Nota
Pastoral
A
respeito do PLC nº 3 de 2013
Enquanto a população saía às
ruas para pedir o fim da corrupção na política e melhores condições de vida, no
Congresso Nacional era votada a 'toque de caixa' a proposta da deputada Iara
Bernardi (PT-SP), que trata do atendimento obrigatório e integral de pessoas em
situação de violência sexual.
Dom Celso Marchiori |
O projeto de lei aprovado e
que está nas mãos da presidente Dilma Rousseff para sanção, tem como pano de
fundo a legalização do aborto no Brasil. Por mais que se queira dizer o
contrário, o próprio texto da lei deixa clara a possibilidade de pôr fim à vida
do feto em qualquer hospital credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O texto fala em
"profilaxia" da gravidez. O sinônimo de profilaxia é prevenção, ou
seja, ato ou efeito de prevenir. Outro ponto indicativo da legalização do
aborto é considerar "violência sexual qualquer forma de atividade sexual
não consentida". Não é sequer necessária a realização de exames para
constatar a suposta violência sexual. Isto significa que a mulher, ao descobrir
uma gravidez indesejada, pode procurar um hospital e pedir a profilaxia da
gravidez e terá que ser atendida.
Não seria esta a prática do
aborto? Não seria esta uma ação de pôr fim a uma vida, no caso do feto ainda em
formação?
Não se deve esquecer o
posicionamento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra o
aborto: "O drama vivido pela mulher por causa de uma gravidez indesejada
ou por circunstâncias que lhe dificultam sustentar a gravidez pode levá-la ao
desespero e à dolorosa decisão de abortar. No entanto, é um equívoco pensar que
o aborto seja a solução".
É preciso lembrar que a lei
maior do País, a Constituição Federal, em seu artigo 1º, afirma que a República
Federativa do Brasil tem como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa
humana. E, no seu artigo 5º, garante a inviolabilidade do direito à vida. O
inalienável direito à vida de todo o indivíduo humano inocente é um elemento
constitutivo da sociedade civil e a toda a sociedade.
A atitude do Governo Federal
e dos parlamentares que lhe dão sustentação no Parlamento é criminosa e caminha
em direção oposta à defesa da vida. Tenho comigo que a legalização do aborto,
mesmo que não às claras, é uma saída mais barata, pois a defesa da vida envolve
investimentos na saúde da mulher e da criança.
Faço minha as palavras de Dom
Antônio Carlos Rossi Keller, bispo da Diocese de Frederico Westphalen: "O
aparente respeito à legalidade que tal encaminhamento deste iníquo projeto de
lei possa estar seguindo tropeça em uma única e definitiva verdade, como nos
diz o bem aventurado Papa João Paulo II, na Evangelium Vitae: "Reivindicar
o direito ao aborto, ao infanticídio, à eutanásia, e reconhecê-lo legalmente,
equivale a atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o
significado de um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas isto é
a morte da verdadeira liberdade".
Vejam que a Igreja – e nela
atuo como pastor na Diocese de Apucarana – tem posição clara e indiscutível em
defesa da vida. Tenho a lembrar que a vida humana deve ser respeitada e
protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o
primeiro momento de sua existência, ao ser humano devem ser reconhecidos os
seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser
inocente à vida. (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2270).
Desde o Século I a Igreja
condena o aborto. Essa prática é gravemente contrária à lei moral, obra da
Sabedoria Divina: "Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o
recém-nascido". Assim, sob a ótica da Lei Moral, a cooperação formal para
um aborto constitui uma falta grave, incorrendo em excomunhão em sentença já
promulgada (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2272).
A sociedade, como dito acima,
é defensora da vida e em favor dela (vida) deve se erguer. O silêncio diante da
decisão do Parlamento e que está nas mãos da Presidente da República deve ser
quebrado.
É preciso lembrar que a
presidente Dilma Rousseff assumiu um compromisso com o povo brasileiro, durante
as eleições de 2010, de que não legalizaria o aborto no país. Necessário agora,
mais do que nunca, que a população cobre do Governo a defesa da vida e vete
todos os artigos desse projeto falacioso e mal intencionado.
