Padre Paulo Ricardo propõe uma leitura espiritual das numerosas marchas que a população brasileira tem realizado nas grandes cidades. Enquanto os analistas debatem sobre o verdadeiro significado político do descontentamento do povo brasileiro, somos chamados a fazer uma leitura mais profunda dos acontecimentos. Estamos diante de uma "primavera brasileira" ou estas passeatas são, na verdade, as folhas de outono que, varrendo as ruas, prenuncia um rigoroso inverno?
Nosso Canal
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Tratado da Castidade - 6ª Parte - Fim
TRATADO
DA CASTIDADE
Bem-aventurados
os puros
(SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
6ª Parte
§ VI. DO VOTO DE CASTIDADE
I.
Uma alma que consagra a Deus a sua virgindade torna-se uma esposa de Jesus Cristo,
e por isso o Apóstolo não hesita em escrever (II Cor 11, 2): "Eu vos
desposei com um Esposo, com Cristo, para vos apresentar a Ele como virgem
pura". Jesus Cristo mesmo se dá como Esposo das virgens, na parábola das
dez virgens: "Saíram ao encontro do Esposo... e entraram com Ele para as
núpcias" (Mat 25, 10). O Divino Salvador deixa-se chamar pelos outros
fiéis de Mestre, Pastor e Pai; quer, porém, ser chamado de Esposo pelas almas
virgens. Esses desponsais com o Senhor, se realizam por meio da fé: "Eu me
desposarei contigo pela fé" (Os 2, 20). A virtude da virgindade é um fruto
especialíssimo dos merecimentos de Jesus Cristo, e por isso se diz, no Apocalipse
(14, 4), que as virgens formam o cortejo do Cordeiro. A Santíssima Virgem revelou
a uma alma devota que uma esposa de Jesus Cristo deve, acima de todas as virtudes,
amar a pureza, porque ela a torna de modo especial semelhante a seu Divino Esposo.
São Bernardo diz que todas as almas justas são esposas do Senhor, "mas de
um modo particular vale isso das almas virgens", como nota Santo Antônio
de Pádua. Por isso São Fulgêncio chama a Jesus Cristo o Esposo de todas as
virgens consagradas a Deus.
Uma
moça que quer permanecer no mundo e casar-se, se é prudente, se informa com
todo o cuidado a respeito dos que solicitam a sua mão, para conhecer o mais
digno e o mais capaz de torná-la feliz aqui na terra. A pessoa religiosa, por
sua vez, desposa-se, pelos votos, com Nosso Senhor Jesus Cristo. Procuremos a
esposa dos Cânticos, que sabe perfeitamente avaliar as qualidades desse Esposo
Divino, e perguntemos-lhe: 'Quem é o vosso amado, ó santa esposa? Quem é aquele
que possui todo o vosso coração e vos tornou a mais feliz das mulheres?' Ela
responde: 'Meu Amado é branco e vermelho: é branco por Sua pureza, e vermelho
pela chama do amor em que se abrasa por Sua esposa; em uma palavra, Ele é tão
belo, tão perfeito em todas as virtudes, que não há nem pode haver um outro
esposo mais nobre ou mais amoroso que Ele'. "Nem quem O iguale em Sua
grandeza, nem em Sua beleza, nem em Sua generosidade", diz Santo Euquério.
Por isso escreve Santo Inácio de Antioquia: "Aquelas bem-aventuradas virgens,
que se consagraram a Jesus Cristo, podem estar certas de que não encontrarão, nem
no céu nem na terra, um esposo tão belo, tão nobre, tão rico, tão amável como Aquele
que lhes foi dado, Jesus Cristo".
Santa
Clara de Montefalco dizia que prezava tanto sua virgindade, que antes quereria
sofrer durante toda a sua vida as penas do inferno, do que perder esse valioso tesouro.
Com toda a razão, pois, muitas virgens virtuosas renunciaram a casamentos principescos
para permanecerem esposas de Jesus Cristo. Santa Joana, infanta de Portugal,
renunciou à mão de Luís XI, rei da França; a Beata Inês de Praga, à do imperador
Frederico II; Isabel, filha do rei da Hungria e herdeira do reino, à de Henrique,
arquiduque da Áustria, e muitas outras procederam do mesmo modo.
Uma
virgem que se consagra ao Senhor, diz Teodoreto, está livre de todo o cuidado
inútil. Não tem outra coisa a fazer senão entreter-se contínua e familiarmente com
Deus. Isso indica o Apóstolo quando diz que a virgem "é santa no corpo e
na alma" (I Cor 7, 34); santa no corpo pela castidade, santa no espírito
por seu comércio íntimo com Deus. "Se ela não tivesse outra recompensa a
esperar, diz Santo Anselmo, só por estar livre dos cuidados seculares e não ter
outra obrigação, já deveria ser tida por sumamente feliz". Do que se vê
que as virgens não só receberão uma imensa glória no Céu, mas já serão
recompensadas antecipadamente aqui na terra, com uma paz inalterável. As
virgens que se consagram ao amor de Jesus Cristo, ofertando-Lhe o lírio da pureza
do coração, tornam-se tão agradáveis a Deus como os Santos Anjos, - certamente um
efeito sublime da castidade virginal. Todas as virgens que buscam a perfeição
são esposas queridas de Jesus Cristo, porque Lhe consagraram seu corpo e sua
alma, e nada mais buscam nesta vida que agradar-Lhe. São João foi o discípulo
amado de Jesus, porque guardou a virgindade. Justamente por esse motivo amava-o
Jesus mais que aos outros discípulos, como a Igreja o insinua quando diz:
"Foi escolhido como virgem pelo Senhor, e mais amado que todos os
outros".
