Nosso Canal

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Para a salvação é necessário o sacrifício da vontade própria. - Santo Afonso Maria de Ligório

Qui facit voluntatem Patris mei, qui in coelis est, ipse intrabit in regnum coelorum — “O que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus” (Matth. 7, 21).

 
Sumário. O que faz a vontade de Deus, entrará no céu; o que não a faz, não entrará. Se portanto quisermos ser salvos, renunciemos à nossa vontade própria, e entregando-a sem reserva a Deus, digamos freqüentes vezes cada dia: Senhor, ensinai-me a cumprir a vossa vontade santíssima; protesto não querer senão o que quereis Vós. Para que estejamos sempre dispostos a cumprir a vontade divina, é utilíssimo que desde de manhã nos representemos as contrariedades que nos possam suceder durante o dia.

I. O que faz a vontade de Deus, entrará no céu; o que não a faz, nele não entrará. Alguns fazem depender a sua salvação de certas devoções, de certas obras exteriores de piedade, e entretanto não cumprem a vontade de Deus. Jesus Cristo, porém, diz: “Não todos aqueles que me dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino dos céus; mas entrará somente o que faz a vontade de meu Pai” — Qui facit voluntatem Patris mei, qui in coelis est, intrabit in regnum coelorum.

Portanto, se nos quisermos salvar e chegar à união perfeita com Deus, habituemo-nos a rogar-lhe sempre com Davi: Doce me, domine, facere voluntatem tuam (1) — “Senhor, ensinai-nos a fazer a vossa santa vontade.” Ao mesmo tempo desfaçamo-nos da vontade própria e entreguemo-la toda inteira e sem reserva a Deus. — Quando damos a Deus os nossos bens pela esmola, o alimento pelo jejum, o sangue pela disciplina, damos-lhe a nossa própria pessoa. Eis porque o sacrifício da vontade própria é o sacrifício mais aceito que possamos fazer a Deus; e Deus enriquece de graças ao que o faz.

Porém, para que tal sacrifício seja perfeito, deve ter duas qualidades: deve ser feito sem reserva e constantemente. Alguns dão a Deus a sua vontade, mas com reserva, e semelhante dádiva pouco agrada a Deus. Outros dão a Deus a sua vontade, mas logo em seguida tornam a retomá-la, e estes se expõem a grande risco de serem abandonados de Deus. Por isso, todos os nossos esforços, desejos e orações devem ser dirigidos ao fim de obtermos de Deus a perseverança em não querermos senão o que Deus quer. Habituemo-nos a antever desde de manhã, no tempo da meditação, as tribulações que nos possam suceder no correr do dia e a fazermos continuamente atos de resignação à vontade Divina. Diz São Gregório: Minus iacula feriunt, quae praevidentur — “São menos dolorosas as feridas antevistas”.

II. Meu Jesus, cada vez que eu disser: Louvado seja Deus, ou Seja feita a vontade de Deus, tenho intenção de aceitar todas as vossas disposições a meu respeito, no tempo e na eternidade. — Só quero o emprego, a habitação, os vestuários, o nutrimento, a saúde que me tendes destinado. Se quereis que meus negócios não surtam feliz êxito, meus projetos se esvaeçam, meus processos se percam, tudo quanto possuo seja roubado, eu também o quero. Se quereis que eu seja desprezado, odiado, posposto aos outros, difamado e maltratado, até por aqueles a quem mais amo, eu também o quero. Se quereis que eu fique privado de tudo, banido de minha pátria, encerrado numa prisão e viva em penas e angústias contínuas, eu também o quero. Se quereis que esteja sempre enfermo, coberto de chagas, estropiado, estendido sobre um leito, abandonado de todos, eu também o quero; tudo seja como Vos agradar e por quanto tempo quiserdes.

Minha vida mesma ponho nas vossas mãos e aceito a morte que me destinais; aceito igualmente a morte de meus parentes e amigos e tudo o que quiserdes. Quero também tudo o que quereis no que diz respeito ao meu bem espiritual. Desejo Vos amar com todas as minhas forças nesta vida e ir Vos amar no paraíso como Vos amam os Serafins; mas contente fico com o que bem quiserdes conceder-me. Se não quereis dar-me senão um só grau de amor, graça e glória, não quero mais do que isto, porque Vós assim o quereis. Prefiro o cumprimento de vossa vontade a todos os bens. 

Numa palavra, ó meu Deus, de mim e de tudo o que me pertence, disponde como for vossa vontade; com a minha não tenhais consideração alguma, pois só quero o que Vós quereis. Qualquer que seja o tratamento que me deis, amargo ou doce, agradável ou penoso, aceito-o e abraço-o, porque tanto um como outro me virá de vossa mão. — Aceito, meu Jesus, de maneira especial a morte que me espera e todas as penas que devem acompanhá-la, no lugar e momento que for vossa vontade. Unindo-as à vossa santa morte, ó meu Salvador, Vo-las ofereço em testemunho de meu amor a Vós. Quero morrer para Vos agradar e cumprir vossa divina vontade. — Ó Maria, Mãe de Deus, obtende-me a santa perseverança. (*II 279.)
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1. Ps. 142, 10.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 215 - 217.)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

III e Ultima Parte - Uma bela história que se torna mais presente

III e Ultima Parte
Sem. Pedro Afonso
Diretor Geral
 
5 Mas quem em nossos dias não suporta a Batina?

É sem dúvida uma pergunta interessante a ser feita. Anteriormente aqueles que não a suportavam eram os anticlericais, grupos revolucionários que usavam de ideologias para esconderem a verdade, onde podemos citar vários exemplos de tais grupos. Porém, nos nossos dias, aquela que era motivo de alegria e identificação é hoje tida como inconveniente, e pior ainda, por parte daqueles que com um santo orgulho deveriam portá-la. 
 É uma realidade que além de tais grupos anticlericais, encontramos dentro do próprio seio da Igreja, pessoas totalmente contra o uso do hábito eclesiástico. Dentre eles, apresentarei algumas situações que, a nosso ver, exemplifica um pouco a situação presente. Não desejamos aqui rotular ou julgar a consciência, entretanto, queremos em vista da situação atual, apresentar tais realidades.

