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quarta-feira, 7 de maio de 2014

IV Parte - Imaculada Conceição por Padre Júlio Maria de Lombaerde


IV Parte

Apologética Católica com o Padre Júlio Maria de Lombaerde, + 1944
(Retirado do Livro "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções protestantes".)

VII. A grande discussão

Examinemos de perto o sentido da passagem, na mudança do pronome. Qualquer que seja a versão adotada, o texto prova sempre o triunfo da mulher, que é a Virgem Imaculada.


O essencial é que haja um eterna inimizade entre a mulher e o demônio: Porei inimizades entre ti e a mulher.
Eis o principal. Tal inimizade significa que deve haver oposição completa entre o demônio e a Virgem Santíssima.

Ora, esta oposição não seria completa se – ainda mesmo por um só instante estivesse sujeita ao pecado original. Donde se deve concluir que ela foi preservada deste pecado.

Depois vem a continuação do primeiro fato. Não somente haverá inimizade entre o demônio e a SS.Virgem, mas esta inimizade continuará entre a posteridade de Satanás e a posteridade da Virgem. Inter semen tuum et semen illius.

Daí conclui-se logicamente que são as mesmas inimizades que já existem entre o demônio e a Virgem, que devem continuar a existir entre a posteridade, ou a semente de ambos.

A semente do demo: é o pecado.

A semente da Virgem: É Cristo.

A inimizade entre Cristo e o demônio é absoluta, é radical, completa...

E sendo a mesma inimizade que existe entre o demônio e a mulher, deve-se concluir, de novo, que tal inimizade é absoluta, radical, completa: numa palavra: é a imaculada conceição.

Entre Cristo e o demônio nada pode haver de comum como o próprio demônio confessa: Quid nobis et tibi, Jesus? Que há entre nós e vós, Jesus? De modo que nada pode haver de comum entre o pecado e a SS.Virgem.

Ora, se Maria não fosse imaculada, isso é, preservada do pecado original, ela teria tido, fosse apenas durante um instante, qualquer coisa de comum com o pecado, o próprio pecado original. Isso repugna ao texto bíblico, como repugna à dignidade da Virgem Santa.

Depois destes princípios, a mudança de pronome: ipse, ipsa, ipsum, tonar-se uma questão de palavras, que nada muda a verdade católica.

O texto contestado é pois o seguinte: Deve-se ler: Ipse ouIpsum, conteret caput tuum.

O sentido é o mesmo nos três casos: ipse é Cristo; ipsa é a Virgem Santa; ipsum é a semente ou Cristo.

Ora, a Igreja Católica nunca pretendeu outorgar diretamente à SS.Virgem o privilégio de esmagar a cabeça da serpente, exclusivamente por si, mas unindo-se a seu Filho, pela ação de seu Filho, isso é, como Mãe de Deus.

Adotando, pois, a versão: ipse, ou ipsum, dizendo que é Cristo que esmaga a cabeça da serpente, é preciso admitir que ele o faz como Deus-homem; pois Cristo é um homem; como tal ele está unido à sua Mãe: Cristo o faz diretamente, a SS.Virgem o faz indiretamente, mas ela fica inseparavelmente associada a este triunfo.

Adotando, como a Vulgata, a versão ipsa: dizendo que é Maria SS., que esmaga a serpente; não é ela só, mas unida ao Filho; ela o faz pelo poder de seu Filho, de modo que ela continua a ser associada de Jesus, a intermediária entre Jesus e o demônio. – É a virtude de Jesus que esmaga a cabeça da serpente, pelo pé da Virgem Santa.

Isto é tão simples e lógico que, nas edições hebraicas, a mulher e o filho são unidos num único pronome: Eles te esmagarão a cabeça; o que ainda é o mais claro e o mais lógico, indicando deste modo o princípio e o instrumento: o filho e a mãe.

Eis a tremenda discussão levantada pelos protestantes, no intuito de rebaixar a Mãe de Jesus; porém tal discussão em nada prejudica a glória de Maria SS.; de modo que, através das discussões humanas, a palavra divina continua resplandecente, fulminante, mostrando-nos, desde os albores da humanidade, a figura luminosa, nimbada de esperança e misericórdia: a Virgem Imaculada.