As
virgens são chamadas, na Sagrada Escritura, as primícias de Deus: "São virgens;
esses seguem o Cordeiro aonde quer que Ele vá. Esses foram comprados dentre os
homens, para serem as primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apoc 14, 4).
Mas por que são chamados primícias de Deus? O Cardeal Hugo responde: "Como
os primeiros frutos são mais agradáveis que os outros, assim também as virgens
consagradas a Deus agradam mais ao Coração deste e constituem o objeto de seu
especial amor".
Diz-se
ainda, na Sagrada Escritura, que o Esposo Divino "se apascenta entre os lírios"
(Cânt 2, 16). Esses lírios representam as virgens que conservam sua pureza por amor
de Deus. Um expositor nota o seguinte nessa passagem dos Cânticos:
"Enquanto o demônio procura a imundície da impureza, Jesus Cristo se
apascenta [isto é, descansa,] entre os lírios da castidade".
O
que, porém, deve aumentar consideravelmente a nossos olhos o valor da virgindade,
é o louvor extraordinário que lhe tece o Espírito Santo, dizendo: "Tudo o que
se aprecia não é comparável a uma alma continente" (Ecli 26, 20). Isso
mesmo nos deu a entender a Santíssima Virgem, quando disse ao Arcanjo que Lhe
anunciava a divina maternidade: "Como se dará isso, se não conheço
varão?" (Lc 1, 14). Maria, com essas palavras, mostrou que preferiria
renunciar à dignidade de Mãe de Deus, a perder o tesouro de Sua virgindade.
Segundo
São Cipriano, a pureza virginal é a rainha de todas as virtudes e o complemento
de todos os bens. Santo Efrém escreve que as virgens que guardam a sua pureza
por amor de Jesus Cristo, serão favorecidas por Ele em todos os pontos. São Bernardo
acrescenta que a virgindade habilita a alma, de um modo todo especial, a ver o Divino
Esposo nesta vida pela fé, e na
outra pela luz da glória. Imensa é a glória que Jesus Cristo prepara no Céu às
Suas esposas que na terra Lhe consagraram sua virgindade. Nosso Senhor mostrou
um dia à Sua grande serva Lucrécia Orsini os sublimes tronos que ocuparão
aqueles que serviram a Jesus Cristo em pureza virginal. Ao que exclamou ela:
"Oh! Quão agradáveis não são a Jesus e a Maria as virgens!" Os
teólogos afirmam que as virgens receberão no Céu uma auréola especial, sendo
ornadas com uma luzente coroa de honra e glória, pois se diz na Sagrada Escritura,
a respeito das virgens: "Ninguém podia cantar esse cântico, senão aqueles cento
e quarenta e quatro mil que foram comprados na terra". Explicando essa passagem,
diz Santo Agostinho que a glória que Jesus Cristo concede às Virgens não confere
aos outros Santos.
II.
Grande é a satisfação de Jesus Cristo quando alguém se associa ao número de Suas
esposas. Isso declaram aquelas palavras dos Cânticos: "Vinde, ó filhas de
Sião, e vede o rei Salomão com o diadema com o qual o coroou sua mãe no dia de
suas núpcias, no dia da alegria de seu coração" (Cânt 3, 11). Isso, porém,
vale só daquelas almas que se consagraram sem restrição ao amor do Esposo
Divino. Desposando Jesus uma tal alma, quer que todo o Céu se alegre com Ele e
entoe hinos de regozijo: "Alegremo-nos e exultemos e demos-Lhe glória, porque
são chegadas as bodas do Cordeiro e Sua esposa está ornada" (Apoc 19, 7).
Os ornatos com que Jesus quer ver ataviadas Suas esposas são as virtudes,
particularmente o amor e a pureza, que são apresentadas nos Cânticos como
coroas de prata e de ouro: "Nós te faremos umas cadeias de ouro listradas
de prata" (Cant 1, 10). São estas as vestes pomposas e as joias com que o
Senhor atavia Suas esposas, e das quais fala Santa Inês: "Ele circundou minha
direita e meu pescoço com um colar de pedras preciosas, revestiu-me com um hábito
bordado a ouro e ornado com artísticos relevos e deslumbrantes adornos".
Os
seculares buscam coisas terrenas, mas as esposas de Jesus Cristo nada mais querem
senão Deus; por isso delas se pode afirmar ao pé da letra: "Esta é a geração
dos que buscam a Deus" (Sl 23, 6). "Ó esposas do Redentor, exclama
São Tomás de Villanova, não deveis buscar qual de vós sobrepuja as outras por
seu nascimento, seus talentos ou fortuna; examinai, antes, quem é mais
agradável ao Esposo Divino, quem vive unida mais intimamente a Ele, quem é mais
humilde, pobre e obediente". Ouçamos também o que diz o Espírito Santo:
"Filho, quando entrares ao serviço de Deus... prepara tua alma para a
tentação" (Ecli 2, 1), para sofreres com humildade e paciência, pois "o
ouro e a prata se provam no fogo, e os homens que Deus quer receber, na fornalha
da humilhação" (Id. v. 5). "Ninguém pode servir a dois senhores"
(Mat 6, 24), a Deus e ao mundo. quem, portanto, quiser consagrar-se a Deus deve
renunciar ao mundo, e quem quiser tornar-se esposa de Jesus Cristo deverá
exclamar incessantemente: "Deus só é todo o meu tesouro e meu único
bem".
