IV Parte
Apologética Católica
com o Padre Júlio Maria de Lombaerde, + 1944
(Retirado do
Livro "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções
protestantes".)
VII. A
grande discussão
Examinemos de perto o sentido da passagem, na
mudança do pronome. Qualquer que seja a versão adotada, o texto prova sempre o
triunfo da mulher, que é a Virgem Imaculada.
O essencial é que haja um eterna inimizade entre a
mulher e o demônio: Porei inimizades entre ti e a mulher.
Eis o principal. Tal inimizade significa que deve
haver oposição completa entre o demônio e a Virgem Santíssima.
Ora, esta oposição não seria completa se – ainda
mesmo por um só instante estivesse sujeita ao pecado original. Donde se deve
concluir que ela foi preservada deste pecado.
Depois vem a continuação do primeiro fato. Não
somente haverá inimizade entre o demônio e a SS.Virgem, mas esta inimizade
continuará entre a posteridade de Satanás e a posteridade da Virgem. Inter
semen tuum et semen illius.
Daí conclui-se logicamente que são as mesmas
inimizades que já existem entre o demônio e a Virgem, que devem continuar a
existir entre a posteridade, ou a semente de ambos.
A semente do demo: é o pecado.
A semente da Virgem: É Cristo.
A inimizade entre Cristo e o demônio é absoluta, é
radical, completa...
E sendo a mesma inimizade que existe entre o
demônio e a mulher, deve-se concluir, de novo, que tal inimizade é absoluta,
radical, completa: numa palavra: é a imaculada conceição.
Entre Cristo e o demônio nada pode haver de comum
como o próprio demônio confessa: Quid nobis et tibi, Jesus? Que há entre nós e
vós, Jesus? De modo que nada pode haver de comum entre o pecado e a SS.Virgem.
Ora, se Maria não fosse imaculada, isso é,
preservada do pecado original, ela teria tido, fosse apenas durante um
instante, qualquer coisa de comum com o pecado, o próprio pecado original. Isso
repugna ao texto bíblico, como repugna à dignidade da Virgem Santa.
Depois destes princípios, a mudança de pronome:
ipse, ipsa, ipsum, tonar-se uma questão de palavras, que nada muda a verdade
católica.
O texto contestado é pois o seguinte: Deve-se ler:
Ipse ouIpsum, conteret caput tuum.
O sentido é o mesmo nos três casos: ipse é Cristo;
ipsa é a Virgem Santa; ipsum é a semente ou Cristo.
Ora, a Igreja Católica nunca pretendeu outorgar
diretamente à SS.Virgem o privilégio de esmagar a cabeça da serpente, exclusivamente
por si, mas unindo-se a seu Filho, pela ação de seu Filho, isso é, como Mãe de
Deus.
Adotando, pois, a versão: ipse, ou ipsum, dizendo
que é Cristo que esmaga a cabeça da serpente, é preciso admitir que ele o faz
como Deus-homem; pois Cristo é um homem; como tal ele está unido à sua Mãe:
Cristo o faz diretamente, a SS.Virgem o faz indiretamente, mas ela fica
inseparavelmente associada a este triunfo.
Adotando, como a Vulgata, a versão ipsa: dizendo
que é Maria SS., que esmaga a serpente; não é ela só, mas unida ao Filho; ela o
faz pelo poder de seu Filho, de modo que ela continua a ser associada de Jesus,
a intermediária entre Jesus e o demônio. – É a virtude de Jesus que esmaga a
cabeça da serpente, pelo pé da Virgem Santa.
Isto é tão simples e lógico que, nas edições
hebraicas, a mulher e o filho são unidos num único pronome: Eles te esmagarão a
cabeça; o que ainda é o mais claro e o mais lógico, indicando deste modo o
princípio e o instrumento: o filho e a mãe.
Eis a tremenda discussão levantada pelos
protestantes, no intuito de rebaixar a Mãe de Jesus; porém tal discussão em
nada prejudica a glória de Maria SS.; de modo que, através das discussões
humanas, a palavra divina continua resplandecente, fulminante, mostrando-nos,
desde os albores da humanidade, a figura luminosa, nimbada de esperança e
misericórdia: a Virgem Imaculada.
Tal é aliás a opinião do próprio S.Jerônimo, que
escolheu, entre as três diversas versões, três hebraicas que trazem ipsa, senão
pela exatidão gramatical, senão pelo sentido espiritual.
