Realmente precisamos tirar o chapéu para o prof.
Hermes. É impossível que estas mulheres continuem se denominando como católicas,
ofuscando assim a verdade de nossa fé. Estas não falam em nome da Igreja e
muito menos em nome das mulheres realmente católicas.
Nosso Canal
terça-feira, 24 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
VII e Ultima Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
VII e Ultima Parte
da Publicação d
Cântico
(134)
O Triunfo da
Cruz (135)
I
É a Cruz,
sobre a terra, mistério profundíssimo, que não se conhece sem muitas luzes.
Para compreendê-lo é necessário um espírito elevado. Entretanto, é preciso
entendê-la para que nos possamos salvar.
II
A natureza a abomina, a razão a combate; o sábio a ignora e o demônio a
aniquila. Muitas vezes o próprio devoto não a tem no coração e, embora diga que
a ama, no fundo é um mentiroso.
III
A cruz é
necessária. É preciso sofrer sempre: ou subir o Calvário ou perecer
eternamente. E Santo Agostinho exclama que somos réprobos se Deus não nos castiga
e nos prova.
IV
Vai-se para
a Pátria pelo caminho das cruzes, que é o caminho da vida e o caminho dos reis;
toda pedra é talhada proporcionalmente para ser colocada na Santa Sião.
V
De que
servirá a vitória ao maior conquistador, se não tiver a glória de vencer-se
sofrendo, se não tiver por modelo Jesus morto na Cruz, se, como um infiel, o
lenho repelir?
VI
Jesus Cristo
por ela acorrentou o inferno, aniquilou o rebelde e conquistou o universo; e
Ela a dá como arma aos seus bons servidores; ela encanta ou desarma as mãos e
os corações.
VII
Por este
sinal vencerás, disse Ele a Constantino. Toda vitória insigne se encontra nela.
Lêde, na história, seus efeitos maravilhosos, suas vitórias estupendas na terra
e nos céus.
VIII
Embora
contra os sentidos e a natureza, a política e a razão, a verdade nos assegura
que a cruz é um grande dom. É nesta princesa que encontramos, em verdade,
graça, sabedoria e divindade.
IX
Deus não
pôde defender-se contra sua rara beleza. A Cruz o fez baixar à nossa humanidade.
Ao vir ao mundo Ele disse: “Sim, quero-a, Senhor. Boa Cruz, coloco-vos bem
dentro do coração”.
X
Pareceu-lhe
tão bela que nela pôs a sua honra, tornando-a a sua eterna companheira e a
espôsa de seu Coração. Desde a mais terna infância seu Coração suspirava
unicamente pela presença da cruz que amava.
XI
Desde a
juventude, ansioso a procurou. De ternura e de amor, em seus braços morreu.
“Desejo um batismo”, exclamou Ele um dia: “a Cruz querida que amo, o objeto de
meu amor!”
XII
Chamou a São
Pedro Satanás escandaloso, quando ele tentou desviar Seus olhos da Cruz aqui na
terra. Sua Cruz é adorável, sua mãe não o é. Ó grandeza inefável, que a terra
desconhece!
XIII
Esta cruz,
dispersa por tantos lugares da terra, será ressuscitada e transportada para os
Céus. A cruz, sobre uma nuvem cheia de brilho rutilante, julgará, por sua
visão, os vivos e os mortos.
XIV
Clamará
vingança contra seus inimigos, alegria e indulgência para todos os seus amigos.
Dará glória a todos os bem-aventurados e cantará vitória na terra e nos céus.
XV
Durante sua
vida os santos só procuraram a cruz, seu grande desejo e sua escolha única. E,
não contentes de ter as cruzes que lhes dava o céu, a outras, inteiramente
novas, cada um se condenava.
XVI
Para São
Pedro, as cadeias constituíam honra maior do que ser o vigário de Cristo na
terra. “Ó boa Cruz”, exclamava, cheio de fé, Santo André: “Que eu morra em ti,
para que me dês a vida!”
XVII
E vêde, São
Paulo esquecia seu grande êxtase para se glorificar tão somente na cruz.
Sentia-se mais honrado em seus cárceres horrendos que no êxtase admirável que o
arrebatou aos céus.
XVIII
Sem a cruz a
alma se torna lenta, mole, covarde e sem coração. A cruz a torna fervorosa e
cheia de vigor. Permanecemos na
ignorância quando nada sofremos. Temos inteligência quando sofremos bem.
XIX
Uma alma sem
provações não tem grande valor. É a alma nova ainda, que nada aprendeu. Ah! que
doçura suprema goza o aflito que se rejubila com sua pena e dela não é
aliviado!
XX
É pela Cruz
que se dá a bênção, é por ela que Deus nos perdoa e concede remissão. Ele quer
que todas as coisas tragam este selo, sem o qual nada lhe parece belo.
XXI
Colocada a
cruz em algum lugar, torna-se sagrado o profano e desaparecem as manchas,
porque Deus delas se apodera. Ele quer a Cruz em nossa fronte e em nosso
coração, antes de todos os atos, para que sejamos vencedores.
XXII
Ela é nossa
proteção, segurança, perfeição e única esperança. É tão preciosa que uma alma
que já está no céu voltaria alegremente à terra para sofrer.
XXIII
Tem este
sinal tantos encantos, que no altar o sacerdote não se vale de outras armas
para atrair Deus lá do céu. Faz sobre a hóstia vários sinais da Cruz e, por
esses sinais de vida, dita-lhe suas leis.
XXIV
Por este
sinal adorável prepara-lhe um perfume cujo odor agradável nada tem de comum; é
o incenso que lhe dá uma vez consagrado, e é com esta coroa que desejaria ser
ornado.
XXV
A Eterna
Sabedoria procura, ainda hoje, um coração bem fiel, digno deste presente. Quer
um verdadeiro sábio, que goste apenas de sofrer e, com coragem, leve a sua cruz
até morrer.
