Nosso Canal

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cartas de São Pio V incitando os Reis católicos a combater contra os invasores muçulmanos



Aos Reis Católicos contra os turcos (8-12-1567):
Eis o que foi bem estabelecido e é bem certo: nosso poderoso inimigo, o Sultão dos Turcos, prepara com os mais minuciosos cuidados uma frota considerável, sem precedente, uma armada e exército importantíssimos.

Ele completa todos os preparativos que se fazem necessários, com o único fim de se precipitar o mais cedo possível contra Malta, para abater a Ordem Militar de São João, por ele particularmente odiada, e submeter essa ilha. Diz-se que dela deseja se apoderar, não só pelas grandes vantagens que oferece sob o ponto de vista estratégico, mas também, e mais ainda, em razão da humilhação por ele sofrida no sítio precedente.

Como a tais forças a Ordem não pode de forma alguma resistir, nosso caro filho Jean de la Valette, seu Grão-Mestre, é obrigado a implorar o socorro dos príncipes cristãos contra o inimigo comum, o inimigo do Cristianismo. Não duvidamos que Vossa Majestade e seu povo venham em nosso socorro, tanto mais espontaneamente aliás, pois é de seu maior interesse que uma ilha assim próxima da Sicília e da Itália não caia em mãos inimigas.
* * *

A nosso caríssimo filho em Cristo, Carlos, Rei cristianíssimo da França (12-12-1567):

Jean de la Valette vê-se na obrigação de apelar para todos os príncipes cristãos contra o inimigo comum do Cristianismo.
A defesa da ilha de Malta parece, no momento, ser mais importante para alguns povos do que para outros. Entretanto, trata-se incontestavelmente da salvação de todos os príncipes cristãos e de toda a Cristandade. Não ignoramos, filho cristianíssimo, quais dificuldades deveis enfrentar... .
* * *

A nosso filho caríssimo, o nobilíssimo Pedro Loredano, Doge de Veneza (19-1-1567):

Os cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém são obrigados a socorrer-se de todos os príncipes cristãos. Eles têm mais coragem que recursos para fazer face a um inimigo assim poderoso e pérfido, para contê-lo e expulsá-lo.

Essa ilha é a cidade da Cristandade inteira. Se (Deus não o permita!) ela vier a cair em poder do inimigo, pela negligência dos príncipes cristãos, não haveria mais tempo para gemer e arrepender-se.


(Fonte: Léon Garnier, "Lepanto", p. 41)

domingo, 29 de abril de 2012

Biografia de S. Pio V, papa

Miguel Guisleri foi uma figura de extrema importância para a vida da Igreja Católica. Nascido em Bosco Marengo na província da Alexandria, em 1504, aos quatorze anos ingressou na vida religiosa entrando na ordem dominicana.


A partir daí a sua vida desenvolve-se, pois alcançaria rapidamente todos os degraus de uma excecional carreira. Foi professor, prior do convento, superior provincial, bispo de Mondovi e finalmente Papa, aos 62 anos, com o nome de Pio V.


Promoveu diversas reformas na Igreja através do Concilio de Trento, como, por exemplo, a obrigação de residências para bispos, a clausura dos religiosos, o celibato e a santidade de vida dos sacerdotes, as visitas pastorais dos Bispos, o incremento das missões, a correção dos livros litúrgicos e a censura das publicações.


A sua autoridade e prestígio pessoal impunham a sua personalidade de pulso firme e de atitudes rigorosas, como a que tomou em relação à invasão dos turcos, pondo fim aos seus avanços a 7 de outubro de 1571, na famosa batalha de Lepanto.


Apesar do seu carácter marcante, apresentava sinais de um homem bondoso e condescendente para com os humildes, paterno, às vezes, e extremamente severo com aqueles que faziam parte do corpo da Igreja.


Mesmo sabendo das consequências que sofreria a Igreja, não pensou duas vezes ao excomungar a rainha Elizabete I. Morreu em 1 de maio de 1572, na lucidez de seus setenta e oito anos. A sua canonização chegaria em 1712 e a sua memória fixada a 30 de abril. 

sábado, 28 de abril de 2012

Filme sobre a Revolução dos ‘Cristeros’ no México oferece lições em um tempo oportuno.



ACI – O produtor de um novo filme que conta a luta contra a perseguição do governo mexicano aos católicos nos anos 20, diz que nele existem claros paralelos com a situação atual nos Estados Unidos e em outros lugares.


“Eu acho que o que vivemos hoje são as mesmas coisas que aconteceram naquele tempo, e depois que você assistir ao filme verá que há muitos tópicos que estão vivos no momento”, contou Pablo José Barroso, produtor de “For Greater Glory”, a Catholic News Agency, a agência do grupo ACI em inglês, no dia 21 de março.

“For Greater Glory” – antes chamado de “Cristiada” – traça a história da Guerra Cristera do México que foi motivada pela legislação anticlerical sendo aprovada pelo presidente mexicano Elías Calles em 1926. Aquelas leis baniram ordens religiosas, privaram a Igreja de direitos de propriedade e negou liberdade civil aos padres, incluindo os direitos de julgamento por júri e o de voto.

A perseguição tornou-se tão violenta e severa que alguns católicos começaram a resistir forçadamente, lutando sob o lema e a estandarte de “Cristo Rey” (Cristo Rei).

“Essa história destruiu nossos corações, mas é uma história que deve ser contada”, disse Barroso.

“Trata-se de uma história real sobre pessoas que defenderam suas crenças. Como mexicano, estou muito orgulhoso em dividir com o mundo essa nossa história da qual muitos mexicanos não sabem a respeito”.

O filme é dirigido por Dean Wright e é estrelado pelos premiados atores Andy Garcia, Eva Longoria e Peter O’Toole entre outros. “Estamos tentando fazer filmes com valores e de alta qualidade de produção”, explicou Barroso, que esteve presente na estreia do filme no dia 20 de março, em Roma.

No último domingo, 25 de março, o Papa Bento XVI celebrou uma Missa para mais de 400.000 peregrinos na cidade mexicana de Silao. A celebração aconteceu sob a sombra da estátua de Cristo Rei, de 20 metros de altura, que foi construída nos anos 40 em homenagem aos que morreram na Guerra Cristera.

