existe uma delas, entrada pela porta má do mundo, em nome de Jesus Cristo crucificado expulsai-a como a um lobo que estivesse entre os cordeiros!

C) ... Vir após mim

[16] Si quis vult post me venire, se alguém quiser vir após mim, - que tanto me humilhei e aniquilei, que me tornei mais semelhante a um verme que a um homem, ego sum vermis et non homo(39); após mim, que só vim ao mundo para abraçar a Cruz, - ecce venio (40); para colocá-la no centro de meu coração -im medio cordis (41); para amá-la desde a minha juventude, hanc amavi a juventute mea; para suspirar por ela durante a minha vida, quomodo coarctor? (42); para carregá-la com alegria, preferindo-a a todas as alegrias do céu e da terra, proposito sibi gaudio, sustinuit crucem (43); e que, enfim, só me contentei quando morri em seu divino abraço. (44)

2° - Abster-se

“Renuncie a Si Mesmo!”


Longe dos Amigos da Cruz os orgulhosos e os sensuais!

[17] Se pois, alguém quiser vir após mim assim aniquilado e crucificado, que só se glorifique, como eu, na pobreza, nas humilhações e nas dores de minha Cruz! abneget semetipsum, renuncie a si mesmo!

Longe da Companhia dos Amigos da Cruz os sofredores orgulhosos, os sábios do século, os grandes gênios e os espíritos fortes, que são teimosos e convencidos de suas luzes e talentos! Longe daqui os grandes tagarelas, que fazem muito ruído e colhem apenas o fruto da vaidade! Longe daqui os devotos orgulhosos e que levam para toda parte o “quanto a mim”do orgulhoso Lúcifer, “non sum sicut ceteri” (45), que não podem suportar que os censurem sem desculpar-se, que os ataquem sem defender-se, que os rebaixem sem exaltar-se!


Tende bem cuidado para não admitir em vossa companhia os delicados e sensuais, que temem a menor picadela, que se queixam de mínima dor, que nunca provaram a crina, o cilício, a disciplina e, entre as suas devoções em moda, misturam a mais disfarçada e refinada delicadeza e falta de mortificação.

NOTAS EXPLICATIVAS

(35) Esta frase, inédita pelo menos nas edições que vieram até nós, foi extraída das citações da “Carta” feitas por Picot de Clorivière, em sua “Vida de S. Luís Maria Grignion de Montfort”, p. 389.

(36) O pequeno número dos eleitos, de restrição verdadeiramente assustadora, que aqui avalía o santo autor, não lança em o número dos réprobos a imensa multidão dos cristãos menos perfeitos, que a misericórdia divina quer, entretanto, salvar. Segundo o diz o próprio Montfort, trata-se da elite que escolhe o caminho seguro da cruz. O profeta citado (Is. 27, 12) anuncia o reagrupamento dos judeus em sua pátria.

(37) Mat., 13, 11.

(38) II Mac., 1, 3: “De coração largo e de bom grado”.

(39) Sl., 21, 7.

(40) Sl., 39; Hebr., 10, 7-9.

(41) Sl., 39, 9.

(42) Sab., 8, 2.

(43) Luc., 12, 50. - Os comentadores modernos, cercando de mais perto o sentido destas palavras, concordam em ver nelas expressa a angústia do Salvador diante da perspectiva da Paixão. Longe de enfraquecer o pensamento de Montfort, esta interpretação dá-lhe ainda mais força, substituindo ao desejo da cruz a tortura que oprime o seu coração pela visão contínua dessa cruz, que escolheu para nossa salvação.

(44) Heb., 12, 2.

(45) “Não sou como os outros...” são as palavras do fariseu: Luc., 18,2.

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