XXVI
Devo
calar-me, ó Cruz, rebaixo-te ao falar. Sou um temerário e um insolente; já que
te recebi de coração constrangido e não te conheci, perdoa meu pecado!
XXVII
Ó Cruz
querida, já que nesta hora te conheço, faze de mim tua morada e dita-me tuas
leis. Cumula-me, ó princesa minha, com teus castos amores, e faze que eu
conheça os teus mais secretos encantos!
XXVIII
Ao ver-te
tão bela, bem queria possuir-te, mas meu coração infiel me prende ao meu dever;
se queres, Senhora minha, animar meu langor e sustentar minha fraqueza, dou-te
o meu coração.
XXIX
Tomo-te para
minha vida, meu prazer e minha honra, minha única ventura. Imprime-te, eu te
rogo, em meu coração e no meu braço, na minha fronte e na minha face. Não me
envergonharei de ti!
XXX
Tomo, para
minha riqueza, tua rica pobreza, e, por ternura, tuas doces austeridades. Que
tua prudente loucara e tua santa desonra sejam toda a glória e grandeza de
minha vida!
XXXI
Minha
vitória estará em ser derrotado por tua virtude e para tua maior glória. Não
sou, porém, digno de morrer sob teus golpes, nem de ser contrariado por todos.
NOTAS EXPLICATIVAS
(134)
Extraído das Obras do Bemv. de Montfort, edição Fradet, 1932.
(135) A fim
de conservar, o mais fielmente possível, a linguagem do Santo e o sentido
teológico deste Cântico, tentamos tão somente uma tradução em prosa.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
VI Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
VI Parte
da Publicação
1º) O olhar de Deus
Primeiramente o olhar de Deus, que, como um grande rei, do alto de
uma torre, olha complacentemente e louvando-lhe a coragem, o seu soldado que
peleja.
Que olhará Deus na terra? Os reis e imperadores em seus tronos?
Muitas vezes Ele os contempla com desprezo. As grandes vitórias dos exércitos
do Estado? As pedras preciosas? Numa palavra: as coisas que são grandes aos
olhos dos homens? O que é grande aos olhos dos homens é abominação diante de
Deus (113) Que olhará Ele então com prazer e complacência e de que pedirá
notícias aos anjos e aos próprios demônios? Um homem que, por Deus, se bate com
a sorte, o mundo, o inferno e ele próprio, um homem que carrega alegremente a
sua cruz. Não viste na terra uma grande maravilha que todo o céu contempla com
admiração?, disse o Senhor a Satanás: “Não viste meu servo Jó”(114), que sofre
por mim?
2º) A mão de Deus
[56] Em segundo lugar, considerai a mão deste poderoso Senhor, que
permite todo o mal que da natureza nos advém, desde o maior até o menor; a mão
que colocou um exército de cem mil homens no campo de batalha (115) e faz cair
as folhas das árvores e os cabelos de vossa cabeça (116); a mão que, havendo
rudemente atingido Jó, vos toca docemente pelo pouco sofrimento que vos envia.
Com essa mão Ele formou o dia e a noite, o sol e as trevas, o bem e o mal;
permitiu os pecados que se cometem e que vos melindram; não lhes fez a malícia,
porém lhes permitiu a ação.
Assim, quando virdes um Sémei injuriar-vos e apedrejar-vos, como
ao rei Davi, (117) dizei a vós mesmos: “Não nos vinguemos. Deixemo-lo, porque o
Senhor lhe ordenou de agir assim. Sei que mereci toda sorte de ultrajes e é
justo que Deus me castigue. Parai, braços meus: Parai, língua minha. Não
ataqueis. Nada digais. Este homem ou esta mulher me injuriam por palavras ou
por obras; são embaixadores de Deus, que vêm de sua misericórdia, para exercer
vingança amistosa. Não irritemos sua justiça usurpando os direitos de sua
vingança; não desprezemos a sua misericórdia resistindo às suas amorosas
chicotadas, para que ela não nos reconduza, por vingança, à pura justiça da
eternidade.”
Olhai uma das mãos de Deus, que, onipotente e infinitamente
prudente, vos sustenta, enquanto a outra vos atinge; com uma das mãos Ele
mortifica e com a outra vivifica; rebaixa e exalta, e, com seus dois braços,
doce e fortemente, alcança, de um polo ao outro, a vossa vida (118); docemente,
não permitindo que sejais tentados e provocados acima de vossas forças: -
fortemente, secundando-vos com graça poderosa e correspondente à violência e
duração da tentação e da aflição; fortemente, ainda uma vez, tornando-se Ele
próprio, segundo o diz pelo espírito de sua Santa Igreja, “vosso apoio à borda
do precipício perto do qual vos encontrais, vosso companheiro no caminho onde
vos perdeis, vossa sombra no calor que vos caustica, vossa vestimenta na chuva
que vos molha e no frio que vos enregela; vossa carruagem na fadiga que vos
aniquila, vosso socorro na adversidade que vos visita, vosso bastão nos
caminhos escorregadios e vosso porto no meio das tempestades que vos ameaçam de
ruína e naufrágio”(119).
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
V Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
V Parte
da publicação
4º - Nas Pegadas de Jesus Cristo:
... “E Me Siga!”
É preciso sofrer á maneira de Jesus Cristo.
[41] Não é, porém, suficiente sofrer: o demônio e o mundo tem,
seus mártires; é preciso sofrer e levar a cruz nas pegadas de Jesus Cristo: -
sequatur me! que me siga! - ou seja, da maneira que Ele a carregou. E eis, para
isto, as regras que deveis seguir:
As quatorze regras
Não procurar cruzes propositadamente ou pela própria culpa.
