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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dom Mauro Piacenza, o prefeito da Congregação para o Clero diz o sacerdote não é “funcionário de Deus”, e sim “outro Cristo”


CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 7 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - A renovação espiritual profunda dos sacerdotes é indispensável para a nova evangelização, como o Papa Bento XVI indicou em várias ocasiões durante o Ano Sacerdotal. Este é o "programa" que tem em mente o novo prefeito da Congregação para o Clero, Dom Mauro Piacenza.

O prelado concedeu esta entrevista a ZENIT imediatamente após a divulgação da sua nomeação por parte do Papa, depois da renúncia do cardeal Cláudio Hummes, por motivos de idade.

Dom Mauro Piacenza, que trabalhou muitos anos na Congregação para o Clero, reconhece que uma das suas tarefas será melhorar a formação do clero - também a partir dos escândalos protagonizados por alguns membros deste nos últimos meses.

ZENIT: O Santo Padre o chamou à alta responsabilidade de guiar o dicastério da Cúria Romana que se ocupa dos sacerdotes. Que motivos levaram o Papa a fazer esta escolha?

Dom Piacenza: Isso nós teríamos que perguntar ao Santo Padre! Pelo que posso imaginar, minha longa presença neste dicastério deve ter tido algum papel, pois a maior parte do meu serviço à Cúria Romana foi levada a cabo nele.

Aproveito esta oportunidade para renovar meu profundo agradecimento ao Sumo Pontífice pela confiança que ele demonstrou e para invocar, para mim e para todos os colaboradores da congregação, sua bênção paterna, de forma que todos nós, juntos, possamos trabalhar incansavelmente pelo verdadeiro bem do clero e da santa Igreja, não antepondo nada ao amor de Cristo.

ZENIT: Também pelas conhecidas circunstâncias presentes, a Congregação para o Clero assume hoje um papel estratégico no governo de Bento XVI?


Dom Piacenza: Quem se ocupa dos delitos mais graves é a Congregação para a Doutrina da Fé. Contudo, certamente é necessário e é um dever colocar em marcha todos esses instrumentos que impedem que atos semelhantes voltem a ocorrer.

O primeiro de todos é a formação, inicial e permanente, pela qual é necessário velar continuamente, porque não se deve formar "funcionários de Deus", mas sim "outros Cristos": um bom pastor que, vivendo totalmente de Deus e para Deus, ofereça a vida pelo seu rebanho, fazendo-o crescer no amor autêntico.

ZENIT: E quais são os caminhos para obter isso? Qual é o seu programa?

Dom Piacenza: Não tenho outro programa a não ser o de obedecer a Cristo e à sua Igreja, cuja vontade se manifesta, de maneira totalmente peculiar, por meio do Santo Padre. Ele mesmo nos remeteu muitas vezes, também durante o Ano Sacerdotal, a uma leitura não funcionalista, mas ontológica do ministério ordenado, capaz realmente de "levar Deus ao mundo" através do carisma do celibato, da fidelidade evangélica, da caridade pastoral. A Eucaristia, celebrada e adorada, em uma concepção semelhante do ministério ordenado, não pode deixar de ter um papel absolutamente central: nela está o segredo, a fonte de toda existência sacerdotal "bem sucedida". A Eucaristia é a própria respiração sacerdotal.

ZENIT: Qual é a identidade sacerdotal, então, que o novo prefeito tem em mente?

Dom Piacenza: Sempre a da Igreja! A identidade sacerdotal só pode ser cristocêntrica e, por isso, eucarística. Cristocêntrica porque, como muitas vezes recordou o Santo Padre, no sacerdócio ministerial, "Cristo atrai para si", envolvendo-se conosco e envolvendo-nos em sua própria existência. Esta atração "real" acontece sacramentalmente, portanto, de forma objetiva e insuperável, na Eucaristia, da qual os sacerdotes são ministros, isto é, servos e instrumentos eficazes.

ZENIT: O senhor acabou de mencionar o celibato. Estão previstas novidades a propósito desta lei?

Dom Piacenza: Antes de tudo, é preciso eliminar a palavra "lei". A lei é consequência de uma realidade muito mais alta, que só pode ser captada em um contexto cristológico. O celibato é sempre uma novidade, no sentido de que também através dele, a vida do presbítero é "sempre nova", porque sempre se entrega e, portanto, sempre é renovada, em uma fidelidade que tem em Deus sua própria raiz; e no florescimento e dilatação da liberdade humana, seu próprio fruto.

ZENIT: Como o senhor pretende realizar este programa?

Dom Piacenza: Se pensasse em realizá-lo "eu", seria um temerário! É o Espírito quem guia a Igreja na realização dos seus programas. Certamente, é necessária uma profunda redescoberta da dimensão vertical da vida e da fé, também para os sacerdotes, voltando a colocar Deus no seu lugar: o primeiro!

A ordenação, na vida do discípulo, é garantia de fecundidade apostólica, unida a um profundo espírito de oração e a uma intensa vida eucarística, tanto sacramental como no dom total de si.

Peço o acompanhamento e o apoio, nesta nova tarefa que o Santo Padre me confiou, a todos os meus irmãos bispos e sacerdotes, assim como a todas as almas consagradas, sensíveis à causa essencial da santificação do clero, fundamental para toda a grande empresa da nova evangelização. Que Nossa Senhora nos acompanhe, ilumine e proteja. A Ela confio e consagro todo o meu humilde serviço. Obrigado!

Fonte: Zenit

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