E assim como na natureza cada organismo exige uma
alimentação diversa, segundo a idade, os trabalhos e o gasto das forças, assim
também cada alma precisa de uma particular dose de oração.
Notais que a vida divina [isto é, a vida da graça]
não se sustenta de virtude, mas de oração, já que a virtude é um sacrifício, um
gasto, e não um alimento.
São Pedro Julião Eymard |
Quem sabe orar de acordo com as suas necessidades,
tem a sua lei de vida. Não é a mesma para todos. Uns precisarão de um grau
maior de oração para se manter no estado de graça; outros de um grau menor.
Esta afirmação não pode ser posta em dúvida, pois a experiência no-la prova.
Uma alma se conservará em estado de graça com pouca oração – basta-lhe esse
pouco – mas não há de voar muito alto, enquanto outra, pelo contrário,
dificilmente nele se manterá sem muita oração. Sente necessidade de mais. Que
ore, e ore sempre! Assemelha-se a essas naturezas fracas, que precisam comer
com freqüência para não definhar.
A oração é o caráter da religião católica, a marca
de santidade da alma, sua própria santidade. Ao verdes alguém que vive de
oração podereis dizer: "É um santo". (...) Jamais, porém, se tornará
santo o homem que não ora.
Não vos deixeis levar nem pelas palavras, embora
belas, nem pelas aparências. O demônio tem muito poder, é douto, transforma-se
em anjo de luz. A ciência, tampouco, forma santos; não vos fieis nela. Só o
conhecimento da verdade não pode santificar, é preciso acrescentar-lhe o amor.
Que digo? Há um abismo entre o conhecimento da verdade e a santidade. Quantos
gênios não se têm perdido!
Insisto. Nem as boas obras de zelo e de caridade
podem, por si, santificar. Deus não imprimiu à santidade este caráter. Os
fariseus – e no entanto Nosso Senhor os chama de sepulcros caiados – observavam
a Lei, davam esmolas, consagravam os dízimos a Deus. Trabalhavam muito sem que,
no entanto, seu trabalho se mudasse em oração. O Evangelho no-lo confirma. É
que a prudência, a temperança, a dedicação se podem aliar a uma consciência
viciada.
A oração não é, [por assim dizer,] na ordem divina,
senão a mesma graça. Já notaste que as tentações, as mais violentas, são contra
a oração? Esta inspira tanto medo ao demônio que, de bom grado, ele nos
deixaria fazer todas as [boas] obras imagináveis, se pudesse nos impedir de
orar, ou, pelo menos, se conseguir viciar a nossa oração. Devemos, pois, estar
de sobreaviso, alimentar sempre o espírito de oração, fazer da oração nosso
dever primordial.
O Evangelho não nos manda antepor a salvação do
próximo à nossa própria salvação, pelo contrário, diz-nos que nada vale ao
homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua própria alma. A primeira lei
imposta – infelizmente violada todos os dias – é a da salvação própria.
Descuidamo-nos de bom grado de nós mesmos para servir aos outros,
entregando-nos a obras de caridade. De fato, a caridade é fácil e cheia de
consolações, eleva-nos, enobrece-nos, mas enquanto isso, fugimos da oração por
indolência. Por ser sem ruído e silenciosa, é humilhante, e não ousamos,
portanto, nos entregar a ela.
(...) Nada se faz de grande para Jesus sem a
oração, que nos reveste de Suas virtudes.
Se não rezardes, nem os Santos, nem o próprio Deus
vos farão progredir no caminho da perfeição.
A oração está de tal forma ligada à santidade que,
Deus, ao querer elevar a alma, não intensifica suas virtudes, mas sim, seu
espírito de oração, isto é, a sua capacidade de poder orar.
Aproxima-a de Si, e nisto está o segredo da
santidade.
Consultai vossa experiência própria. Sempre que a
voz de Deus se fez ouvir, haveis procurado com maior insistência a oração e o
retiro. E os Santos, cientes da importância da oração, amavam-na mais que a
tudo e suspiravam continuamente pela hora em que a ela se poderiam entregar.
Sentiam-se atraídos a ela como o ferro ao ímã. A oração foi-lhes, portanto, a
recompensa: no Céu oram continuamente.
Se não rezardes, perder-vos-ei. E se fordes
abandonado por Deus, podeis atribuir isto, com toda certeza, ao fato de não
rezardes. Sois qual o desgraçado náufrago que recusa a corda que lhe lançam com
intuito de arrancá-lo à morte. Que fazer? Está perdido!
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