[42] 1º: Não procureis cruzes propositadamente ou por vossa culpa;
não se deve fazer o mal para que dele resulte um bem (90); não se deve, sem
inspiração especial, fazer as coisas de maneira má, para atrair sobre si mesmo
o desprezo dos homens. É antes preciso imitar Jesus Cristo, de quem se disse
fez bem todas as coisas (91), não por amor próprio ou por vaidade, mas para
agradar a Deus e conquistar a alma do próximo. E se executardes os vossos trabalhos o melhor que
puderdes, não vos hão de faltar contradições, perseguições, nem desprezos, que
a Divina Providência vos enviará contra vossa vontade e sem vos consultar.
Consultar o bem do próximo.
[43] 2º: Se praticais algum ato indiferente, mas do qual o próximo
se escandaliza, ainda que fora de propósito, abstende-vos dele, por caridade,
para que cesse o escândalo dos pequenos; o ato heroico de caridade que
praticardes nessa ocasião vale infinitamente mais do que aquilo que fazíeis ou
pretendíeis fazer.
Se, entretanto, o bem que fazeis é necessário ou útil ao próximo,
e escandalizar, sem razão, algum fariseu ou mau espírito, consultai uma pessoa
prudente, para saber se o que fazeis é necessário e muito útil ao bem do
próximo; e, se ela assim o julgar, continuai e deixai falar, contanto que vos
deixem agir, e respondei, em tais ocasiões, o que Nosso Senhor respondeu a
alguns de seus discípulos que vieram dizer-lhe que os Fariseus se haviam
escandalizado com as suas palavras e ações: “Deixai-os falar. São cegos”. (92).
Admirar, sem pretender atingi-la, a sublime virtude dos santos.
[44] 3º: Apesar de alguns santos e pessoas importantes terem
pedido, procurado e, por meio de ações ridículas, atraído sobre si mesmos,
cruzes, desprezos e humilhações, adoremos e admiremos apenas a ação do Espírito
Santo sobre suas almas e humilhemo-nos diante de tão sublime virtude, sem ousar
voar tão alto, um vez que, comparados a essas rápidas águias e rugidores leões,
não passamos de criaturas sem coragem e sem força de vontade. (93)
Pedir a Deus a sabedoria da Cruz.
[45] 4º: Podeis, entretanto, e mesmo o deveis, pedir a sabedoria
da cruz, que é uma ciência saborosa e experimental da verdade, que nos faz ver,
à luz da fé, os mais ocultos mistérios, entre os quais o da cruz, e isto só se obtém
mediante grandes trabalhos, profundas humilhações e orações fervorosas. Se
precisardes do espírito principal (94), que nos faz levar corajosamente as mais
pesadas cruzes; do espírito bom (95) e manso, que nos faz saborear, na parte
superior da alma, as mais repugnantes amarguras; do espírito são e reto (96),
que procura só a Deus; da ciência da cruz, que encerra todas as coisas; numa
palavra, do tesouro infinito cujo bom emprego torna a alma participante da
amizade de Deus (97), pedi a sabedoria; pedi-a incessante e fortemente, sem
hesitar (98), sem receio de não a obter, e ela vos será dada, infalivelmente, e
em seguida vereis claramente, por experiência própria, como pode ser possível
desejar, procurar e saborear a cruz.
Humilhar-se das próprias faltas, sem se perturbar.
[46] 5º: Quando, por ignorância ou mesmo por vossa culpa,
cometerdes algum erro de que resulte para vós alguma cruz, humilhai-vos
imediatamente diante de vós mesmos, sob a mão poderosa de Deus (99), sem vos
perturbar voluntariamente, dizendo: “Eis, Senhor, uma peça que me pregou meu
ofício”! E se houver pecado na falta que cometestes, aceitai a humilhação de
vosso orgulho. Algumas vezes, e até muitas vezes, Deus permite que seus maiores
servos, os mais elevados em graça, cometam as faltas mais humilhantes, a fim de
humilhá-los aos seus próprios olhos e aos olhos dos homens, a fim de tirar-lhes
a vista e o pensamento orgulhoso das graças que lhes dá e do bem que fazem, a
fim de que, segundo a palavra do Espírito Santo, nenhuma carne se glorifique
diante de Deus (100).
Deus nos humilha para purificar-nos
[47] 6º: Ficai bem persuadidos de que tudo o que existe em nós
está inteiramente corrompido (101) pelo pecado de Adão e pelos pecados atuais;
e não apenas os sentidos do corpo, mas todas as potências da alma; e que, logo
que o nosso espírito corrompido olha, refletida e complacentemente, algum dom
de Deus em nós, esse dom, ação ou graça fica todo poluído e corrompido e Deus
dele desvia os seus olhos divinos. Se os olhares e os pensamentos do espírito
do homem estragam assim as melhores ações e os mais divinos dons, que diremos
dos atos da própria vontade, que são ainda mais corrompidos que os do espírito?
(102)
Não é de espantar, depois disto, que Deus sinta prazer em esconder
os seus no segredo de sua face (103), para que não sejam manchados pelos
olhares dos homens e pelos seus próprios conhecimentos. E, para escondê-los
assim, o que não faz e não permite este Deus ciumento?! Quantas humilhações
lhes proporciona!
Em quantas faltas os deixa cair! De que tentações permite sejam
atacados, como S. Paulo! (104) Em que incertezas, trevas e perplexidade os
deixa! Ah! como Deus é admirável nos seus santos e nos caminho pelos quais os
conduz à humildade e à santidade!
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
IV Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
IV Parte
da publicação
3° - Sofrer
“Carregue a Sua Cruz!”
A) Sua cruz...
