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terça-feira, 31 de julho de 2012

Provai os espíritos a ver se são de Deus


Da Narrativa autobiográfica de Santo Inácio, recolhida de viva voz pelo Padre Luís Gonçalves da Câmara
(Cap.1,5-9:Acta Sanctorum Iulii,7 [1868],647)
(Séc.XVI)

Inácio gostava muito de ler livros mundanos e romances que narravam supostos feitos heróicos de homens ilustres. Assim que se sentiu melhor, pediu que lhe dessem alguns deles, para passar o tempo. Mas não se tendo encontrado naquela casa nenhum livro deste gênero, deram-lhe um que tinha por título A vida de Cristo e outro chamado Florilégio dos Santos, ambos escritos na língua pátria.

Com a leitura frequente desses livros, nasceu-lhe um certo gosto pelos fatos que eles narravam. Mas, quando deixava de lado essas leituras, entregava seu espírito a lembranças do que lera outrora; por vezes ficava absorto nas coisas do mundo, em que antes costumava pensar.

Em meio a tudo isto, estava a divina providência que, através dessas novas leituras, ia dissipando os outros pensamentos. Assim, ao ler a vida de Cristo nosso Senhor e dos santos, punha-se a pensar e a dizer consigo próprio: “E se eu fizesse o mesmo que fez São Francisco e o que fez São Domingos?” E refletia longamente em coisas como estas. Mas sobrevinham-lhe depois outros pensamentos vazios e mundanos, como acima se falou, que também se prolongavam por muito tempo. Permaneceu nesta alternância de pensamentos durante um tempo bastante longo.

Contudo, nestas considerações, havia uma diferença: quando se entretinha nos pensamentos mundanos, sentia imenso prazer; mas, ao deixá-los por cansaço, ficava triste e árido de espírito. Ao contrário, quando pensava em seguir os rigores praticados pelos santos, não apenas se enchia de satisfação, enquanto os revolvia no pensamento, mas também ficava alegre depois de os deixar.

No entanto, ele não percebia nem avaliava esta diferença, até o dia em que se lhe abriram os olhos da alma, e começou a admirar-se desta referida diferença. Compreendeu por experiência própria que um gênero de pensamentos lhe trazia tristeza, e o outro, alegria. Foi esta a primeira conclusão que tirou das coisas divinas. Mais tarde, quando fez os Exercícios Espirituais, começou tomando por base esta experiência, para compreender o que ensinou sobre o discernimento dos espíritos.

domingo, 29 de julho de 2012

Concílio Ecumênico de Trento


Nota do Blog: Nestas postagens iremos apresentar um dos concílios mais significativos da Igreja Católica. Esta exposição será dividida em partes, que será postada diariamente para facilitar a leitura. Aqui expomos uma visão geral do Concílio com suas respectivas sessões.



CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO
(1545-1563)
Contra as inovações doutrinárias dos protestantes

Sessão III
   O Símbolo da Fé Católica

Sessão IV
   Os Livros Sagrados e as Tradições dos Apóstolos
   A edição da Vulgata da Bíblia e o modo de interpretação

Sessão V
   Decreto sobre o pecado original

Sessão VI
   Decreto sobre a justificação
   Cânones sobre a justificação

Sessão VII
   Sobre os Sacramentos
   Cânones sobre os sacramentos em geral
   Cânones sobre o sacramento do Batismo
   Cânones sobre o sacramento da Confirmação

Sessão XIII
   Decreto sobre a Santíssima Eucaristia
   Cânones sobre a Santíssima Eucaristia

Sessão XIV
   Doutrina sobre a Penitência
   Doutrina sobre o sacramento da Extrema-Unção
   Cânones sobre o sacramento da Penitência
   Cânones sobre a Extrema-Unção

Sessão XXI
   Doutrina da comunhão sob ambas as espécies e das crianças
   Cânones sobre a comunhão sob ambas as espécies e das crianças

Sessão XXII
   Doutrina sobre o santíssimo Sacrifício da Missa
   Cânones sobre o santíssimo sacrifício da Missa

Sessão XXIII
   Doutrina sobre o sacramento da Ordem
   Cânones sobre o sacramento da Ordem

Sessão XXIV
   Doutrina sobre o sacramento do Matrimonio
   Cânones sobre o sacramento do Matrimonio

Sessão XXV
   Decreto sobre o Purgatório
   A invocação, a veneração e as Relíquias dos Santos, e as sagradas Imagens
   Decreto sobre as Indulgências
   Sobre o matrimonio clandestino nulo
   Sobre a Trindade e a Encarnação (contra os Unitários)
   Profissão de fé

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Colaboração na Divina Obra



Por um cartuxo anônimo
(Intimidade com Deus)