Desde então, dúzias de mártires da guerra foram canonizados e beatificados pela Igreja, incluindo Jose Sanchez Del Rio, um menino de 14 anos, que foi declarado santo pelo Papa Bento XVI em 2005. A história do jovem é particularmente destacada no novo filme.

“Eu espero que após verem esse filme, as pessoas comecem a apoiar sua religião e viver de acordo com ela”, contou Barroso, que vê a ameaça à liberdade religiosa crescendo pelo mundo.

“Como católico, eu acho que agora é a hora para que os leigos resistam e façam alguma coisa”.

“For Greater Glory” chegará aos cinemas dos Estados Unidos no dia 1° de junho desse ano.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ato de Confiança

Ó minha doce Mãe, eu não queria,
Ter essa triste e morna covardia,
Ter essa torpe falta de coragem
Que enlaça e mata aqueles que não agem.

Eu não queria amar Nosso Senhor,
Com um mesquinho, tíbio e fraco amor,
Com um amor que só dá por medida,
Que pesa o dom e poupa a própria vida,

Mas com amor ardente e valoroso,
Constante, forte, puro e generoso,
Que, solitário, assim me enchesse a alma
De paz guerreira, santa, sábia e calma.

Mas Vós sabeis, ó Mãe doce e clemente,
Quão miserável, quão estultamente,
Em minha alma abri largas feridas
E como foram rotas e perdidas

As graças, tantas, dadas por piedade;
E quantas vezes foi minha maldade
Capaz de ser mais forte e poderosa
Que o bem que Vós me dáveis, Mãe Bondosa;

E como tanto mal acumulado,
Tanta fraqueza vil, tanto pecado,
Não vence a vossa graça sem violência,
Nem vence sem lutar vossa clemência.

Mas Vós, Senhora, sois a Virgem Pura
Que faz filhos de Deus da pedra dura.
E eu espero, firme e confiante,
Em vossa onipotência suplicante.

Pois, se esmagastes já o vil dragão
Com vossa Imaculada Conceição,
E o mundo, tão falaz e movediço,
O tendes sob os pés, preso e submisso,

De mim bem fácil vós tereis vitória,
Que essa derrota, só, tenho por glória.
Eis todo o meu apoio e confiança:
Sois Vós, ó minha Mãe, minha esperança.

Prof: Ivone Fedeli

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Carta de Bento XVI à Conferência Episcopal Alemã a respeito do “Pro Multis”: “O respeito pela palavra de Jesus é a razão para a formulação da oração”.

Excelência! Venerável, caro senhor Arcebispo!
Durante a sua visita de 15 de março de 2012, o senhor me fez saber que, com relação às palavras “pro multis” no canon da Missa, ainda não existe um consenso entre os bispos de língua alemã. Agora parece existir o perigo de que, com o próximo e esperado lançamento do “Gotteslob” ["Livro de Orações"], alguns locais de língua alemã mantenham a tradução “por todos”, ainda que a Conferência dos Bispos tenha concordado em usar o “por muitos”, como é desejo da Santa Sé. Eu tinha lhe prometido que me pronunciaria por escrito sobre esta séria questão para evitar uma divisão no nosso mais íntimo local de oração. A carta, que eu envio através do senhor aos membros da Conferência Episcopal Alemã, também será enviada aos outros bispos de língua alemã.
  
Permita-me primeiro dizer algumas palavras acerca da origem do problema. Nos anos 60, quando o Missal Romano foi traduzido para o alemão sob a responsabilidade dos bispos, houve um consenso exegético de que as palavras “muitos” e “muito” encontradas em Is. 53, 11 em diante, era uma expressão hebraica que indicaria a comunidade, o “todos”. A palavra “muitos” na narração de Mateus e de Marcos também foi considerada um semitismo a ser traduzido como “todos”. Isto também tinha relação direta com o texto latino que seria traduzido, em que o “pro multis” nas narrações do Evangelho se referiam a Isaías 53 e deviam, portanto, ser traduzido como “por todos”. Este consenso exegético se esfacelou; ele não mais existe. Na tradução alemã da Sagrada Escritura, a narração da Última Ceia diz: “Este é meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado por muitos” (Marcos 14, 24, cf. Mateus 26, 28). Isto indica algo muito importante: a exposição do “pro multis” como “por todos” não foi uma tradução pura, senão uma interpretação que foi e continua sendo razoável, mas já é mais que tradução e interpretação.

Esta mistura de tradução e de interpretação pertence, em retrospecto, aos princípios que, imediatamente após o Concílio, nortearam a tradução dos livros litúrgicos para o vernáculo. Entendeu-se quão longe a Bíblia e os textos litúrgicos estavam removidos da linguagem e do pensamento do homem moderno, de modo que mesmo traduzidos eles permaneceriam largamente incompreensíveis aos participantes do culto divino. Houve um novo empenho para que os textos sagrados fossem revelados, nas traduções, aos participantes da celebração, mas ainda assim eles permaneceriam alijados de seu mundo, e agora sim seriam ainda mais visíveis nesse alijamento. Sentiam-se não somente justificados, mas mesmo obrigados a misturar a interpretação na tradução para que, desse modo, se encurtasse o caminho para o povo, cujas mentes e corações poderiam ser alcançados através dessas palavras.

Até certo ponto, o princípio de uma substantiva, mas não necessariamente justificada tradução literal dos textos-fontes permanece. Quando eu rezo as orações litúrgicas em várias línguas, noto que é frequentemente difícil encontrar um meio termo entre as várias traduções e que o texto base subjacente muitas vezes permanece visível somente quando visto de longe. Além disso, somam-se as debilitantes banalizações que são verdadeiras perdas. Por causa disso, através dos anos, ficou cada vez mais claro para mim que o princípio da equivalência estrutural, mas não literal, enquanto regra de tradução, tem seus limites. Seguindo tais raciocínios, a instrução de tradução Liturgiam authenticam, publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé no dia 28 de março de 2001, mais uma vez colocou a tradução literal em destaque, mas, é claro, sem impor um único vocabulário. A importante idéia que se encontra na base dessa instrução já se encontra expressa na distinção entre tradução e interpretação, como escrevi acima. Isto é necessário tanto para a Palavra das Escrituras quanto para os textos litúrgicos. Por um lado, a Palavra sagrada deveria, se possível, apresentar-se a si mesma, mesmo com a estranheza e perguntas que ela contém em si; por outro lado, à Igreja foi dada a missão de interpretar, dentro dos limites do nosso entendimento, a Boa Nova que o Senhor quis que recebêssemos. Uma tradução empática também não pode substituir a interpretação: faz parte da estrutura da Revelação que a Palavra de Deus seja lida na comunidade interpretativa da Igreja, que a fidelidade e a compreensão sejam combinadas. A Palavra deve existir como ela mesma, em sua própria forma, ainda que estranha; a interpretação deve ser medida pela fidelidade à própria Palavra, mas, ao mesmo tempo, ser acessível ao ouvido moderno.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