[18] Tollat crucem suam, que carregue a sua cruz; suam, a dele! Que esse homem, que essa mulher raros, de ultimis finibus pretium ejus (46) cujo preço toda a terra, de uma extremidade a outra, não poderia pagar, tome com alegria, abrace com ardor e leve aos ombros, com coragem, a sua cruz e não a de outro; a cruz que, com a minha sabedoria, fiz para ele em número, peso e medida; sua cruz, a que, com minhas próprias mãos, pus, com grande exatidão, suas quatro dimensões, a saber: sua espessura, seu comprimento, sua largura e sua profundidade (47), - sua cruz que lhe talhei de uma parte da que carreguei no Calvário, por um efeito da bondade infinita que tenho para com ele; - sua cruz, que é o maior presente que possa fazer aos meus eleitos na terra; - sua cruz, composta, em sua espessura, das perdas de bens, das humilhações, dos desprezos, das dores, das enfermidades e das penas espirituais que devem, por minha providência, chegar-lhe cada dia, até a morte, - sua cruz, composta, em seu comprimento, de um certo número de meses ou de dias em que ele deverá ser aniquilado pela calúnia, estar estendido num leito, ser forçado a mendigar, e tornar-se presa das tentações, da aridez, do abandono e de outras penas do espírito; - sua cruz, composta, em sua largura, das circunstâncias mais duras e mais amargas, sejam elas causadas pelos amigos, os criados ou os parentes; - sua cruz, enfim, composta, em sua profundidade, pelas mais ocultas penas com que o afligirei, sem que possa encontrar consolação nas criaturas que, por minha ordem, voltar-lhe-ão mesmo as costas e juntar-se-ão a mim para fazê-lo sofrer.
B) “Leve-a!”
[19] “Tollat”, leve-a! E não a arraste, nem sacuda, nem reduza e, ainda menos, a esconda! isto é: leve-a bem alto na mão, sem impaciência nem pesar, sem queixa nem murmuração voluntária, sem partilha e sem alívio natural, sem envergonhar-se e sem repeito humano.
“Tollat”, que a coloque sobre a fronte, dizendo com São Paulo: “Mihi absit gloriari nisi in cruce Domini nostri Jesu Christi! Que eu me abstenha de gloriar-me de outra coisa que não a Cruz de meu Senhor Jesus Cristo! (48)
Leve-a aos ombros a exemplo de Jesus Cristo, a fim de que essa cruz se torne para ele a arma de suas conquistas e o cetro de seu império: (imperium) principatus (ejus) super humerum ejus (49).
Enfim, coloque-a, pelo amor, em seu coração, para torná-la numa sarça ardente, que, sem consumir-se queime, noite e dia, de puro amor de Deus.
C) ...A Cruz!
[20] Crucem, a cruz (50); que ele a leve, pois nada existe que seja tão necessário, tão útil, tão doce ou tão glorioso quanto sofrer alguma coisa por Jesus Cristo.
a) Nada tão necessário para os pecadores!
[21] Com efeito, queridos Amigos da Cruz, sois todos pecadores; não há um só dentre vós que não mereça o inferno, e eu mais que ninguém. É preciso que nossos pecados sejam castigados neste mundo ou no outro; se o forem neste, não o serão no outro.
Se Deus os castigar neste mundo de concerto conosco, sua punição será amorosa: quem há de castigar será a misericórdia, que reina neste mundo, e não a justiça rigorosa; o castigo será leve e passageiro, acompanhado de atenuantes e de méritos, seguido de recompensas no tempo e na eternidade.
[22] Mas se o castigo necessário dos pecados que cometemos for no tempo reservado para o outro mundo, a punição caberá à justiça vingadora de Deus, que leva tudo a fogo e sangue! Castigo espantoso, horrendo, inefável, incompreensível: quis novit potestatem irae tuae? (51) Castigo sem misericórdia, judicium sine misericorida (52), sem piedade, sem alívio, sem méritos, sem limite e sem fim. Sim, sem fim: esse pecado mortal de um momento, que cometestes; esse pensamento mau e voluntário, que escapou a vosso conhecimento (53) essa palavra que o vento levou; essa açãozinha contra a lei de Deus, que durou tão pouco, será punida eternamente, enquanto Deus for Deus, com os demônios no inferno, sem que o Deus das vinganças tenha piedade de vossos soluços e de vossas lágrimas, capazes de fender as pedras! Sofrer para sempre sem mérito, sem misericórdia e sem fim!
[23] Será que pensamos nisto, queridos Irmãos e Irmãs, quando sofremos alguma pena neste mundo? Como somos felizes de poder trocar tão vantajosamente uma pena eterna e infrutífera por outra, passageira e meritória, carregando nossa cruz com paciência! Quantas dívidas temos a pagar! Quantos pecados temos, cuja expiação, mesmo após amarga contrição e confissão sincera, será preciso que soframos no purgatório durante séculos inteiros, porque nos contentamos, neste mundo, de penitências leves demais! Ah! Paguemos neste mundo de forma amigável, levando bem nossa cruz! Tudo deverá ser pago rigorosamente no outro, até o último ceitil, mesmo uma palavra ociosa (54). Se pudéssemos arrebatar ao demônio o livro de morte, onde anotou os nossos pecados todos e a pena que lhes corresponde, que grande “debet” verificaríamos, e como nos sentiríamos encantados de sofrer durante anos inteiros neste mundo, para não sofrer um só dia no outro!
terça-feira, 17 de setembro de 2013
III Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
III Parte
da publicação
Segunda Parte
Práticas da Perfeição Divina
Cristã
O programa do Divino Mestre
[13] Toda a perfeição cristã, com efeito, consiste:
1°: em querer tornar-se santo:
“Se alguém quiser vir após mim”;
2°: em abster-se: “renuncie a si
mesmo”;
3°: em sofrer: “carregar sua
cruz”;
4°: em agir: “siga-me”
1° - Querer tornar-se Santo:
“Se Alguém Quiser Vir Após Mim”
A) “Se alguém...”
“Si quis”, se alguém, alguém, e não alguns, para marcar o pequeno
número dos eleitos que se querem tornar conformes a Jesus Cristo crucificado,
carregando a cruz. É tão pequeno esse número, tão pequeno, que se o soubéssemos
ficaríamos pasmados de dor.