Percebemos os totalmente contra - Estes por muitas vezes se baseiam em ideais um tanto que ideológicos, com os argumentos que não podemos nos diferenciar, ou que a santa vestimenta oprimiria o povo e procuram atrapalhar como podem aqueles que simplesmente a querem usar.

 Os ditos moderados - que veem a batina com uma certa radicalidade de grupos tradicionalistas e “retrógrados”, mas que a irão usá-la depois de padre. Claro que, se tal uso não gerar um problema entre o clero, veem o clergyman como a melhor saída e preferem colocar a batina no armário dos paramentos litúrgicos. Alguns até a comparam como um fardamento e logo explicam que nenhum soldado fica fardado 24 horas. Realmente o Soldado não fica fardado 24 horas do dia, por um simples fato de que ele tem o expediente, tem uma carga horária de trabalho estabelecida no seu regimento funcional. No entanto, o sacerdote, por sua vez, não tem horário, já que ele é ministro de Deus 24 horas diárias e, por isso mesmo, assim deve estar fardado sempre, mostrando prontidão e total disposição ao serviço de Deus e da Igreja à qual pertence.  

Em ambos os casos percebemos, com grande tristeza, um afastamento do porque do uso da batina, e o pior, percebemos que aqueles que mais desestimulam o seu uso são os que compõem o clero e que com santa piedade e apreço a deveriam usar. Muitos para se justificarem, indicam que isso é um problema na Igreja, antes fosse esse o maior problema, se é que assim podemos dizer. Temos coisas bem mais urgentes a serem vistas e reais problemas a serem solucionados. E aos que dizem que a Batina não importa, não é significante para nós. Pedimos apenas uma coisa: Deixem-nos usá-la em paz.

Sabemos, evidentemente, que a batina não é o essencial do ministério sacerdotal. Todavia, perguntamos: por que retirar o sinal que conduz ao essencial? Se tirarmos os sinais, não teremos mais as setas que nos indicam o caminho para o que realmente é essencial. A Igreja sempre utilizou de sinais para apresentar uma realidade que em palavras não pode ser explicada suficientemente. Percebemos claramente isto na Santa Liturgia, nos Santos Sacramentos e no uso piedoso dos sacramentais.  

A batina não é o sacerdócio, no entanto, lembra ao sacerdote o que ele é, e lembra aos seminaristas que eles estão neste caminho, e lembra ao povo que Deus continua conosco através dos sacerdotes da Igreja. Lembra ao Mundo que homens estão dispostos a morrer a cada dia para as coisas do mundo. A batina nos lembra de que nós pertencemos exclusivamente a Deus, custe o que nos custar.  

É triste sabermos que muitos do próprio clero podem nos ver com desaprovação, devido à nossa opção pelo uso da batina e esta decisão pode ser uma Cruz a ser carregada por nós, com muita alegria e devoção. Coragem! É uma honra sermos dignos de levar tal Cruz. “Venham – dizia-lhes – Jesus nos espera. Jesus quer isso”. Este será o nosso sacrifício constante por Aquele que se fez sacrifício por nós.
 
Fim

terça-feira, 22 de outubro de 2013

II Parte - Uma bela história que se torna mais presente

II Parte
Sem. Pedro Afonso
Diretor Geral
 NOS NOSSOS DIAS...
3 A batina evangeliza ou escandaliza?

Muitos desaconselham o uso da batina alegando um motivo pastoral, ou seja, a batina afastaria o povo. Isto podemos descartar de primeira. É um absurdo quem assim pensa e para constatar sua inverdade é só ver a reação das pessoas. Muitas destas ao ver alguém portando o hábito eclesiástico buscam ajuda, uma conversa ou simplesmente uma apresentação, unida a uma rápida manifestação de respeito. Não podemos, é claro, negar que em algumas ocasiões, por causa do secularismo, algumas pessoas venham se comportar diante do uso da batina com total repugnância e até de forma agressiva, pois: "Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mt 10,22).  Mas, qual deve ser a nossa atitude? "Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco?" (Lc 23,31). Qual é a recompensa que queremos, a não ser a Cruz pelo valor que a própria cruz representa?

Outros, entretanto, defendem o não uso da batina para que esta não se torne motivo de escândalo nas mãos dos que não são fiéis ao sacerdócio. Realmente, este pode ate ser visto como um bom argumento, mas podemos usar outro exemplo, em meio a tantos outros, para aclararmos melhor as ideias. Durante muito tempo muitos usaram objetos sagrados para fins terríveis. Podemos citar vários exemplos, como a utilização de imagens sagradas em terreiros de umbanda ou de candomblé, ou como recentemente na JMJ, quando um grupo feminista profanou um crucifixo com atos obsenos. O mais visto ainda são pessoas que fazem uso do crucifixo pendurado ao pescoço, não como objeto de devoção, mas, pelo contrário, sem nenhuma piedade. Contudo, infelizmente, estes são usados como um mero adereço de modelos em poses sensuais.

