REMÉDIOS
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São Pio X |
A esta torrente de gravíssimos
erros, que às claras e às ocultas se vai avolumando, o Nosso Predecessor Leão
XIII, de feliz memória, procurou energicamente levantar um dique,
principalmente no que se refere às Sagradas Escrituras. Já vimos, porém, que os
modernistas não se deixam facilmente intimidar; eis porque, aparentando o maior
acatamento e a mais apurada humildade, inverteram as palavras do Pontífice do
modo que lhes convinha, e propalaram que os atos do mesmo eram dirigidos a
outros. Destarte o mal, dia a dia, foi tomando maiores proporções.
É por isto, Veneráveis Irmãos,
que decidimos lançar mãos, sem demora, de medidas mais enérgicas. Nós, porém,
vos pedimos e suplicamos que em negócio de tal monta nada, de modo algum, se
deixe a desejar em vossa vigilância, desvelo e fortaleza. E isto mesmo que vos
pedimos e de vós esperamos, pedimo-lo também e esperamo-lo dos demais pastores
das almas, dos educadores e mestres do jovem clero, e particularmente dos
Superiores gerais das Ordens religiosas.
I. No que se refere aos
estudos, queremos em primeiro lugar e mandamos terminantemente, que a filosofia
escolástica seja tomada por base dos estudos sacros. Bem se compreende que «se
os doutores escolásticos trataram certas questões com excessiva argúcia, ou foram
omissas noutras; se disseram coisas que mal se acomodam com as doutrinas
apuradas nos séculos posteriores, ou mesmo alguma coisa inadmissível, mui longe
está de nossa intenção querer que tudo isto deva servir de exemplo a imitar nos
nossos dias (Leão XIII, Enc.Aeterni
Patris).
O que importa saber, antes de
tudo, é que a filosofia escolástica, que mandamos adotar, é principalmente a de
Santo Tomás de Aquino; a cujo respeito queremos fique em pleno vigor tudo o que
foi determinado pelo Nosso Predecessor e, se há mister, renovamos, confirmamos
e mandamos severamente sejam por todos observadas aquelas disposições. Se isto
tiver sido descuidado nos seminários, insistam e exijam os Bispos que para o
futuro se observe. Tornamos extensiva a mesma ordem aos Superiores das Ordens
religiosas. E todos aqueles que ensinam fiquem cientes de que não será sem
graves prejuízos que especialmente em matérias metafísicas, se afastarão de
Santo Tomás.
Fundamentada assim a filosofia,
sobre ela se erga com a maior diligência o edifício teológico. Veneráveis
Irmãos, promovei com toda a solicitude o estudo da teologia, de tal sorte que
ao saírem dos seminários os clérigos lhe tenham alta consideração e profundo
amor, e sempre o conservem carinhosamente. Porquanto é de todos sabido que na
quase infinitude das disciplinas que se apresentam às inteligências ávidas do
saber, é tão certo que à teologia cabe o primeiro lugar, que os antigos diziam
que era dever das outras ciências e artes servirem-na e auxiliarem-na como
escravas (Leão XIII, carta ap. In magna,
10/12/1889). Aproveitamos esta ocasião para dizer que Nos parecem dignos de
louvor aqueles que, salvando o respeito devido à Tradição, aos Santos Padres,
ao magistério eclesiástico, procuram esclarecer a teologia positiva com
prudente critério e normas católicas (coisa que nem sempre se observa), tirando
luzes da verdadeira história. Certo é que na atualidade, à teologia positiva se
deve dar maior extensão que outrora; entretanto, isto se deve fazer de tal
sorte que não seja de nenhum modo em detrimento da teologia escolástica, e
sejam censurados como fautores do modernismo, aqueles que de tal modo elevam a
teologia positiva que parece quase desprezarem a escolástica.
Quanto às disciplinas profanas,
basta lembrar o que sabiamente disse o Nosso Predecessor (Alloc. De 7/03/1880):
«Aplicai-vos diligentemente ao estudo das coisas naturais; pois, assim como em
nossos dias as engenhosas descobertas e os úteis empreendimentos com sobeja
razão são admirados pelos contemporâneos, da mesma sorte serão alvo de perenes
louvores e encarecimentos dos vindouros». Seja isto feito sem prejuízo dos
estudos sacros; assim também o advertiu o mesmo Nosso Predecessor, pela
seguintes palavras (lugar citado): «A causa de tais erros, se a investigarmos
cuidadosamente, provém principalmente de que hoje, quanto maior intensidade se
dá aos estudos das ciências naturais, tanto mais se descuram as disciplinas
mais severas e mais elevadas; algumas destas são, de fato, quase atiradas ao
esquecimento; outras são tratadas com pouca vontade e de leve, e, coisa
indigna, perdido o esplendor de sua primitiva dignidade, são deturpadas por
opiniões inverossímeis e por enormes erros. É esta a lei à qual mandamos que se
conformem os estudos das ciências naturais nos seminários.
II. Em vista tanto destas Nossas
disposições como da do Nosso Antecessor, convém prestar muita atenção toda vez
que se tratar da escolha dos diretores e professores tanto dos seminários
quanto das Universidades católicas. Todo aquele que tiver tendências
modernistas, seja ele quem for, deve ser afastado quer dos cargos quer do
magistério; e se já tiver de posse, cumpre ser removido.
Faça-se o mesmo com aqueles
que, às ocultas ou às claras, favorecerem o modernismo, louvando os
modernistas, ou atenuando-lhes a culpa, ou criticando a escolástica, os Santos
Padres, o magistério eclesiástico, ou negando obediência a quem quer que se
ache em exercício do poder eclesiástico; bem assim como aqueles que se
mostrarem amigos da novidade em matéria histórica, arqueológica e bíblica; e
finalmente com aqueles que se descuidarem dos estudos sacros ou parecerem dar
preferência aos profanos. Neste ponto, Veneráveis Irmãos, e particularmente na
escolha dos lentes, nunca será demasiada a vossa solicitude e constância;
porquanto, é o mais das vezes ao exemplo dos mestres que se formam os
discípulos. Firmados, portanto, no dever da consciência, procedei nesta matéria
com prudência, mas também com energia.
Não deve ser menor
a vossa vigilância e severidade na escolha daqueles que devem ser
admitidos ao Sacerdócio. Longe, muito longe do clero esteja o amor às
novidades; Deus não vê com bons olhos os ânimos soberbos e rebeldes! A ninguém
doravante se conceda a láurea da teologia ou direito canônico, se primeiro não
tiver feito todo o curso de filosofia escolástica. Se, não obstante isto, ela
for concedida, será nula. Tornem-se doravante extensivas a todas as nações as
disposições emanadas da Sagrada Congregação dos Bispos e Regulares no ano 1896,
acerca da freqüência dos clérigos regulares e seculares da Itália às
Universidades. Os clérigos e sacerdotes inscritos a um Instituto ou a uma
Universidade católica, não poderão frequentar nas Universidades civis cursos
também existentes nos Institutos católicos a que se inscreveram. Se, em tempos
passados, isto tiver sido concedido em algum lugar, mandamos que de ora em
diante não mais se permita. Ponham os Bispos que formam o conselho diretivo de
tais Institutos católicos ou Universidades católicas, o maior empenho em fazer
observar estas nossas determinações.
Pascendi
Dominici Gregis - Papa São Pio X