É tão pequeno que não há apenas um em cada dez mil, como foi
revelado a vários santos, - entre outros a São Simeão Estilita, segundo narra o
santo abade Nilo, bem como Santo Efrém, São Basílio e alguns outros. (35) É tão
pequeno que, se Deus quisesse reuni-los, gritar-lhes-ia, como se outrora pela
boca do profeta: Congregamini unus et unus, reuni-vos de um a um, um desta província,
outro deste reino...(36).
B) Se alguém quiser...
[15] Si quis vult, se alguém tiver vontade verdadeira, firme e
determinada, não pela natureza, o costume, o amor próprio, o interesse ou o
respeito humano, mas, por uma graça toda virtuosa do Espírito Santo, que não se
dá a todos: non omnibus datum est nosse myterium(37). O conhecimento do
mistério da Cruz, na prática, só é dado a poucas pessoas. Para um homem subir
ao Calvário e aí se deixar pregar na Cruz com Jesus, em sua própria pátria, é
preciso que seja um bravo, um herói, um determinado elevado em Deus, que
despreze o mundo e o inferno, seu corpo e sua vontade própria; um determinado a
deixar tudo, a tudo empreender e a tudo sofrer por Jesus Cristo.
Sabei, queridos Amigos da Cruz, que aqueles dentre vós que não têm
esta determinação, andam com um pé só, voam com uma só asa e não são dignos de
estar no meio de vós, porque não são dignos de ser chamados Amigos da Cruz, que
devemos amar, com Jesus Cristo, corde magno et animo volenti (38). Basta uma
meia vontade, neste caso, para por, como uma ovelha preta, o rebanho a perder.
Se em vosso aprisco já existe uma delas, entrada pela porta má do mundo, em
nome de Jesus Cristo crucificado expulsai-a como a um lobo que estivesse entre
os cordeiros!
C) ... Vir após mim
[16] Si quis vult post me venire, se alguém quiser vir após mim, -
que tanto me humilhei e aniquilei, que me tornei mais semelhante a um verme que
a um homem, ego sum vermis et non homo(39); após mim, que só vim ao mundo para
abraçar a Cruz, - ecce venio (40); para colocá-la no centro de meu coração -im
medio cordis (41); para amá-la desde a minha juventude, hanc amavi a juventute
mea; para suspirar por ela durante a minha vida, quomodo coarctor? (42); para
carregá-la com alegria, preferindo-a a todas as alegrias do céu e da terra,
proposito sibi gaudio, sustinuit crucem (43); e que, enfim, só me contentei
quando morri em seu divino abraço. (44)
2° - Abster-se
“Renuncie a Si Mesmo!”
Longe dos Amigos da Cruz os orgulhosos e os sensuais!
[17] Se pois, alguém quiser vir após mim assim aniquilado e
crucificado, que só se glorifique, como eu, na pobreza, nas humilhações e nas
dores de minha Cruz! abneget semetipsum, renuncie a si mesmo!
Longe da Companhia dos Amigos da Cruz os sofredores orgulhosos, os
sábios do século, os grandes gênios e os espíritos fortes, que são teimosos e
convencidos de suas luzes e talentos! Longe daqui os grandes tagarelas, que
fazem muito ruído e colhem apenas o fruto da vaidade! Longe daqui os devotos
orgulhosos e que levam para toda parte o “quanto a mim”do orgulhoso Lúcifer,
“non sum sicut ceteri” (45), que não podem suportar que os censurem sem
desculpar-se, que os ataquem sem defender-se, que os rebaixem sem exaltar-se!
Tende bem cuidado para não admitir em vossa companhia os delicados
e sensuais, que temem a menor picadela, que se queixam de mínima dor, que nunca
provaram a crina, o cilício, a disciplina e, entre as suas devoções em moda,
misturam a mais disfarçada e refinada delicadeza e falta de mortificação.
NOTAS EXPLICATIVAS
(35) Esta frase, inédita pelo menos nas edições que vieram até
nós, foi extraída das citações da “Carta” feitas por Picot de Clorivière, em
sua “Vida de S. Luís Maria Grignion de Montfort”, p. 389.
(36) O pequeno número dos eleitos, de restrição verdadeiramente
assustadora, que aqui avalía o santo autor, não lança em o número dos réprobos
a imensa multidão dos cristãos menos perfeitos, que a misericórdia divina quer,
entretanto, salvar. Segundo o diz o próprio Montfort, trata-se da elite que
escolhe o caminho seguro da cruz. O profeta citado (Is. 27, 12) anuncia o
reagrupamento dos judeus em sua pátria.
(37) Mat., 13, 11.
(38) II Mac., 1, 3: “De coração largo e de bom grado”.
(39) Sl.,
21, 7.
(40) Sl.,
39; Hebr., 10, 7-9.
(41) Sl.,
39, 9.
(42)
Sab., 8, 2.
(43) Luc., 12, 50. - Os comentadores modernos, cercando de mais
perto o sentido destas palavras, concordam em ver nelas expressa a angústia do
Salvador diante da perspectiva da Paixão. Longe de enfraquecer o pensamento de
Montfort, esta interpretação dá-lhe ainda mais força, substituindo ao desejo da
cruz a tortura que oprime o seu coração pela visão contínua dessa cruz, que
escolheu para nossa salvação.
(44) Heb., 12, 2.
(45) “Não sou como os outros...” são as palavras do fariseu: Luc.,
18,2.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
II Parte - Carta aos Amigos da Cruz de São Luís Maria de Montfort
II Parte
da publicação
Aos Amigos da Cruz
Introdução
Queridos Amigos da Cruz,
[1] Já que a divina Cruz me esconde e me interdiz a palavra, não
me é possível - e nem mesmo o desejo - falar-vos para vos externar os
sentimentos do meu coração sobre a excelência e as práticas divinas de vossa
União na Cruz adorável de Jesus Cristo(1).