Se o argumento acima fosse realmente válido, teríamos que deixar de usar tais objetos sagrados, a fim de não permitir que estes fossem usados por outros sem o respeito devido, ou seja, seria um disparate pois, o mal está no incorreto uso do objeto, mas não nele próprio. Um padre ou um seminarista que, ao portar a batina, venha a cometer algum escândalo, não deve ser censurando pelo uso da batina, mas pelo mau exemplo que deu. Não foi a batina a culpada de tal ato escandaloso, mas pelo contrário, ela foi o sinal que quem a estava usando não deve ser motivo de escândalo. Não podemos querer tirar a batina para não escandalizar, mas usar a batina sem ser motivo de escândalo, pois ela deixa bem mais clara a radicalidade da opção que fizemos diante de Deus, por Jesus Cristo.

4 Um relato pessoal
 
Quando andamos pelas ruas queremos, se possível, falar com todos que passam por nós para anunciarmos o Santo Evangelho. Quantos destes já perderam o sentido de suas vidas, quantos destes estão passando por alguma crise, angústia ou depressão. Porém, é impossível achegar-se a todos estes que diariamente passam em nossos caminhos. Entretanto, quando sacerdotes ou seminaristas portando a santa vestimenta são vistos, muitos são atraídos e olham para eles com um olhar diferente, muitos recordam que estão afastados da Igreja e dos sacramentos e muitos ainda procuram se aproximar para conversar. Tantas vezes para desabafar e outras ainda para uma confissão que podemos até dizer de urgência. Em resumo, contemplamos em muitos destes olhares uma chama de esperança sendo acesa, uma confirmação de que eles não estão a sós.
 
Que felicidade para um padre poder, pela confissão, tirar a alma de tal angustiante situação. No caso dos seminaristas, não podendo ouvir a confissão podem, por sua vez, aconselhar principalmente a procurar um confessor para que tal alma se veja aliviada do fardo terrível do pecado, ou simplesmente para um desabafo, alguma dificuldade familiar ou profissional.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

I Parte - Uma bela história que se torna mais presente

Essa história que serve como parâmetro para começar este texto é do Seminarista Rolando Rivi que nasceu em 7 de janeiro de 1931, na Itália e que com apenas 14 anos pode, pelo martírio, expressar seu amor ao seu Senhor e a Igreja.
 
I Parte 
Sem. Pedro Afonso
Diretor Geral
 
 Uma bela história que se torna mais presente
 NAQUELES DIAS...
1 A história contada brevemente.

Embora tivesse sido aconselhado por muitos a fazer de outro modo, o jovem seminarista não deixou de usar sua batina, em um tempo que esta poderia ser claramente usada como sentença de morte para quem a vestisse. Teríamos de ver a situação que a Igreja passava, imersa num período de muita perseguição, tanto por parte do Nazismo como também do Comunismo e varias outras correntes. Os pais, de fato, lhe diziam: “Tire a batina. Não a use por enquanto…” Mas Rolando respondia: “Mas por quê? Que mal faço em usá-la? Não tenho motivo para tirá-la”.  Fizeram-lhe notar que provavelmente era melhor tirá-la naquele momento tão inseguro, em que o Comunismo tinha em suas mãos praticamente toda a Europa. Replicou Rolando: “Eu estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”. 

Depois de assistir a Santa Missa, Rolando foi capturado e levado à força por um grupo chamado partigiani  a um esconderijo no bosque. Iniciava sua Via Crucis. Foi despojado de sua batina pois, os irritava, insultado, golpeado com a cinta nas pernas e esbofeteado. Permaneceu por três dias nas mãos de seus algozes, escutando blasfêmias contra Cristo, insultos contra a Igreja Católica e contra o sacerdócio. Segundo testemunhas, foi açoitado e sofreu outras indizíveis violências.

Um dos sequestradores, aparentemente, se comoveu, propondo deixá-lo partir. Mas outros recusaram, ameaçando de morte aquele que tinha proposto a soltura. Prevaleceu o ódio pela Igreja, pelo sacerdócio, pelo traje que o representa e que aquele rapazinho nunca tinha querido deixar de usar. Decidiram matá-lo: Amanhã teremos um padre a menos”. Levaram-no, sangrando, a um bosque próximo a Piane di Monchio (na província de Modena). Com um pontapé o jogaram no chão. O jovem vendo que a morte se aproximava pediu para rezar pela última vez. Ajoelhou-se e depois dois tiros de revólver o fizeram rolar na vala. Foi coberto com poucas pás de terra e folhas secas. A batina que o seminarista ostentava com um santo orgulho, tornou-se uma bola para chutar, sendo depois pendurada, como um troféu de guerra, sob o telhado de uma casa vizinha. Era sexta feira, 13 de abril de 1945,

 
2 O que ela significa
Morreu pelo fato de ter recusado tirar a batina. Tal ato, com o passar dos anos, corre o risco de ser visto por muitos como banal, como desnecessário. Muitos se perguntam – Como preferir a morte ao fato de tirar a batina? É. Tal pergunta parece ser plausível, mas se partirmos do acidental para o essencial, veremos que o heroico martírio do jovem garoto não se perdeu no âmbito do externo. Podemos usar, para entendermos melhor, um exemplo: O Crucifixo para nós é um sinal, um sacramental de uma realidade maior, onde estamos dispostos a não permitir que este seja profanado por quem quer que seja. Não o tiraríamos de nossas casas por mais que alguém nos pedisse, pois ele é algo mais que um simples objeto. É o sinal visível de nossa fé e nos lembra que Deus se fez verdadeiramente homem  e por nos amar se entregou a morte,  em tal augusto sacrifício para nos salvar.

