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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Em torno de 300 mártires espanhóis do século XX serão beatificados em outubro de 2013


MADRI, 26 Nov. 12 / 09:32 am (ACI/Europa Press).- A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Espanhola decidiu que a cerimônia de beatificação de mais ou menos 300 mártires do século XX na Espanha, prevista para o dia 27 de outubro de 2013, seja celebrada em Tarragona pela sua grande historia de fé cristã e de mártires, pois os primeiros mártires da história romana, do século III, foram o bispo de Tarragona, São Frutuoso e seus dois diáconos Augurio e Eulogio.
Dom Juan Antonio Martínez Camino
Além disso, o porta-voz e secretário geral da CEE, Dom Juan Antonio Martínez Camino, indicou que 147 mártires dos que serão beatificados são de Tarragona, entre eles está Dom Manuel Borrás, que foi bispo auxiliar da diocese, e 66 sacerdotes diocesanos.

Por isso, o Arcebispo de Tarragona manifestou "seu especial interesse" para que a celebração fosse celebrada ali. Do mesmo modo, apontou que a organização desta beatificação corresponderá ao Escritório para as Causas dos Santos da CEE junto com a diocese anfitriã.

O Plano Pastoral da CEE recolhe como uma das grandes ações, a beatificação dos mártires do século XX na Espanha e se recordam as palavras do Papa Bento XVI quando, ao convocar o Ano da Fé, assinalou que "pela fé, os mártires entregaram sua vida como testemunho da verdade do Evangelho, que os tinha transformado e feito capazes de chegar até o maior dom do amor com o perdão dos seus perseguidores".

Por outra parte, a Assembleia Plenária acordou a constituição de uma 'Junta Episcopal pró V Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus' que se cumprirá em 2015 e que estará formada pelo presidente da CEE, o Bispo de Ávila, o Arcebispo de Sevilha, o Bispo de Salamanca, o Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral, o presidente da Comissão Episcopal de Vida Consagrada e o Secretário geral da CEE.

Esta Junta será a encarregada de traçar os lineamentos gerais das ações que serão realizadas e constituirá mais adiante uma Comissão Executiva, encarregada de coloca-las em prática.

Do mesmo modo, os bispos aprovaram os balanços e liquidação orçamentária do ano 2011 do Fundo Comum Interdiocesano, da Conferência Episcopal e dos organismos que dela dependem.

Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo


HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Basílica Vaticana
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
Domingo, 25 de Novembro de 2012

Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados irmãos e irmãs!

A solenidade de Jesus Cristo Rei do universo, que hoje coroa o Ano Litúrgico, vê-se enriquecida com a recepção no Colégio Cardinalício de seis novos membros, que convidei, como é tradição, para concelebrar comigo a Eucaristia nesta manhã. A cada um deles dirijo a minha saudação mais cordial, agradecendo ao Cardeal James Michael Harvey as amáveis palavras que em nome de todos me dirigiu. Saúdo os outros Purpurados e todos os Prelados presentes, bem como as ilustres Autoridades, os Senhores Embaixadores, os sacerdotes, os religiosos e todos os fiéis, especialmente quantos vieram das dioceses que estão confiadas ao cuidado pastoral dos novos Cardeais.

Neste último domingo do Ano Litúrgico, a Igreja convida-nos a celebrar Jesus Cristo como Rei do universo; chama-nos a dirigir o olhar em direcção ao futuro, ou melhor em profundidade, para a meta última da história, que será o reino definitivo e eterno de Cristo. Estava com o Pai no início, quando o mundo foi criado, e manifestará plenamente o seu domínio no fim dos tempos, quando julgar todos os homens. As três leituras de hoje falam-nos desse reino. No texto evangélico que ouvimos, tirado do Evangelho de São João, Jesus encontra-Se numa situação humilhante – a de acusado – diante do poder romano. Foi preso, insultado, escarnecido, e agora os seus inimigos esperam obter a sua condenação ao suplício da cruz. Apresentaram-No a Pilatos como alguém que aspira ao poder político, como o pretenso rei dos judeus. O procurador romano faz a própria investigação e interroga Jesus: «Tu és rei dos judeus?» (Jo 18, 33). Na resposta a esta pergunta, Jesus esclarece a natureza do seu reino e da própria messianidade, que não é poder terreno, mas amor que serve; afirma que o seu reino de modo algum se confunde com qualquer reino político: «A minha realeza não é deste mundo (...) o meu reino não é de cá» (v. 36).

É claro que Jesus não tem nenhuma ambição política. Depois da multiplicação dos pães, o povo, entusiasmado com o milagre, queria pegar n’Ele e fazê-Lo rei, para derrubar o poder romano e assim estabelecer um novo reino político, que seria considerado como o reino de Deus tão esperado. Mas Jesus sabe que o reino de Deus é de género totalmente diverso; não se baseia sobre as armas e a violência. E é justamente a multiplicação dos pães que se torna, por um lado, sinal da sua messianidade, mas, por outro, assinala uma viragem decisiva na sua actividade: a partir daquele momento aparece cada vez mais claro o caminho para a Cruz; nesta, no supremo acto de amor, resplandecerá o reino prometido, o reino de Deus. Mas a multidão não entende, fica decepcionada, e Jesus retira-Se para o monte sozinho para rezar, para falar com o Pai (cf. Jo 6, 1-15). Na narração da Paixão, vemos como os próprios discípulos, apesar de terem partilhado a vida com Jesus e ouvido as suas palavras, pensavam num reino político, instaurado mesmo com o uso da força. No Getsêmani, Pedro desembainhara a sua espada e começou a combater, mas Jesus deteve-o (cf. Jo 18, 10-11); não quer ser defendido com as armas, mas deseja cumprir a vontade do Pai até ao fim e estabelecer o seu reino, não com as armas e a violência, mas com a aparente fragilidade do amor que dá a vida. O reino de Deus é um reino completamente diferente dos reinos terrenos.