A coisa mais necessária às almas desejosas de servirem a Deus é a perseverança. Começa-se de manhã com um entusiasmo que vai diminuindo lentamente, de modo que ao meio-dia as resoluções da madrugada estão abandonadas por completo. Muitas vezes a causa é o peso do corpo, que oprime o espírito. E o remédio para isso é a pessoa habituar-se a reatar durante o dia o contato com Deus, o sentimento da Sua presença. Que uma fervorosa invocação a renove: «Jesus, meu Deus, creio em Vós e espero em Vós; amo-Vos e o que estou a fazer neste momento, faço-o por amor de Vós». Nada se deve perder: todas as ocasiões podem ser aproveitadas para alimentar esta vida interior e divina. Deus só nos pede o que Ele próprio nos concedeu - a graça de poder dar. O que Ele quer é um coração humilde e uma oração ardente que implore com sinceridade a Sua ajuda. Ele provê às nossas necessidades com graças suficientes e até mesmo superabundantes, de maneira que nenhum obstáculo nos poderá meter medo: não há nada que tenha poder contra a bondade. «Ainda não tivestes nenhuma tentação que não fosse proporcionada à fraqueza humana; e Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vantagem da mesma tentação, para a poderdes suportar» (l Cor., X, 13).

Devemos colaborar como se tudo dependesse de nós. Antes de tudo, devemos evitar escravizar-nos às nossas tendências e aos nossos gostos, pois a vida espiritual não é a procura de um prazer sensível, mas de uma sujeição paciente do sensível ao espiritual: Deus deu-nos o coração e o sentimento para que o ponhamos ao serviço do verdadeiro amor. O que não ultrapassa o sensível tem bem pouca nobreza: não é digno do Deus da verdade. É necessário que o coração manifeste a sua sinceridade por meio de obras, e seja experimentado no fogo do sacrifício. O verdadeiro amor tem a sua raiz na vontade: é a partir da vontade que ele orienta todas as pessoas razoáveis e determina a sua ação. Quando o nosso querer se submete perfeitamente ao de Deus e Lhe corresponde, todo o nosso ser se harmoniza com a sua idéia eterna. Daí a insistente exortação do Senhor: «Porque vos é necessária a perseverança, para que, tendo feito a vontade de Deus, recebais o fruto da sua promessa» (Hebr., X, 36).

É um perigo para todas as almas desejosas de progresso, ou a intenção é ainda imperfeita, perder-se nos pormenores da vida quotidiana, parar nesta contabilidade moral, que é enganadora quando nos satisfaz e, muitas vezes, quando nos deixa descontentes. Pelo contrário, para voar para Deus num impulso livre e direto, não basta uma vontade forte: é necessário que a graça nos liberte do cuidado de nós próprios e que o Espírito nos leve para além dos respeitos humanos «Obedecei a vossos senhores temporais com reverência e solicitude, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo; não os servindo só quando sob as suas vistas, como para agradar aos homens mas como servos de Cristo, fazendo do coração a vontade de Deus, servindo-os de boa vontade, como se servísseis o Senhor e não os homens» (Efés.,VI, 5-7).

A nossa firme vontade de colaborar com Deus, de fazer frutificar os Seus melhores dons, é contudo indispensável: ele não nos quer santificar sem nós. Devemos fazer render cem por um o talento que nos foi confiado: não é sem luta que seremos fiéis à graça, nem sem esforço que chegaremos a viver na presença de Deus. Só o servo fiel dá a prova do seu amor. «Senhor, tu entregaste-me dois talentos: eis que lucrei outros dois. O seu Senhor disse-lhe: Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-lhe-ei a intendência de muitas; entra na alegria do teu Senhor» (Mat.) xxv, 22-23).

Se quisermos viver sobrenaturalmente, não devemos transigir com nenhuma mesquinhez: só se pode servir a Deus de todo o coração, só um espírito aberto é capaz de refletir a Sua luz. Enquanto a pusilanimidade acompanha a fé, é sinal que esta se encontra ainda ligada a elementos da natureza; e quando a vida interior é profunda ela não deixa de criar na alma essa sensata audácia, essa liberdade de olhar e essa largueza de espírito sem as quais se não pode conceber um desabrochar das forças na graça. «Corri pelo caminho dos teus mandamentos quando dilataste o meu coração» (Salmo CXVIII, 32).

quarta-feira, 25 de julho de 2012

III Parte - O mais eficaz de todos os meios de santificação dados ao sacerdote, é a missa.


III Parte
Nota do blog: Essa postagem será composta de três partes, desejamos a todos uma piedosa leitura.


III- Jesus Cristo no altar, modelo de verdadeiro zelo

A missa recorda-nos o que Jesus Cristo fez, o que faz ainda todos os dias e a todo o instante pela salvação das almas. Ela é o memorial de todos os mistérios da Sua vida e principalmente da Sua morte: O memoriale mortis Domini! Ora nesta vida e nesta morte, tudo foi dirigido para um só fim: glorificar a Deus com a salvação das almas.

