Das Homilias sobre os Evangelhos, de
São Gregório Magno, papa.
(Hom. 25,7-9:PL76,1201-1202)
(Séc.VI)

Nada disso aconteceu por acaso, mas por
disposição da providência divina. A clemência do alto agiu de modo admirável a
fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discípulo que
duvidara curasse as chagas da nossa falta de fé. A incredulidade de Tomé foi
mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram
logo. Pois, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde apalpar, o nosso
espírito, pondo de lado toda dúvida, confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo
que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreição.
Tomé apalpou e exclamou: Meu
Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo
20,28-29). Ora, como diz o apóstolo Paulo: A fé é um modo de já possuir
o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem (Hb
11,1). Logo, está claro que a fé é a prova daquelas realidades que não podem
ser vistas. De fato, as coisas que podemos ver não são objeto de fé, e sim de
conhecimento direto. Então, se Tomé viu e apalpou, por qual razão o Senhor lhe
disse: Acreditaste, porque me viste? É que ele viu uma coisa e
acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a
humanidade de Jesus e proclamou a fé na sua divindade, exclamando: Meu
Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um
verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem não podia ver.
Alegra-nos imensamente o que vem a
seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). Não
resta dúvida de que esta frase se refere especialmente a nós. Pois não vimos o
Senhor em sua humanidade, mas o possuímos em nosso espírito. É a nós que ela se
refere, desde que as obras acompanhem nossa fé. Com efeito, quem crê verdadeiramente,
realiza por suas ações a fé que professa. Mas, pelo contrário, a respeito
daqueles que têm fé apenas de boca, eis o que diz São Paulo: Fazem
profissão de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prática (Tt
1,16). É o que leva também São Tiago a afirmar:A fé, sem obras, é morta (Tg
2,26).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário ou pergunta!