Por isso, diante de um homem indefeso, frágil, humilhado como se apresenta Jesus, um homem de poder como Pilatos fica surpreendido – surpreendido, porque ouve falar de um reino, de servidores – e faz uma pergunta, a seu ver paradoxal: «Logo, Tu és rei!». Que tipo de rei pode ser um homem naquelas condições!? Mas Jesus responde afirmativamente: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz» (18, 37). Jesus fala de rei, de reino, referindo-Se não ao domínio mas à verdade. Pilatos não entende: poderá haver um poder que não se obtenha com meios humanos? Um poder que não corresponda à lógica do domínio e da força? Jesus veio para revelar e trazer uma nova realeza: a realeza de Deus. Veio para dar testemunho da verdade de um Deus que é amor (cf. 1 Jo 4, 8.16) e que deseja estabelecer um reino de justiça, de amor e de paz (cf.Prefácio). Quem está aberto ao amor, escuta este testemunho e acolhe-o com fé, para entrar no reino de Deus.

Encontramos esta perspectiva na primeira leitura que ouvimos. O profeta Daniel prediz o poder de um personagem misterioso colocado entre o céu e a terra: «Vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído» (7, 13-14). São palavras que prevêem um rei que domina de mar a mar até aos confins da terra, com um poder absoluto, que nunca será destruído. Esta visão do profeta, uma visão messiânica, é esclarecida e realiza-se em Cristo: o poder do verdadeiro Messias – poder que não mais desaparece e nunca será destruído – não é o poder dos reinos da terra que surgem e caem, mas o poder da verdade e do amor. Assim entendemos como a realeza, anunciada por Jesus nas parábolas e revelada aberta e explicitamente diante do Procurador romano, é a realeza da verdade, a única que dá a todas as coisas a sua luz e grandeza.
 
Na segunda leitura, o autor do Apocalipse afirma que também nós participamos na realeza de Cristo. Na aclamação dirigida «Àquele que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue», declara que Ele «fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e seu Pai» (1, 5-6). Aqui está claro também que se trata de um reino fundado na relação com Deus, com a verdade, e não de um reino político. Com o seu sacrifício, Jesus abriu-nos a estrada para uma relação profunda com Deus: n’Ele tornamo-nos verdadeiros filhos adoptivos, participando assim da sua realeza sobre o mundo. Portanto, ser discípulos de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder, mas levar ao mundo a luz da verdade e do amor de Deus. Depois o autor do Apocalipse estende o olhar até à segunda vinda de Jesus – quando Ele voltar para julgar os homens e estabelecer para sempre o reino divino – e recorda-nos que a conversão, como resposta à graça divina, é a condição para a instauração desse reino (cf. 1, 7). É um vigoroso convite dirigido a todos e cada um: converter-se sem cessar ao reino de Deus, ao domínio de Deus, da Verdade, na nossa vida. Pedimo-lo diariamente na oração do «Pai nosso» com as palavras «Venha a nós o vosso reino», que equivale a dizer a Jesus: Senhor, fazei que sejamos vossos, vivei em nós, reuni a humanidade dispersa e atribulada, para que em Vós tudo se submeta ao Pai da misericórdia e do amor.

A vós, amados e venerados Irmãos Cardeais – penso de modo particular àqueles que foram criados ontem –, se confia esta responsabilidade impelente: dar testemunho do reino de Deus, da verdade. Isso significa fazer sobressair sempre a prioridade de Deus e da sua vontade face aos interesses do mundo e dos seus poderes. Fazei-vos imitadores de Jesus, que diante de Pilatos, na situação humilhante descrita pelo Evangelho, manifestou a sua glória: a glória de amar até ao fim, dando a própria vida pelas pessoas amadas. Esta é a revelação do reino de Jesus. E por isso, com um só coração e uma só alma, rezemos: «Adveniat regnum tuum». Amen.



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domingo, 25 de novembro de 2012

Carta da IDSC: Nossa vida na Cruz de Jesus


 IRMANDADE DOS DEFENSORES DA SAGRADA CRUZ
IDSC

Carta aos amados irmão
na fé em Cristo Jesus
02-10-2012

Amados irmãos na fé e na esperança Naquele que foi elevado na Cruz e desta forma nos atraiu para Ele (Cf. Jo 12, 32). Por Ele, Jesus Cristo, fomos santificados e chamados a deixar todo o pecado a fim de sermos santos e irrepreensíveis diante de Deus (Ef. 1,4).