Tal é aliás a opinião do próprio S.Jerônimo, que escolheu, entre as três diversas versões, três hebraicas que trazem ipsa, senão pela exatidão gramatical, senão pelo sentido espiritual.

Ele mesmo dá a razão desta preferência: Não pode ser outra a semente da mulher, escreve ele, senão aquele que o apóstolo diz ter sido feito da mulher...isto é, Jesus Cristo...Cristo é verdadeiramente a semente da mulher, havendo ela nascido sem cooperação do homem.

Podia-se citar ainda o Antigo Testamento este texto de Isaías: O Senhor vos dará um sinal: Eis que uma Virgem conceberá e dará a Luz a um filho, e chamarão o seu nome Emanuel,isso é, Deus conosco (Is 7,14). Este outro de Jeremias: Deus criou uma novidade na terra; uma mulher cercará um homem (Jer 31,22).

Estes passos provam diretamente a virgindade perpétua da SS.Virgem, e indiretamente a sua conceição imaculada.

VIII. Provas do evangelho

Passemos ao Evangelho, onde tal verdade não é mais figurativamente anunciada, mas positiva e implicitamente revelada.

O anjo, vindo participar à SS.Virgem que tinha sido escolhida entre todas as mulheres, para ser a Mãe do Filho de Deus, cumprimentando-a, em nome de Deus, com a seguinte saudação:Ave, cheia de graça, - o Senhor é convosco – bendita sois entre as mulheres (Lc 1,28).

Que quer dizer isso? Deus proclama a Virgem cheia de graça.Ora, num vaso cheio não cabe mais nada...

Dizendo que Maria SS. é cheia de graça, é dizer que possui todas as graças que pode conter um criatura. Se ela não fosse imaculada, podendo sê-lo, lhe faltaria qualquer coisa; não seria mais: cheia de graça.

O Senhor Deus é com ela. Ora, onde está Deus não pode estar o pecado. A presença de Deus expele todo pecado. Quando nós nascemos, Deus não está conosco, porque nascemos em pecado... Ele estava com Maria, sempre, desde a sua entrada neste mundo, porque era imaculada.
 
Maria SS. é bendita entre todas as mulheres. Porque bendita?...Porque será Mãe de Deus. Isso é um título, uma dignidade, merecimento pessoal. A razão da benção deve brotar do fundo da criatura: e este fundo é a sua pureza imaculada, que a separa de todas e a eleva acima de todas as mulheres.

Juntemos a esta prova decisiva as palavras inspiradas no Magnificat, onde a Virgem exclama: Fez grandes coisas em mim aquele que é poderoso (Lc 1, 49). Esta grande coisa não é somente a maternidade divina, mas também a conceição imaculada, que é como a base deste privilégio.

Outra prova insofismável: Maria SS. continua: Deus pôs os olhos em sua humilde escrava. Se houvesse tido o pecado original, deveria ter dito: Deus pôs os olhos na iniqüidade da sua escrava, como dizem os santos, e como aconselha a Sagrada Escritura. Justus prior est accussator sui.Eis a revelação implícita do grande dogma da imaculada conceição.

É o que fazia dizer S.Cirilo, desde os primeiros séculos da Igreja: “Qual é o homem de bom-senso, que pode acreditar que o filho de Deus tenha construído para si mesmo um templo, um trono animado, cedendo o primeiro direito deste templo, e o seu primeiro uso ao demônio, seu mortal inimigo? Uma tal idéia, pode ela penetrar num ser capaz de raciocínio?”

Não havia protestante neste tempo...Que diria S.Cirilo, se voltasse hoje e visse sustentarem tal absurdo?
Eis, meu caro protestante, não somente o texto pedido, mas diversos textos, uma explicação destes textos, para o Sr. poder compreênde-los. Esta verdade é tão clara que o seu próprio pai Lutero não teve a ousadia de negá-la. 

Cito apenas uma passagem entre muitas. Escute bem: “Era justo e conveniente, - diz ele, - fosse a pessoa de Maria preservada do pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo o pecado” (Lut. In postil. maj.).

O seu pai Lutero era menos protestante que os netinhos de hoje...sobretudo, era menos ignorante, e, apesar de sua revolta, compreendia melhor a bíblia que os nossos modernos biblistas e biblieiros, que só sabem ler com os óculos dos outros, e interpretar através dos óculos de qualquer pastor.

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