Cientistas
discriminados pela sua pertença, Bispos denunciados porque são contra o aborto,
livros e rádio censurados: eis um mapa dos ataques à “liberdade religiosa”.
Aquilo que parecia simplesmente
inconcebível está a acontecer. No mundo ocidental, estão a nascer confrontos
contra os cristãos - em particular os católicos e os protestantes menos
"secularizados" - com novas formas de discriminação, quando não
mesmo, de perseguição. Basta ler algumas notícias recentes para encontrar
sinais claros nesta direção.
Um exemplo. Margaret Somerville, uma
famosa e experiente acadêmica do Canadá, escreveu um editorial sobre "The
Globe and Mail", onde denuncia o fato que, cada vez mais, no debate
público, as suas ideias são postas de lados simplesmente porque é católica.
Margaret Somerville é fundadora e diretora do "McGill Centre for Medicine,
Ethics and Law" e ensina na McGill, uma das principais universidades
americanas. "Estive presente no debate público mais de trinta anos e
apresentei análises éticas e legais sobre os problemas que trato e em momento
algum fui atacada pela minha pertença religiosa. Então, porque surge agora esta
apressada necessidade de me rotular como católica?". Segundo a estudiosa,
"definir uma pessoa como religiosa é, agora, altamente depreciativo. Esta
estratégia permite eliminar os argumentos do adversário sem entrar na
substância do assunto". Conta ainda que tornou-se recorrente algumas
importantes revistas mundiais de medicina, "de maneira surpreendente e
incompreensível", pedirem aos autores dos artigos para declararem a sua
"filiação religiosa".
Em direção análoga, nos Estados Unidos,
temos a promulgação da ENDA (Employment Non-Discrimination Act, ndr), a
lei que queria, em teoria, impedir a discriminação nos postos de trabalho em
geral. É, porém, na realidade, uma das maiores formas de difusão da ideologia
de gênero, bem como da limitação da liberdade daqueles que a ela se opõem. E,
afirmam os Bispos americanos, limita também a liberdade religiosa. Bispos esses
que foram denunciados junto dos tribunais - por uma associação que diz defender
a liberdade individual - com o argumento que "as posições anti-aborto põe
em risco a vida das mulheres grávidas".
Os exemplos deste tipo poderiam
continuar. Não menos importante é o caso de Constanza Miriano. Em Espanha, a
publicação do seu livro "Sposati e sii sottomessa" deu origem ao
primeiro pedido de censura editorial desde os tempos do regime de Franco (este
livro, envolto em polemicas, na Itália e Espanha, pelo seu título - inspirado
na frase de S. Paulo, "As mulheres sejam submissas aos maridos, como ao
Senhor", Ef. 5, 22 - ainda não foi editado em Portugal).
Há dias, na Universidade Urbaniana de
Roma, Paul Marshall, expoente do Center for Religious Freedom do Hudson
Institute, disse: "a secularização ocidental tem vindo a crescer nos
últimos decênios. Permitam-me sublinhar que os modelos de que estamos a falar
não são semelhantes aos do mundo comunista ainda existente, ou do Médio
Oriente. Não se trata de uma perseguição nesse sentido, mas está a tornar-se
muito preocupante."
"São correntes muito minuciosas -
continuou Marshall - e penso que temos de nos tornar mais conscientes dos
ataques e discriminações no emprego, na capacidade de exprimir o que pensamos,
ou da possibilidade de viver a própria fé. As coisas estão, realmente, a piorar
no Ocidente."
Marshall citou alguns exemplos já
conhecidos, como o da inglesa que foi despedida por usar um fio com um
crucifixo. Referiu, também, um estudo da Pew Forum - uma entidade de grande
prestígio em estatística - onde se considera que "o grau de hostilidade
religiosa na Europa ocidental é tão alta como no Médio Oriente".
Ainda há umas semanas um tribunal
inglês proibiu uma rádio cristã de publicar um anúncio que convidava os cristão
discriminados no emprego a contarem a sua história. O pretexto do tribunal é
que se tratava de um anúncio de propaganda política.
Em vez de uma sociedade aberta, onde os
laicos são livres, os cristãos são livres, e os hindus são livres, a mais
recente versão de sociedade secularizada, segundo Marshall, é aquela "onde
o Estado encarna uma ideologia particular e pede que cada um se adapte a
ela". Trata-se de uma mudança de uma "sociedade pluralista para uma
sociedade ideologicamente secularizada. E isto é preocupante."
Marco
Tosati in Vatican Insider
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