Caríssimos, foi pela Cruz que Nosso Senhor se dignou salvar-nos e glorificar ao Pai Celeste. Foi através deste sinal que Ele, Jesus Cristo, nos demonstrou o seu infinito e terno amor. Fez da Cruz o seu trono e dos espinhos sua coroa, seu manto real foi a nudez de um corpo chagado, pois Ele fez do escândalo da Cruz a nossa salvação.
Irmãos é pelo grandioso sinal (da Cruz) e pelo amor que temos a Aquele que neste sinal foi suspenso, que somos chamados de defensores da Sagrada Cruz, pois vemos na Cruz mais do que um pedaço de madeira, vemos sim nela, o estandarte visível da Vitória de Cristo sobre o pecado. É na Cruz, árvore da Vida, que encontramos o fruto da salvação, Jesus Cristo.

É esta realidade que defendemos a realidade que fomos salvos por Cristo e que fomos restaurados e chamados a uma vida nova. Vida esta, onde já não deverá existir mais espaço para o pecado. Pelo batismo somos chamados de filhos de Deus, e assim o somos verdadeiramente por meio de Cristo. Como filhos de Deus já não pertencemos ao mundo nem as trevas, entretanto devemos apresentar este Cristo ao mundo, sempre que possamos sobretudo, pelo nosso testemunho de vida (1Ts 5,5).

 Nós como filhos de Deus já não vemos a Cruz como o mundo a vê, a vemos como a síntese de nossa fé, pois é nela que Jesus mostra a sua verdadeira humanidade iniciada na encarnação e é por meio dela, que contemplamos a glorificação de Cristo na ressurreição. Foi pela Cruz que Jesus se fez obediente a vontade do Pai, se despojando de toda sua dignidade Divina por amor a nós pobres. É também pela Cruz, seguindo seus passos, que nós seus filhos devemos ser obedientes a Ele. Desta forma, nossas vidas devem ser vividas na Cruz como um perene sacrifício oferecido à Deus, unindo nossas pequenas cruzes a Cruz de Cristo, oferecendo à Deus o nosso sacrifício imperfeito em união ao único e verdadeiro sacrifício perfeito e agradável aos alhos de Deus, oferecido por Jesus e renovado a cada Missa que se celebra.

Esta união do sacrifício de Cristo com o nosso, só é possível pelo batismo que recebemos e se torna presente ao assistirmos a Santa Missa, assim pertencemos já aqui na terra do Reino de Cristo e agora nos cabe sermos coerente e levar este reino a mais corações. Para sermos coerentes é necessária, a busca da configuração com Cristo, renunciando ao mundo e as seduções de Satanás e tomando a cada dia a cruz com alegria e amor (Mc 8, 34).   

É perceptível o quanto o sinal salvífico da Cruz foi e é um sinal que causa a muitos um desconforto e até uma hostilidade ferrenha, que se manifesta em atos pessoais ou públicos, que visam tornar tal sinal esquecido e visto como ultrapassado.  Cabe a nós sermos propagadores e anunciadores da Cruz de Nosso Senhor Jesus, primeiramente com nossas vidas e é através desta vivência que nosso apostolado terá força na Igreja.

Lembro-vos, pois que este sinal é um caminho árduo por três motivos: colocamos em primeiro lugar, nós mesmos, ou seja, essa entrega pessoal diária feita por amor e no amor a Deus esvaziar-se de si mesmo e deixar-se encher de Cristo e em sua imitação constante (Cf. 2Cor 5, 17). Em segundo lugar, o mundo e suas mentiras que sempre viu na Cruz o escândalo da vida, que pelo amor se faz ablação ao seu Senhor, que pela Cruz vence o mundo e nos chama à com Ele vencer também. "Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo". (Jo 16,33) Em terceiro lugar, a batalha constante contra a antiga serpente – Satanás, que visto por muitos como, inexistente, continua a operar e perder as almas e que em tudo quer nos vencer pelo pecado. Aqui volta a necessidade de abandonarmo-nos em Deus e renunciar minuto a minuto nossas próprias paixões e tendências. É através desta confiança em Deus que atingiremos pouco a pouco essa semelhança com Jesus.

Para concluir exorto-vos amados irmãos que nossas vidas tornem-se cada vez mais um reflexo mais límpido da vida de Cristo, amando a Igreja como Ele mesmo a amou. Que o nosso nome de defensores da Sagrada Cruz não se perca no poético e utópico, mas que se torne real aos olhos de Deus e dos homens, por meio do combate espiritual constante, pelo ardor de levar o amor de Cristo aos corações e pela defesa perseverante e militante da Fé verdadeira que se encontra na Única Igreja de Cristo.

Que a defesa da Fé se faça na verdadeira caridade aos irmãos e para a Maior Gloria de Deus e salvação das almas.

Fraternalmente em Cristo Jesus, do qual me fiz eternamente servo.


Sem. Pedro Afonso Tavares Lins
Diretor gera da
 IDSC

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sandro Magister: Bento XVI sempre considerou um engano dizer "Igreja pecadora"


ROMA, (ACI).- O vaticanista Sandro Magister afirmou em um recente artigo que o termo "Igreja pecadora" nunca foi considerado certeiro pelo Papa Bento XVI, pois embora esta fórmula esteja de moda, é alheia à tradição cristã.

Magister se referiu ao artigo do L'Osservatore Romano sobre o encontro entre o Papa e os cardeais por seu quinto aniversário de eleição pontifícia, e no qual o jornal escreveu que "o Pontífice tem feito referência aos pecados da Igreja, recordando que ela, ferida e pecadora, experimenta mais o consolo de Deus".

Entretanto, adverte Magister, "é duvidoso que 
Bento XVI tenha se expressado dessa maneira. A fórmula ‘Igreja pecadora’ nunca foi dele. E sempre a considerou equivocada".