A batina também, por sua vez, não é simplesmente uma roupa, uma tendência ou moda passageira. É um sinal, ou melhor, um sacramental que para o Seminarista Rolando Rivi, indicava “Estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”. Que belíssimo sinal a batina tem para aquele pequeno jovem. Um sinal que através daqueles lábios refletem o pensamento da Igreja.  É um sinal de uma íntima pertença a Jesus Cristo. Um sinal que convida a quem o porta a morrer a cada dia.

Podemos também perceber que vivemos rodeados de sinais, muitos destes provocativos que incentivam a imaginação e devastam a pureza no olhar. Vemos, a todo o momento, propagandas, roupas, imagens que nos indica o quanto este mundo está separado de Deus. Em meio a tais sinais terríveis ainda temos a felicidade de nos deparamos com jovens trajando sua batina preta. A princípio, pode ser considerado por muitos como algo estranho, todavia depois se torna claro que nos dias de hoje, depois de tantos anos da morte de Cristo e de sua ressurreição, jovens ainda querem entregar-se a Ele de uma forma total e especial, no santo sacerdócio.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O carisma de Fundadora - Santa Teresa d'Ávila

Ofereceu-se uma vez, estando eu com uma pessoa, dizer-me ela e a outras que, se quiséssemos ser freiras à maneira das Descalças, seria talvez possível poder-se vir a fazer um mosteiro.

Como andava com estes desejos, comecei a tratar com aquela senhora minha companheira viúva, de quem já falei e que tinha o mesmo desejo. Ela começou a fazer planos para lhe dar renda. Ao que agora vejo, não levava muito caminho, mas o desejo que disso tínhamos nos fazia parecer que sim. Por outro lado, como me sentia com tão grandíssimo contento na casa onde estava, porque era muito a meu gosto e a cela em que vivia feita muito a meu propósito, detinha-me todavia. Combinamos, contudo, encomendar muito a Deus o caso. 

Tendo eu um dia comungado, Sua Majestade mandou-me instantemente que o procurasse realizar com todas as minhas forças, fazendo-me grandes promessas de que o mosteiro não se deixaria de fazer, e nele se serviria muito a Deus, e que lhe pusesse o nome de S. José e ele nos guardaria uma das portas e Nossa Senhora a outra e Cristo andaria conosco. Que esta casa seria uma estrela que irradiaria de si grande resplendor e, embora as Religiões estivessem relaxadas, não pensasse eu que Ele era pouco servido nelas. Que seria do mundo se não fossem os religiosos? Que dissesse ao meu confessor que Ele me pedia isto e a ele lhe rogava não fosse contra, nem me impedisse. 

Foi esta visão acompanhada de tão grandes efeitos e de tal maneira esta fala do Senhor que não podia duvidar que era Ele. Senti, no entanto, grandíssima pena, pois se me representaram, em parte, os grandes desassossegos e trabalhos que me havia de custar e por estar contentíssima naquela casa; porque, embora antes tratasse da fundação, não era com tanta determinação nem com certeza de que se haveria de fazer. Agora, aqui, dir-se-ia que me faziam pressão e, como via que começava coisa de grande desassossego, estava em dúvida do que faria. Mas foram tantas as vezes em que o Senhor me tornou a falar nisso, pondo-me diante tantos motivos e razões, que via serem claros e que era a Sua vontade, que já não ousei fazer outra coisa senão dizê-lo a meu confessor e dei-lhe, por escrito, relação de tudo o que se passava. 

Ele não ousou dizer-me determinadamente que o deixasse de lado, mas via que não levava caminho, conforme à razão natural, pois eram pouquíssimas ou quase nenhumas as possibilidades da minha companheira, que era quem o havia de fazer. Disse-me que o tratasse com meu prelado e, o que ele dissesse, isso fizesse. Eu não tratava destas visões com o prelado, mas a tal senhora, que queria fazer o mosteiro, foi falar com ele. O Provincial anuiu a isso de boamente, pois é amigo de toda a perfeição e deu-lhe todo o apoio necessário e disse-lhe que admitiria a casa. Trataram da renda que havia de ter e, por muitas razões, queríamos que nunca fossem mais de treze. 

Antes de começar a tratar disto, escrevemos ao santo Frei Pedro de Alcântara dizendo tudo o que se passava. Aconselhou-nos que não o deixássemos de fazer e deu-nos o seu parecer em tudo.

Ainda mal se tinha começado a saber no lugar, quando veio sobre nós a grande perseguição que não se pode descrever em poucas palavras. Foram ditos, risos, dizer-se que era disparate. A mim diziam que estava bem no meu mosteiro. À minha companheira, tanta foi a perseguição, que a traziam mortificada. Eu não sabia que fazer de mim e, em parte, parecia-me que tinham razão. 

