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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

II Domingo depois da Epifania - Padre Erico de Melo Falcão

 
Nota do Blog - Salve Maria. Caríssimos leitores e amigos, é como muita alegria que começaremos a postar no nosso blog os sermões do Reverendíssimo padre Erico de Melo Falcão, que com muita disponibilidade nos cedeu afim de que nossos leitores possam ter esse suporte doutrinário e espiritual. Padre Erico é da arquidiocese de Maceió e celebra todos os domingos as 8:00 da manha a Santa Missa Tridentina na Igreja São Benedito em Maceió. Desejamos a todos uma piedosa leitura. Salve Maria.
 

II Domingo depois da Epifania
 
A Epifania, como o próprio nome já diz (Epiphaneia – revelação-manifestação) é uma festa oriental, e no seu surgimento era a verdadeira festa natalina do Senhor, ou seja, a sua “aparição” na carne. A festa se encontra em Antioquia, no tempo de são João Crisóstomo (antes de 386), e no Egito, onde, segundo Cassiano, o Batismo e o nascimento humano do Senhor são celebrados juntos, num único dia.

Padre Erico de Melo Falcão
Muito cedo, porém, a festa havia entrado também no Ocidente, onde em algumas regiões talvez tenha inclusive precedido o Natal. Todavia, entrando em Ocidente, a Epifania encontrou quase por todo lugar já instalada a festa do Natal, e, portanto, seu objeto precisou diferenciar-se. Enquanto no oriente – pelo menos no começo – a Epifania era a festa da encarnação, entendido como vinda na carne e como manifestação (epifania) da divindade (batismo – Caná), no Ocidente esta foi principalmente a festa da “revelação de Jesus ao mundo pagão” (magos), mas frequentemente inclusive também a sua “revelação” em geral: no Batismo, em Caná, e também na multiplicação dos pães.

A leitura contínua da Carta aos Romanos desde o primeiro domingo depois da Epifania, que nós não celebramos por que coincidiu com a festa da Sagrada Família de Nazaré, nos coloca diante de um dos modos da Revelação de Deus. A palavra é proclamada com seu próprio dinamismo, tal como nela Deus foi revelando progressivamente seu desígnio de salvação através dos diversos livros inspirados. Ler os livros bíblicos em uma ordem dinâmica, que segue o mesmo ritmo com que Deus se dirigiu progressivamente aos seres humanos, ajuda a reviver espiritualmente as etapas da história da salvação e o progresso da revelação divina.

A liturgia, onde é proclamada a Palavra Divina, porém, não tem um caráter historicista, isto é, nós que pertencemos ao depois de Cristo, não devemos ser transportados para um hipotético e absurdo antes de Cristo. A liturgia, como caminho de fé, não se preocupa com a sucessão histórica dos fatos com o objetivo de trazê-los à nossa memória, mas vê nos fatos o mistério da salvação que eles contém e com o qual quer que nós entremos em contato. A liturgia não é mais sombra e figura daquilo que deve vir e que deve se cumprir. A sombra e a figura são do AT; a liturgia é, no NT, a imagem real, em outras palavras uma imagem que contém presente o Mistério de Cristo. A liturgia não é profecia, nem promessa, mas é presença.

Pelo anúncio litúrgico do Evangelho, A Igreja não se contenta de nós contar um fato da vida de Cristo, mas Ela coloca simbolicamente o Cristo e este fato diante de nós. Por isso que não é a toa que a Igreja cerca a leitura do Evangelho das mais grandes honrarias que se podem dirigir senão a Jesus Cristo visto como se estivesse presente (As velas, o incenso, o beijo, a inclinação profunda diante do Livro da Palavra de Deus, os sinais de cruz, o ambão). Assim então, no Evangelho de hoje, a Igreja nos representa o primeiro milagre. Este milagre se reproduz de uma maneira mais elevada ainda na Eucaristia. Daí vem que a Igreja queira cantar, durante o banquete eucarístico, algumas frases do Evangelho (e até algumas vezes, quando o canto da Comunhão não é suficiente, a Igreja o repete até que a comunhão termine). Porque é no momento mais sagrado, quando Nosso Senhor se une a nossa alma e torna-se um com ela que a Igreja diz : Vede, é agora a verdade, o Senhor guardou até agora o vinho melhor da Eucaristia, o milagre se realiza de uma maneira mais elevada no Santo-Sacrifício e na Comunhão.

A união sobrenatural de Jesus Cristo e de sua Igreja não é somente uma imagem e um símbolo do matrimônio. São Paulo fala de um grande mistério. Nós o traduzimos por símbolo misterioso e pleno de realidade. Trata-se pois mais de  uma figura que de uma simples comparação. No matrimônio há qualquer coisa de modelo onde ele é imagem. O homem possui qualquer coisa da essência e da presença de Cristo. A mulher não obedece ao homem que pode ter seus defeitos e seus caprichos, mas a Jesus Cristo que  habita sobrenaturalmente nele.  O homem, por sua vez, não ama mais tal pessoa ; seu amor deve ser sobrenatural, tornando-se o amor de Cristo por sua Igreja. Donde vem esta realidade mais elevada ? Do sacramento do matrimônio. Os cristãos de hoje custam para compreender e crer nisto. Então  é precisamente a eficácia dos sacramentos que coloca os homens num modo de ser mais elevado. O homem e a mulher tornam-se outros pelo matrimônio. Eles são, dentro de seus relacionamentos, seres sobrenaturalmente elevados e participam da vida de Cristo e da Igreja.
 

Toda a cena descrita no Evangelho de hoje, além de ser o primeiro milagre de Jesus, esconde um significado profundo, que o espírito humano pode dificilmente penetrar. Para os verdadeiros devotos da Virgem Maria, como é suave e reconfortante saber que Jesus, graças a ela, apressa a hora de sua manifestação ao mundo! Quid mihi et tibi est mulier ? nondum venit hora mea. Qualquer explicação que alguém queira dar a estas palavras, porque nelas o Salvador opõe sua transcendência divina a verdade de sua natureza humana que o torna filho respeitoso de sua Mãe, é certamente necessário  entendê-las num sentido afirmativo de graça, como as entende precisamente a Santíssima Virgem. Nondum venit hora mea.

Mas Jesus apressa nesta ocasião sua hora, e altera o plano maravilhoso de sua manifestação à humanidade ? Parece-nos que o sentido do pedido de Maria foi muito mais complexo do que nos parece e primeira vista. Ela pede o vinho, não exclusivamente aquele que faltava para a festa das núpcias, mas este outro também, do qual o milagre de Caná foi o símbolo : a divina Eucaristia.

Por isso aprendemos como se devem usar os diversos dons do Espírito Santo para a edificação comum. A distribuição diferente destas graças nos deve inspirar o máximo respeito pela vocação do outro, sem  pretender que nossa espiritualidade individual determine as condições do caminho sobrenatural do Espírito Santo nas almas dos outros. Cada um tem seu próprio lugar e seu próprio dom, mas um e outro são ordenados ao bem de todos, que é o de edificar o corpo místico de Cristo no cumprimento da  nossa vocação, a sabedoria nos faz permanecer nos nossos limites. Eis aqui o segredo da verdadeira grandeza cristã. Este é o tema da carta de são Paulo aos Romanos que estaremos ouvindo em modo contínuo nestes domingos, a carta mais antiga do apóstolo e que nos mostra como a vida da Igreja se torna vida do Corpo de Cristo pela caridade : o maior dom divino concedido a nós.

Padre Erico de Melo Falcão

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