Hoje, entretanto, último dia de meu retiro, saio, por assim dizer,
da atração do meu interior, para traçar neste papel alguns leves dardos da
Cruz, para com eles atravessar vossos corações. Prouvesse a Deus fosse
necessário, para acerá-los, o sangue de minhas veias em lugar da tinta de minha
pena! Mas, ai de mim! mesmo se ele fosse necessário, é por demais criminoso.
Que o Espírito do Deus vivo seja, pois, a vida, a força e o teor desta carta;
que sua unção seja a tinta de meu tinteiro; que a divina Cruz seja minha pena e
o vosso coração meu papel!(2)
Primeira Parte
Excelência da União dos Amigos da
Cruz
Apelo à união dos espíritos e dos
corações.
[2] Estais reunidos, Amigos da Cruz, como outros tantos soldados
crucificados(3), para combater o mundo; não fugindo, como os religiosos e
religiosas, pelo medo de serdes vencidos; mas como valorosos e bravos
guerreiros no campo de batalha, sem largar o pé e sem voltar as costas.
Coragem! Combatei valentemente! Uni-vos fortemente pela união dos espíritos e
dos corações, infinitamente mais forte e mais temível ao mundo e ao inferno do
que o são, para os inimigos do Estado, as forças exteriores de um reino bem
unido. Os demônios se unem para perder-vos; uni-vos para derrotá-los. Os
avarentos se unem para traficar e ganhar ouro e prata; uni vossos trabalhos
para conquistar os tesouros da eternidade, encerrados na Cruz. Os libertinos se
unem para divertir-se; uni-vos pra sofrer.
1° - Grandeza do Nome de Amigos
da Cruz
A) Este nome é grande e glorioso
[3] Chamai-vos Amigos da Cruz. Como é grande esse nome!
Confesso-vos que ele me encanta e deslumbra. É mais brilhante que o sol, mais
elevado que os céus, mais glorioso e mais pomposo que os títulos mais
magníficos dos reis e dos imperadores. É o grande nome de Jesus Cristo, ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem; é o nome inequívoco de um cristão.
B) Mas quantas obrigações encerra!
[4] Entretanto, se seu brilho me encanta, seu peso não me espanta
menos. Quantas obrigações indispensáveis e difíceis contidas neste nome e
expressas por estas palavras do Espírito Santo; “Genus electum, regale sacerdotium,
gens sancta, populus acquisitionis (4)”!
Um amigo da Cruz é um homem escolhido por Deus, entre dez mil que
vivem segundo os sentimentos e a razão, para ser unicamente um homem todo
divino e elevado acima da razão, e todo em oposição aos sentimentos, por uma
vida e uma luz de pura fé e por um amor ardente pela Cruz.
Um Amigo da Cruz é um rei todo poderoso e um herói triunfante do
demônio, do mundo e da carne em suas três concupiscências. Pelo amor às
humilhações, esmaga o orgulho de Satanás; pelo amor à pobreza, triunfa da
avareza do mundo; pelo amor à dor, amortece a sensualidade da carne.
Um Amigo da Cruz é um homem santo e separado de todo o visível,
cujo coração está acima de tudo quanto é caduco e perecível, e cuja conversa
está no Céu (5); que passa pela terra como estrangeiro e peregrino; e que, sem
lhe dar o coração, a contempla com o olho esquerdo com indiferença,
calculando-a com desprezo aos pés (6).
Um Amigo da Cruz é uma ilustre conquista de Jesus Cristo
crucificado no Calvário, em união com sua Santa Mãe; é um Benoni ou um
Benjamin, filho da dor e da dextra (7), gerando em seu dolorido coração, vindo
ao mundo por seu lado direito atravessado e coberto da púrpura de seu sangue.
Dada a sua extração sangrenta, só respira cruz, sangue e morte ao mundo, à
carne e ao pecado, para estar totalmente oculto, aqui na terra, com Jesus
Cristo em Deus (8).
Enfim, um perfeito Amigo da Cruz é um verdadeiro porta-Cristo, ou
antes, um Jesus Cristo, de maneira que possa, em verdade, dizer: “Vivo, jam no
ego, vivit vero in me Christus: vivo, mas não eu, é Jesus Cristo que vive em
mim”(9)
Exame de consciência sobre essas obrigações.
[5] Sois, por vossas ações, meus queridos Amigos da Cruz, aquilo
que vosso grande nome significa? Ou pelo menos, tendes verdadeiro desejo e
vontade verdadeira de assim vos tornares, com a graça de Deus, à sombra da Cruz
do Calvário e de Nossa Senhora da Piedade? Entrastes no verdadeiro caminho da
vida (10), que é o caminho estreito e espinhoso do Calvário? Não estareis, sem
o pensar, no caminho da perdição? Sabeis bem que há um caminho que parece ao
homem reto e seguro, e que conduz à morte?
[6] Distinguis bem a voz de Deus e de sua graça da voz do mundo e
da natureza? Ouvís bem a voz de Deus, nosso Pai, que, depois de ter dado sua tríplice
maldição a todos os que seguem as concupiscências do mundo: vae, vae, vae
habitantibus in terra (11), grita-vos amorosamente, estendendo-vos os braços:
“Separamini, popule meus”(12). Separai-vos, meu povo escolhido, queridos Amigos
da Cruz de meu Filho; separai-vos dos mundanos, malditos por minha Majestade,
excomungados por meu Filho (13) e condenados pelo meu Espírito Santo (14).
Tomai cuidado para não vos sentardes em sua cadeira toda empestada, não sigais
os seus conselhos, nem mesmo pareis em seu caminho (15). Fugi do meio da grande
e infame Babilônia (16); não escuteis outra voz e não sigais outras pegadas que
não as de meu Filho bem amado, que vos dei para que fosse vosso caminho, vossa
verdade, vossa vida (17) e vosso modelo: “Ipsum audite”(18).