Não foi pela almas que Jesus Cristo desceu à terra? Não era o pensamento da felicidade dos escolhidos que O amparava nas angústias do Horto das Oliveiras, nos sofrimentos do Pretório e do Calvário?

Na Eucaristia é sempre o grande zelador das almas.

É pela salvação delas que desce ainda todos os dias a milhares de altares. Procura incessantemente dissipar-lhes as ilusões, corrigir-lhes as inclinações, salvá-las. No tabernáculo espera os pecadores, e convida-os a virem aliviar no Seu seio o peso dos seus remorsos. Oferece-lhes os Seus merecimentos, o Seu valimento, a Sua onipotente mediação.

Ó sacerdote cristão! que exemplo vos dá Jesus!

E prevendo que este exemplo mudo não inflamaria ainda bastante o vosso zelo, junta-lhe uma veemente exortação, mesmo no momento da Sua imolação mística; porque é então, que Ele manda que vos lembreis da Sua Paixão: Haec quotiescumque feceritis, in mei memoriam facietis. Recordar-vos, em uma ocasião tão solene, o que Ele padeceu pelas almas, não é porventura recomendar-vos vivamente o cuidado da sua salvação?

Não podeis dizer missa sem ouvir soar ao vosso coração a palavra que comoveu tão profundamente o de São Pedro: "Amas-Me? amas-Me mais que os outros? Apascenta as Minhas ovelhas, cuida das almas; deixarás tu perecer os teus irmãos, por quem sabes que Eu morri"?

Excitando o nosso zelo com o exemplo que nos dá no altar, Jesus regula-o e dirige-o. - Que pureza nos Seus motivos! Buscar-se Ele a Si mesmo? Há alguma mistura de interesse próprio, intuitos pessoais no que faz pela salvação das almas? - Que empenho para as tirar do pecado e sujeitá-las à graça!


Não repele nem ainda os maiores pecadores. Se não os admite logo à Sua mesa, ao menos tolera-os na Sua presença.

Tenho eu imitado até agora, tenho eu ao menos estudado tão perfeito modelo? Ah! Senhor, eu não sabia sequer considerar-Vos sob este aspecto na adorável Eucaristia. Dignai-vos tornar-me daqui em diante mais atento, mais dócil às lições que me dais todos os dias na celebração dos santos mistérios. Infundi-me essa mortificação, essa vida, esse zelo, de que me ofereceis tão grandes exemplos no altar.

terça-feira, 24 de julho de 2012

II Parte - O mais eficaz de todos os meios de santificação dados ao sacerdote, é a missa.



II Parte
Nota do blog: Essa postagem será composta de três partes, desejamos a todos uma piedosa leitura.


II - Jesus Cristo no altar, perfeito modelo da vida sacerdotal

A vida do Salvador na Eucaristia é toda dirigida por uma sabedoria divina. A prudência humana não compreende esta profunda obscuridade, em que se esconde a suprema majestade, esta soledade, este misto inefável de contemplação e de ação; porque, neste mistério, Jesus parece inativo e faz tudo: do Seu tabernáculo governa o mundo. Glorificar a Deus com Sua adoração e humilhação, salvar os homens derramando continuamente sobre eles as bênçãos da Sua graça, tal é a vida de Jesus Cristo nos nossos altares. Ela não é mais que um exercício contínuo de todas as virtudes, praticadas com infinita perfeição.
Que mansidão! que paciência! Como deixa que se cheguem a Ele, O toquem, O tomem como alimento, e até O insultem! Não repele pessoa alguma.

Os pequenos e os grandes, os ignorantes e os sábios, os pecadores e os justos têm junto dEle o mais fácil acesso. - Que humildade! Afasta de Si tudo o que Lhe daria consideração e esplendor; oculta as Suas divinas perfeições e até a Sua humanidade.

Não parece o que é, ou antes nada parece. Que obediência! Senhor dos senhores, submete-se, e a quem? em quê? quanto tempo? Decorre uma só hora, em que não esteja em alguma parte, na mão dos Seus ministros que O apresentam à adoração do povo, ou O encerram no Seu tabernáculo, e dispõem dEle como querem? Que recolhimento! Que união com Deus! Que oração! Ela não tem sido interrompida um só instante desde a instituição da Eucaristia, e é a esta divina oração, que o mundo deve toda a felicidade que tem.