S. Marcos Evangelista, festa Comentário ao Evangelho do dia feito pelo Bem-aventurado John Henry Newman

Bem-aventurado John Henry Newman

S. Marcos Evangelista, festa
Comentário ao Evangelho do dia feito por 
Bem-aventurado John Henry Newman (1801-1890), 

teólogo, fundador do Oratório em Inglaterra 
Sermão «A cobardia religiosa»


«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura»

«Fortalecei as mãos débeis, os joelhos enfraquecidos» (Heb 12,12; Is 35,3). [...] Levado por Barnabé e Paulo aquando da sua primeira viagem apostólica, São Marcos abandonou-os muito rapidamente para regressar a Jerusalém (Act 15,38). Ora, depois disto, tornou-se colaborador de São Pedro em Roma (1P 5,13). Foi lá que compôs o seu Evangelho, principalmente a partir do que este apóstolo lhe terá contado. Por último, foi enviado por Pedro a Alexandria, no Egipto, onde fundou uma Igreja, que foi uma das mais rigorosas e das mais eficazes desses tempos iniciais. [...] Por conseguinte, aquele que abandonou a causa do Evangelho perante os primeiros perigos revelou-se depois [...] um servo muito determinado e fiel de Deus [...], e o instrumento desta mudança parece ter sido São Pedro, que soube admiravelmente fazer renascer este discípulo tímido e cobarde. 

São Marcos
Através desta história é-nos dada de uma lição: pela graça de Deus, o mais frágil pode tornar-se forte. Por conseguinte, não podemos confiar apenas em nós mesmos, nem desprezar um irmão que demonstra fraqueza, nem desesperar por sua causa, mas carregar o seu fardo (Ga 6,2) e ajudá-lo a seguir em frente. [...] A história de Moisés mostra-nos o exemplo de um temperamento orgulhoso e impetuoso que o Espírito domou ao ponto de fazer dele um homem de uma doçura excepcional [...]: «um homem muito humilde, mais que todos os homens que há sobre a face da terra» (Nm 12,3) [...] A história de Marcos mostra um caso de mudança ainda mais raro: a passagem da timidez ao arrojo. [...] Admiremos então em São Marcos uma transformação mais surpreendente que a de Moisés: «Graças à fé, da fraqueza, recobraram a força, tornaram-se fortes» (cf. Heb 11,34).

A Virgem Maria fala ao coração das moças


Nota da IDSC – Devido ao português usado no ano da publicação do livro, podemos encontrar algumas palavras e pontuações próprias daquele período.




Tu sabes, minha filha, para que fim te criou Deus? E se o sabes, como tens podido desviar-te dele tão estranhamente? Certamente te não foi dado esse corpo com sua sensibilidade, seus dons de graça e de beleza, para fazeres dele um instrumento de escândalo e de pecado. Da mesma sorte te não foi dada esta alma, com suas nobres faculdades, inteligência, memória e vontade para estudar as vaidades do século, para conceberes imagens impudicas ou frívolas, para procurares o teu bem nas criaturas em lugar de o procurares no Criador. Ah! que culpável abuso tens feito até ao presente dos benefícios do céu! Tu bem sabes, minha querida filha, para que fim Deus te criou. 


É para o conheceres, amares, e servires nesta vida, e por esse meio adquirires a glória eterna que te preparou na eternidade. Poderias acaso desejar fim mais nobre e sublime? Poderia Ele, não obstante a sua omnipotência, dar-te o melhor? 


Não o têm os príncipes mais graduados e gloriosos da corte celeste; não o tenho eu mesma. Mas de que modo tens tu correspondido à bondade de Deus? Ah! se queres que eu seja para ti uma verdadeira Mãe, mostra-te para mim uma verdadeira filha: não degeneres dos meus exemplos. Desde o primeiro instante que a minha inteligência se abriu à razão, dediquei-me logo a Deus com a veemência de um coração ardente, e a chama feliz, que neste momento me o abrasa, não mais se extinguiu. Desde então, o meu pensamento foi fazer a vontade de Deus e tornar-me cada vez mais digna d'Ele. Mas tu, que tens feito? Ah! o teu primeiro desejo foi agradar o mundo, a tua aplicação foi seguir-lhe as máximas e costumes. Não tens conhecido Deus senão para ofendê-lo. Gastaste a infância, que é a mais bela idade, - a idade da inocência - em puerilidades, em preocupações que fazem corar, em desobediências a teus superiores, em desprezo por teus inferiores e iguais. Tens-te deleitado desde então com as modas e vaidades. Tens as seguido sem compreender bem o mal que te acarretam. Fizeste delas um ídolo para conseguires ser tu própria um ídolo dos outros corações. Não sentes confusão alguma à vista de uma vida tão indigna de uma virgem cristã? Não te aflige teres-te desviado tão tristemente do fim para que foste criada? 


Que engano é o teu, ó querida filha, se crês achar no mundo a felicidade que sonhas, mesmo quando tudo corresse conforme os teus desejos, as riquezas e grandezas do mundo não podem fazer-te feliz. O teu coração, apto a gozar um bem imutável e infinito, coração criado para um igual bem, nunca poderá estar satisfeito gozando apenas felicidades limitadas e passageiras. 