Ouvís o amável Jesus, que, carregando sua Cruz, vos grita: “Venite
post me: vinde após mim; o que me segue não anda em trevas (19); confidite, ego
vici mundum, tende confiança, eu venci o mundo (20)”?
2° - Os Dois Partidos
A) O partido de Jesus e do mundo
[7] Eis aqui, meus caros Confrades, eis aqui dois partidos (21)
que se defrontam todos os dias; o de Jesus Cristo e o do mundo.
O de nosso amável Salvador está à direita, em aclive, num caminho
estreito e que assim cada vez se tornou devido à corrupção do mundo.
Caminha à frente o bom Mestre, os pés descalços, a cabeça coroada
de espinhos, o corpo todo ensanguentado, e carregando uma pesada Cruz. Apenas
algumas pessoas, e das mais corajosas, o seguem, porque sua voz tão delicada
não se ouve no meio do tumulto do mundo; ou então, não se tem coragem para segui-lo
em sua pobreza, suas dores, suas humilhações e suas outras cruzes, que necessariamente
é preciso carregar, a seu serviço, todos os dias da vida.
[8] À esquerda está o partido do mundo, ou do demônio, que é mais
o numeroso, o mais significo e o mais brilhante, pelo menos na aparência. Todos
os indivíduos mais brilhantes correm para ele; apressam-se, apesar de serem os
caminhos largos, mais largos, do que nunca em virtude das multidões que por eles
passam como torrentes, e de estarem juncados de flores, marginados de prazeres
e divertimentos, cobertos de ouro e de prata (22).
B) Espírito totalmente oposto dos dois partidos.
[9] À direita, o rebanhosinho que segue a Jesus Cristo só fala em
lágrimas, em penitências, em orações e em desprezo do mundo; ouvem-se
continuamente estas palavras (23), entrecortadas de soluços: “Soframos,
choremos, jejuemos, oremos, ocultemo-nos, humilhemo-nos, empobreçamo-nos,
mortifiquemo-nos; porque o que não tem o espírito de Jesus Cristo, que é um
espírito de cruz, não pertence a Ele; os que são de Jesus Cristo mortificaram a
carne com as suas concupiscências; é preciso ser conforme à imagem de Jesus
Cristo (24) ou condenar-se. Coragem! exclamam eles. Coragem! Se Deus está por
nós, quem estará contra nós? Aquele que está em nós é mais forte que o que está
no mundo. O servo não é maior que o senhor. Um momento de leve tribulação
redunda em peso eterno de glória. Há menos eleitos do que se pensa. Só os
corajosos e os violentos arrebatam o céu de viva força; ninguém será lá coroado
se não houver combatido legitimamente, segundo o Evangelho, e não segundo a
moda. Combatamos, pois, vigorosamente, corramos depressa para atingir a meta, a
fim de ganharmos a coroa!” Eis uma parte das palavras divinas com que os Amigos da Cruz mutuamente se animam.
[10] Os mundanos, ao contrário, gritam todos os dias, para
animar-se a perseverar em sua malícia sem escrúpulos (25) “Vida, vida! Paz,
paz! Alegria, alegria! Comamos, bebamos, cantemos, dancemos, brinquemos! Deus é
bom, Deus não nos fez para que nos danássemos; Deus não proíbe que nos
divirtamos; Não nos danaremos por isso. Nada de escrúpulos! Non moriemini.
etc...”
C) Amoroso apelo de Jesus
[11] Lembrai-vos, meus caros Confrades, que nosso bom Jesus nos
olha neste instante e diz a cada um de vós em particular: “Eis que quase todos
me abandonaram no caminho real da Cruz. Os idólatras cegos zombam de minha cruz
como de uma loucura, os Judeus obstinados se escandalizam (26) com ela, como se
fosse objeto de horror, os hereges quebraram-na e derrubaram-na como coisa
digna de desprezo. Mas, e isto só posso dizer com lágrimas nos olhos e com o
coração transpassado de dor, os filhos que criei em meu seio e que instruí em
minha escola, os meus membros, que animei com meu espírito, me abandonaram e
desprezaram, tornando-se inimigos de minha cruz! (27) - Numquid et vos vultis
abire?(28) Quereis, vós também, abandonar-me, fugindo da minha Cruz, como os
mundanos, que nisto são outros tantos anticristos: antichristi multi? (29)
Quereis enfim, conformar-vos ao século presente (30), desprezar a pobreza de
minha Cruz, para correr após as riquezas? Evitar a dor de minha Cruz para
procurar aos prazeres? Odiar as humilhações de minha Cruz, para ambicionar as
honras? Tenho, na aparência, muitos amigos que me fazem protestos de amor, e
que, no fundo, me odeiam, pois não amam minha Cruz; muitos amigos de minha mesa
e pouquíssimos amigos de minha Cruz (31)
[12] A este apelo amoroso de Jesus, elevamos acima de nós mesmos;
não nos deixemos seduzir pelos nossos sentidos, como Eva; não olhemos senão o
autor e consumador de nossa fé, Jesus crucificado (32), fujamos da corrupção da
concupiscência do mundo (33) corrompido; amemos Jesus Cristo da melhor maneira,
isto é, através de toda sorte de cruzes. Meditemos bem estas admiráveis
palavras de nosso amável Mestre, que encerram toda a perfeição da vida cristã:
“Si quis vult venire post me, abneget semetpsum, et tollat crucem suam, et
sequatur me! (34)
NOTAS
EXPLICATIVAS
(1) Este
primeiro parágrafo foi retirado do manuscrito do R.P., Besnard. As duas expressões
“a excelência” e “as práticas” anunciam imediatamente a intenção do apóstolo,
bem como as “duas partes” da carta que escreve aos seus queridos Amigos da
Cruz, dada a impossibilidade de falar-lhes. Como bom filósofo, dir-lhes-á,
antes de mais nada, o que são pela graça de Deus, a fim de levá-los a agir como
verdadeiros Amigos da Cruz. - Que este vocábulo não amedronte o leitor! -
“É este,
dirá Montfort, o nome inequívoco de um cristão”. Dirige-se ele, com efeito, a
cristãos que compreenderam a grandeza de sua vocação e a ela querem conformar
sua vida. A “Carta” tem como fim único ajudá-los a compreender melhor e a
melhor viver o programa da perfeição cristã. Possa ela ainda achar, em nossos
dias, numerosos leitores ávidos de realizar a verdade de seu cristianismo! As
próprias almas consagradas, apesar de esta “Carta” não ter sido escrita em sua
intenção, poderão nela alimentar seu fervor.