São
José de Calazans diz que, se não se der a Jesus todo o coração, não se Lhe deu
nada. Isso é inteiramente verdade, porque nosso coração já é em si muito
pequeno para amar dignamente a um Deus que merece um amor infinito; e esse
pequeno coração deveria ainda ser dividido entre Deus e as criaturas?
Como
poderás, pois, tu, alma cristã, te incomodares com o mundo, depois de te consagrares
a Deus? Esquece de tudo o mais e procura guardar o teu coração inteiro para teu
Divino Esposo, que escolheste para Lhe dedicares todo o teu amor. Eu disse: teu
coração inteiro, porque Jesus Cristo quer que Sua esposa seja "um jardim
fechado e uma fonte selada" (Cânt 4, 12); um jardim fechado, pois não deve
receber a ninguém mais senão a seu Divino Esposo; uma fonte selada, porque esse
Divino Esposo é zeloso e não permite que encontre entrada no coração de sua
esposa outro amor que o amor por Ele. Por isso diz-Lhe: "Quero que me
coloques como um selo sobre teu coração e sobre teu braço" (Cant 8, 6),
para que a ninguém mais ames senão a Mim, e para que todos os teus atos sejam
feitos com a única intenção de Me agradares. O Amado é colocado como um selo
sobre o coração e o braço, diz São Gregório, quando a alma mostra por sua
vontade (isto é, o coração) e por suas ações (isto é, o braço), quanto ama a
seu celeste Esposo.
Quando
o amor divino reina numa alma, expulsa toda a afeição que não se refere a Deus,
pois "o amor é forte como a morte" (Id. it.). Como nada há que possa
resistir à veemência da morte quando é chegada a sua hora, assim também não há
nenhum impedimento e nenhuma dificuldade que não seja superada pelo amor
divino, quando ele se apodera de um coração. "Se um homem der todas as
riquezas de sua casa, ele as desprezará como se nada tivesse dado" (Id.,
v. 7). Um coração que ama a Deus, despreza tudo o que lhe oferece e pode
oferecer o mundo; numa palavra, ele despreza tudo o que não é Deus. São Bernardo
diz que Deus, como nosso Senhor, exige de nós temor; como Pai, respeito; como
Esposo, porém, unicamente amor.
A
Venerável Francisca Farnese não conhecia meio mais eficaz para estimular a si e
às suas companheiras a tender à perfeição, do que a recordação de que eram
esposas de Jesus Cristo. Está fora de dúvida, dizia ela, que cada uma de vós
foi escolhida por Deus para se tornar santa, pois que vos concedeu agrande
honra de vos fazer Suas esposas. E, de fato, é essa uma graça inapreciável, que
exige uma fiel cooperação. Santo Agostinho escreveu a uma virgem consagrada a
Deus: "Tens um Esposo que é mais belo que tudo o que existe no Céu e na
terra, e que te deu um penhor seguro de Seu amor escolhendo-te para Sua esposa.
Podesc oncluir disso quão obrigada estás a pagar o Seu amor". Ó esposa de
Jesus Cristo, não te ocupes mais contigo e com o mundo; não pertences mais ao
mundo, nem a ti mesma, mas a Deus; e cuida unicamente em viver para esse Esposo
que escolheste.
Escolheste
a Deus por Esposo, mas primeiramente te escolheu o Senhor para Sua esposa.
Quantas almas não deixou Ele no mundo, não lhes concedendo os favores que a ti
fez? O Salvador preferiu-te a todas essas almas, não por seres mais digna, mas
por te amar mais que às outras. Por isso te diz o Senhor, pela boca do Profeta
(Ez 16, 8), que o tempo que te resta de vida é "um tempo para amar".
Deves ligar-te a Jesus, teu Esposo, com toda a tua confiança e, com todo o teu
amor, prender-te a Ele, que te amou desde a eternidade, que te criou por Sua
bondade, e te chamou a Seu santo amor por meio de tantas graças especiais. Por
isso, se o mundo solicitar o teu amor, ó esposa de Jesus Cristo, diz-lhe com
Santa Inês: "Aparta-te de mim, pábulo da morte. Desejas o meu amor, mas eu
não posso amar a mais ninguém do que a meu Deus, que me amou primeiro".
"Porque és a esposa de um Deus, diz São Jerônimo, reveste-te de um santo orgulho".
Os seculares se orgulham de sua união com pessoas nobres e ricas; tu, porém, podes
te gloriar de uma sorte muito melhor, porque te tornaste esposa de um Rei Celeste.
Dize, pois, cheia de alegria e santo orgulho: "Achei a quem meu coração
ama; prende-lo-ei com meu amor e não O largarei mais" (Cant 3, 4). De
fato, é uma imensa felicidade para uma virgem quando ela pode gloriar-se e dizer:
"Aquele a quem os Anjos do Céu desejam servir, é meu Esposo. Meu Criador escolheu-me para Sua esposa, e,
como Ele é o Rei e o Senhor do mundo, cingiu-me igualmente com uma coroa de
rainha".
