Fonte:
Missa Tridentina em Brasília
Sermão
para a Quarta-Feira de Cinzas
05.03.2014
– Padre Daniel Pinheiro, IBP
Em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Estamos hoje na quarta-feira de cinzas,
primeiro dia da Quaresma. Dia de jejum e abstinência. Abstinência é não comer
carne, obrigando todos os fiéis católicos, a partir dos 14 anos. Jejum é fazer
uma refeição normal, em geral o almoço, e duas colações, uma de manhã e uma de
tarde, que, juntas, não cheguem a uma refeição normal. E não se deve comer nada
entre as refeições. Todos os católicos entre dezoito e sessenta anos estão
obrigados ao jejum, a não ser por motivo de saúde, ou por trabalho mais duro,
ou uma mulher pela gravidez, por exemplo.
Recomendo muito, prezados católicos,
que escolham um bom livro para acompanhá-los durante a quaresma. O livro de
Santo Afonso sobre a Paixão, por exemplo, ou as meditações diárias do mesmo
santo, a Prática do Amor a Jesus Cristo ainda de Santo Afonso; Filotéia de São
Francisco de Sales, ou o Combate Espiritual, do Padre Scupoli, os Exercícios de
Perfeição Cristã do Padre Rodrigues, ou uma boa Vida de Cristo. Algo que possa
elevar a alma nesse tempo santo.
“Memento, homo, quia pulvis est et
in pulverem reverteris.” Lembra-te, ó homem, que és pó e que ao pó
retornarás.”
É com essa frase que a Igreja quer que
nossa fronte seja marcada pelas cinzas. Lembra-te, ó homem, que és pó e que ao
pó retornarás. A Igreja, nesse início de Quaresma, coloca diante do homem a sua
mortalidade. Ela nos lembra que a morte vem para todos, indistintamente. Essa é
a grande certeza de todos os homens: a morte, morreremos um dia. Todavia, a
morte certa tem também uma incerteza: não sabemos nem o dia nem a hora.
Portanto, caros, católicos, sabemos que iremos morrer, mas não sabemos quando.
A grande ilusão é crer que temos ainda muito tempo para nos arrepender, para
chorar pelos nossos pecados, para avançar na virtude, para nos converter. Como
nos lembra o Livro de Esther em uma das Antífonas de hoje: emendemo-nos para
melhor, para que não suceda que, surpreendidos pela morte, procuremos espaço
para fazer penitência e não o encontremos. É aqui e agora que devemos nos
converter.
O tempo da Quaresma é um tempo de
grandes graças, se procuramos vivê-lo bem, isto é, se procuramos realmente nos
converter a Deus, para amá-lo e servi-lo como nosso infinito bem que é. Não
podemos desperdiçar esse tempo de graça. É preciso aproveitá-lo, para que não
suceda que, surpreendidos pela morte, procuremos espaço para nos converter e
não o encontremos.
Na Quaresma, prezados católicos, nossas
práticas devem ter dois aspectos. Um deles se refere, digamos, ao passado:
nossas práticas quaresmais devem ter como finalidade a expiação, a penitência,
pelos nossos pecados cometidos. O outro aspecto diz respeito ao presente: nossas
práticas quaresmais devem ter como finalidade nosso avanço na virtude, no amor
a Deus, no abandono de nossos pecados presentes. A Quaresma é tempo de grandes
graças para obter a misericórdia divina, para abandonar o velho homem, para
abandonar o nosso pecado habitual, dominante. Assim, prezados católicos, nossas
práticas não devem ser simplesmente práticas mais ou menos austeras, mas devem
ter por finalidade o pedir perdão a Deus e o avanço no caminho do amor a Deus.
Como nos diz o Profeta Joel: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, com
jejuns, com lágrimas e com gemidos. É preciso nos converter a Deus de todo o
coração, orientando-nos para Ele, inteiramente, colocando-o como o fim de
nossas vidas. É preciso nos converter a Deus com jejuns, reparando pelos nossos
pecados. É preciso nos converter a Deus com lágrimas e gemidos, isto é, com
verdadeiro arrependimento por tê-los cometidos e com o firme propósito de não
mais pecar. O tempo da quaresma é um tempo de graça. É tempo de uma boa
confissão, sincera, humilde, integral.
Nossas práticas quaresmais, caros
católicos, devem ser feitas com humildade. Devemos ter plena consciência de que
não são nada diante de Deus e diante do que Lhe é devido, por mais que essas
práticas pareçam muito perfeitas. Se nas nossas devoções, se na nossa prática
religiosa entra o orgulho, tudo será prejudicado. Devemos, então, ficar
atentos, e fazê-las com humildade, como algo que é simplesmente devido a Deus e
que é nada diante do que deveríamos fazer por Ele. A recompensa das nossas
práticas quaresmais não pode ser a nossa satisfação própria ou o elogio alheio,
mas deve ser a vida eterna. Nossas práticas terminarão sendo mais ou menos
conhecidas pelas pessoas que nos são próximas, mas devemos sempre endireitar
nossa intenção: faço isso para Deus e não para que as outras pessoas me
estimem.
A quaresma é um tempo de graça. A
primeira graça está nas palavras: Memento, homo, quia pulvis es, et in
pulverem reverteris (lembra-te, ó homem, que és pó e que ao pó
retornarás). Devemos guardar essas palavras durante toda a nossa vida. Somos
pó, e pó é tudo que há sobre a terra. Vamos morrer, caros católicos. Não
sabemos quando. É preciso estar pronto. Deus nos dá esse tempo favorável, o
tempo da quaresma, tempo em que é extremamente largo em sua misericórdia. Na
quaresma, Deus bate de modo particular na porta de nossa alma. A nós, cabe
abrir a porta. Cabe-nos abrir a porta pela conversão a Ele, de todo o coração.
Cabe-nos abrir essa porta pelas súplicas de nossas orações redobradas durante a
quaresma. Cabe-nos abrir essa porta pela prática da virtude. Cabe-nos abrir
essa porta pela mortificação. Tendo escolhido nossas práticas quaresmais,
mantenhamo-nos firmes. Se falharmos uma vez ou outra, peçamos o auxílio da
graça e retomemos nossas resoluções, sem abandoná-las. Abramos a porta ao
divino Salvador. Ele não vai bater eternamente.
Em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo. Amém.
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