Das Cartas de Santa Margarida
Maria Alacoque, virgem
(Vie et Oeuvres, 2; Paris [1915], 321.336.493.554) (Sec. XVII)
Parece me
que a intenção de Nosso Senhor ao manifestar tão grande desejo de que o seu
Sagrado Coração seja especialmente venerado, é renovar nas almas os efeitos da
sua redenção. Na verdade, o Sagrado Coração é uma fonte inesgotável que não
pretende senão comunicar se aos corações humildes, para que, mais livres e
disponíveis, orientem a sua vida na entrega total à sua vontade.
Deste divino
Coração brotam sem cessar três canais de graça. O primeiro é o da misericórdia
para com os pecadores, sobre os quais infunde o espírito de contrição e de
penitência. O segundo é o da caridade, para auxílio de quantos padecem
tribulações e em especial dos que aspiram à perfeição, a fim de que superem
todas as dificuldades. O terceiro é de amor e luz para os seus amigos perfeitos
que deseja unir a Si para os tornar participantes da sua ciência e dos seus
desígnios, a fim de que eles se consagrem inteiramente a promover a sua glória,
cada um à sua maneira.
Este divino Coração é um abismo que encerra todos os bens e é
preciso que os pobres Lhe confiem todas as suas necessidades. É abismo de
alegria em que devem ficar submersas todas as nossas tristezas; é abismo de
humildade contra o nosso orgulho; é abismo de misericórdia para os infelizes; é
abismo de amor para saciar toda a nossa pobreza. Uni-vos intimamente, em tudo o
que fizerdes, ao Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, para fazerdes vossas as
suas disposições e a sua satisfação. Por exemplo: não adiantais nada na oração?
Contentai vos com oferecer a Deus as preces que o divino Salvador eleva por nós
no Sacramento do altar, oferecendo o seu fervor em reparação da vossa tibieza;
e dizei em cada uma das vossas ações: «Meu Deus, faço isto ou sofro aquilo em
união com o Sagrado Coração de vosso Filho e segundo as suas intenções; eu Vo-lo
ofereço em reparação de todo o mal ou imperfeição das minhas obras». E de modo
semelhante em todas as circunstâncias da vida. E sempre que vos sobrevém
qualquer sofrimento, angústia ou mortificação, dizei no vosso interior: «Recebe
o que o Sagrado Coração de Jesus te envia para te unir a Ele».
Acima de tudo, porém, conservai a paz de coração, que supera todos
os tesouros. E o melhor meio de a conservar é renunciar à própria vontade e
colocar a vontade do divino Coração em vez da nossa, para a deixar escolher por
nós aquilo que mais pode contribuir para a sua glória.
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