Eis o modelo da vida sacerdotal. Ensinando-nos essa sublime sabedoria, que é uma estultícia para o mundo, o exemplo do Salvador neste mistério instrui-nos na pura caridade, que só busca a Deus e só trabalha para Deus, e na caridade que tudo sofre. Este exemplo, em que a força se junta à suavidade, atrai-nos e guia-nos ao mesmo tempo nos caminhos da vida interior, toda retirada em Deus, que é a alma da vida apostólica. Assim, depois de nos ter ensinado a morrer para nós mesmos, o Salvador na Eucaristia ensina-nos a viver da Sua própria vida, e a vivificar as almas comunicando-lhes o Seu espírito.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O mais eficaz de todos os meios de santificação dados ao sacerdote, é a missa. I Parte

I Parte
Nota do blog: Essa postagem será composta de três partes, desejamos a todos uma piedosa leitura.

Meditações sacerdotais ou
O padre santificado pela oração
Volume I, pelo Pe. Chaignon
versão portuguesa pelo padre
Francisco Luís Seabra
Porto, ano de 1934



Tem-se-nos dito muitas vezes: Sede santos, para merecerdes oferecer dignamente o divino sacrifício; diz-se-nos agora: celebrai-o com toda a devoção de que sois capazes, para alcançardes a perfeição que Deus espera de vós. Consideremos hoje o altar como uma escola, em que Jesus nos dá com os Seus exemplos as mais úteis lições; amanhã meditaremos sobre os prodigiosos socorros que Ele nos oferece.

A santificação para os simples fiéis, reduz-se a dois pontos: Morrer e viver, despojar-se do homem velho e revestir-se do novo (Exploantes vos veterem hominem, et onduentes novum. Coloss. III, 9). O sacerdote deve além disso comunicar às almas a vida sobrenatural e divina, que ele recebeu em Jesus Cristo. Para ele, o santificar-se é morrer, viver, e dar vida, três graus de perfeição sacerdotal, cujo modelo mais belo e perfeito, o Filho de Deus imolado por nosso ministério, nos oferece no altar. Ele ensina-nos:

I - A morrer para o mundo e para nós mesmos.
II - A viver a vida mais santa.
III - A vivificar o próximo com o nosso zelo.

I- Jesus Cristo no altar, modelo de mortificação

Esta virtude custa-nos mais que todas as outras; mas com energia no-la prega o Salvador na celebração dos santos mistérios! A missa é a viva imagem da Paixão. O corpo e o sangue do Homem-Deus, consagrados separadamente e consumados com uma morte mística, os paramentos esmaltados de cruzes, a cruz figurada em todas as cerimônias, a elevação da Vítima pelo sacerdote, que a põe entre o céu e a terra, tal como esteve no Calvário; a paciência e o silêncio deste Cordeiro de Deus, que ali está sem fazer movimento, sem dar sinal de vida: tudo nos recorda no altar as cenas dolorosas de Seu sacrifício cruento. Demais, os indignos tratos e ultrajes não cessaram para Jesus Cristo com a Sua vida mortal; não encontra Ele nos nossos santuários quase todas as cruéis provações da Sua Paixão? A mesma tristeza do Seu Coração, à vista de tantos crimes que se cometem, enquanto Ele Se oferece para reparar a glória de Seu Pai; a mesma frieza, a mesma indiferença, o mesmo abandono da parte daqueles a quem mais encheu de benefícios. Ora Ele tudo tinha previsto, quando instituiu o sacramento do Seu amor: as perseguições futuras tinha-as presentes, assim como as que sofria. A Sua ardente caridade superou todas as repugnâncias: o duplo cálice foi aceito.

E este exemplo de um Deus redentor, não só entregando-Se por nós aos tormentos e à morte, mas também prolongando, perpetuando a Sua Paixão no meio de nós, não será capaz de nos fazer amar a mortificação, ou ao menos de nos suavizar a sua prática? Diante deste pensamento, que é inseparável da celebração dos santos mistérios, ficarei eu sem generosidade e sem energia para me vencer?

Senhor, Vós fizeste-Vos minha Vítima, e eu recusarei ser Vossa vítima? Instituindo o augusto sacrifício e elegendo-me para ser o Seu ministro, sabíeis por quantas tribulações Vos seria necessário passar para chegar até mim; sabíeis quantos ultrajes sacrílegos teríeis de sofrer neste longo espaço de dezoito séculos, e quantos Judas encontraríeis no Vosso caminho: esta horrorosa perspectiva não diminuiu o Vosso amor! E eu nada quererei padecer por Vós? Sacrificastes por mim as Vossas consolações, a Vossa honra, a Vossa liberdade, a Vossa vida; e eu hesitarei em sacrificar-Vos a minha delicadeza, o meu melindre? Consentistes por meu amor em ser cuspido, espezinhado, crucificado; ser desconhecido, insultado até por muitos dos Vossos próprios discípulos, e tudo isto até a consumação dos séculos; e eu queixar-me-ei de que me esqueçam durante alguns dias da minha passageira existência neste mundo?

E desalentar-me-á uma leve ofensa, ou uma momentânea contradição? E continuarei a ser soberbo, sensual e exigente? Semelhante contraste indigna-me contra mim mesmo.

