por D. Mazuco · em Cruzadas, História Medieval
O
monge armênio Hovannés [João] que morava em Antioquia durante o sítio cruzado,
assistiu à sua subsequente invasão, ao sítio maometano e, por fim à libertação
final num combate humanamente inexplicável, deixou uma crônica
bastante pormenorizada de como aconteceram esses fatos:
…Naquele
ano [Nota: fala das operações militares do ano 1098] o Senhor visitou
o seu povo, segundo está escrito: “Eu não vos abandonarei nem me afastarei de
vós.
O braço todo poderoso de Deus foi o nosso guia.
Eles
[os Cruzados] trouxeram o estandarte da Cruz de Cristo e depois de
ostentá-lo pelo mar, massacraram uma multidão de infiéis e puseram os outros a
fugir pela terra.
Eles
tomaram a cidade de Nicéia e a sitiaram por cinco meses.
Depois
vieram ao nosso país na região da Cilícia e da Síria, e atacaram, postando-se
em volta da metrópole de Antioquia.
Durante
nove meses eles fizeram a cidade e as regiões vizinhas passarem por momentos
difíceis.
Por
fim, como a captura de uma cidade de tal maneira fortificada não
estava na capacidade dos homens, Deus todo-poderoso, por meio de seus conselhos
obteve a salvação e abriu a porta da misericórdia.
Eles
tomaram a cidade e com o fio da espada mataram o arrogante dragão
com suas tropas.
Mas,
após um ou dois dias, uma imensa multidão de maometanos reuniu-se ao pé das
muralhas para trazer socorro a seus congêneres.
Em
virtude de seu grande número, os infiéis menosprezavam o pequeno número de
cristãos, eram insolentes como o foi o faraó, proferindo este frase: “Eu os
matarei com minha espada, minha mão dominar-vos-á”.
Durante
quinze dias, os cruzados ficaram reduzidos à maior das angústias, e
esmagados pela aflição, pois faltavam os alimentos necessários para a vida
dos homens e dos animais.
Muito
debilitados e espantados pelo número imenso de infiéis, eles se
reuniram na grande basílica do Apóstolo São Pedro e com um poderoso clamor e
uma chuva abundante de lágrimas pediram numa só voz, mais ou
menos isto:
“Nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, em quem nós esperamos e por cujo nome
nesta cidade nós somos reconhecidos como cristãos, Vós nos conduzistes até este
local. Se nós pecamos contra Vós, tendes todos os meios para nos punir, mas
livrai-nos dos infiéis a fim de que eles intumescidos de orgulho não possam
dizer: ‘onde está seu Deus?’”
E,
tomados pela graça da oração, uns encorajavam os outros dizendo: ‘O
Senhor dará força a seu povo; o Senhor abençoará o seu povo na paz’.
E cada
qual se lançou sobre o cavalo e correram contra os ameaçadores
inimigos dispersando-os, pondo-os em fuga e os massacraram até o pôr do
Sol.
Tudo
isso causou grande alegria aos cristãos, e houve abundância de trigo
e de cevada como nos tempos de Eliseu às portas de Samaria.
Por
isso eles aplicaram a si mesmos o cântico profético: “Eu te glorifico, Senhor,
porque Vós cuidastes de mim e Vós fostes a causa de eu não alegrar a meu
inimigo”.
(Fonte: Récit du moine arménien Hovannés (Jean) à
la fin d’un manuscrit copié par lui au monastère de saint-Barlaam, dans la
ville haute d’Antioche, pendant les opérations militaires de 1098. Traduit du
latin de la traduction faite sur le texte arménien par le père Peeters, «
Miscellanea Historica Alberti de Meyer », Louvin, 1946, p. 376, apud Internet Medieval Sourcebook)
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