Não se deve silenciar diante
de tal situação, pois pelo egocentrismo de alguns está-se legalizando o aborto.
Mas é preciso defender a vida, como especifica o documento Donum vitae:
"No momento em que uma lei positiva priva uma categoria de seres humanos
da proteção que a legislação civil lhes deve dar, o Estado nega a igualdade de
todos perante a lei. Quando o Estado não coloca sua força a serviço dos
direitos de todos os cidadãos, particularmente dos mais fracos, os próprios
fundamentos de um estado de direito estão ameaçados ...".
Esta é uma situação real e
precisa ser rechaçada por todos os cidadãos, independente de credos religiosos.
Por outro lado, nós,
católicos, tendo Deus como Senhor da vida e como ponto de convergência de tudo,
não devemos nos esquecer que entre os direitos fundamentais da pessoa estão o
direito à vida e à integridade física de todo o ser humano, desde a concepção
até a morte.
Reafirmo que na defesa da
vida – desde a concepção até a morte – precisamos entender que a legalização do
aborto é uma saída menos custosa ao Governo, pois garantir a vida – da mulher e
da criança – requer investimentos em profissionais de saúde, clínicas,
hospitais, medicamentos, assistência social. Ao aprovar o aborto - não de forma
explícita na lei - o parlamento e o Governo, através do Ministério da Saúde,
pretende evitar mais despesas para o já combalido orçamento público.
É inegável que a legalização
da prática criminosa do aborto (mesmo estando implícito na proposta da deputada
Iara Bernardi), contraria os preceitos da Igreja. Arrancar o feto do útero da
mulher é um crime. Um ser indefeso é assassinado, sob a tênue luz de uma
suposta legalidade. Este feto, com poucas semanas de gestação, é filho de Deus
e sua concepção é abençoada. Na leitura de Jeremias (1–5), vemos que
"antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu
nascimento, eu já te havia consagrado".
Negar a este ser indefeso o
direito a vida, sob pretexto de uma profilaxia da gravidez, é caminhar em
contrário ao que prega Jesus, especificamente no quinto mandamento – "Não
matarás o inocente nem o justo, porque não absolverei o culpado" (Ex
23,7). Nele é nítido que o assassino e os que cooperam voluntariamente com o
assassinato do inocente cometem um pecado que clama ao céu por vingança. Este
mesmo mandamento proíbe que se faça algo com a intenção de provocar
indiretamente a morte de uma pessoa.
A Congregação para a Doutrina
da Fé publicou em 1987 o documento Donum vitae, uma Instrução sobre o respeito
à vida humana nascente e a dignidade da procriação. Estabelece o documento que
os direitos inalienáveis da pessoa devem ser reconhecidos e respeitados pela
sociedade civil e pela autoridade política. Os direitos do homem pertencem à
natureza humana e são inerentes à pessoa em razão do ato criador do qual esta
se origina. Reafirmo que entre estes direitos fundamentais é preciso citar o
direito à vida e à integridade física de todo ser humano, desde a concepção até
a morte.
Pode parecer redundante
repisar estas questões - concepção e morte. Mas este é o cerne da questão. É
inaceitável que o poder público, através dos parlamentares e da presidente
Dilma Rousseff, sinta-se no direito de legislar sobre tão fundamental direito,
que é a vida. É legitimar o genocídio, é assegurar o assassinato de um
indefeso, no caso o feto, com poucas semanas de vida.
A lei aprovada, caríssimos, é
nefasta e merece ser rejeitada por todos os que creem em um Deus
misericordioso, que ama seus filhos e quer todos sob seu abrigo. Deus que quer
o direito à vida respeitado pela sociedade.
Assim sendo, clamo aos
católicos e todos os irmãos e irmãs de outras comunidades cristãs e religiosas,
contrários ao aborto no Brasil, que se dediquem a oração, suplicando ao Senhor
da Vida e Vida em Plenitude, que afaste de nós, seus filhos, esta chaga
horrorosa que é o aborto.
Apucarana,
15 de julho de 2013.
XV Domingo Comum C
XV Domingo Comum C
+ Celso
Antônio Marchiori
Bispo de Apucarana
Bispo de Apucarana
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