Foram tantos os ditos e o alvoroço do meu próprio mosteiro, que, ao Provincial, lhe pareceu difícil opor-se a todos e assim mudou de parecer e não quis admitir a fundação. Disse que a renda não era segura e que era pouca e muita a contradição. Em tudo parece que tinha razão. E, enfim, desinteressou-se e não o quis admitir. A nós já nos parecia que tínhamos recebido os primeiros golpes e deu-nos uma pena muito grande, em especial a mim por ver o Provincial contrário, porque, querendo-o ele, tinha eu desculpa para todos. À minha companheira já não a queriam absolver se o não deixasse, porque, diziam, estava obrigada a evitar o escândalo. 

Ela foi ter com um grande letrado, muito grande servo de Deus, da Ordem de S. Domingos, a dizer e a dar conta de tudo. Isto foi ainda antes do Provincial ter abandonado a ideia, porque em todo o lugar não tínhamos quem nos quisesse dar um parecer e assim diziam que nos guiávamos só por nossas cabeças. Esta senhora deu, pois, relação de tudo, e conta da renda que tinha do seu morgadio, a este santo varão, com grande desejo de nos ajudar, porque era ele o maior letrado que então havia neste lugar e poucos maiores havia na sua Ordem. Também lhe disse tudo o que pensávamos fazer e algumas causas que nos levavam a isso. Não lhe disse, no entanto, coisa de revelação alguma, senão as razões naturais que me moviam, porque não queria que nos desse parecer senão conforme a elas. Pediu que lhe déssemos um prazo de oito dias para responder e perguntou se estávamos determinadas a fazer o que ele nos dissesse. Disse-lhe que sim e, embora o dissesse e penso que o faria (nem mesmo assim via maneira para o levar por diante), nunca perdi a segurança de que se havia de fazer o mosteiro. Minha companheira tinha mais fé; nunca ela, por coisa alguma que lhe dissessem, se resolveria a deixá-lo. 

Eu – como digo – achava impossível deixar de se fazer, de tal maneira tinha para mim ser verdadeira a revelação, desde que nada fosse contra o que está na Sagrada Escritura ou contra as leis da Igreja que somos obrigadas a cumprir. Mas, embora a mim verdadeiramente me parecesse ser de Deus, se aquele letrado me dissesse que não o podíamos fazer sem O ofender e que íamos contra a consciência, parece-me que logo me apartaria disso ou buscaria outro meio; porém o Senhor não me dava senão este. 

Dizia-me depois este servo de Deus que tomara o assunto a seu cargo na plena determinação de pôr da sua parte muito empenho em nos dissuadir de o realizar. É que já tinha vindo à sua notícia o clamor do povo e a ele também lhe parecia desatino, tal como a todos. E logo que soube que o tínhamos ido procurar, um cavalheiro o mandara avisar para que visse o que fazia e não nos ajudasse, mas, em começando a ver o que nos havia de responder e a pensar no negócio e o intento que tínhamos e maneira de viver e religião, assentou-se-lhe ser muito do serviço de Deus e que não se havia de deixar de fazer. E assim nos respondeu que nos déssemos pressa em concluí-lo e disse a maneira e esboço que havia de ter; e, embora a fazenda fosse pouca, que alguma coisa se havia de fiar de Deus. Quem contradissesse a fundação, que fosse ter com ele, que ele lhe responderia. Assim sempre nos ajudou, como depois direi. 

Com isto nos fomos muito consoladas e também porque algumas pessoas santas, que nos costumavam ser contrárias, já estavam mais aplacadas e algumas até nos ajudavam. 

Entre elas, uma era o cavalheiro santo, de quem já tenho feito menção, o qual, como o é, e lhe parecia levar caminho de tanta perfeição, por ser a oração todo o nosso fundamento, embora os meios lhe parecessem muito dificultosos e sem caminho, rendia seu parecer a que podia ser coisa de Deus, o mesmo Senhor o devia mover.

Assim fez com o Mestre, aquele clérigo servo de Deus, de quem disse ter sido o primeiro que me tinha falado, que é o espelho de todo o lugar, como pessoa que Deus tem nele para remédio e proveito de muitas almas, que também já estava em me ajudar no negócio. 

Estando pois as coisas nestes termos, e sempre com a ajuda de muitas orações, comprámos uma casa em bom lugar. Era pequena. Disto, a mim, não se me dava nada, porquanto o Senhor me havia dito que entrasse como pudesse; depois veria o que Sua Majestade faria. E que bem o tenho visto! E assim, embora visse ser pouca a renda, tinha a certeza que o Senhor, por outros meios, havia de prover e favorecer-nos (V 32, 10-18).


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

II Peregrinação Per Mariam


Caríssimos irmãos, queremos convidar a todos para a segunda edição dessa peregrinação. A primeira se deu ano Passado, no dia 13/10. Esse ano ela foi marcada para dia 19/10, sábado próximo.
Será conduzida por sacerdotes da Adm. Apostólica e terá a presença de padres da Arquidiocese do RJ.
Vejam a programação:
8:30h Concentração na Concha acústica, breve explicação do Revmo. Pe. Bruce Judice (Adm. Apostólica), reza do santo terço na Capela do Sagrado Coração de Jesus, subida das escadarias e chegada ao Santuário com consagração a Nossa Senhora.

11:00h  Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano, celebrada pelo Revmo. Pe. José Edilson (Adm. Apostólica) e Cantada pelo Coral Menino Jesus (Crianças e Adolescentes) da Paroquia de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro e São Judas Tadeu da Diocese de Nova Iguaçu – RJ
***
Teremos assistência dos seguintes sacerdotes: Revmo. Pe. Serafim Fernandes – Reitor do Santuário, Revmo. Pe. João Jefferson Chagas – Arquidiocese do Rio de Janeiro, Revmo. Pe. Rafael Lugão – Adm. Apostólica, Revmo. Pe. Bruce Judice – Adm. Apostólica

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Da misericórdia de Deus.