Deves
saber, entretanto, ó esposa do Senhor que lês esses louvores, que não possuis
irrevogavelmente essa coroa enquanto permaneceres aqui na terra; poderás perdê-la
novamente por tua culpa; para que ninguém ta roube, segura-a fortemente (Apoc
3, 11). Renuncia às criaturas, une-te cada vez mais intimamente a Jesus Cristo pel
oamor e pela oração, e suplica-Lhe sem cessar que não permita que te tornes
outra vez infiel. Deves dizer-Lhe: Ó Jesus, meu divino Esposo, não permitais
que me separe de Vós.
E
quando as criaturas quiserem apoderar-se de teu e daí expulsar Jesus Cristo, dize
desassombradamente com o Apóstolo, confiada na assistência divina: "Quem
me separará do amor de Jesus Cristo? Nem a morte, nem a vida, nem criatura
alguma será capaz de nos separar do amor de Deus" (Rom 8, 35).
[Nota:
Quando o Santo Doutor fala da santa virgindade, refere-se às almas, tanto das
mulheres quanto dos homens]
(SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Escola da Perfeição Cristã,
compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, tradução do
padre José Lopes, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955, páginas
186-204 e 338- 343).
quarta-feira, 19 de junho de 2013
As manifestações do “Movimento passe livre" segundo Padre Cristóvão
Por Padre Cristóvão
Vendo a vibração de certos católicos ditos
conservadores com as manifestações organizadas pelo “Movimento passe livre” em
São Paulo, que eclodiu em outras tantas por todo o país, penso ser importante
alertar para os seguintes aspectos:
1. O movimento é uma organização geneticamente
revolucionária, regida pelos princípios do Fórum Social Mundial (cf. http://mpl.org.br/node/2).
Sua organização é anárquica (http://mpl.org.br/node/5,
vide “horizontalidade”) e seus esforços se colocam em sintonia com os dos
demais movimentos de desintegração social, como o gayzismo, o laicismo beligerante,
o etnicismo etc. (cf. http://mpl.org.br/node/1). Embora alegue seu apartidarismo,
confessa seu não antipartidarismo. Parece tão ingênuo e impoluto… E o diz
propositalmente para parecê-lo. Mas…
O princípio para avaliar uma manifestação de massa
é o uso político que dela se faz, que quase sempre não coincide com o motivo
declarado explicitamente pelos manifestantes. De modo que, acima de tudo,
atente-se que a não dependência partidária explícita não é sinônimo de
independência da gerência partidária implícita. Aliás, de onde vem o dinheiro
usado pela organização? E o comando para a mobilização das mídias, que acabaram
se transformando em meio direto de convocação das hostes?
2. As críticas dirigidas pelos manifestantes ao PT
são de que este não é tão comunista como queriam que fosse. Sendo assim, a
vitória não é do partido, mas da mentalidade comunista, hegemonicamente
presente na cultura popular. Este é o resultado da não oposição ideológica à
revolução gramsciana, há décadas invicta em nossa nação.
3. Para quem pensa ser contraditório a esquerda
colocar-se contra si mesma, não se esqueça de que a psicologia dialética é
essencialmente suicida. Desta forma, na elaboração marxista, o socialismo é
apenas uma etapa autodestrutiva para a implantação do comunismo; e aquela,
estrategicamente, seria antecedida eventualmente por outras etapas, de igual
modo autoaniquilatórias. Portanto, o PT é consciente de ser apenas uma etapa a
ser superada naquele horizonte; e isto não é acidental, é totalmente programado
para ser assim.
4. Historicamente, o movimento revolucionário
sempre trabalhou:
a) com uma dinâmica contraditória, para espalhar
confusão e dissolução na sociedade;
b) com a matização dos mesmos preceitos em
modelos diferentes de radicalidade, para fugirem da acusação de extremismo, enquanto
falsamente se encaminham para a execução dos mesmos objetivos;
c) com a implantação do vitimismo e da revolta,
como elemento aglutinador de forças beligerantes;
d) fazendo com que este laboratório de engenharia
social culminasse com a eliminação de alguns de seus opositores (a Igreja ou
outras instituições conservadoras). Assim, por exemplo, começaram a revolução
francesa e a guerra civil espanhola, todas, na origem, meras manifestações
inocentes de vitimismo e, no fim, assassinas e anticlericais.
Adendo.
Em 1936, aconteceu uma aparição de Nossa Senhora no
Brasil, em Pernambuco, na cidade de Pesqueira, na vila de Cimbres, num lugarejo
denominado Sítio da Guarda. A aparição, pouco conhecida, foi aprovada pela
autoridade eclesiástica da época.
Ali, a Virgem disse a duas meninas: “Minhas filhas,
virão tempos calamitosos para o Brasil! Dizei a todo o povo que se aproximam
três grandes castigos, se não for feita muita penitência e oração”.
O sacerdote, depois, as interrogou durante uma
aparição, na qual ele perguntava diretamente à Virgem (em latim e alemão,
idiomas ignorados pelas videntes) e Ela respondia às crianças, que lhe
transmitiam a resposta:
“- O sangue que inundará o Brasil”.
“-Virá o comunismo a penetrar no Brasil?”
“- Sim”.
“- Os padres e os bispos sofrerão muito?”
“- Sim.”
“- Será como na Espanha?”
“- Quase”.
“- Quereis que se pregue sobre este assunto?”
“- Sim”.
Tempos depois, a Virgem voltou a aparecer a uma das
videntes, dizendo-lhe: “Nunca mais me manifestarei aqui em Guarda e os três
castigos não virão JÁ, porque o povo está melhor; mas é necessário ainda
rezar muito e fazer penitência”.