Como exemplo, citou a homilia da Epifania de 2008, onde "definiu a Igreja de um modo totalmente distinto: ‘Santa e composta por pecadores’".

"E se examinarmos bem encontraremos que ele sempre a definiu desse modo. Ao final dos exercícios de 
Quaresma de 2007, Bento XVI agradeceu ao pregador –que esse ano havia sido o Cardeal Giacomo Biffi– ‘por haver-nos ajudado a amar mais a Igreja, a 'immaculata ex-maculatis', como nos ensinaste com (citando) São Ambrósio’".

A expressão "immaculata ex-maculatis", explica o vaticanista, "está em uma passagem do comentário de São Ambrósio ao Evangelho do Lucas" e significa "que a Igreja é Santa e sem mancha, mesmo quando acolhe nela homens manchados de pecado".

Magister explicou que o Cardeal Biffi publicou em 1996 um ensaio dedicado a este tema e que continha no título "uma expressão mais ousada ainda, aplicada à Igreja: ‘Casta meretrix’, meretriz casta"; fórmula usada pelo "catolicismo progressista" para dizer "que a Igreja é Santa ‘mas também pecadora’ e deve sempre pedir perdão pelos ‘próprios’ pecados"; e que Hans Küng afirma que foi usada "frequentemente desde a época patrística".

"Frequentemente? Pelo que sabemos, em todas as obras dos Padres, a fórmula só aparece uma vez: no comentário de são Ambrósio ao Evangelho do Lucas. Nenhum outro Padre latino ou grego jamais a usou, nem antes nem depois", esclareceu Magister. 

O vaticanista acrescentou que São Ambrósio aplicou este termo em relação à simbologia de Raabe, a prostituta de Jericó que "hospedou e salvou em sua própria casa a uns israelitas fugitivos"; e que já antes deste Padre da Igreja, tinha sido vista como "protótipo" da Igreja. "A fórmula ‘fora da Igreja não existe salvação’, nasceu precisamente do símbolo da casa salvadora de Raabe", explicou Magister.

O Cardeal Biffi, indicou Magister, explicou que a expressão casta meretrix, "longe de aludir a algo pecaminoso e reprovável, quer indicar (…) a santidade da Igreja. Santidade que consiste tanto na adesão sem hesitações e sem incoerências a Cristo seu esposo ('casta') como na vontade da Igreja de alcançar a todos para levar a todos à salvação ('meretrix')".

O vaticanista sublinhou que o fato de que "aos olhos do mundo a Igreja possa aparecer ela mesma manchada de pecados e golpeada pelo desprezo público, é uma sorte que remete à de seu fundador Jesus, que também foi considerado um pecador pelas potências terrenas de seu tempo". 

Entretanto, recordou que a Igreja é Santa por seu fundador e por isso pode acolher "os pecadores e sofrer com eles pelos males que padecem e curá-los". "Em dias calamitosos como os atuais, cheios de acusações que querem invadir precisamente a santidade da Igreja, esta é uma verdade que não se deve esquecer", afirmou.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Anglicanos rejeitam a ordenação de mulheres bispo


LONDRES, 21 Nov. 12 / 01:23 pm (ACI/EWTN Noticias).- O sínodo dos anglicanos na Inglaterra rejeitou ontem a ordenação de mulheres "bispos", postura que era apoiada pelo arcebispo de Canterbury e líder máximo da comunhão anglicana, Rowan Williams, e pelo seu recentemente designado sucessor, Justin Welby.

Para ser aceita, a proposta devia obter o apoio de dois terços do Sínodo Geral dos anglicanos. Embora tenha passado pelos bispos e pelos membros do clero anglicano, não teve o respaldo dos leigos.

Conforme assinala a BBC de Londres, "o debate sobre a nomeação de mulheres bispo é um dos temas que provocou mais divisões no seio da Igreja Anglicana que já votou a favor de ordenar mulheres sacerdotes faz 20 anos".

A comunhão anglicana sofreu uma importante ruptura interna logo depois que algumas de suas comunidades, como a igreja episcopal dos Estados Unidos, aprovassem a ordenação de bispos homossexuais e mulheres "bispos".

Em novembro de 2009, o Papa Bento XVI publicou a constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, na qual estabelece a forma como os anglicanos, que assim o queiram, possam ingressar na comunhão plena da Igreja Católica.

Em 15 de janeiro de 2011, a Santa Sé anunciou a criação oficial do Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham para a Inglaterra e Gales, como "uma estrutura canônica que permite uma reunião corporativa de tal modo que os ex-anglicanos podem ingressar na plena comunhão com a Igreja Católica preservando elementos de seu patrimônio anglicano".

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Aquela que acreditou em virtude da fé, também pela fé concebeu


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 25,7-8: PL 46,937-938)
(Séc.V)

Prestai atenção, rogo-vos, naquilo que Cristo Senhor diz, estendendo a mão para seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12,49-50). Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente. 
Vede se não é assim como digo. O Senhor passava acompanhado pelas turbas, fazendo milagres divinos, quando certa mulher exclamou: Bem-aventurado o seio que te trouxe. Feliz o ventre que te trouxe! (Lc 11,27) O Senhor, para que não se buscasse a felicidade na carne, que respondeu então? Muito mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a guardam (Lc 11,28). Por conseguinte, também aqui é Maria feliz, porque ouviu a palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade na mente mais do que a carne no seio. Verdade, Cristo; carne, Cristo; a verdade-Cristo na mente de Maria; a carne-Cristo no seio de Maria. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.

Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!

Portanto, irmãos, dai atenção avós mesmos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede de que modo o sois. Diz: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12,49). Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe (cf. Mt 12,50). Pensai: entendo irmão, entendo irmã; é uma só a herança, e é essa a misericórdia de Cristo que, sendo único, não quis ficar sozinho; quis que fôssemos herdeiros do Pai, co-herdeiros seus.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Para debate — Terminologia: “Forma Extraordinária” é um nome aceitável? E será que é o nome oficial?


Por Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com
Nunca pensamos que seria necessário escrever isso, uma vez que ambos os aspectos de que trataremos parecem ser óbvios, e parecem ter sido óbvios desde 2007. Assim, há tantos mal-entendidos com relação á expressão “Forma Extraordinária“, que nos sentimos compelidos a esclarecer dois pontos.
  
(1) Por que o nome “Forma Extraordinária” foi introduzido pelo Santo Padre no motu proprio Summorum Pontificum? Resposta: a fim de resolver um enigma da legislação litúrgica.

Tradicionalmente, ao longo da história da Igreja – pelo menos desde que a diferenciação dos ritos tornou-se clara e vinculada a patriarcados e áreas geográficas específicas – padres bi-ritualistas têm sido excepcionais. Eles ainda são uma exceção. Além disso, o Papa sentiu a necessidade de finalmente desfazer a injustiça que havia se perpetuado – e defendida pela maioria dos canonistas – desde o advento da Constituição Apostólica Missale Romanum, de Paulo VI (1969), que criou o Novus Ordo Missae: ele, e os documentos anteriores e subsequentes que modificaram todos os ritos de sacramentos, ab-rogaram o Rito Romano Tradicional?

O uso do termo “forma” resolveu ambos os problemas: ele não fez com que todos os padres na Igreja Latina, incluindo a vasta maioria de padres seculares, se tornassem imediatamente bi-ritualistas (na lei), o que seria bastante não tradicional; e, mais importante, ele resolveu o aparente problema da impossibilidade da ab-rogação de um rito litúrgico de origem imemorial. (Esse era um problema aparente porque, conforme o Papa deixou implícito ao dizer que “Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial,” os Ritos e Usos litúrgicos imemoriais da Igreja Latina não poderiam e não podem simplesmente ser ab-rogados) Em certo sentido, é um artifício, uma construção intelectual nobre, uma vez que a celebração comum da Missa Tradicional em Latim e a Missa Novus Ordo parecem expressar dois ritos muito distintos – mas o uso de tais construções legais é bastante comum no direito, e não há nada imoral nisso. O uso da terminologia esclareceu que a celebração da Missa Tradicional é um rito solene de cada padre na Igreja Latina.

(2) Apesar disso, a expressão “Forma Extraordinária” NÃO é o nome “oficial” do Rito Romano Tradicional. Este é apenas uma das muitas maneiras de se referir a ele. Na realidade, como podemos perceber, nos muitos textos dos documentos oficiais, vários nomes diferentes são utilizados para fazer referência ao Rito Romano Tradicional.

O próprio motu proprio fala em suas primeiras palavras do “uso extraordinário” e da “forma antiga” (antiqua forma) do Rito Romano. Em seus artigos, faz-se referência ao “Missal Romano promulgado por São Pio V e repromulgado pelo Beato João XXIII” (ou seja, o Missal de São Pio V também é “oficial” como o “Missal do Beato João XXIII” – não é de se admirar que o Cardeal Navarette-Cortes tenha utilizado o termo em 2008); ela é uma “expressão extraordinária” (extraordinaria expressio), e também “Forma Extraordinária” (forma extraordinaria). Ela também é chamada pelo motu próprio de “tradição litúrgica anterior”.

Os ritos dos sacramentos de acordo com o Ritual Romano Tradicional são caracterizados como de acordo com o ritual mais antigo (Rituale antiquior), e o mesmo adjetivo se aplica ao [rito] Pontifical e à própria forma: forma anterior (forma antiquior).

Todos esses nomes estão incluídos em um breve texto do próprio motu proprio Summorum Pontificum!
 
Na carta aos bispos, menciona-se também a “liturgia romana anterior à reforma de 1970″. O Papa diz na carta que não há “dois ritos” (embora, na carta, ele utilize o nome “rito novo”! – deixando-nos bastante à vontade para também utilizarmos a expressão rito antigo…), mas também utiliza nomes diferentes para ele naquele documento: “uso”, a “Forma anterior”, “missal de 1962″, “Missal antigo”, “tradição litúrgica latina antiga” (a propósito, um nome muito bonito).

Na instrução Universae Ecclesiae, faz-se referência à expressão “forma extraordinária”, mas também há todos os tipos de expressões diferentes: “uso”, “Usus antiquior“, “Missal de 1962”…

Estes são apenas nomes “oficiais” utilizados amplamente nos próprios documentos – sem esquecer a necessidade de clareza que requer um uso contínuo de expressões que estão estabelecidas no vernáculo, como, por exemplo, Missa Tradicional em Latim (MTL) em inglês, e “Missa Tridentina” (mesmo se não particularmente exato) em inglês e em diversas línguas europeias. Sem mencionar o uso muito respeitável (por exemplo, pelo ex-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei Cardeal Castrillon Hoyos) das expressões “Rito Gregoriano” e “Liturgia Romana Clássica”.