Misericordia domini plena est terra
“Da misericórdia do Senhor é cheia a terra” (Ps. 32, 5).

Sumário. A bondade é por sua natureza inclinada a comunicar seus bens a outros. Por isso é que Deus, a bondade essencial, tem um extremo desejo de comunicar a sua felicidade, e a sua natureza não o inclina a punir, mas a usar de misericórdia. Esta o fez descer do céu à terra, levar uma vida penosa e, afinal, morrer por nós sobre uma cruz. Não pensemos, pois, que Jesus Cristo nos faça esperar o perdão muito tempo, depois do pecado; contanto que estejamos resolvidos a não o tornarmos a ofender.

I. A bondade é essencialmente comunicativa, isto é, tende a comunicar seus bens também a outros. Ora, Deus, que de natureza é a bondade infinita, tem um desejo extremo de nos comunicar a sua felicidade. Por isso, não deseja castigar, mas usar de misericórdia para com todos. O castigar, diz Isaías, é uma obra alheia da natureza de Deus, e se manda algum castigo, fá-lo, por assim dizer, contra sua vontade, e como que coagido pela impiedade: Irascetur, ut faciat opus suum, alienum opus eius, ut operetur opus suum; peregrinum est opus eius ab eo (1).
 
E Davi dizia: “Ó Deus, desamparaste-nos, e destruíste-nos: tu te iraste, e tiveste piedade de nós. Mostraste ao teu povo coisas duras; deste-nos a beber o vinho de compunção. Deste aos que te temem um sinal, para que fugissem da face do arco.” (2) Como se dissesse: O Senhor se mostrou irado, para que venhamos à resipiscência e detestemos os pecados. Se nos manda algum castigo, é porque nos ama, e, usando de misericórdia na vida presente, nos quer livrar do castigo eterno. — Numa palavra, o Senhor constitui a sua glória em usar de misericórdia e em perdoar aos pecadores: Exaltabitur parcens vobis (3), pois, como diz a Santa Igreja, desta maneira Deus se compraz em manifestar a sua onipotência: Omnipotentiam tuam parcendo maxime et miserando manifestas (4).

Foi esta grande misericórdia que o levou a enviar à terra seu próprio Filho, para se fazer homem, levar trinta e três anos uma vida penosa e finalmente morrer sobre uma cruz, afim de nos livrar da morte eterna: Proprio Filio suo non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum (5) — “Não poupou a seu Filho, mas entregou-O por todos nós”. — Pela mesma razão cantou São Zacharias: “Pelas entranhas de misericórdia do nosso Deus, com que nos visitou o Sol nascente do alto.” (6) Por estas palavras, entranhas de misericórdia, entende-se uma misericórdia que procede do íntimo do coração de Deus, porquanto preferiu ver morto seu Filho feito homem a ver-nos perdidos.

II. Não penses, meu irmão, que Deus te fará esperar muito tempo pelo perdão. Apenas desejes o perdão, já Ele estará pronto a dar-to. Não é preciso chorar muito; logo à primeira lágrima derramada pela dor de teus pecados, Deus terá misericórdia de ti: Ad vocem clamores tui, statim ut audierit, respondebit tibi (7) — “Logo que ouvir a voz de teu clamor, te responderá”. O Senhor não age para conosco como nós agimos para com Ele: Deus nos convida e nós nos fazemos de surdos. Não assim Deus: statim ut audierit — logo que nos ouvir dizer: Perdão, meu Deus —, responder-nos-á e concederá o perdão.

Meu amado Redentor, prostrado aos vossos pés, agradeço-Vos não me haverdes abandonado depois de tantos pecados. Quantos dos que Vos ofenderam menos que eu não terão as luzes com que agora me iluminais! Vejo que me quereis salvo e eu quero salvar-me principalmente para Vos agradar. Quero ir ao céu para cantar eternamente as misericórdias que tendes tido comigo. Tenho confiança que já me perdoastes; mas, se por ventura ainda estivesse em vossa desgraça, por não ter sabido arrepender-me devidamente das ofensas que Vos fiz, agora me arrependo de toda a minha alma e detesto-as sobre todos os outros males. † Meus Jesus, misericórdia!

Perdoai-me, por piedade, e aumentai cada vez mais em mim a dor de Vos ter ofendido, meu Deus, que sois tão bom. Dai-me dor, dai-me amor. Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; mas amo-Vos muito pouco. Quero amar-Vos muito; e este amor eu Vô-lo peço e de Vós espero. Atendei-me, meu Jesus; prometestes atender a quem Vos roga. — Ó Mãe de Deus, Maria, todos me dizem que não deixais sem consolo o que a vós se recomenda. Ó vós, que depois de Jesus sois minha esperança, a vós recorro e em vós confio; recomendai-me a vosso Filho e salvai-me. (*II 72.)

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1. Is. 28, 21.