Um padre que se não descuida de meditar na Eucaristia, e que se utiliza das lições que dela recebe, não faz caso dos sofrimentos, qualquer que seja a sua natureza e a sua origem, como os mártires, alimentados com este pão celestial, não faziam caso dos cárceres, dos patíbulos e das fogueiras.

Morre para si mesmo, como lhe foi aconselhado na sua ordenação: Imitamini quod tractatis, quatenus mortis Dominicae mysteriam celebrantes, mortificare membra vestra a vitiis et concupiscentiis omnibus procuretis (Pontif.)

sábado, 21 de julho de 2012

Este sacramento, que recebestes, tem por fonte a palavra de Cristo


Do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo
(Nn.52-54.58:SCh25 bis,186-188.190)
(Séc. IV)

Vemos que são maiores as obras da graça do que as da natureza. Entre as obras da graça, incluímos a graça da bênção profética. Se a bênção humana teve a força de mudar a natureza, que diremos da própria consagração divina, em que agem as palavras mesmas do Senhor e Salvador? Porque este sacramento que recebes se realiza pela palavra de Cristo. Se tanto pôde a palavra de Elias que fez o fogo descer do céu, não terá a palavra de Cristo o poder de mudar a substância dos elementos? Já leste acerca da criação do mundo inteiro que ele falou e tudo foi feito, ele ordenou e tudo foi criado.

Portanto a palavra de Cristo, que pôde do nada fazer o que não era, não poderá mudar o que existe para aquilo que não era? Dar novas naturezas às coisas não é menos do que mudá-las.

Mas por que apresentamos argumentos? Voltemo-nos para seus exemplos, confirmemos pelos mistérios da encarnação a verdade do mistério. Acaso, quando Jesus nasceu de Maria, foi observada a natureza comum? Normalmente, a mulher concebe pela união com o homem. Está, portanto, bem claro que a Virgem gerou fora da ordem natural. E este que consagramos é o corpo que proveio da Virgem. Por que exiges aqui que seja segundo a natureza, quando foi além da natureza que da Virgem se deu o nascimento do mesmo Senhor Jesus? É realmente a verdadeira carne de Cristo que foi crucificada, sepultada; é verdadeiramente o sacramento desta carne. O próprio Senhor Jesus declara: Isto é o meu corpo. Antes da bênção das palavras celestes era outra realidade; depois da consagração, entende-se o corpo. Ele mesmo diz que é seu sangue. Antes da consagração é outra coisa; depois da consagração, chama-se sangue. E tu dizes: “Amém”; o que quer dizer: “É verdade”. Confesse o nosso interior o que proclamam os lábios, sinta o afeto o que a palavra soa.

Vendo tão grande graça, a Igreja exorta seus filhos, exorta os amigos a que acorram ao sacramento: Comei, amigos meus, bebei e inebriai-vos, meus irmãos. O que comemos, o que bebemos, o Espírito Santo pelo Profeta o exprimiu: Provai e vede, como é suave o Senhor; feliz de quem nele confia. Neste sacramento está Cristo porque é o corpo de Cristo. Não é, por conseguinte, alimento corporal, mas espiritual. O Apóstolo, falando da sua figura, dizia: Nossos pais comeram o pão espiritual e beberam da bebida espiritual. O corpo de Deus é corpo espiritual; o corpo de Cristo é corpo do espírito divino, porque Cristo é espírito, como lemos: O Espírito diante de nossa face, o Cristo Senhor. E na carta de São Pedro encontramos: E Cristo morreu por vós. Por fim este pão fortalece o nosso coração e esta bebida alegra o coração do homem; assim nos lembra o Profeta.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A devoção ao Sagrado Coração nos leva à pureza de coração


Que devoção será mais apropriada para nos incutir aversão à ofensa de Deus e dor dos pecados cometidos, do que a devoção ao Sagrado Coração? Certamente não podemos contemplar esse Coração encimado por uma cruz e cercado de espinhos, sem pensar que foram os nossos pecados que amarguraram tanto o coração do amantíssimo Salvador. Nossos pecados ocasionaram ao divino Redentor uma agonia contínua.


O Pe. Léssio afirma que a ingratidão dos homens por si só seria suficiente para tirar mil vezes a vida de Jesus Cristo.

Por causa dessa ingratidão Ele chorou no Presepe de Belém, suou sangue no jardim de Getsêmani e morreu no mais completo desamparo e privado de toda a consolação na Cruz.

Nosso Senhor revelou à Beata Ágata da Cruz que nada O contristou tanto no seio de Sua Mãe como a vista dos corações insensíveis que haveriam de desprezar, depois de concluída a redenção, as graças para cuja dispensação Ele veio ao mundo. A mesma coisa já dissera o Senhor muito tempo antes, segundo a interpretação comum dos Santos Padres, pela boca do Profeta: "Que proveito haverá ao meu sangue, se eu descer à corrupção?" (Sl 29,10).