Deixa-te convencer pelo exemplo de tantas pessoas que no mundo vivem no meio de delícias e riquezas. Julga-las felizes, mas se pudesses penetrar com a vista em seus corações e ver a tempestade terrível de aflições, de temores e remorsos que incessantemente lhes agita e tortura a consciência, em vez de lhes invejares a sorte terias piedade de sua desgraça. Quantas têm achado a ruína no meio do mesmo que devia ser-lhes glória! Não, minha filha, o ímpio não pode ter paz verdadeira, nem sincero contentamento. Só uma alma reta e inocente goza na paz do coração as delícias antecipadas do Paraíso. Nenhuma catástrofe as perturba. Os pecadores, ao contrário, conforto algum podem tirar das consolações terrestres. Não te assuste, portanto a penitência, ó milha querida filha, porque só de terrível tem o nome. Acredita-me: as lágrimas daquele que na amargura do seu coração chora as próprias culpas, são mais suaves que a alegria daquele que se inebria com os prazeres da vida. Criada por Deus e para Deus, só n'Ele acharás a paz. Desgraçada da alma que ousa crer que se pode achar coisa alguma melhor que Deus. Cessa pois de armas a vaidade e a mentira e volta-te para aquele que é o único que pode dar-te a paz e fazer a tua verdadeira felicidade. 

Demais, ó minha querida, o tempo nada é comparado com a eternidade. Tens de viver eternamente numa alegria soberana, ou na mais terrível dor. Deves habitar para sempre o Paraíso ou o Inferno. Qual será a tua eternidade? Interroga a consciência e ela te responderá. Crês que a moleza em que vives, a dissipação, o afã pelas festas e divertimentos, o desejo de te mostrares, de amar e ser amada, o habito de rir e acompanhar livremente com pessoas das quais até devias evitar o encontro com cuidado, são o caminho que conduz ao céu? Ah! minha filha, eu própria me impus o dever de proteger a minha inocência por meio do retiro, da modéstia e de uma oração contínua, pela prática de todas as virtudes que devem servir de norma à vida de uma verdadeira serva do Senhor, e tu crer-te-ias segura vivendo no meio de tantos perigos, com tão pouca vigilância e tamanho horror ao sofrimento? Meu próprio Divino Filho subiu ao céu pelo caminho da Cruz, e tu querias persuadir-te que só pode ali chegar pelo caminho dos prazeres?! De que te servirá ter gozado todas as delícias do mundo se te perdes e precipitas num fim de dor eterna para que não foste criada? De que te servirás teres nascido no seio da Igreja, teres sido remida pelo sangue precioso de meu Filho, alimentada por sacramentos divinos, inscrita no livro do filho de Deus, pertenceres à uma nação Cristã, a um povo de eleição, se acabas por te condenar como aqueles que nunca conheceram nem Deus, nem o seu Cristo? 

Affectos. Como vossas palavras fortificam meu coração e me esclarecem o espírito, ó Maria, minha Mãe amabilíssima! Ah! agora conheço quanto tenho andado mal até ao presente e o dever que me obriga a dar-lhe um pronto remédio se não quiser perder o fim para que fui criada. Oh! como as minhas passadas loucuras me confundem! Quanto era insensata em renunciar a Deus e à sua Glória por um bem passageiro e uma vã felicidade! Que desgraçada eu era! Não tinha Deus em conta alguma; só seguia as minhas vontades desregradas e os absurdos caprichos do mundo. Que devo eu esperar senão que Deus me não avalie em nada e me confunde com os seus inimigos? Mas é tempo ainda; vou, pois apressar-me, sem perder um momento, e emendar o meu erro. Detesto e aborreço todos os prazeres, encantos, festas e vaidades que tem sido ou serão para mim uma ocasião de ofender o meu Deus. Renuncio de novo a eles, como já tinha renunciado em meu Batismo; em lugar de os procurar, pisá-los-ei aos pés sem medo e valorosamente. 

Chorarei incessantemente o meu erro. Não pensarei se não em agradar a Deus sem me importar com o que dirá o mundo, servi-lo-ei e amarei de todo o coração para conseguir o meu fim. Valei-me, ó Mãe amabilíssima. Sob a vossa poderosíssima proteção, estou certa de obter o perdão que imploro e de praticar tudo o que tenho resolvido. 

Da obra 'Maria Falando ao Coração das Donzelas',
 traduzido do italiano pelo Abbade A. Bayle.
Livraria Católica Portuense, Porto, 1917.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Oferta-te a Cristo

Aos Membros e amigos da IDSC

No nosso dia a dia nos são ofertados muitos prazeres, objetos, situações. Ou seja: bens temporais e muitos desses, nem podemos chamar de “bens”. É quase uma loucura pensarmos atualmente, imersos nesta sociedade hedonista e utilitarista, em se dar como oferta pelo bem dos irmãos, principalmente quando essa entrega voluntária não é fundamentada em ideologias ou em campanhas modernistas, que na verdade servem como uma compensação para amaciar a consciência, usando de meios filantrópicos. 

Sem. Pedro Afonso
                 Diretor Geral
Dar-se é algo muito difícil, se analisado sob a ótica de nossa sociedade, e exige de nós uma mortificação pessoal – escândalo para muitos – pois quem se dá não procura mais o bem próprio, mas o bem da pessoa que se doa. O amor, quando verdadeiro, busca mesmo sendo de forma inocente uma doação total. Busca por uma entrega tão perfeita onde já não se saberia mais identificar o amado e o amante.

No casamento essa doação pode ser vista de forma mais clara, porém nem sempre profunda, entre os cônjuges. Estes que se amam de uma maneira forte e especial no matrimônio onde já não mais há duas carnes, mas uma somente, e no ato sexual se unem manifestando a união de quem se entrega mutuamente. Não raras vezes percebemos que já não é assimilada essa realidade na vida conjugal, devido não poucas vezes por esta união não ter sido encarada como oferta de si, mas como oferta do outro, como busca de uma mera satisfação pessoal.

Não podemos conhecer e tão pouco conjugar o verbo ofertar sem conhecer a Cristo que por nós se ofertou de maneira sublime ao Pai. É Nele, que se encontra o fundamento seguro e certo do oferecimento livre, desinteressado e sincero.

A oferta é no seu âmago uma graça, pois esta opção não se enquadra nas reações instintivas do nosso ser homem. Não condiz como natural, a nós homens decaídos e fracos pelo pecado, mas sim como realidade sobrenatural de um homem novo que nasceu não mais da carne, mas do Espírito que o impele a ultrapassar os ditames do nosso egoísmo e amor próprio.