2. Ps. 59, 3 – 6.

3. Is. 30, 18.

4. Miss. Rom.

5. Rom. 8, 32.

6. Luc. 1, 78.

7. Is. 30, 19.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 176 - 178.)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

São Francisco de Assis exorta discípulos a procurarem maior zelo litúrgico nos paramentos litúrgicos e no que é referente ao Santíssimo Sacramento

De uma carta de São Francisco de Assis
 a todos os Superiores dos
Frades Menores:
 
A todos os Custódios dos frades menores que receberem esta carta, Frei Francisco, pequenino servo vosso em Deus Nosso Senhor, deseja a salvação com os novos sinais do céu e da terra, que, grandes e excelentíssimos aos olhos do Senhor, são contudo tidos em conta de vulgares por muitos religiosos e outros homens.
Peço-vos ainda com mais insistência do que se pedisse por mim mesmo, supliqueis humildemente aos clérigos, todas as vezes que o julgueis oportuno e útil, que prestem a mais profunda reverência ao Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo bem como a seus santos nomes e palavras escritos, que tornam presente o seu Sagrado Corpo.
Os cálices e corporais que usam, os ornamentos do altar, enfim tudo quanto se relaciona ao sacrifício, sejam de execução preciosa.
E se em alguma parte o Corpo do Senhor estiver sendo conservado muito pobremente, reponham-no em lugar ricamente adornado e ali o guardem cuidadosamente encerrado segundo as determinações da Igreja, levem-no sempre com grande respeito e ministrem-no com muita discrição.

Igualmente os nomes e palavras escritos do Senhor deverão ser recolhidos, se encontrados em algum lugar imundo, e colocados em lugar decente.

E em todas as pregações que fizerdes, exortai o povo à penitência e dizei-lhe que ninguém poder salvar-se se não receber o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor.
E quando o sacerdote o oferecer em sacrifício sobre o altar, e aonde quer que o leve, todo o povo dobre os joelhos e renda louvor, honra e glória ao Senhor Deus vivo e verdadeiro.
Anunciai e pregai a todo o povo o seu louvor, de modo que a toda hora, ao dobre dos sinos, o povo todo, no mundo inteiro, renda sempre graças e louvores ao Deus onipotente.

E todos os meus Irmãos custódios que receberem esta carta e a copiarem e guardarem consigo e a fizerem copiar para os Irmãos incumbidos da pregação e do cuidado dos Irmãos, e pregarem até o fim o que nela está escrito, saibam que terão a bênção do Senhor Deus e a minha.

E isto lhes seja imposto em virtude da verdadeira e santa obediência. Amém.

E o poverello de Assisi insistia numa segunda
carta com zelosa premência:


A todos os custódios dos frades menores que receberem esta carta, Frei Francisco, o menor dos servos de Deus, envia saudação e santa paz no Senhor.

Sabei que existem algumas coisas que aos olhos de Deus são sumamente superiores e sublimes, as quais os homens por vezes julgam vis e abjetas; e outras existem que os homens tem em alto preço e admiração, ao passo que Deus as vê como as mais vis e abjetas.

Peço-vos, diante de Deus Nosso Senhor, tanto quanto posso, que entregueis aquela carta que trata do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor aos bispos e clérigos e guardai bem na memória o que a respeito disso vos recomendamos.

Acerca da outra carta que vos envio, rogo-vos que a façais chegar às mãos dos podestás, cônsules e regentes; fazei dela muitas cópias, para que se divulguem entre os povos e publicamente os louvores de Deus.

Cuidai bem de entregá-la àqueles que a devem receber.

Denúncia: Faculdade jesuíta convida inimigos da Igreja para dar cursos em Simpósio

Apelo de Prof. Hermes Rodrigues Nery (membro da comissão em defesa da vida do regional sul 1 da CNBB) para que Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, intervenha para evitar evento pró-aborto em faculdade “católica”. 





Prof. Hermes Rodrigues Nery (da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB) exorta os fiéis leigos e religiosos a cobrarem das autoridades eclesiásticas a identidade católica das instituições ditas católicas:


Veja do que se trata nesta reportagem feita
Por Pedro Canísio de Alcântara


De 2 a 4 de outubro, a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia promoverá seu IX Simpósio Internacional Filosófico - Teológico. Depois da “ilustre” presença do Prof. Dr. Leonardo Boff com a conferência de abertura do Simpósio no ano passado, neste ano, a FAJE convidou para ministrar um seminário (4h/a) a Dra. Roseli Fischmann (USP).

O seminário da Dra. Fischmann tem por título “O caráter educativo da laicidade do Estado” e se realizará conforme a programação do evento nos dias 3 e 4 às 10h no Campus da FAJE.[1] O seminário está entre os cinco eventos simultâneos entre os quais os alunos da instituição poderão escolher para a participação obrigatória.

A Dra. Fischmann faz parte do Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA)[2], que “conta com o apoio do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e seu foco é capilarizar a discussão do tema do aborto sob o prisma da Saúde Pública e retirá-lo da esfera do crime.”[3] Entre seus participantes o GEA declara outras organizações, como por exemplo, as Católicas pelo Direito de Decidir e o Ipas Brasil, que possuem a mesma finalidade, além do Ministério da Saúde e da Secretaria de Política para as Mulheres.[4] Para alcançar seu fim o GEA “produz novos materiais e estimula a difusão de informação e dados de pesquisas através de entrevistas e matérias nos veículos de comunicação do Brasil e no mundo e realiza seminários, colóquios e encontros com mais parceiros nessa iniciativa.”[5] Tudo isso para descriminalizar o aborto. Para se ter ideia da importância do GEA, alguns dos seus membros e o próprio grupo tiveram importância na discussão e julgamento favorável ao aborto de fetos anencéfalos pelo STF na ADPF 54.[6]