O pensamento no grande tormento que o pecado ocasionou ao Santíssimo Coração de Jesus encheu de dor a todos os santos penitentes. O Senhor deu uma vez a conhecer a Santa Catarina de Gênova a fealdade de um só pecado venial, e a santa, a essa vista, se aterrorizou tanto e sentiu uma tão grande for, que caiu desfalecida. Por isso protestou diante do Crucifixo que nunca mais queria cometer um pecado: Nenhum pecado mais, Senhor; nenhum pecado mais, exclamou ela. Lemos que alguns penitentes, sendo por Deus iluminados sobre a malícia de seus pecados, morreram de dor.

De fato, como será possível deixar de chorar os próprios pecados, quando se pondera que eles foram o cruel lagar que, pela aflição e tristeza, espremeu tanto sangue do Coração de Jesus?

Se a devoção ao Coração de Jesus incute horror ao pecado, contudo, não tira ao pecador a esperança de obter o perdão; antes, mostra-lhe que tem de tratar com um coração infinitamente compassivo. Oh! como é grande a compaixão do Coração de Jesus para com o pecador. A misericórdia foi que O levou a descer do céu à terra; ela O fez dizer que Ele é o bom Pastor que dá a Sua vida para salvar as Suas ovelhas. Para nos obter o perdão a nós, pecadores, não se poupou a Si mesmo.

Quis sacrificar-Se na Cruz, por nós, para satisfazer, por Sua paixão, pelas penas que merecêramos. Por essa misericórdia e por essa compaixão diz Ele, ainda agora:

"Por que quereis morrer, ó casa de Israel?" (Ez. 18,21). Ó homens, pobres filhos Meus, por que quereis perder-vos, fugindo de Mim? Não vedes que, separando-vos de mim, vos entregais à morte eterna? Não quero que vos percais; tende confiança; voltai atrás todas as vezes que quiserdes; recebereis sempre nova vida: "Convertei-vos e vivei" (Ez. 18,22).

Foi também essa compaixão que O levou a comparar-Se a um pai amoroso que, vendo-se desprezado por seu filho, contudo não o repele, quando se volta, arrependido, a ele, chegando até a abraçá-lo ternamente e a esquecer todas as injúrias que dele sofreu. "Não me recordarei mais de todas as suas iniquidades". (Ezeq 18,22)

(Escola da Perfeição Cristã para seculares e religiosos, obra compilada dos escritos de Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, pelo Pe. Saint Omer, C.SS.R, vertida para o português segundo a edição alemã do Pe. Paulo Leich pelo Pe. José Lopes, C.SS.R, edição de 1955)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

São Boaventura e o Sagrado Coração de Jesus


"Achei o Coração do meu Senhor, do meu irmão, do meu amigo, o Coração do meu dulcíssimo Jesus. E não hei de adorá-lo? Sim e a ele hei de endereçar minhas súplicas. Mais ainda o Vosso Coração é meu: como os olhos da minha cabeça são meus, assim também o Coração da minha cabeça espiritual a mim pertence, é meu, é tudo meu. E assim como eu achei o Vosso Coração ó Jesus amável, que é também o meu, assim também eu Vos suplicarei ó meu Deus. Aceitai, ó meu Senhor, as minhas orações neste santuário de Vossa liberalidade. Melhor ainda, dignai-Vos fazer-me entrar neste Vosso Coração".

(São Boaventura, citado no livro: Eu Reinarei, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu desenvolvimento histórico, pelo Pe. Fernando Piazza, da ordem de São Camillo, obra traduzida pelo Dr.Alberto Saladino Figueira de Aguiar; impresso nas "Escolas profissionais do Lyceu Coração de Jesus", ano de 1932)




terça-feira, 17 de julho de 2012

Comunidade Canção Nova acolhe Missa na Forma Extraordinária do Rito Romanon


Por Everth Queiroz Oliveira e editado pelo nosso blog IDSC.


Recentemente a comunidade Canção Nova vem sendo palco de uma verdadeira reforma litúrgica. Como exemplos, poderíamos citar a piedade e sacralidade com que as festas da Semana Santa foram celebradas; e também o zelo com que foi conduzida a solenidade de Corpus Christi . E isto tudo ainda este ano.

Pois bem, no dia 15, a comunidade de Cachoeira Paulista acolheu a Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano – a Missa Tridentina! O Sacrifício foi celebrado pelo reverendíssimo padre Demétrio Gomes, da Arquidiocese de Niterói. O blog:  Salvem a Liturgia! havia divulgado de antemão esta feliz notícia , avisando que, embora fosse este um grande passo, desta vez a celebração não seria transmitida na televisão. Os que tinham acesso à Internet tiveram a oportunidade de participar ao vivo deste belíssimo momento de adoração e fidelidade a Santa Tradição. Isto porque o Santo Sacrifício foi transmitido pela Twitcam  (e aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir no dia 15, podem ver as fotos que estão disponíveis que foram publicadas na internet e também no nosso blog).

