I Parte
Nota do
blog: Essa postagem será composta de três partes, desejamos a todos uma piedosa
leitura.
Meditações sacerdotais ou
O padre santificado pela oração
Volume I, pelo Pe. Chaignon
versão portuguesa pelo padre
Francisco Luís Seabra
Porto, ano de 1934
Tem-se-nos
dito muitas vezes: Sede santos, para merecerdes oferecer dignamente o divino
sacrifício; diz-se-nos agora: celebrai-o com toda a devoção de que sois
capazes, para alcançardes a perfeição que Deus espera de vós. Consideremos hoje
o altar como uma escola, em que Jesus nos dá com os Seus exemplos as mais úteis
lições; amanhã meditaremos sobre os prodigiosos socorros que Ele nos oferece.
A
santificação para os simples fiéis, reduz-se a dois pontos: Morrer e viver,
despojar-se do homem velho e revestir-se do novo (Exploantes
vos veterem hominem, et onduentes novum. Coloss. III, 9). O sacerdote deve além disso comunicar
às almas a vida sobrenatural e divina, que ele recebeu em Jesus Cristo. Para
ele, o santificar-se é morrer, viver, e dar vida, três
graus de perfeição sacerdotal, cujo modelo mais belo e perfeito, o Filho de
Deus imolado por nosso ministério, nos oferece no altar. Ele ensina-nos:
I - A
morrer para o mundo e para nós mesmos.
II - A viver a vida mais santa.
III - A vivificar o próximo com o nosso
zelo.
I- Jesus
Cristo no altar, modelo de mortificação
Esta virtude
custa-nos mais que todas as outras; mas com energia no-la prega o Salvador na
celebração dos santos mistérios! A missa é a viva imagem da Paixão. O corpo e o
sangue do Homem-Deus, consagrados separadamente e consumados com uma morte
mística, os paramentos esmaltados de cruzes, a cruz figurada em todas as
cerimônias, a elevação da Vítima pelo sacerdote, que a põe entre o céu e a
terra, tal como esteve no Calvário; a paciência e o silêncio deste Cordeiro de
Deus, que ali está sem fazer movimento, sem dar sinal de vida: tudo nos recorda
no altar as cenas dolorosas de Seu sacrifício cruento. Demais, os indignos
tratos e ultrajes não cessaram para Jesus Cristo com a Sua vida mortal; não
encontra Ele nos nossos santuários quase todas as cruéis provações da Sua
Paixão? A mesma tristeza do Seu Coração, à vista de tantos crimes que se
cometem, enquanto Ele Se oferece para reparar a glória de Seu Pai; a mesma
frieza, a mesma indiferença, o mesmo abandono da parte daqueles a quem mais
encheu de benefícios. Ora Ele tudo tinha previsto, quando instituiu o
sacramento do Seu amor: as perseguições futuras tinha-as presentes, assim como
as que sofria. A Sua ardente caridade superou todas as repugnâncias: o duplo
cálice foi aceito.
E este
exemplo de um Deus redentor, não só entregando-Se por nós aos tormentos e à
morte, mas também prolongando, perpetuando a Sua Paixão no meio de nós, não
será capaz de nos fazer amar a mortificação, ou ao menos de nos suavizar a sua
prática? Diante deste pensamento, que é inseparável da celebração dos santos
mistérios, ficarei eu sem generosidade e sem energia para me vencer?
Senhor, Vós
fizeste-Vos minha Vítima, e eu recusarei ser Vossa vítima? Instituindo o
augusto sacrifício e elegendo-me para ser o Seu ministro, sabíeis por quantas
tribulações Vos seria necessário passar para chegar até mim; sabíeis quantos
ultrajes sacrílegos teríeis de sofrer neste longo espaço de dezoito séculos, e
quantos Judas encontraríeis no Vosso caminho: esta horrorosa perspectiva não
diminuiu o Vosso amor! E eu nada quererei padecer por Vós? Sacrificastes por
mim as Vossas consolações, a Vossa honra, a Vossa liberdade, a Vossa vida; e eu
hesitarei em sacrificar-Vos a minha delicadeza, o meu melindre? Consentistes
por meu amor em ser cuspido, espezinhado, crucificado; ser desconhecido,
insultado até por muitos dos Vossos próprios discípulos, e tudo isto até a
consumação dos séculos; e eu queixar-me-ei de que me esqueçam durante alguns
dias da minha passageira existência neste mundo?
E
desalentar-me-á uma leve ofensa, ou uma momentânea contradição? E continuarei a
ser soberbo, sensual e exigente? Semelhante contraste indigna-me contra mim
mesmo.
Um padre que
se não descuida de meditar na Eucaristia, e que se utiliza das lições que dela
recebe, não faz caso dos sofrimentos, qualquer que seja a sua natureza e a sua
origem, como os mártires, alimentados com este pão celestial, não faziam caso
dos cárceres, dos patíbulos e das fogueiras.
Morre para
si mesmo, como lhe foi aconselhado na sua ordenação: Imitamini quod tractatis,
quatenus mortis Dominicae mysteriam celebrantes, mortificare membra vestra a
vitiis et concupiscentiis omnibus procuretis (Pontif.)
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