* * *
Apresentamos a seguir artigo extraído do blog do
Planalto, que curiosamente está fora do ar desde o início da tarde. O link para
acesso em cache é este.
A presidenta Dilma Rousseff elogiou, nesta
terça-feira (18), o civismo da população brasileira, que foi às ruas em
manifestações nas principais cidades do país. Segundo Dilma, foi bom ver tantos
jovens e adultos defendendo um país melhor. Em discurso, a presidenta disse
ainda que está ouvindo as vozes pela mudança.
“O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das
manifestações de ontem comprovam a energia da nossa democracia. A força da voz
da rua e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, (…)
juntos com a bandeira do Brasil, cantando o hino nacional e dizendo com orgulho
‘sou brasileiro’ e defendendo um país melhor”, disse.
A presidenta afirmou que seu governo está empenhado
e comprometido com a transformação social. Ela citou como exemplo a elevação de
40 milhões de pessoas à classe média. Segundo Dilma, as pessoas mudam porque o
Brasil mudou, com mais inclusão, elevação de renda, acesso ao emprego e à
educação.
“Surgiram cidadãos que querem mais e que tem
direito a mais. Sim, todos nós estamos diante de novos desafios. Quem foi ontem
às ruas querem mais. As vozes das ruas querem mais cidadania, mais saúde, mais
educação, mais transporte, mais oportunidades. Eu quero aqui garantir a vocês
que o meu governo também quer mais, e que nós vamos conseguir mais para o nosso
país e para o nosso povo”, afirmou.
Princípios cristãos para manifestações democráticas
Para se construir um País melhor não é necessário
destruir o que temos agora
Roma, 18 de Junho de 2013 (Zenit.org) Pe. Anderson Alves
Pe. Anderson Alves |
Segundo as declarações[i] de alguns
organizadores dos atuais protestos no Brasil, podemos perceber que as
manifestações estão sendo organizadas por grupos de profunda inspiração
marxista, que julgam que o atual governo não é tão radical como deveria
ser[ii]. Por isso, pretendem mudar todo o sistema, aproveitando-se de pessoas
de boa vontade, que justamente querem mudanças na vida social. Assim, pessoas
bem intencionadas são usadas por grupos radicais que analisam a realidade de
modo dialético e que, no fundo, pretendem uma revolução violenta, popular e
nada democrática. Algo de semelhante ocorre em diversos países do mundo. Como
esses grupos radicais não ganham suficientes votos, pretendem impor suas ideias
por meio da força de alguns “heróis” e pela manipulação emotiva das grandes
massas.
Sendo assim, agem transmitindo a ideia de que farão
uma manifestação pacífica, incitando os sentimentos e a boa vontade de muitos.
Atraem muita gente que realmente se manifesta de modo pacífico; porém, em certo
momento, acabam utilizando métodos violentos para sofrer uma justa resposta das
ordens de segurança e se apresentarem como vítimas do Estado repressor. O objetivo
é desestabilizar os governos e todos os partidos políticos, através da
manipulação popular. Depois das manifestações passam a ideia de que a violência
não era intencional, mas que foram pessoas “infiltradas” que a promoveram.
Em síntese, no atual momento devemos ter espírito
crítico para averiguar se os violentos são “aproveitadores” e “infiltrados” nas
manifestações, ou se são os seus mesmos organizadores, que se aproveitam do
apoio popular para justificar assim suas ideias e métodos revolucionários.
De qualquer modo, sobre as manifestações populares,
pode-se dizer que em todos os países democráticos existem e deve ser protegido
o direito de se manifestar nas ruas: seja por meio de passeatas, seja por meio
de greves. Mas isso deve ser feito com ordem. Na prática significa:
1) As manifestações públicas devem ser programadas
e devem contar com a autorização do poder público. Devem ser em dia, hora e
local determinados. A polícia deve estar presente para garantir o direito das
pessoas se manifestarem, sem serem agredidas. Evidentemente, a polícia também
não pode ser agredida e os bens públicos ou privados não devem ser destruídos
ou danificados; para se construir um País melhor não é necessário destruir o
que temos agora;
2) As manifestações não podem paralisar cidades
inteiras, porque os que tem o direito de protestar devem respeitar o direito de
quem não quer participar. O direito de protestar não pode negar a ninguém o
direito de ir e vir, por exemplo. Avenidas públicas importantes não podem ser
totalmente fechadas. Não pode ser impedida a circulação de ambulâncias, da
polícia, dos bombeiros ou de quem simplesmente não quer participar nos
protestos. Por isso, o ideal é que esses atos ocorrram nos domingos ou
feriados;
3) As greves devem ser justas e, na medida do
possível, criativas, sem causar graves danos às empresas ou ao País. Na Itália,
por exemplo, recentemente um grupo de pedreiros fez uma greve trabalhando um
dia na reforma de praças públicas. Assim demonstravam que não falta trabalho e
que os trabalhadores devem ser valorizados.
Por fim, as manifestações devem ter objetivos
concretos e realizáveis. Reivindicar tudo significa o mesmo que reivindicar
nada, pois se tudo é direito, nada é direito. Em palavras mais sábias e claras:
“Os direitos individuais, desvinculados de um quadro de deveres que lhes
confira um sentido completo, enlouquecem e alimentam uma espiral de exigências
praticamente ilimitada e sem critérios. A exasperação dos direitos desemboca no
esquecimento dos deveres. Estes delimitam os direitos porque remetem para o
quadro antropológico e ético cuja verdade é o âmbito onde os mesmos se inserem
e, deste modo, não descambam no arbítrio. Por este motivo, os deveres reforçam
os direitos e propõem a sua defesa e promoção como um compromisso a assumir ao
serviço do bem. (...) A partilha dos deveres recíprocos mobiliza muito mais do
que a mera reivindicação de direitos” (Papa Bento XVI, Caritas in
Veritate, n. 43).