PORTANTO: (1) não se sinta, de modo algum, forçado a utilizar o nome Forma Extraordinária, como se ele fosse o único nome aceitável – ele não é nem mesmo o nome exclusivo utilizado nos próprios documentos;

(2) não reclame quando outras pessoas o utilizarem, como se fosse ilegítimo ou inaceitável; se você não gosta dele, tudo bem, apenas não o utilize.


domingo, 18 de novembro de 2012

Conferência Episcopal do Paraguai condena maçonaria e seitas!


Assunção (RV) – A Conferência Episcopal Paraguaia (CEP) criticou nesta sexta-feira as lojas maçônicas do país e advertiu sobre o perigo que as seitas representam para o trabalho da Igreja Católica.

Em coletiva de imprensa na conclusão da Assembleia Plenária do Episcopado, o Presidente da Conferência, Dom Claudio Giménez Medina, leu uma carta pastoral elaborada no encontro em que assinala a maçonaria e as seitas como “obstáculos externos” à atividade de evangelização.

“A maçonaria não reconhece a divindade de Jesus Cristo, oferece enganosamente um atrativo de filosofia mesclada com uma filantropia que contradiz a fé cristã” – diz o bispo de Caacupé.

Existem no Paraguai várias lojas maçônicas. As mais conhecidas são a “Gran Loja Simbólica do Paraguai” e a “Loja Pitágoras Número 17”. Estes dois grupos foram duramente criticados por representantes da Igreja Católica, depois da recente inauguração, na periferia da capital, de um monumento com o símbolo característico da maçonaria, um compasso e um esquadro.

A CEP também alertou, em sua carta pastoral, sobre as seitas, que segundo os bispos, aumentam cada vez mais e “são um perigo” para a fé católica: “Alguns pais católicos enviam seus filhos a escolas de Igrejas separadas ou de seitas, expondo-os à perda da fé católica”, opinam os bispos, exortando os fiéis a participarem ativamente de sua comunidade católica e não das seitas.

Outro tema da Plenária foi o reduzido número de seminaristas no Paraguai: “a falta de sacerdotes é alarmante, pois não cobre as necessidades do país” [ndr: destoa deste cenário a diocese de Ciudad del Este, onde há justamente um ensino mais tradicional]. Também se constatou a diminuição de pessoas nas missas, embora tenha aumentado a porcentagem de jovens.

Bento XVI cita exemplo de José de Anchieta aos jovens

Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI voltou a recordar aos brasileiros a figura de seu Apóstolo, o Beato José de Anchieta. Desta vez, o Santo Padre dirigiu-se aos jovens do mundo inteiro ao citá-lo na “Mensagem para a XXVIII Jornada Mundial da Juventude”, publicada na sexta-feira (16/11), sobre a JMJ Rio 2013.

Disse o Santo Padre: “Penso, por exemplo, no Beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo.” 

Essa frase do Papa é antecedida por um aceno à entrega da própria vida feita por jovens generosos em favor da construção do Reino de Deus. Bento XVI escreve ainda: “Com grande entusiasmo, levaram a Boa Nova do Amor de Deus manifestado em Cristo, com meios e possibilidades muito inferiores àqueles de que dispomos hoje em dia.” 

É verdade! Basta pensarmos no Brasil recém achado, sem estradas, sem recurso algum e o aquilo que José de Anchieta realizou, adoentado e apenas com o conhecimento de um jovem de 18 anos. 

Esse rapaz, cheio de ardor por Jesus Cristo, aprendeu, em poucos meses, a língua tupi para evangelizar os donos da terra e colaborar no trabalho missionário de seus companheiros, observou o que agradava aos indígenas e lançou mão do teatro, da dança e da música para catequizá-los. 

Sim, o Santo Padre tem razão ao apresentar o jovem José de Anchieta, ou melhor, o jovem José do Brasil, como modelo e incentivo aos jovens de hoje.
(CAS)

sábado, 17 de novembro de 2012

Humildade


O Embaixador de Cristo,
por Cardeal Gibbons,
Edição de 1935, tradução do Cônego Tomás Fernandes Pinto


A verdadeira humildade não consiste em desconhecer ou negar o bem que há em nós, mas em referir ao Autor de todo o nosso ser os dons da natureza e da graça que se dignou conceder-nos. Esta idéia foi admiravelmente expendida pelo Apóstolo naquela passagem da epístola aos Coríntios: «Esta confiança temos, por meio de Cristo, em Deus. Não que por nós mesmos sejamos capazes de ter algum pensamento que seja de nós mesmos: toda a nossa capacidade vem de Deus»[1]. E noutra parte diz: «Se alguém supõe que é alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana»[2].

E ainda noutra passagem deixou dito: «Aquele, pois, que se gloria, em Deus se glorie. Porque não é recomendável o que a si mesmo se recomenda, mas só aquele a quem Deus recomenda»[3].

Jesus Cristo ensinou-nos esta grande virtude por Sua vida e exemplos, assim como por Seus preceitos. «Aprendei de mim, disse Ele, que sou manso e humilde de coração»[4], palavras que Santo Agostinho assim comenta: «Nosso Senhor não diz: - Aprendei de mim a construir o mundo, a criar as coisas visíveis e invisíveis, a operar milagres, a ressuscitar mortos. - Mas diz: - Aprendei de mim a doçura e a humildade de coração».

