Das Cartas de São João Bosco,
presbítero
(Epistolario, Torino 1959, 4,201-203)
(Séc.XIX)
Antes de mais nada, se queremos ser
amigos do verdadeiro bem de nossos alunos e levá-los ao cumprimento de seus
deveres, é indispensável jamais vos esquecerdes de que representais os pais
desta querida juventude. Ela foi sempre o terno objeto dos meus trabalhos, dos
meus estudos e do meu ministério sacerdotal; não apenas meu, mas da cara
congregação salesiana.
Quantas vezes, meus filhinhos, no
decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais
fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que
persuadi-la. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa
soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando-os com firmeza
e suavidade.
Tomai cuidado para que ninguém vos
julgue dominados por um ímpeto de violenta indignação. É muito difícil, quando
se castiga, conservar aquela calma tão necessária para afastar qualquer dúvida
de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou descarregar o próprio mau
humor. Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo
poder. Ponhamo-nos a seu serviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e
não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de
dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos.
Assim procedia Jesus com seus
apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca
fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais
que em alguns causava espanto, em outros escândalo, mas em muitos infundia a
esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos
dele a ser mansos e humildes de coração.
Uma vez que são nossos filhos,
afastemos toda cólera quando devemos corrigir-lhes as faltas ou, pelo menos, a
moderemos de tal modo que pareça totalmente dominada.
Nada de agitação de ânimo, nada de
desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; então sereis verdadeiros pais e
conseguireis uma verdadeira correção.
Em determinados momentos muito graves,
vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante ele, do que uma
tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não têm proveito algum
para quem as merece.
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