Agradecimentos ao Rafael Cresci, que disponibilizou as imagens no Facebook, as quais compartilhamos abaixo.







segunda-feira, 16 de julho de 2012

Flos Carmeli, vitis florigera, splendor Coeli, Virgo puerpera, singularis!


Bem podemos dizer que a veste da graça foi tecida pelas mãos benditas de Maria Santíssima. A Santa Madre Igreja proclama-a Corredentora. Se deu inteiramente a si mesma, em união com o seu Filho, pela nossa redenção.

Uma tradição popular fala da túnica inconsútil que a sempre Virgem Maria teceu para Jesus; mas para nós fez realmente muito mais: cooperou para nos conseguir a veste da nossa salvação eterna. Maria Santíssima nunca deixou de nos seguir com o seu olhar maternal para proteger em nós a vida da graça. Cada vez que nos convertemos a Deus, nos levantamos de uma culpa – grande ou pequena – ou progredimos na graça, sempre o fazemos por intermédio de Maria Santíssima. O escapulário que a Senhora do Carmo nos oferece não é mais do que o símbolo exterior desta sua incessante solicitude maternal; símbolo, mas também sinal e penhor de salvação eterna. “Recebe, amado filho – disse Nossa Senhora a São Simão Stock – este escapulário… quem morrer com ele não padecerá o fogo eterno”. A sua poderosa intercessão maternal dá-lhe direito a repetir em nosso favor as palavras de Jesus: “Pai Santo… conservei os que me deste e nenhum deles se perdeu”.

O Carmelo é o símbolo da vida contemplativa, vida toda dedicada à busca de Deus, toda dirigida para a intimidade divina; e quem melhor realizou este ideal altíssimo foi a Virgem, Rainha e Decoro do Carmelo. Diz o profeta Isaías XXXII, 16-18: “No deserto habitará a equidade, e a justiça terá o seu assento no Carmelo. A paz será a obra da justiça e o fruto da justiça é o silêncio e a segurança para sempre. O meu povo repousará na mansão da paz, nos tabernáculos da confiança”. Estas palavras do profeta mostram o espírito contemplativo e retratam a alma de Maria Santíssima. Carmelo em hebreu significa jardim. A alma de Nossa Senhora é um jardim de virtudes, é um oásis de silêncio e de paz, onde reina a justiça e a santidade, oásis de segurança, todo cheio de Deus.

São as paixões e os apegos que fazem barulho dentro de nós, tirando a paz da nossa alma. Só uma alma completamente desprendida e que domina inteiramente as suas paixões, poderá, como Maria Santíssima, ser um “jardim” solitário e silencioso, um verdadeiro Carmelo, onde Nosso Senhor Jesus Cristo encontre suas delícias.

“Ó Maria, flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do céu, Virgem fecunda e singular, Mãe bondosa e intacta, aos carmelitas dai privilégios, Estrela do mar!” Em latim: “Flos Carmeli, vitis florigera, splendor Coeli, Virgo puerpera, singularis! Mater mitis, sed viri nescia, Carmelitis da privilegia, Stella Maris!”

A obra de Cristo e da Igreja jamais regride, mas sempre progride


Angelus de Bento XVI em Castel Gandolfo


São Boaventura e Santo Antônio de
Lisboa
CASTEL GANDOLFO, domingo, 15 de julho de 2012(ZENIT.org) – Bento XVI após Visita Pastoral à cidade de Frascati retornou a Castel Gandolfo de onde conduziu ao meio dia a tradicional oração mariana do Angelus.

Apresentamos as palavras dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidos no pátio interno da residência pontifícia de Castel Gandolfo:

Queridos irmãos e irmãs!
No calendário litúrgico o dia 15 de julho faz memória a São Boaventura de Bagnoregio, franciscano, doutor da Igreja, sucessor de São Francisco de Assis na condução da Ordem dos Frades Menores.

Ele escreveu a primeira biografia oficial do Poverell’, e no final da vida foi Bispo desta Diocese de Albano. Numa carta, Boaventura escreve: “Confesso diante de Deus que a razão que mais me fez amar a vida do beato Francisco é que ela se assemelha ao início e ao crescimento da Igreja”(Epistula de tribus quaestionibus, na Obra de São Boaventura, Introdução Geral, Roma 1990, p.29).

Estas palavras nos remetem diretamente ao Evangelho deste domingo, que apresenta o primeiro envio em missão dos Doze Apóstolos por parte de Jesus “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos; E ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão somente um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto; Mas que calçassem alparcas, e que não vestissem duas túnicas. (Mc 6, 7-9).