(2) - Que
confiança inspira o escritor que emprega tal linguagem!
(3) Hoje
falaríamos cruzados. Essa idéia de cruzada obceca a grande alma de Montfort
(cfr. “O Segredo admirável do Santo Rosário” e a “Oração abrasada”,
principalmente nas últimas páginas).
(4) Sois uma
raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo que Deus formou”(I
Pedro, 2-9). Estas palavras inspiradas, que caracterizam o povo cristão em sua
sublime vocação, Montfort as aplica especialmente a essa elite que seus
discípulos devem constituir. “Na literatura espiritual poucas páginas tem tanto
brilho quanto aquela em que ele se esforça para definir o que é um Amigo da
Cruz”. (Mons. Villepelet, bispo de Nantes”. “Carta de Quaresma”, 1942).
(5) Fil., 3,
20.
(6)
Montfort, tal como São Francisco de Assis, tinha um coração apaixonado pela
beleza e, em sua gruta de Mervent, cantou deliciosamente a natureza. Não
prende, porém, a ela a sua alma: ama-a tão somente na medida em que ela o eleva
a una a Deus.
(7)
Aplicação de dois nomes dados ao último filho do Patriarca: um por sua mãe
Raquel, outro por seu pai Jacó (Gen., 35, 18).
(8) Estais
mortos, com efeito, e vossa vida é toda oculta em Deus com Jesus Cristo (Col.,
3, 3).
(9) Gal.,
2,20.
(10) Prov.,
6, 23, 10, 17, 15, 10; Jer., 21, 8.
(11)
Maldição, maldição, maldição aos habitantes da terra... (Apoc., 8, 13).
(12) Is.,
48, 20; 52, 51; Jer., 50, 8; 51, 6, 9, 45; Apoc., 48, 4.
(13) “Não
peço pelo mundo..” (Jo., 17-9)
(14) Ele
convencerá o mundo do pecado, da justiça e do julgamento (Jo., 16, 8-12).
(15)
Comparai o Salmo 1, 1: “Feliz o homem que não anda segundo o conselho dos maus
e que não permanece no caminho dos pecadores, nem se senta nunca no lugar de
corrupção”.
(16) Is., 48, 20; Jer., 51, 6.
(17) Jo., 14,6.
(18) Mat., 17, 5; Luc., 9,35; Mrc., 9, 6; II Ped., I, 17.
(19) Jo., 8,
12.
(20) Jo.,
16, 33.
(21) Estas páginas comovente sobre os dois partidos - o de Jesus
Cristo e do Mundo - evocam, em paralelo, a meditação dos dois estandartes, dos
Exercícios espirituais. Santo Inácio e São Luís Maria pregam, cada um à sua
maneira, a necessidade de tomar partido, ou por Jesus, ou por Satanás, príncipe
deste mundo.
(22) Este quadro dos dois partidos é o comentário exato da lição
do divino Mestre: “O caminho que conduz à perdição é espaçoso e são numerosos
os que nele entram. A via que conduz à vida ... é estreita, e pequeno é o
número dos que a encontram” (Mat., VII. 13,14)
(23) Esta palavras dos discíspulos de Jesus são quase todas
tiradas dos livros santos. Ver particularmente Rom., 8, 9; Gal., 5, 24; Rom.,
7, 29-31; II Cor., 4, 17; Jo., 13, 16; 25, 20; Mat., 20, 16; Luc., 13, 23;
Mat., 11, 12; III Tim., 2, 5; I Cor., 9, 24-25.
(24) São Paulo (Rom., 8, 29) estabelece, com efeito, a
predestinação dos fiéis na conformidade à imagem do Filho de Deus. Os
comentadores modernos o entendem geralmente quanto ao estado de glória; é
mistér, entretanto, não esquecer que o estado de glória é o coroamento do
estado de graça, e é , para cada um, proporcional a este último.
(25) Os sentimentos dos mundanos aqui revelados foram igualmente
tirados da Sagrada Escritura: Is., 22, 13; Jer., 6, 14; 8, 11; Cor., 15, 32;
Gen., III, l.
(27) Cf. Is., 1, 2; Fil., 3, 18.
(28) Jo., 6, 68.
(29) I Jo., 2, 12.
(30) Rom., 12, 2 .
(31) Estas palavras resumem o belo capítulo da “Imitação de
Cristo” que tem por título: “Do pequeno número dos que amam a Cruz de Jesus
Cristo” (liv. II, cap. XI).
(32) Hebr., 12, 2.
(33) II Ped., 1, 4.
(34) Mat., 16, 24; Luc., 9, 23. “Se alguém quiser vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga!” A partir deste ponto, tôda a
“Carta”é o comentário deste programa de perfeição cristã, proposto pelo Divino
Mestre a todos os seus discípulos: convocata turba (Marc. 8, 34) ad omnes ...
(Luc., ibid). O parágrafo seguinte nos fornece a divisão deste impressionante
comentário.
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