Ele mesmo dá a razão desta preferência: Não pode
ser outra a semente da mulher, escreve ele, senão aquele que o apóstolo diz ter
sido feito da mulher...isto é, Jesus Cristo...Cristo é verdadeiramente a semente
da mulher, havendo ela nascido sem cooperação do homem.
Podia-se citar ainda o Antigo Testamento este texto
de Isaías: O Senhor vos dará um sinal: Eis que uma Virgem conceberá e dará a
Luz a um filho, e chamarão o seu nome Emanuel,isso é, Deus conosco (Is 7,14).
Este outro de Jeremias: Deus criou uma novidade na terra; uma mulher cercará um
homem (Jer 31,22).
Estes passos provam diretamente a virgindade
perpétua da SS.Virgem, e indiretamente a sua conceição imaculada.
VIII. Provas
do evangelho
Passemos ao Evangelho, onde tal verdade não é mais
figurativamente anunciada, mas positiva e implicitamente revelada.
O anjo, vindo participar à SS.Virgem que tinha sido
escolhida entre todas as mulheres, para ser a Mãe do Filho de Deus,
cumprimentando-a, em nome de Deus, com a seguinte saudação:Ave, cheia de graça,
- o Senhor é convosco – bendita sois entre as mulheres (Lc 1,28).
Que quer dizer isso? Deus proclama a Virgem cheia
de graça.Ora, num vaso cheio não cabe mais nada...
Dizendo que Maria SS. é cheia de graça, é dizer que
possui todas as graças que pode conter um criatura. Se ela não fosse imaculada,
podendo sê-lo, lhe faltaria qualquer coisa; não seria mais: cheia de graça.
O Senhor Deus é com ela. Ora, onde está Deus não
pode estar o pecado. A presença de Deus expele todo pecado. Quando nós
nascemos, Deus não está conosco, porque nascemos em pecado... Ele estava com
Maria, sempre, desde a sua entrada neste mundo, porque era imaculada.
Maria SS. é bendita entre todas as mulheres. Porque
bendita?...Porque será Mãe de Deus. Isso é um título, uma dignidade,
merecimento pessoal. A razão da benção deve brotar do fundo da criatura: e este
fundo é a sua pureza imaculada, que a separa de todas e a eleva acima de todas
as mulheres.
Juntemos a esta prova decisiva as palavras
inspiradas no Magnificat, onde a Virgem exclama: Fez grandes coisas em mim
aquele que é poderoso (Lc 1, 49). Esta grande coisa não é somente a maternidade
divina, mas também a conceição imaculada, que é como a base deste privilégio.
Outra prova insofismável: Maria SS. continua: Deus
pôs os olhos em sua humilde escrava. Se houvesse tido o pecado original,
deveria ter dito: Deus pôs os olhos na iniqüidade da sua escrava, como dizem os
santos, e como aconselha a Sagrada Escritura. Justus prior est accussator
sui.Eis a revelação implícita do grande dogma da imaculada conceição.
É o que fazia dizer S.Cirilo, desde os primeiros
séculos da Igreja: “Qual é o homem de bom-senso, que pode acreditar que o filho
de Deus tenha construído para si mesmo um templo, um trono animado, cedendo o
primeiro direito deste templo, e o seu primeiro uso ao demônio, seu mortal
inimigo? Uma tal idéia, pode ela penetrar num ser capaz de raciocínio?”
Não havia protestante neste tempo...Que diria
S.Cirilo, se voltasse hoje e visse sustentarem tal absurdo?
Eis, meu caro protestante, não somente o texto
pedido, mas diversos textos, uma explicação destes textos, para o Sr. poder
compreênde-los. Esta verdade é tão clara que o seu próprio pai Lutero não teve
a ousadia de negá-la.
Cito apenas uma passagem entre muitas. Escute bem:
“Era justo e conveniente, - diz ele, - fosse a pessoa de Maria preservada do
pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo
o pecado” (Lut. In postil. maj.).
O seu pai Lutero era menos protestante que os
netinhos de hoje...sobretudo, era menos ignorante, e, apesar de sua revolta,
compreendia melhor a bíblia que os nossos modernos biblistas e biblieiros, que
só sabem ler com os óculos dos outros, e interpretar através dos óculos de
qualquer pastor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário ou pergunta!