A exemplo de Jesus, somos convidados a nos darmos como oferta verdadeira e que não busca interesses próprios. Dessa forma a nossa oferta deve ser feita primeiramente a Aquele que por nós se ofertou ao Pai. Essa nossa doação pessoal não deve ser deparada com a falsa impressão de sermos, a isso, obrigados, pois não são poucas pessoas que acham que se têm duas alternativas: ou ser bom ou ser mau. Essa classificação é muito simplória. Não somos objetos etiquetados. Ao contrário, somos filhos em processo de amadurecimento.

O ato de entregar-se a Deus, antes de qualquer outra coisa, é fazer aquilo, de forma livre, para o qual fomos criados. É a nossa realização pessoal que está em jogo, pois não fomos criados para outra realidade que não seja voltada para Jesus. E essa verdade dever ser para nós causa de muita alegria, pois não haveria possibilidade melhor.

Se tentarmos imaginar uma lâmpada, esta que foi feita para iluminar. Se por sua vez esta não o faz, perdeu todo o seu sentido e já não pode mais servir aos que estão no escuro da noite.

Concluindo se tirarmos a pessoa de Jesus, fim único da nossa vida, com a pretensão de não nos sentirmos por Ele obrigados de sermos verdadeiros e bons, não iremos obter a liberdade plena, como antes de forma enganosa nos tinha oferecido a serpente, mas conseguiremos sim um encontro intimo com o nada da existência ateia e perderemos todo o sentido para vivermos e só nos restará o caos da crise funesta onde optamos num voluntariado afastamento de Deus.


Pedro Afonso Tavares Lins
Diretor Geral 

Santa Gianna Beretta exemple de mãe e esposa "O amor é o sentimento mais bonito que o Senhor colocou na alma dos homens".


Santa Gianna Beretta Molla


(o Papa João Paulo II canonizou a mãe e mártir da vida)

No dia 16 de maio de 2004, o Papa João Paulo II canonizou, isto é, incluiu no catálogo dos santos, a médica italiana Gianna Beretta Molla (1922-1962), que deu a vida por sua filha, preferindo morrer a praticar um aborto. Eis o trecho da homilia do Santo Padre relativo a essa mãe e mártir, que se tornou símbolo da luta pró-vida.

Do amor divino, Gianna Beretta Molla foi uma mensageira simples, mas mais significativa do que nunca. Poucos dias antes do matrimônio, numa carta enviada ao futuro marido, escreveu: "O amor é o sentimento mais bonito que o Senhor colocou na alma dos homens".

Seguindo o exemplo de Cristo, que "tendo amado os seus... amou-os até ao fim" (Jo 13, 1), esta santa mãe de família manteve-se heroicamente fiel ao compromisso assumido no dia do matrimônio. O sacrifício eterno que selou a sua vida dá testemunho de que somente quem tem a coragem de se entregar totalmente a Deus e aos irmãos se realiza a si mesmo.

Possa a nossa época descobrir de novo, através do exemplo de Gianna Beretta Molla, a beleza pura, casta e fecunda do amor conjugal, vivido como resposta ao chamamento divino!

Breve história de Santa Gianna Beretta Molla

Gianna Beretta nasce em Magenta (Milão, Itália) aos 04 de outubro de 1922. Desde sua primeira juventude, acolhe plenamente o dom da fé e a educação cristã, recebidas de seus ótimos pais. Esta formação religiosa ensina-lhe a considerar a vida como um dom maravilhoso de Deus, a ter confiança na Providência e a estimar a necessidade e a eficácia da oração.
Durante os anos de estudos e na Universidade, enquanto se dedicava diligentemente aos seus deveres, vincula sua fé com um compromisso generoso de apostolado entre os jovens da Ação Católica e de caridade para com os idosos e os necessitados nas Conferências de São Vicente. Laureada em medicina e cirurgia em 1949 pela Universidade de Pavia (Itália), em 1950 abre seu consultório médico em Mêsero (nos arredores de Milão). Especializa-se em pediatria na Universidade de Milão em 1952 e, entre seus clientes, demonstra especial cuidado para as mães, crianças, idosos e pobres.

Enquanto exercia sua profissão médica, que a considerava como uma «missão», aumenta seu generoso compromisso para com a Ação Católica, e consagra-se intensivamente em ajudar as adolescentes. Através do alpinismo e do esqui, manifesta sua grande alegria de viver e de gozar os encantos da natureza. Através da oração pessoal e da dos outros, questiona-se sobre sua vocação, considerando-a como dom de Deus. Opta pela vocação matrimonial, que a abraça com entusiasmo, assumindo total doação «para formar uma família realmente cristã».

Inicia seu noivado com o engenheiro Pedro Molla. Prepara-se ao matrimônio com expansiva alegria e sorriso. Ao Senhor tudo agradece, e ora. Na basílica de São Martinho, em Magenta, casa aos 24 de setembro de 1955. Transforma-se em mulher totalmente feliz. Em novembro de 1956, já é a radiosa mãe de Pedro Luís; em dezembro de 1957 de Mariolina e, em julho de 1959, de Laura. Com simplicidade e equilíbrio, harmoniza os deveres de mãe, de esposa, de médica e da grande alegria de viver.

Em setembro de 1961, no final do segundo mês de gravidez, vê-se atingida pelo sofrimento e pela dor. Aparece um fibroma no útero. Antes de ser operada, embora sabendo o grave perigo de prosseguir com a gravidez, suplica ao cirurgião que salve a vida que traz em seu seio e, então, entrega-se à Divina Providência e à oração. Com o feliz sucesso da cirurgia, agradece intensamente a Deus a salvação da vida do filho. Passa os sete meses que a distanciam do parto com admirável força de espírito e com a mesma dedicação de mãe e de médica. Receia e teme que seu filho possa nascer doente e suplica a Deus que isto não aconteça.