[ii] O “Movimento Passe Livre” que está
organizando grandes manifestações em São Paulo tem seu estatuto publicado na
internet. Dizem explicitamente que a “via parlamentar não deve ser o
sustentáculo do MPL, ao contrário, a força deve vir das ruas”. Afirmam que têr
como “perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do
transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização,
colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população”. Cfr. http://mpl.org.br/node/1
(18 de Junho de 2013)
terça-feira, 18 de junho de 2013
Tratado da Castidade - 5ª Parte
TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
5ª Parte
§ V. DA VIRGINDADE
Santo Afonso |
São
Cipriano (De disc. et hab. virg.) denomina a multidão de virgens que se consagram
ao amor de seu Divino Esposo, de "a mais nobre porção da Igreja de
Cristo". Vários outros Santos Padres, como Santo Efrém, Santo Ambrósio,
Santo Agostinho, São Jerônimo, São Crisóstomo, escreveram livros inteiros em
louvor da virgindade. Não é minha intenção expor aqui todos os méritos e
vantagens que adquirem as pessoas que consagraram a Deus sua virgindade; disso
tratarei extensamente no capítulo IV da III parte, que trata do voto de
castidade [que reproduzimos logo abaixo]. Aqui farei
seguir, simplesmente, uma instrução para os que levam uma vida virginal sem terem
emitido o voto de castidade.
As
almas virgens são extraordinariamente belas aos olhos de Deus: "Serão como
os Anjos de Deus no Céu" (Mat 22, 30). Barônio conta que na morte de uma
virgem, chamada Geórgia, uma multidão de pombos adejavam ao redor da casa e,
quando seu cadáver foi transportado à igreja, pousaram no teto, exatamente em
cima do lugar onde se achava o caixão, e daí não se retiraram até ser sepultada
a piedosa virgem (An. 480). Essas pombas certamente eram Anjos, que queriam
prestar as últimas honras àquele corpo virginal.
As
almas virginais, que renunciaram ao casamento para se dedicarem exclusivamente
ao amor de Jesus Cristo, tornam-se esposas do Filho de Deus. Nos Santos
Evangelhos, Jesus Cristo é chamado Pai, Mestre, Pastor das almas; referindo-se as
virgens, porém, dá-Lhe o nome de Esposo: "Elas saíram a receber o Esposo e
a Esposa" (Mat 25, 1). Por isso, tinha razão Santa Inês, respondendo,
segundo Santo Ambrósio, aos que lhe ofereciam a mão do filho do prefeito de
Roma: "Ofereceis-me um esposo? Já encontrei um muito melhor" (De
virg., 1. 1). Semelhante resposta deu Santa Domitila, sobrinha do imperador
Domiciano, aos que queriam persuadi-la a casar-se com Aureliano:
"Dizei-me: a quem deveria escolher por esposo uma jovem pedida em
casamento por um monarca e por um camponês? Para casar-me com Aureliano, teria de
renunciar ao Rei do Céu. Ora, isso seria uma loucura inominável, que nunca praticarei".
E, firme nessa resolução, deixou-se queimar viva, para poder permanecer fiel a
Jesus Cristo, a Quem consagrara sua virgindade.
Quem
poderá imaginar a glória que Deus reserva a Suas castas esposas lá no Céu?
Os teólogos são de opinião que no Céu existe uma glória especial reservada às virgens,
uma coroa ou alegria particular, de que estão privados os outros Santos. Mas,
dir-me-á uma ou outra jovem: 'Ora, casando-me também poderei santificar-me'. Não
receberás a resposta da minha boca, mas da de São Paulo, que te dirá também a
diferença que existe entre as virgens e as casadas: "A mulher virgem pensa
nas coisas que são do Senhor, para que seja santa no corpo e no espírito. Mas,
a que é casada, pensa nas coisas que são do mundo, em como agradar ao marido.
Em verdade, digo isso para vosso proveito... para vos exortar ao que vos convém
e vos facilita a orar ao Senhor sem embaraço" (I Cor 7, 34).
Deve-se,
pois, notar que as casadas, sem dúvida alguma, podem ser santas segundo o
espírito, ao passo que as virgens, que amam a Deus, o são de corpo e espírito. Tome-se
também em consideração estas palavras: "O que facilita servir a Deus sem impedimento".
Quantos impedimentos não encontram as casadas na sua tendência à santidade! E
esses obstáculos são tanto maiores, quanto mais elevada a sua condição [social].
