V e ultima Parte
Apologética Católica
com o Padre Júlio Maria de Lombaerde, + 1944
(Retirado do
Livro "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções
protestantes".)
IX. Cheia de
graça
Nova objeção. Não devia faltar. Eis, dizem eles,
como os padres raciocinam. Dizem que Maria é cheia de graça...e que ser cheia
de graça é ser imaculada.
Então S.Isabel “cheia do Espírito Santo”; S.João
Batista, também “cheio do Espírito”, e outros, são igualmente imaculados.
É um argumento de criança. Examinem bem a diferença
dos termos, e portanto da significação.
De S.João, o evangelista diz: Spiritu Sancto
replebitur (Lc 1, 15).
De S.Isabel, ele diz: Repleta est Spiritu Sancto
Elisabeth (Lc 1, 41).
De Maria SS.o arcanjo diz: Ave, gratia plena (Lc
1,28)
Estes termos são muito diferentes. A Sagrada
Escritura emprega continuadamente o termo: Repletus...estar cheio, no sentido
de abundância relativa...uma certa quantidade, comoRepletus consolatione (2 Cor
7,4), cheio de consolação; repletus iniquitate (Miq 6, 12) cheio de iniqüidade;
repletus dilectione (Rom 15, 14), cheio de amor, etc.
Falando da SS.Virgem, o termo é diferente e
significa uma plenitude completa. O grego Kecharitoménê, particípio passado
decharitóô, de cháris, é empregado na Sagrada Escritura para designar a graça,
tomado no sentido teológico, isso é, por um dom divino que adere à nossa alma.
O sentido exato, dizem os exegetas é: omnino gratiosa reddita, que se tornou
plenamente graciosa, em outros termos: omnino plena caelesti gratia: cheia de
graça.
Os termos assim bem compreendidos, pode-se formar o
silogismo: Maria SS. estava cheia de graça, ao ponto que nada mais podia conter.
Ora, se ela tivesse o pecado original, ela não estaria mais cheia, pois podia
receber uma graça (a preservação do pecado) que não recebera. É pois necessário
admitir a imaculada conceição, como fazendo parte de sua plenitude.
Os teólogos citam outro argumento ainda (Tract. B.
V. Lepicier, p.100): A graça estava na Santíssima Virgem, do mesmo modo que em
Deus, devido à união dela com a divindade na produção do corpo de Jesus Cristo,
que é o corpo de uma pessoa divina. Ora, esta graça tem por propriedade de
nunca ter faltado a Deus. É, pois, necessário que Maria SS. nunca tenha sido
privada da graça, o que só pode ser, admitindo a imaculada conceição.
Outro argumento teológico: O anjo saúda a Maria
como sendo bendita entre, ou acima de todas as mulheres. Ora, em que Maria
seria superior a todas as mulheres, senão pela imaculada conceição?
X.
Proclamação deste dogma
Maria SS. é verdadeiramente imaculada, isso é,
preservada da mácula do pecado original, pela aplicação antecipada dos
merecimentos de Jesus Cristo. É um dogma da nossa fé, solenemente proclamado
pelo Papa Pio IX, em 1854.
Aqui vem uma pedra formidável dos mansos
protestantes. Ouço-os gritar... “Estão vendo...tal imaculada conceição é uma
novidade, data apenas de 1854! É uma invenção romana!”
Pobres de espírito, escutem bem! Existir é uma
coisa; ser proclamado é outra coisa.
Quando Denis Papin proclamou em 1710 a lei da
pressão do vapor...já não existia a tal pressão?
Quando Ramsden em 1779 proclamou a existência da
eletricidade: já não existia ela?
Quando Franklin proclamou a atração do pára-raio,
em 1780... não existia ainda o raio, o trovão e o relâmpago? A asserção é
ridícula.
A Igreja proclamou a conceição imaculada em 1854,
em defesa deste privilégio, contra os ataques ímpios protestantes, porém tal
privilégio existiu sempre, na Bíblia, na Tradição e na pessoa da Virgem Maria.
XI.Conclusão
Tiremos a conclusão: Maria SS. é imaculada. É
certo.
O fim da Encarnação inclui a imaculada conceição.
Este fim é resgatar-nos do pecado original; em conseqüência a Encarnação e o
pecado original excluem-se mutuamente. São dois termos opostos, como são
opostos os termos de luz e trevas, de dia e noite.
Como é que a Virgem, pela qual deve vir a
libertação, pode ser escrava de Satanás? Como é que a Virgem, que deve dar a
Cristo um corpo e um sangue imaculados, pode estar manchada pela culpa
original? Seria isso dizer que pode circular uma água cristalina num canal
imundo. Seria afirmar que uma mãe preta pode gerar um filho branco. Isso é o
contrário da Bíblia que diz: Quem pode tirar um fruto puro de uma semente
impura? (Jó 14, 36).
Como então, mais tarde, Jesus poderia expulsar os
espíritos imundos (Lc 4, 36), se ele mesmo era o fruto do pecado, pelo
nascimento de uma mãe pecadora?
Não está vendo que isso é insensato?
Ela nos traz a luz...e ela estaria nas trevas! Ela
nos traz o preço do nosso resgate e ela seria devedora! Ela seria a mãe da
pureza infinita, e ela seria impura. Ela seria a Mãe de Deus e filha do
pecado!Ela seria revestida de sol, da lua e de estrelas, como descreve S.João
(Apoc 12,1), e ela teria nascido nas trevas!
Não se vê que isso é uma blasfêmia... um insulto a
Deus! Concluamos, pois, dizendo que Maria SS. devia ser imaculada, e que o foi,
conforme o bom senso e a Sagrada Escritura nos indicam.
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