Alguns dias antes do parto, sempre com grande confiança na Providência, demonstra-se pronta a sacrificar sua vida para salvar a do filho: «Se deveis decidir entre mim e o filho, nenhuma hesitação: escolhei - e isto o exijo - a criança. Salvai-a». Na manhã de 21 de abril de 1962 nasce Joana Manuela. Apesar dos esforços para salvar a vida de ambos, na manhã de 28 de abril, em meio a atrozes dores e após ter repetido a jaculatória «Jesus eu te amo, eu te amo» morre santamente. Tinha 39 anos. Seus funerais transformaram-se em grande manifestação popular de profunda comoção, de fé e de oração. A Serva de Deus repousa no cemitério de Mêsero, distante 4 quilômetros de Magenta, nos arredores de Milão (Itália).

«Meditata immolazione» (imolação meditada), assim Paulo VI definiu o gesto da Beata Gianna recordando, no Ângelus dominical de 23 de setembro de 1973, «uma jovem mãe da Diocese de Milão que, para dar a vida à sua filha sacrificava, com imolação meditada, a própria». É evidente, nas palavras do Santo Padre, a referência cristológica ao Calvário e à Eucaristia.

Foi beatificada por João Paulo II no dia 24 de abril de 1994, no Ano Internacional da Família.

Fonte: Vaticano  

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Em comemoração ao aniversário de eleição do Santo Padre, Bento XVI, postamos a sua primeira homilia como bispo de Roma e sucessor de Pedro.


SANTA MISSA
IMPOSIÇÃO DO PÁLIO
E ENTREGA DO ANEL DO PESCADOR
PARA O INÍCIO DO MINISTÉRIO PETRINO DO BISPO DE ROMA
HOMILIA DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
Praça de São Pedro
Domingo, 24 de Abril de 2005

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no episcopado e no sacerdócio
Distintas Autoridades
e Membros do Corpo Diplomático
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Por três vezes, nestes dias tão intensos, o cântico das ladainhas dos Santos nos acompanhou: durante o funeral do nosso Santo Padre João Paulo II; por ocasião da entrada dos Cardeais em Conclave, e também hoje, quando as cantamos de novo com a invocação: Tu illum adiuvaampara o novo sucessor de São Pedro. Todas as vezes, de modo totalmente particular ouvi este cântico orante como um grande conforto. Quanto nos sentimos abandonados depois da perda de João Paulo II! O Papa que por 26 anos foi o nosso pastor e guia no caminho através deste tempo.

Ele cruzou o limiar para a outra vida entrando no mistério de Deus. Mas não deu este passo sozinho. Quem crê, nunca está sozinho nem na vida nem na morte. Naquele momento nós pudemos invocar os santos de todos os séculos, os seus amigos, os seus irmãos na fé, sabendo que teriam estado no cortejo vivo que o teria acompanhado no além, até à glória de Deus. Nós sabemos que a sua chegada era esperada. Agora sabemos que ele está entre os seus e está verdadeiramente em sua casa. De novo, fomos confortados cumprindo a solene entrada em conclave, para eleger aquele que o Senhor tinha escolhido. Como podíamos reconhecer o seu nome? Como podiam, 115 Bispos, provenientes de todas as culturas e países, encontrar aquele ao qual o Senhor desejava conferir a missão de ligar e desligar? Mais uma vez, nós o sabíamos: sabíamos que não estávamos sós, que estávamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus.

E agora, neste momento, eu, frágil servo de Deus, devo assumir esta tarefa inaudita, que realmente supera qualquer capacidade humana. Como posso fazer isto? Como serei capaz de o fazer? Todos vós, queridos amigos, acabaste de invocar todos os santos, representados por alguns dos grandes nomes da história de Deus com os homens. Desta forma, também em mim se reaviva esta autoconsciência: não estou sozinho. Não devo carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me. E a vossa oração, queridos amigos, a vossa indulgência, o vosso amor, a vossa fé e a vossa esperança acompanham-me. De facto, à comunidade dos santos não pertencem só as grandes figuras que nos precederam e das quais conhecemos os nomes. Todos nós somos a comunidade dos santos, nós baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, nós que vivemos do dom da carne e do sangue de Cristo, por meio do qual ele nos quer transformar e tornar-nos semelhantes a si mesmo.

Sim, a Igreja é viva eis a maravilhosa experiência destes dias. Precisamente nos tristes dias da doença e da morte do Papa isto manifestou-se de modo maravilhoso aos nossos olhos: que a Igreja é viva. E a Igreja é jovem. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro. A Igreja é viva e nós vemo-lo: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus. A Igreja é viva ela é viva, porque Cristo é vivo, porque verdadeiramente ele ressuscitou. No sofrimento, presente no rosto do Santo Padre nos dias de Páscoa, contemplámos o mistério da paixão de Cristo e, ao mesmo tempo, tocámos nas suas feridas. Mas em todos esses dias também pudemos, num sentido profundo, tocar o Ressuscitado. Foi-nos concedido experimentar a alegria que ele prometeu, depois de um breve tempo de obscuridade, como fruto da sua ressurreição.

A Igreja é viva saúdo assim com grande alegria e gratidão todos vós, que estais aqui reunidos, venerados Irmãos Cardeais e Bispos, caríssimos sacerdotes, diáconos, agentes de pastoral, catequistas. Saúdo a vós, religiosos e religiosas, testemunhas da transfigurante presença de Deus. Saúdo a vós, irmãos leigos, imersos no grande espaço da construção do Reino de Deus que se expande no mundo, em todas as expressões da vida. O discurso torna-se repleto de afecto também na saudação que dirijo a quantos, renascidos no sacramento do Baptismo, ainda não estão em plena comunhão connosco; e a vós irmãos do povo judaico, a quem nos sentimos ligados por um grande património espiritual comum, que afunda as suas raízes nas irrevogáveis promessas de Deus. O meu pensamento, por fim quase como uma onda que se expande dirige-se a todos os homens do nosso tempo, crentes e não crentes.

Queridos amigos! Neste momento não temos necessidade de apresentar um programa de governo. Alguns aspectos daquilo que eu considero minha tarefa, já tive ocasião de os expor na mensagem de quarta-feira 20 de Abril; não faltarão outras ocasiões para o fazer. O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história. Em vez de expor um programa, gostaria simplesmente de procurar comentar os dois sinais com os quais é representada liturgicamente a assunção do Ministério Petrino; contudo, estes dois sinais reflectem também exactamente o que é proclamado nas leituras de hoje.

