IV Parte
Por Teodomiro Tadeu Viana Franco
Depois que os fariseus prenderam a Jesus Cristo, lhe faziam muitas
desonras, levando-O de uma casa para a outra, e desprezando-O e fazendo
escárnio d'Ele. E, com ódio grande que os fariseus tinham a Cristo, O levaram a
casa de Pilatos, onde O acusaram de falsos testemunhos.
E, por fazer Pilatos a vontade aos judeus, mandou açoitar a Jesus
Cristo, cruelmente, que dos pés até à cabeça todo o Seu santo corpo foi ferido;
e assim cruelmente açoitado, Pilatos entregou Jesus Cristo aos judeus, para O
crucificarem.
E, antes que O crucificassem, puseram a Cristo na cabeça uma coroa de
espinhos e uma cana na mão direita; e os fariseus, por fazerem escárnio de
Jesus Cristo, se punham de joelhos diante d'Ele, dizendo: “Deus te salve, Rei
dos judeus!”. E cuspiam-Lhe no rosto, dando-Lhe muitas bofetadas e, com uma
cana que Ele levava, O feriam na cabeça. E por derradeiro, no monte Calvário,
próximo de Jerusalém, os judeus crucificaram a Jesus Cristo! E assim morreu
Jesus Cristo, em a Cruz, para salvar aos pecadores!
De maneira que a santíssima alma de Jesus Cristo verdadeiramente se
apartou do Seu corpo precioso, quando na cruz expirou, unida sempre a divindade
com a alma santíssima de Jesus Cristo, ficando a mesma divindade com o corpo
preciosíssimo de Jesus Cristo, na cruz e no sepulcro.
Na morte de Jesus Cristo, o sol se escureceu, deixando de dar o seu
lume, a terra toda tremeu, as pedras se partiram, dando-se umas com as outras,
e os sepulcros dos mortos se abriram e muitos corpos dos homens santos
ressurgiram e foram à cidade de Jerusalém, onde apareceram a muitos. E os que
viram estes sinais, na morte de Jesus Cristo, disseram que, verdadeiramente,
Jesus Cristo era Filho de Deus. E por isto ser assim, o apóstolo São Tiago
disse:
Creio que Jesus Cristo padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado.
E Jesus Cristo era Deus, pois era a segunda pessoa da Santíssima
Trindade, Filho eterno; e também era homem verdadeiro, pois era filho da Virgem
Maria; e tem alma racional e corpo humano. Enquanto era homem, verdadeiramente
morreu na cruz, quando foi crucificado, porque a morte não é outra coisa senão
a separação da alma, deixando o corpo em que vive.
A santíssima alma de Jesus Cristo foi apartada do corpo, quando na cruz
expirou. Então, acabando de expirar, a santíssima alma de Jesus Cristo, sendo
unida com a divindade de Deus Filho, assim como sempre foi, desde instante que
o Senhor Deus a criou, desceu ao limbo, que é um lugar que está debaixo da
terra, onde estavam os santos padres, profetas, patriarcas e outros muitos
justos, esperando pelo Filho de Deus que os havia de tirar do limbo e levar ao
paraíso.
Em todo tempo, começando desde Adão e Eva, houve homens bons e, sendo
amigos de Deus e por falarem verdade, repreendiam os maus de seus
vícios e pecados, porque ofendiam a seu Deus e Criador; e os maus, sendo servos
e cativos do demônio, prosseguiam aos bons e amigos de Deus, prendendo-os e
desterrando-os e fazendo-lhes muitos males; de maneira que, quando os bons
morriam, suas almas iam ao limbo. E o limbo, por estar debaixo do chão, se
chamava inferno, e não porque nele haja pena de fogos nem tormentos; e mais
abaixo do limbo, está um lugar que se chama purgatório.
A este purgatório vão as almas daquelas pessoas que, quando morrem,
estão em graça, sem pecado mortal; e pelos pecados passados, que fizeram em sua
vida, dos quais antes da sua morte não fizeram inteira penitência ou pendença,
vão a este purgatório, onde há tormentos grandes, para pagarem os males e
pecados que fizeram em sua vida; e acabando de pagar a pendença de seus
pecados, saindo do purgatório, vão logo ao paraíso.
O derradeiro lugar, que está debaixo da terra, se chama inferno
infernal, onde há tão grandes tormentos de fogo e misérias que, se os homens
cuidassem nele, cada dia uma hora, não fariam tantos pecados como fazem; e não
folgariam de fazer a vontade ao diabo, como fazem, se soubessem os trabalhos do
inferno. Lá, está Lúcifer e todos os demônios que foram lançados do céu e todas
as gentes que morreram em pecado mortal. E os que vão a este inferno não têm nenhum
remédio de salvação: para sempre dos sempre, sem fim dos fins, hão de estar
nele!
Ó irmãos, que é isto, que tão pouco medo temos de ir ao inferno! Pois
cada dia fazemos maiores pecados, sinal é que temos pouca fé, pois que vivemos
como homens que não creem que há inferno infernal.
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