Pró-aborto, a Dra. Roseli realizou nos anos de 2007 e 2008 o projeto “Ensino Religioso em Escolas Públicas: legislação e normas e seu impacto sobre a cidadania e os direitos sexuais e reprodutivos”. Tal projeto teve como financiadores as Católicas pelo Direito de Decidir[7] e apoio financeiro da MacArthur Foundation (ambas abortistas) com consultoria do GEA.[8]

Em 2009, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a Dra. Roseli Fischmann, contrária ao acordo entre o Brasil e o Estado do Vaticano, defendeu a sua inconstitucionalidade e seus perigos[9] [10]. Tendo ela mesma, por conta desta ocasião, pedido a viagem de representante(s) da virulenta ATEA Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos para Brasília.[11]

Contrária ao ensino religioso na escola pública[12], no contexto do acordo com a Santa Sé ela afirmou: “A abordagem insidiosa da Igreja Católica sobre o ensino religioso nas escolas públicas não pode mais ser alvo de omissão por parte das autoridades, em particular dos parlamentares, em nome de supostas boas intenções que permeariam um suposto ensino interconfessional. Na prática, no cotidiano das escolas, crianças de 6 ou 7 anos de idade são objeto de manipulação por parte de pessoas que sequer percebem o que estão fazendo e vão, com isso, moldando consciências de forma oposta às exigências de autonomia moral presentes na boa educação, disseminando também preconceito e discriminação.

Temas como meio ambiente, saúde e em particular saúde reprodutiva podem ser afetadas diretamente pelo tipo de abordagem dada nessas propostas inconstitucionais de ensino religioso, negando o conhecimento científico, pela abordagem que é própria para o campo religioso, mas imprópria para o campo pedagógico, sobretudo da escola pública. Nessa perspectiva, valores e condutas podem ser “ensinados” como verdade absoluta, ignorando a ética e a formação para a autonomia, sem o que não se consolidará jamais a democracia.”[13]

Comentando sobre um “casal” de homossexuais, lamenta o julgamento destes “casais” como “não merecedores do reconhecimento como entidade familiar” dizendo que “é a falta de reflexão crítica e de postura ética que leva a essa situação em que é preciso lei e decisão judicial, onde apenas o justo reconhecimento da dignidade do ser humano bastaria.”[14] Tal reconhecimento familiar, portanto, seria apenas o justo reconhecimento da dignidade do ser humano.

Em outro texto sobre o mesmo assunto, comenta: “amparada na ética e voltada para o avanço histórico, decisão inédita em nível federal, do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), reconhecia a legalidade da adoção de crianças por casal homossexual de Bagé (RS).”[15]

Em um texto sobre denúncias de pedofilia na Igreja, ela pega carona neste assunto e critica a interferência da Igreja em políticas públicas, como se a Igreja, quer dizer, os católicos, não fizessem parte da sociedade. Ela aponta a “outra face da moeda, que credita à Igreja Católica o poder de a tudo julgar e tudo determinar na vida humana, inclusive interferindo em políticas públicas. É o caso das pressões sobre o 3º PNDH, para os temas de retirada dos símbolos religiosos de estabelecimentos públicos, reconhecimento da autonomia das mulheres, em caso de aborto, e das uniões homoafetivas, incluindo adoção de filhos.” E argumenta que os fiéis católicos não serão obrigados ao que contraria a doutrina católica. Argumenta também que o interesse público deve atender toda a cidadania, sem discriminação. E que não cabe às denominações religiosas convencer o Estado a atender as determinações que elas pregam. O Estado, segundo ela, lida apenas com o que é crime. E, por fim, acusa o Vaticano de disposição de ser soberano por sobre a ordem humana.[16] Caberia perguntar como ela justifica que os católicos devem se reduzir a aceitar as leis decididas para “atender toda a cidadania”, isto é, as vontades e os pensamentos de quem quer que seja e devem aceitar a ordem pública por tais pessoas desejadas. Pelo jeito, a Dra. Roseli substituiu “bem comum” pela vontade desse conjunto chamado “toda cidadania”, que leva à exclusão do pensamento e da vontade dos católicos sobre a sociedade.

Note-se que o Estado, na pessoa de seus governantes, sempre faz juízos de valor e juízos morais sobre a maldade ou bondade daquilo que é considerado crime; de fato, nem todo mal moral é ou deve ser crime, mas todo crime há de ser mal moral, porque atenta contra o bem público ou privado. A própria Dra. Fischmann realiza uma série de juízos morais. Dizer que o Estado não trata de moral é falso. Dizer que a influência da Igreja, tanto no plano da pregação religiosa quanto no plano do senso comum e da sua forte e milenar reflexão filosófica, deve ser eliminada é fazer uma opção filosófica ou ideológica clara, mas que ela não adverte. O que faz a posição da Dra. Fischmann melhor do que a dos católicos? Por que razão eliminá-la do debate? Qual a razão pela qual devemos aceitar o bom-mocismo politicamente correto da moda? Sob qual fundamento se sustenta o igualitarismo religioso ou o indiferentismo do Estado? Serão estas questões passíveis de serem colocadas em debate? Se não, por quê?

Por fim, convém lembrar a doutrina católica, exposta no Concílio Vaticano II, sobre os temas tratados acima pela Dra. Roseli:

- Prestar culto a Deus é um dever dos homens e para isto devem ter imunidade de coação na sociedade civil, portanto, “permanece a doutrina católica tradicional acerca do dever moral que os homens e sociedades têm para com a verdadeira religião e com a única Igreja de Cristo.”[17]

- A Igreja defende o ensino religioso católico nas escolas públicas.[18]