O primeiro sinal é o Pálio, tecido em lã pura, que me é colocado sobre os ombros. Este antiquíssimo sinal, que os Bispos de Roma usam desde o século IV, pode ser considerado como uma imagem do jugo de Cristo, que o Bispo desta cidade, o Servo dos Servos de Deus, assume sobre os seus ombros. O jugo de Deus é a vontade de Deus, que nós aceitamos. Esta vontade não é para nós um peso exterior, que nos oprime e nos priva da liberdade. Conhecer o que Deus quer, conhecer qual é o caminho da vida eis a alegria de Israel, era o seu grande privilégio. Esta é também a nossa alegria: a vontade de Deus não nos desvia, mas purifica-nos talvez de maneira até dolorosa e assim conduz-nos a nós mesmos. Desta forma, não servimos só a Ele mas à salvação de todo o mundo, de toda a história. Na realidade o simbolismo do Pálio é ainda mais concreto: a lã do cordeiro pretende representar a ovelha perdida ou também a doente e frágil, que o pastor coloca sobre os ombros e conduz às águas da vida. A parábola da ovelha perdida, que o pastor procura no deserto, era para os Padres da Igreja uma imagem do mistério de Cristo e da Igreja. A humanidade todos nós é a ovelha perdida que, no deserto, já não encontra o caminho. O Filho de Deus não tolera isto; Ele não pode abandonar a humanidade numa condição tão miserável.

Levanta-se de ímpeto, abandona a glória do céu, para reencontrar a ovelha e segui-la, até à cruz. Carrega-a sobre os ombros, leva a nossa humanidade, leva-nos a nós mesmos Ele é o bom pastor, que oferece a sua vida pelas ovelhas. O Pálio diz antes de tudo que todos nós somos guiados por Cristo. Mas ao mesmo tempo convida-nos a levar-nos uns aos outros. Assim o Pálio se torna o símbolo da missão do pastor, de que falam a segunda leitura e o Evangelho. A santa preocupação de Cristo deve animar o pastor: para ele não é indiferente que tantas pessoas vivam no deserto. E existem tantas formas de deserto. Há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede, o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Há o deserto da obscuridão de Deus, do esvaziamento das almas que perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se tão amplos. Por isso, os tesouros da terra já não estão ao serviço da edificação do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas tornaram-se escravos dos poderes da exploração e da destruição. A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo, devem pôr-se a caminho, para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude. O símbolo do cordeiro tem ainda outro aspecto. No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia. Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos.

Precisamente assim Ele se revela como o verdadeiro pastor: "Eu sou o bom pastor... Ofereço a minha vida pelas minhas ovelhas", diz Jesus de si mesmo (cf. Jo 10, 14 s). Não é o poder que redime, mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes nós desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte. Que atingisse duramente, vencesse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do poder se justificam assim, justificando a destruição daquilo que se opõe ao progresso e à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. E de igual modo todos temos necessidade da sua plenitude. O Deus, que se tornou cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica. O mundo é redimido pela plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens.
Significado da entrega do anel do pescador: conquistar os homens para o Evangelho

Uma das características fundamentais deve ser a de amar os homens que lhe foram confiados, assim como ama Cristo, a cujo serviço se encontra. "Apascenta as minhas ovelhas", diz Cristo a Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho vós, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos. Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros.

O segundo sinal, com o qual é representado na liturgia de hoje o início do Ministério Petrino, é a entrega do anel do pescador. A chamada de Pedro para ser pastor, que ouvimos no Evangelho, acontece depois de uma pesca abundante: depois de uma noite, durante a qual tinham lançado as redes sem pescar nada, os discípulos vêem na margem do lago o Senhor Ressuscitado. Ele ordena-lhes que voltem a pescar mais uma vez e eis que a rede se enche tanto que eles não conseguem tirá-la para fora da água; 153 peixes grandes: "E apesar de serem tantos, a rede não se rompeu"(Jo 21, 11). Esta narração, no final do caminho terreno de Jesus com os seus discípulos, corresponde a uma narração do início: também então os discípulos não tinham pescado nada durante toda a noite; também então Jesus tinha convidado Simão a fazer-se ao largo mais uma vez.

E Simão, que ainda não era chamado Pedro, deu a admirável resposta: Mestre, porque tu o dizes, lançarei as redes! E eis o conferimento da missão: "Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens" (Lc 5, 1-11). Também hoje é dito à Igreja e aos sucessores dos apóstolos que se façam ao largo no mar da história e que lancem as redes, para conquistar os homens para o Evangelho para Deus, para Cristo, para a vida. Os Padres dedicaram um comentário muito particular a esta tarefa. Eles dizem assim: para o peixe, criado para a água, é mortal ser tirado para fora do mar. Ele é privado do seu elemento vital para servir de alimento ao homem. Mas na missão do pescador de homens acontece o contrário. Nós homens vivemos alienados, nas águas salgadas do sofrimento e da morte; num mar de obscuridade sem luz. A rede do Evangelho tira-nos para fora das águas da morte e conduz-nos ao esplendor da luz de Deus, na verdadeira vida. É precisamente assim na missão de pescador de homens, no seguimento de Cristo, é necessário conduzir os homens para fora do mar salgado de todas as alienações rumo à terra da vida, rumo à luz de Deus. É precisamente assim: nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, conhecemos o que é a vida. Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário. Não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade. A tarefa do pastor, do pescador de homens muitas vezes pode parecer cansativa. Mas é bela e grande, porque em definitiva é um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer entrar no mundo.

Gostaria de realçar aqui mais uma coisa: quer na imagem do pastor quer na do pescador sobressai de maneira muito explícita a chamada à unidade. "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 16), diz Jesus no final do sermão do bom pastor. E a narração dos 153 grandes peixes termina com a gloriosa constatação: "apesar de serem tantos, a rede não se rompeu" (Jo 21, 11). Ai de mim, amado Senhor, agora ela rompeu-se! Poderíamos dizer que sofremos. Mas não não devemos estar tristes! Alegremo-nos pela tua promessa, que não desilude, e façamos o possível para percorrer o caminho rumo à unidade, que tu prometeste. Façamos memória dela na oração ao Senhor, como pedintes: sim, Senhor, recorda-te de tudo o que prometeste. Faz com que sejam um só pastor e um só rebanho! Não permitas que a tua rede se rompa e ajuda-nos a ser servos da unidade!