Para
nos fazermos santos temos de empregar os meios e, antes de tudo, nos consagrar
à oração mental, receber amiúde os Santos Sacramentos, e pensar sem interrupção
em Deus. Ora, quando uma senhora casada achará tempo para cuidar naquilo que é
do Senhor? Ela se ocupará com as coisas deste mundo, diz São Paulo, cuidará em
agradar a seu marido, olhará pelas necessidades de sua família, pelo seu sustento
e vestes, vigiará a educação de seus filhos, atenderá aos parentes e amigos, pensará
continuamente nos seus afazeres; seu coração ficará assim dividido entre seus filhos,
seu marido e Deus. Como encontrar tempo para se entregar a longas orações mentais,
para receber muitas vezes a Comunhão, se nem lhe resta tempo para cuidar de todas
as obrigações de sua casa e estado? O marido quer ser atendido, os filhos
gritam e choram, querendo mil coisas diversas. Como meditar entre tantos
cuidados e perturbações? Muitas mães de família nem mesmo aos domingos podem ir
à igreja. É verdade, ela pode conservar a sua boa vontade, mas sempre lhe será
custoso cuidar, como convém, do que é do Senhor. Não há dúvida de que pode
adquirir grandes merecimentos em razão de tais provações, entregando-se à
Vontade de Deus que, em tais condições, não que mais do que um sacrifício
perene de resignação e paciência; mas, no meio de tantas distrações e
tribulações, é quase impossível, é mesmo heroísmo, praticar a virtude da
paciência e conformidade, sem o exercício da oração e a recepção dos
Sacramentos... Mas, prouvera a Deus que as senhoras casadas nada mais tivessem
a deplorar que a falta de tempo necessário para seus exercícios de piedade.
A
má conduta do marido, os desgostos causados pelos filhos, os negócios da casa,
as molestas atenções que se devem à sogra e aos cunhados, as suspeitas, as inquietações
de consciência quanto à vida conjugal e educação dos filhos, tudo isso origina
um mar de tribulações, no qual passam sua vida entre suspiros e lágrimas. E felizes
se conseguirem salvar sua alma e alcançarem de Deus a graça de não deixarem o inferno
desta vida para se precipitarem no inferno eterno! Esta é a bela
sorte das jovens que se consagram ao mundo... [grifo do original]
Mas,
entre tantas mulheres casadas, não haverá uma só que se santifique? Sim, existem
também Santas casadas. Porém, quais são estas? As que se santificam pelo martírio,
que sofrem tudo por amor de Deus, com uma paciência que nada abala. Mas, quantas
se elevarão a tal perfeição? Ah! Mui poucas. E se encontrares uma tal, verás que
deplora amargamente ter escolhido o partido do mundo, tendo podido, com tanta facilidade,
consagrar-se a Jesus Cristo.
Verdadeiramente
felizes são aquelas virgens que se consagram por inteiro e exclusivamente ao
seu Divino Salvador. Estas estão livres dos perigos em que se acham as casadas.
Seu coração está desembaraçado do apego aos filhos e marido, aos bens transitórios,
ao luxo vão ou a outras coisas do mundo.
E,
quando as mulheres casadas se vêem obrigadas a empregar muitos cuidados e grandes
somas com seu traje, para aparecer ao mundo à altura de sua posição e agradar a
seu marido, a virgem que se consagrou a Jesus Cristo se contenta com um vestido
simples e desataviado, pois, do contrário, daria escândalo. Todos os seus
pensamentos e cuidados tendem a agradar a Jesus, a quem dedicou seu corpo, sua
alma, seu amor todo. Assim, possui ela também mais liberdade de espírito para
pensar em Deus e mais tempo para se entregar à oração e receber os Sacramentos.
Se
não te sentes chamada, alma cristã, ao estado conjugal, nem ao religioso, mas desejas
fazer-te santa no mundo, como verdadeira esposa de Jesus Cristo, toma a peito os
seguintes conselhos: Para a santificação, não é suficiente que uma virgem traga
ilibada a sua pureza e use o nome de esposa de Jesus Cristo; é preciso também
praticar as virtudes de uma esposa de Jesus. No Evangelho é o reino dos Céus
comparado a umas virgens. Mas que virgens? Às virgens prudentes e não às
loucas. Aquelas foram introduzidas na sala das núpcias; a estas foi a porta
fechada e ouviram do Esposo: Não deixais de ser virgens, mas eu não vos
reconheço por esposas minhas. As verdadeiras esposas de Jesus seguem o Esposo
para onde quer que Ele vá (Apoc 14, 4). que quer dizer seguir o Esposo? Santo
Agostinho explica que é prender-se a Ele (De s. virg., c. 7). Depois de Lhe
teres sacrificado teu corpo, deves ainda consagrar-Lhe todo o teu coração, de
tal forma que só te ocupes em amá-lO. Para isso, deves empregar os meios para
pertencer exclusivamente a Ele.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Tratado da Castidade - 4ª Parte
TRATADO DA CASTIDADE
Bem-aventurados os puros
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO)
4ª Parte
§ IV. DA GUARDA DO CORAÇÃO
Santo Afonso |
1) Descrevendo São Paulo a corrupção moral dos gentios, enumerava entre seus vícios a falta de sentimento e de susceptibilidade para a amizade. A amizade, segundo São Tomás, é mesmo uma virtude. A perfeição não proíbe se entretenham amizades, diz São Francisco de Sales; exige somente que sejam santas e edificantes, a saber, só devem ser mantidas aquelas uniões espirituais por meio das quais duas, três ou mais pessoas, comunicam entre si seus exercícios de devoção, seus desejos piedosos e sentimentos nobres, tornando-se como que um só coração e uma só alma para a glória de Deus e o bem espiritual próprio e alheio. Com toda a razão podem tais almas exclamar: "Vede quão bom e suave é habitarem os irmãos em união" (Sl 132, 1). São Francisco diz mais que, em tal caso, o suave bálsamo da caridade destila de coração em coração por meio dessas mútuas comunicações, e bem pode-se dizer que Deus lança Sua benção sobre tais amizades, por toda a eternidade (Fil., III, c. 19).