Jesus nasce num estábulo; deixa-Se circuncidar como um pecador. Quando o povo deseja exaltá-lO e proclamá-lO Rei, afasta-Se e esconde-Se; mas quando resolvem humilhá-lO e perdê-lO, apresenta-Se à Seus inimigos e submete-Se aos opróbrios. A Sua transfiguração gloriosa assistem somente três discípulos, aos quais todavia impõe segredo até à Sua ressurreição. Já não se dá o mesmo com a suprema afronta da cruz. A esta assiste a cidade inteira de Jerusalém, que para mais regurgitava então de estrangeiros.

Depois da última ceia, o Salvador não Se dedigna de cingir uma toalha e lavar os pés a Seus apóstolos a quem deixa estar recomendação: «Sabeis o que acabo de vos fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor. Tendes razão; eu o sou. Portanto, se eu lavei os pés, sendo vosso Mestre e Senhor, o mesmo deveis fazer uns aos outros: Dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, façais vos também»[5].

Mas que humilhação poderá comparar-se à Encarnação do Salvador e à Sua morte afrontosa na cruz? «Nada façais por ciúme ou por vã glória, diz S. Paulo; mas, com humildade tenha cada um para si os outros como superiores e atenda aos interesses deles, que não à sua própria conveniência. Haja entre vós o sentimento que houve em Jesus Cristo: o qual, sendo Deus por natureza e não praticando, portanto, usurpação em mostrar-Se igual a Deus, todavia Se aniquilou, assumindo a natureza de escravo, fazendo-Se semelhante aos homens, sem que externamente coisa alguma o distinguisse do mesmo homem. Humilhou-Se e mostrou-Se obediente até à morte e morte da cruz. Pelo que Deus também o exaltou e lhe deu um nome que é superior a todo o nome: pois que ao nome de Jesus todo o joelho se dobra, no céu, na terra, e nos infernos, e toda a língua confessa que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai»[6].

Precisamos de incentivo mais poderoso para nos abatermos a nós mesmos? Não nos basta saber que quanto mais nos humilharmos por amor e justiça, tanto mais semelhantes nos tomamos a Jesus Cristo, o tipo por excelência da natureza humana?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Liturgia “porque o Santo Padre recupera o sagrado”


Repubblica – 31 de julho de 2008, página 42, seção: CULTURA

O sinal foi inequívoco. Primeiro o Corpus Domini em Roma, depois se viu em visão mundial em Sidney. Bento XVI exige que diante dele a comunhão seja recebida de joelhos. É uma de tantas reconquistas (ou: recuperações) deste pontificado: o latim, a missa tridentina, a celebração com as costas voltadas para os fiéis.
 
Papa Ratzinger tem um desígnio, e o Mons. Malcolm Ranjith, de Sri Lanka, que o pontífice quis consigo no Vaticano como secretário da Congregação para o Culto, o delineia eficazmente. A atenção à liturgia, ele explica, tem o objetivo de uma “abertura ao transcendente”. A pedido do pontífice, preanuncia Ranjith, a Congregação para o Culto está preparando um Compêncio Eucarístico para ajudar os sacerdotes a “dispor-se bem para a celebração e a adoração eucarística”.

A comunhão de joelhos vai nesta direção?
“Na liturgia se sente a necessidade de encontrar novamente o sentido [ou: senso] do sagrado, sobretudo na celebração eucarística. Pois nós cremos que o que acontece no altar vai muito além do que nós podemos humanamente imaginar. E, por conseguinte, a fé da Igreja na presença real de Cristo nas espécies eucarísticas é expressa através de gestos adequados e comportamentos diversos daqueles da cotidianidade [da vida cotidiana]”.

Marcando uma descontinuidade?
“Não nos encontramos diante de um chefe político ou uma personagem da sociedade moderna, mas diante de Deus. Quando desce sobre altar a presença de Deus eterno, devemos colocar-nos numa posição mais apta para adorá-lo. Na minha cultura, em Sri Lanka, deveríamos prostrar-nos com a testa no chão, como fazem os budistas e os muçulmanos em oração”.

A hóstia na mão diminui o sentido [ou: senso] da transcendência da Eucaristia?
“Em certo sentido, sim. Expõe o comungante a senti-la quase como um pão normal. O Santo Padre fala muitas vezes da necessidade de salvaguardar o senso do além na liturgia em toda a sua expressão. O gesto de tomar a hóstia sagrada e colocá-la nos mesmos na boca e não recebê-la, reduz o profundo significado da comunhão”.
 
Há a intenção de se opor a uma banalização da missa?
“Em alguns lugares perdeu-se aquele senso do eterno, sagrado ou do celeste. Houve a tendência a colocar o homem no centro da celebração e não o Senhor. Mas o Concílio Vaticano II fala claramente da liturgia como actio Dei, actio Christi (ação de Deus, ação de Cristo). Em certos círculos litúrgicos, ao invés, quer por ideologia quer por um certo intelectualismo, difundiu-se a idéia de uma liturgia adaptável a várias situações, na qual se deveria dar espaço à criatividade, para que seja acessível e aceitável a todos. Depois, quiçá há quem introduziu inovações sem respeitar nem o sensus fidei e os sentimentos espirituais dos fiéis”.
Às vezes, também bispos tomam o microfone e vão ao auditório com perguntas e respostas.
“O perigo moderno é que o sacerdote pense ser ele o centro da ação. Assim, o rito pode assumir o aspecto de um teatro ou da performance de um apresentador de televisão. O celebrante vê as pessoas que olham para ele como ponto de referência e há o risco que, para ter mais sucesso possível com o público, invente gestos e expressões, fazendo o papel de protagonista”.