Neste momento a minha recordação volta ao dia 22 de Outubro de 1978, quando o Papa João Paulo II deu início ao seu ministério aqui na Praça de São Pedro. Ainda, e continuamente, ressoam aos meus ouvidos as suas palavras de então: "Não tenhais medo, abri de par em par as portas a Cristo!" O Papa dirigia-se aos fortes, aos poderosos do mundo, os quais tinham medo que Cristo pudesse tirar algo ao seu poder, se o tivessem deixado entrar e concedido a liberdade à fé. Sim, ele ter-lhes-ia certamente tirado algo: o domínio da corrupção, da perturbação do direito, do arbítrio. Mas não teria tirado nada do que pertence à liberdade do homem, à sua dignidade, à edificação de uma sociedade justa. O Papa falava também a todos os homens, sobretudo aos jovens. Porventura não temos todos nós, de um modo ou de outro, medo, se deixarmos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrirmos completamente a Ele, medo de que Ele possa tirar-nos algo da nossa vida? Não temos porventura medo de renunciar a algo de grandioso, único, que torna a vida tão bela? Não arriscamos depois de nos encontrarmos na angústia e privados da liberdade? E mais uma vez o Papa queria dizer: não! Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentámos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Amém.

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Padre Gabrielle Amorth Exorcista oficial de Roma fala sobre as Influências nefastas do rock satânico

Vários autores católicos já preveniram das consequências nefastas do rock satânico. Recordo especialmente de Piero Montero, Satana e lo stratagemma della coda, Ed. Segno; Corrado Balducci, Adoratori do Satana, Ed. Piemme. Transcrevo alguns traços fundamentais, extraídos da revista Lumiére et Paix, maio-junho 1982, p. 30.

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"Existe, nos Estados Unidos - depois, estendeu-se à escala internacional - uma associação chamada WICCA (traduzida, esta sigla significa: Associação dos Bruxos e Conjurados). Os compomentes desta associação são numerosíssimos, possuem três companhias discográficas e cada disco tem por objetivo contribuir para a desmoralização e para a desorganização interior da psicologia dos jovens. Praticar o satanismo e consagram-se à pessoa de Satanás.

Cada um destes discos descreve exatamente os estados de alma que convêm aos discípulos de Satanás e convida as pessoas a celebrarem a sua glória, a sua honra e o seu louvor. Há também um grupo famoso, muito famoso, cujos membros também pertencem a uma seita satânica da região de San Diego, divulgam em muitas de suas músicas - embora não em todas elas - os mesmos princípios, porque são sempre pessoas consagradas ao culto de Satanás.

Outra organização, também muito conhecida, é a de Garry Funkell, que produz o mesmo tipo de música. Estes grupos têm, sobretudo, o objetivo de divulgar os discos que têm por finalidade conduzir os jovens ao satanismo, ou seja, ao culto de Satanás.

Os discos consagrados a Satanás baseiam-se em quatro princípios:

- Primeira coisa: é importante o ritmo, chamado beat, que se desenvolve seguindo os movimentos da relação sexual. Repentinamente, os ouvintes sentem-se envolvidos numa espécie de frenesi. É por esse motivo que se registram muitos casos de histeria, produzidos pela escuta contínua desses discos; é o resultado que se obtém exasperando o instinto sexual por intermédio do beat de que falamos.

- Em segundo lugar, usa-se a intensidade sonora, deliberadamente escolhida de maneira a atingir uma força de sete decibéis acima da tolerância do sistema nervoso. Está tudo muito bem calculado; quando nos sujeitamos a esta música durante algum tempo, logo em seguida, a pessoa passa por um certo tipo de depressão, de rebelião e de agressividade, de tal modo, que se chega a certas atitudes, dizendo sem tomar consciência: "No fundo, eu não fiz nada de mal: só ouvi um pouco de música na balada". (Assim acreditam, também, muitos pais e educadores, totalmente inexperientes neste campo) Mas trata-se de um métodoprevisto e bem calculado, que visa exasperar o sistema nervoso e, desse modo, leva à obtenção de um resultado bem determinado: levar os ouvintes a um estado de confusão e de desordem, que os impele a buscar formas de realizar o beat, ou seja, o ritmo que ouviram durante a balada; e é assim que se chega, também, a recrutar novos adeptos a iniciar no satanismo. Este é o objeto final dos seus autores.

- O terceiro princípio é transmitir um sinal subliminar. Trata-se de transmitir um sinal elevadíssimo, muito acima da capacidade do ouvido, um sinal supersônico, que atua no inconsciente. É um som importuno, da ordem dos 3.000 quilohertz por segundo, que não é possível captar com os nossos ouvidos, precisamente por ser supersônico; desencadeia no cérebro uma substância, cujo efeito é exatamente idêntico ao da droga, mas uma droga natural, produzida pelo cérebro, depois que aqueles estímulos são recebidos, mas de que não se dá conta. Num determinado momento, a pessoa sente-se estranha... Esta sensação incômoda induz a pessoa a procurar a droga propriamente dita ou a tomar doses maiores, caso já faça uso dela.

- Ainda há um quarto elemento: a consagração ritual de cada disco, no decurso de uma missa negra. De fato, antes de cada disco ser lançado no mercado, é consagrado a Satanás com um ritual particular que é uma forma autêntica de missa negra.

Se já parou para analisar as palavras destas canções (palavras que, por vezes, estão escondidas e apenas são perceptíveis se ouvirmos o disco na rotação contrária - ndr), percebemos que os temas gerais são sempre os mesmos: rebelião contra os pais, contra a sociedade e contra tudo o que existe; libertação de todos os instintos sexuais; a possibilidade de criar um estado anárquico para fazer triunfar o reino de Satanás. Basta tomar, por exemplo, a canção Hair, para encontrar quatro partes dedicadas ao culto de Satanás.

Depois de tudo o que dissemos, quem ousaria negar o perigo das influências do Maligno que conta com tantos cúmplices no caminho da rebelião e do ódio? Lemos no Apocalipse: "E furioso contra a Mulher, o dragão foi fazer guerra contra o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus" (cf. Ap 12,17).

Livro : Pe. Gabrielle Amorth, Novos Relatos de Um Exorcista