Tais
amizades são recomendadas pela Escritura mesma, em termos eloquentes: "Nada
se pode comparar com o valor de um amigo fiel, e o valor do ouro e da prata não
iguala a bondade de sua fidelidade" (Ecli 6, 16). "Um amigo fiel é um
remédio para a vida e a mortalidade, e os que temem o Senhor encontram um
tal" (Idem). Mas como podeis aconselhar as amizades particulares, dirá
alguém, quando elas são tão rigorosamente condenadas por todos os ascetas?
Respondo: As amizades particulares são proibidas unicamente nos claustros e com
toda a razão, pois é imperiosamente necessário que todos os religiosos se amem
mutuamente com amor fraterno, para que haja uma vida comum claustral. Ora, num
claustro, as amizades particulares podem facilmente ocasionar perturbações
dessa mútua caridade, dando ocasião a invejas, suspeitas e outras misérias
humanas. São Basílio não hesitou dizer que as amizades particulares em um
convento são uma sementeira perpétua de invejas, de desconfianças e inimizades.
O mesmo acontece nas famílias em que o pai ou a mãe tem mais carinhos para um
filho que para os outros. Os filhos de Jacó odiavam seu irmão José, porque seu
pai lhe dedicava um amor especial.
Não
há, além disso, nenhum motivo de se alimentar tais amizades num estado religioso,
pois, num convento, onde reinam a disciplina e a ordem, todos os membros tendem
ao mesmo fim, à perfeição, e não é necessário travar amizades particulares para
animar-se mutuamente ao serviço de Deus e ao trabalho do aperfeiçoamento
próprio.
Os
que, vivendo no mundo, desejam dedicar-se à prática da virtude verdadeira e sólida,
precisam, pelo contrário, de se unir aos outros por uma amizade santa e edificante,
para poderem, por meio dela, se animar, se auxiliar e se estimular ao bem. Há
no mundo poucas pessoas que tendem à perfeição e muitas que não possuem o espírito
de Deus e, por isso, é preciso que os bons, quanto possível, evitem os que podem
impedir seu adiantamento espiritual e travem amizade com os que os podem auxiliar
na prática do bem.
2)
Quanto às amizades puramente naturais, deve-se dizer que elas têm seu fundamento
na nossa natureza, que nos compele a amar nossos pais, nossos benfeitores e
todos aqueles em quem vemos belas qualidades e com quem simpatizamos. Esta espécie
de amizade é o laço da família e da sociedade, mas facilmente degenera em amizades
falsas; por exemplo, se os pais, por um carinho demasiado, toleram as faltas de
seus filhos, ou se um amigo ofende a Deus para agradar a seu amigo, etc. As amizades
naturais só são agradáveis a Deus se as santificarmos por meio da boa intenção;
por exemplo, amando a nossos pais e amigos por amor de Deus.
3)
Por amizades perigosas entendem-se, em particular, as sensuais, isto é, aquelas
que se baseiam sobre uma complacência sensual, sobre a fruição comum de prazeres
dos sentidos, sobre certas qualidades fúteis e vãs de espírito e coração. Essas
amizades são já por si perigosas, mesmo que, no começo, nada tenham de inconveniente,
e devemos guardar nosso coração desembaraçado delas.
a)
"Quem não evita relações perigosas, cai facilmente no abismo", diz
Santo Agostinho (Serm. 293). O triste exemplo de Salomão bastaria para nos
encher de terror. Depois de ter sido amado tanto por Deus, servindo ao Espírito
Santo de mão para escrever, travou relações com mulheres pagãs, já na sua
velhice, e caiu tão profundamente que chegou a sacrificar aos deuses. Isso,
porém, não nos deve estranhar, pois, será para admirar que alguém se queime,
permanecendo no meio das chamas? - pergunta São Cipriano (De sing. cler.). Mas
em nossas conversas, graças a Deus, não ocorre nada de mal, dirá alguém. Respondo:
Todas as amizades que têm sua origem em afeições meramente materiais são, pelo
menos, um grande impedimento à perfeição, ainda que não dessem ocasião a outras
coisas. Elas, no mínimo, fazem-nos perder o espírito de oração e recolhimento interior;
a alma que está presa por uma afeição natural poderá achar-se corporalmente na
igreja, mas seu espírito estará se entretendo com o objeto de seu amor; perderá
o amor aos Santos Sacramentos; não será mais sincera para com seu confessor,
temendo que ele a obrigue a romper com essa cadeia e, envergonhando-se de lhe
descobrir sua afeição, não lhe dirá a causa de sua tibieza, e assim se agrava,
de dia para dia, seu estado lastimoso. Ao ouvir que fala mal da pessoa amada,
se enfurece, defende-a calorosamente; descuida-se da obediência, pois quando o
confessor a exorta a renunciar a tal amizade, procura mil desculpas para não
ter de obedecer.
Não
é só grande a perda espiritual que se sofre com essas amizades baseadas sobre
certas qualidades externas duma pessoa, mas, principalmente se for doutro sexo,
é também enorme o perigo que se corre de se se perder eternamente. No começo
tais amizades parecem indiferentes, mas tornam-se pouco a pouco pecaminosas e,
enfim, arrastam a alma ao pecado mortal. "São como o fogo e a palha, e o
demônio não cessa de assoprar até irromper o incêndio", diz São Jerônimo.
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