Nada
é tão terrível quanto um tesouro afundado em um lamaçal. Nada é tão péssimo
quanto a corrupção das coisas santas.
Não existe nada mais
terrível que ver um grande tesouro afundado em um denso lamaçal. Por isso a
advertência do Evangelho: "Não lanceis aos cães as coisas santas, não
atireis aos porcos as vossas pérolas" [1]. A pérola é algo muito precioso.
A simples razão ensina ao homem que aquilo que é precioso deve ser guardado,
tratado com bastante zelo e cuidado. Aos porcos, lança-se lavagem, não pedras
preciosas; aos porcos, lançam-se as sobras, não aquilo que se tem em alta
conta.
No mundo antigo, no
entanto, certas pérolas jaziam afundadas na lama e foi o Cristianismo, com a
verdade de sua doutrina e o vigoroso testemunho de seus adeptos, que recuperou
a razão e a justiça então obscurecidas pelos pecados dos homens. Em tempos como
os nossos, em que um malfadado feminismo prega ódio e desrespeito à religião,
nada melhor que lembrar o respeito e a dignidade que a religião cristã devolveu
às mulheres "em sua condenação do divórcio, do incesto, da infidelidade
conjugal e da poligamia" [2].
O Império Romano foi
escolhido por Deus para presenciar a "plenitude dos tempos" [3]. Era
o ambiente apropriado para a visita de um Senhor preocupado mais com os
enfermos e pecadores que com os saudáveis e justos [4]. De fato, a situação em
que aí se encontravam os homens – e principalmente as mulheres – era
degradante. As leis e escritos da época pressupunham "o direito de abandonar
os filhos do sexo feminino" e a "a prerrogativa [dos homens] de
determinar às esposas e amantes que praticassem o aborto" [5]. Uma
sociedade permissiva como a antiga – em que o divórcio era plenamente acessível
e a poligamia amplamente praticada – dava à figura masculina poder de subjugar
as mulheres, tornando-as mais escravas que seres humanos de verdade.
Assim se encontrava o
mundo antigo – com louváveis exceções, verificadas num e noutro lugar – até a
chegada de Cristo. Com Ele, que, no seio do Pai, escolheu uma mulher para ser a
mais virtuosa criatura que a terra viria a conhecer; com Ele, que,
ressuscitado, apareceu primeiro a mulheres [6]; com Ele, que, pela boca de São
Paulo, abolia todas as distinções entre as pessoas – já não havia mais
"judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher" [7],
mas todos eram um só em Cristo; com Ele, restaurou-se a esperança à
feminilidade então tão suja e obscurecida pelo pecado e pela vileza humana.
Historicamente, é inegável: "a mulher em si mesma (...) nunca foi tão
exaltada como no cristianismo" [8].
A tradição cristã
impregnou na cultura ocidental a consciência de que a mulher é muito mais que
seus atributos físicos e naturais; que a mulher não é um pedaço de carne a ser
idolatrado, mas um todo de humanidade através do qual é possível vislumbrar a
eterna beleza do Criador. Ainda hoje, mulheres que aceitaram a doutrina cristã
sobre a modéstia dão testemunho da leveza, da delicadeza e da simplicidade da
autêntica beleza feminina.
"[A mulher] tem
outras belezas muito mais excelentes e nobres: a beleza da sua inteligência, a
beleza dos seus sentimentos e, sobretudo, a beleza da sua virtude e do seu
caráter. Não se pode prescindir desta beleza espiritual, sob pena de rebaixar e
degradar a mulher à condição vil dos irracionais. Seria o mesmo que entregar
uma criatura humana, a pretexto de que é composta de carne e ossos, aos
cuidados e ao laboratório do veterinário" [9].
Por isso, não é
possível olhar para certas reivindicações de movimentos ditos
"progressistas" senão com ceticismo e vergonha. Feministas que vão às
ruas pelo direito de ser "vadias" ou que se proclamam
"prostitutas" [10] podem estar fazendo o que for, menos defendendo a
dignidade da mulher. Rebaixar-se à disposição aparentemente "livre"
dos próprios corpos – como se fossem apenas matéria –, expor totalmente as
próprias pernas e partes íntimas ao público – como se fossem pedaços de carne
num açougue –, pedir o "direito" de matarem os próprios filhos que
são concebidos em seu ventre – como se esses fossem mera "extensão"
de seus membros –, não só é desconsiderar o alto valor que têm as mulheres –
muito maior que o preço das pérolas e das joias mais caras! É como entregá-las
"aos cuidados e ao laboratório do veterinário"; é transportá-las ao
nível dos animais; é, real e lamentavelmente, lançá-las aos porcos.
O que querem essas
senhoritas – que dizem "representar" as mulheres – é a volta à
Antiguidade, no mais horrível e decadente de seus aspectos; a volta ao aborto e
ao infanticídio, ao divórcio e à poligamia, à degradação sexual e à
permissividade dos costumes... na ilusão de que tudo isso as liberte. Só que a
história é uma grande mestra: esses instrumentos que as feministas de hoje
consideram "libertadores" são, miseravelmente, as mesmas armas que as
prenderam à escravidão noutros tempos. Não as tornam "mais mulheres";
au contraire, colocam-nas abaixo de sua própria natureza e vocação; lançam-nas,
terrivelmente, aos cães e aos porcos.
Corruptio optimi
pessima est, diz um adágio latino. A corrupção dos ótimos é péssima, a
corrupção de quem deveria, por sua alta dignidade, ser melhor, é ainda pior que
as outras corrupções. A corrupção da mulher, pelo feminismo, deforma-a a ponto
de torná-la irreconhecível... como uma pérola escondida em um chiqueiro, como
uma joia cujo brilho é ofuscado por uma porção de lama.
Ainda hoje – e
especialmente hoje –, ressoam firmes as palavras de Cristo: "Não lanceis
aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas". Que
as mulheres tomem consciência do grande dom e do alto valor que possuem – e
correspondam com coragem à sua dignidade.
Por Equipe
Christo Nihil Praeponere
Referências
Mt 7, 6
Rodney Stark. O
crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo:
Paulinas, 2006. p. 119
Gl 4, 4
Cf. Mt 9, 12-13
Rodney Stark. O
crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo:
Paulinas, 2006. p. 137
Cf. Mt 28, 9; Mc 16, 9;
Jo 20, 11-18
Gl 3, 28
Dom Aquino Corrêa.
Elevação da mulher, 9 de dezembro de 1934. In: Discursos, vol. II, tomo II.
Brasília, 1985. p. 137
Dom Aquino Corrêa.
Concursos de beleza, 27 de dezembro de 1930. In: Discursos, vol. II, tomo II.
Brasília, 1985. p. 68-69
Veja-se, por exemplo, o
vídeo de um grupo feminista (sic), disponível no YouTube. Avisamos que possui palavras
ofensivas e de baixo calão.
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