Qual seria a atitude certa?
“Quando o sacerdote sabe que não é ele quem está no centro, mas Cristo. Em humilde serviço ao Senhor e à Igreja, respeitar a liturgia e suas regras, como algo recebido e não inventado, significa deixar mais espaço ao Senhor, para que, através do instrumento do sacerdote, possa animar [estimular] a consciência dos fiéis”.

São desvio também as homilias pronunciadas por leigos?
Sim. Porque a homilia, como diz o Santo Padre, é a maneira como a Revelação e a grande tradição da Igreja é explicada a fim de que a Palavra de Deus inspire a vida dos fiéis nas suas escolhas cotidianas e torne a celebração litúrgica rica em frutos espirituais. E a tradição litúrgica da Igreja reserva a homilia ao celebrante. Aos bispos, aos sacerdotes e aos diáconos. Mas não aos leigos”.

Absolutamente não?
“Não porque eles não sejam capazes de fazer uma reflexão, mas porque na liturgia os papéis são respeitados. Existe, como dizia o Concílio, uma diferença ‘em essência e não somente em grau’ entre o sacerdócio comum de todos os batizados e aquele dos sacerdotes”.
Já o Cardeal Ratzinger lamentava nos ritos a perda do sentido do mistério.
“Muitas vezes a reforma conciliar foi interpretada ou considerada de uma maneira não totalmente conforme a mente do Vaticano II. O Santo Padre define esta tendência como anti-espírito do Concílio”.

Um ano após a plena re-introdução da missa tridentina, qual é o balanço?
“A missa tridentina contém valores muito profundos que espelham toda a tradição da Igreja. Há mais respeito diante do sagrado através dos gestos, genuflexões, silêncios. Há mais espaço reservado à reflexão sobre a ação do Senhor e também à devoção pessoal do celebrante, que oferece o sacrifício não apenas pelos fiéis, mas também pelos próprios pecados e a própria salvação. Alguns elementos importantes do antigo rito poderão ajudar também a reflexão sobre o modo de celebrar o Novus Ordo. Encontramo-nos num caminho”.

Algum dia no futuro verá um rito que tome o melhor do antigo e do novo?
“Pode ser, eu talvez não o verei. Penso que nos próximos decênios se caminhará rumo a uma valorização em conjunto, seja do rito antigo como do novo, salvaguardando o eterno e sobrenatural que acontece no altar e reduzindo todo protagonismo, para deixar espaço ao contato efetivo entre o fiel e o Senhor, através da figura não predominante do sacerdote”.
  
Com posições alternadas do celebrante? Quando o sacerdote estaria voltado para a abside?
“Poder-se-ia pensar no ofertório, quando as ofertas são levadas para o Senhor, e daí até o fim da oração eucarística, que representa o momento culminante da ‘transsubstantiatio’ e da ‘communio’”.
O sacerdote que vira as costas desorienta os fiéis.
“Está errada esta expressão. Pelo contrário, juntamente com o povo ele se volta para o Senhor. O Santo Padre, no seu livro O espírito da liturgia, explicou que, quando as pessoas se sentam ao redor [da mesa], olhando cada um a face do outro, forma-se um círculo fechado. Mas quando o sacerdote e os fiéis olham juntos para o Oriente, rumo ao Senhor que vem, é um modo de abrir-se ao eterno”.

Nesta visão insere-se também a recuperação do latim?
“Não me agrada a palavra recuperar. Realizamos o Concílio Vaticano II, que afirma explicitamente que o uso da língua latina, salvo um direito particular, seja conservado nos ritos latinos. Por conseguinte, ainda que tenha sido dado espaço à introdução das línguas vernáculas, o latim não é abandonado completamente. O uso de uma língua sacra é tradição em todo o mundo. No Hinduísmo, a língua de oração é o sânscrito, que não é mais em uso. No Budismo usa-se o Pali, língua que hoje somente os monges budistas estudam. No Islã se emprega o árabe do Alcorão. O uso de uma língua sacra ajuda-nos a viver a sensação do além”.

O latim como língua sacra na Igreja?
“Certo. O Santo Padre mesmo fala disso na exortação apostólica Sacramentum caritatis, no parágrafo 62: ‘A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as diretrizes do Concílio Vaticano II: excetuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina.’ Fica entendido: durante encontros internacionais”.
 
Dando de novo força à liturgia, aonde quer chegar Bento XVI?
“O Papa quer oferecer a possibilidade de acesso à maravilha da vida em Cristo, uma vida que, embora sendo vivida aqui na terra, já nos faz sentir a liberdade e a eternidade dos filhos de Deus. E tal experiência se vive fortemente através de uma autêntica renovação da fé a qual pressupõe o antegozar das realidades celestes na liturgia, que se crê, se celebra e se vive. A Igreja é, e deve tornar-se, o instrumento válido e o caminho para esta experiência libertadora. E a sua liturgia, aquilo que a torna capaz de estimular tal experiência nos seus fiéis”.
         Marco Politi