Pe.
Júlio Maria de Lombaerde
Entre amigos, que vivem juntos,
formando um só coração, uma só alma, há uma coisa que mostra a afeição mútua ao
mesmo tempo em que a sustenta e alimenta; é emprestar uns aos outros diversos
pequenos objetos, de que se precisa, às vezes, inesperadamente, sem tê-los à
mão. E o outro é feliz em emprestar este objeto. Será talvez um livro, um
canivete, um instrumento qualquer. E nós, que vivemos perto da Santíssima
Virgem, nessa comunhão de todo instante, não nos seria possível emprestar-lhe,
às vezes, qualquer coisa?
Delicioso e doce pensamento! Vou
emprestar-me a Maria Santíssima.
Ó minha Mãe, eu te empresto as minhas
mãos. Digna-te servir-te delas para socorrer todos aqueles que precisarem. Com
minhas mãos tu darás, tu guiarás, tu aliviarás.
Eu serei o criado, o escravo, dando,
guiando, aliviando com estas mãos, que eu te emprestei.
Querida Mãe, eu te empresto minha
língua, serve-te dela para consolar, aconselhar, animar e rezar. Serás tu que
farás tudo isso, por minha língua; e eu ainda serei criado, agindo para Ti e
sob a tua influência.
Ó Maria, eu te dou minha inteligência.
Toma-a e dela te serve para instruir, iluminar; para falar de Ti e a Ti. E eu
sempre pobre criado não deixarei entrar nessa inteligência nada, que não seja
de Ti e para Ti.
Ó Maria, eu te dou a minha vontade. Ela
é fraca, vacilante, inconstante, inclinada ao mal..., mas, pouco importa, eu te
empresto esta vontade, para que tu dela aproveites para a maior glória de Deus.
Ó Maria, eu te empresto o meu coração.
Tu queres ainda viver entre nós para amar, compadecer, para enxugar as
lágrimas. E para assim amar, precisas de um coração, aqui na terra. Toma o meu
e nele coloca a tua bondade, tua ternura, tua dedicação e que, em todas as
almas, com que tratarei, possa eu derramar um pouco de tua bondade e de teu
amor de Mãe.
Ó Maria, eu te empresto o meu ser
inteiro, meu corpo, minha alma, minhas faculdades, meus bens espirituais e
temporais. Toma tudo, tudo, e serve-te desse tudo, para prestar serviço, para
socorrer, para abrigar o pobre, para acalmar as queixas da desgraça e fazer-te
conhecer das crianças, às quais não se fala bastante de Ti.
Totus tuus sum ego et omnia mea tua
sunt. – Eu te pertenço inteiramente com tudo que é meu.
As conclusões práticas deste empréstimo
são das mais consoladoras.
Quando o mundo convidar-nos para
participar de seus passageiros e vãos gozos, fiquemos fiéis ao nosso contrato
com a doce Virgem e respondamo-lhe: “Não posso; não sou mais senhor de mim;
emprestei-me à Mãe de Deus; é a ela, pois que se deve dirigir o convite.”
Quando o demônio nos importunar com
suas tentações, digamos-lhe sem hesitação: “Vai, miserável; tens de haver-te
com um mais forte do que tu. Não é a mim, mas a Virgem Imaculada, a qual uma
vez primeira te esmagou a cabeça e que ainda saberá descobrir e aniquilar tuas
armadilhas.”
Quando a carne corrupta e corruptora,
excitar em nós suas paixões ardentes, fitemos a Virgem Pura e protestemos
altamente que não queremos retomar o que lhe temos emprestado.
Quando, enfim, o desânimo infiltrar-se
em nossas veias e ameaçar o vigor de nosso corpo, saibamos levantar a cabeça e
o coração para lutar ainda, para sempre lutar, visto ser a Virgem que luta
conosco e em nós. E a Virgem é invencível!
Porque desanimar! A vitória é, pois,
certa. Pouco importa que a luta seja árdua e os inimigos experimentados.
Mundo, demônio e carne podem nos
assaltar, mas só vence, quem quer ser vencido. Aqueles que oram e que se
emprestam a Maria, são invencíveis, porque participam das prerrogativas da
divina Mãe de Jesus.
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