Francisco de Assis, depois de sua conversão, praticou ao ‘pé da letra’ este Evangelho, tornando-se uma fidelíssima testemunha de Jesus ; e associado de maneira singular ao mistério da Cruz, foi transformado num ‘outro Cristo’, como o próprio São Boaventura o apresente.”.

Toda a vida de São Boaventura, assim como sua teologia têm como centro inspirador Jesus Cristo. Esta centralidade de Cristo reencontramos na segunda Leitura da Missa de hoje (Ef 1, 3-14), o célebre hino da Carta de São Paulo aos Efésios, que inicia assim: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.O apóstolo mostra então como se realizou este designo em quatro passagens que começam com a mesma expressão ‘Nele’, referindo à Jesus Cristo. ‘Nele’ o Pai nos escolheu antes da fundação do mundo; ‘Nele’ fomos redimidos mediante o seu sangue; ‘Nele’ nos tornamos herdeiros, predestinados a ser ‘louvor de sua glória’; ‘Nele aqueles que crêem no Evangelho recebem o sigilo do Espírito Santo.
Papa Bento XVI em Castel Gandolfo

Este hino paulino contém a visão da história que São Boaventura contribuiu para difundir na Igreja: toda a história tem como centro Cristo, o qual assegura também novidade e renovação a todo tempo. Em Jesus, Deus disse e deu tudo, mas como Ele é um tesouro inexorável, o Espírito Santo jamais deixa de revelar e de atualizar o seu mistério. Por isso a obra de Cristo e da Igreja jamais regride, mas sempre progride

Querido amigos, invoquemos Maria Santíssima, que celebramos amanhã como Virgem do Monte Carmelo, para que nos ajude, como São Francisco e São Boaventura, a responder generosamente a chamada do Senhor, para anunciar o seu Evangelho de salvação com as palavras e antes de tudo com a vida.

Após o Ângelus Bento XVI dirigiu aos presentes a seguinte saudação em português:

Dirijo agora uma saudação especial para os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente para os fiéis da Paróquia São José, de Bragança Paulista e para o grupo de Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, acompanhadas de professores de escolas brasileiras. Agradecido pela amizade e orações, sobre todos invoco os dons do Espírito Santo para serem verdadeiras testemunhas de Cristo no meio das respectivas famílias e comunidades, que de coração abençôo.

(Tradução:MEM)

domingo, 15 de julho de 2012

Catequese sobre os ritos anteriores ao batismo


Início do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo
(Nn.1-7: SCh25 bis, 156-158)
(Séc.IV)

Tivemos diariamente sermões sobre a conduta moral, quando foram lidos os atos dos patriarcas ou os preceitos do livro dos Provérbios. Assim instruídos, vos acostumaríeis a andar pelas vias dos antepassados, a pôr-vos no mesmo caminho e a obedecer às divinas escrituras. Uma vez renovados pelo batismo, viveríeis da maneira conveniente a cristãos.

Santo Ambrósio
Agora, já é tempo de falar sobre os mistérios e manifestar o conteúdo dos sacramentos. Antes do batismo, se pensássemos em insinuá-los a não iniciados, julgaríamos trair mais do que entregar. E também porque em pessoas sem ideia preconcebida, a luz dos mistérios se difunde melhor do que se precedida por alguma palavra.

Abri, pois, os ouvidos e senti o bom odor da vida eterna que se desprende para vós do dom dos sacramentos. Era isso que vos dávamos a conhecer, quando no momento do mistério da abertura dissemos: Efetha, isto é, abre-te, de modo que cada um que se aproximava da graça sabia o que lhe interrogariam e devia lembrar-se da resposta pronta. Cristo realizou este mistério, como lemos no evangelho, ao curar o surdo-mudo.

Em seguida, abriu-se para ti o santo dos santos e entraste no santuário do novo nascimento. Lembra-te da pergunta que te fizeram, reconhece o que respondeste. Renunciaste ao diabo e às suas obras, ao mundo e a suas pompas e delícias. Tua palavra está guardada não no túmulo dos mortos, mas no livro dos vivos.

Ali viste o levita, viste o sacerdote, viste o sumo-sacerdote. Não dês atenção aos indivíduos, mas à graça dos ministérios. Na presença de anjos falaste, como está escrito. Os lábios do sacerdote guardam a ciência e busca-se de sua boca a lei, porque é um anjo do Senhor onipotente. Não há ocultar, não há negar; é anjo quem anuncia o reino de Cristo, a vida eterna. Não leves em conta a aparência, mas o múnus. Atende àquilo que te entrega, pondera seu cargo e reconhece sua dignidade.

Tendo, pois, entrado, para veres teu adversário a quem julgaste dever renunciar frontalmente, tu te voltaste para o Oriente; quem renuncia ao demônio, converte-se para Cristo, contempla-o em face.