Nota do Blog - Salve Maria. Caríssimos leitores
e amigos, é como muita alegria que começaremos a postar no nosso blog os
sermões do Reverendíssimo padre Erico de Melo Falcão, que com muita
disponibilidade nos cedeu afim de que nossos leitores possam ter esse suporte doutrinário
e espiritual. Padre Erico é da arquidiocese de Maceió e celebra todos os domingos
as 8:00 da manha a Santa Missa Tridentina na Igreja São Benedito em Maceió. Desejamos
a todos uma piedosa leitura. Salve Maria.
A Epifania,
como o próprio nome já diz (Epiphaneia – revelação-manifestação) é uma festa
oriental, e no seu surgimento era a verdadeira festa natalina do Senhor, ou
seja, a sua “aparição” na carne. A festa se encontra em Antioquia, no tempo de
são João Crisóstomo (antes de 386), e no Egito, onde, segundo Cassiano, o
Batismo e o nascimento humano do Senhor são celebrados juntos, num único dia.
Padre Erico de Melo Falcão |
Muito cedo,
porém, a festa havia entrado também no Ocidente, onde em algumas regiões talvez
tenha inclusive precedido o Natal. Todavia, entrando em Ocidente, a Epifania
encontrou quase por todo lugar já instalada a festa do Natal, e, portanto, seu
objeto precisou diferenciar-se. Enquanto no oriente – pelo menos no começo – a
Epifania era a festa da encarnação, entendido como vinda na carne e como
manifestação (epifania) da divindade (batismo – Caná), no Ocidente esta foi
principalmente a festa da “revelação de Jesus ao mundo pagão” (magos), mas
frequentemente inclusive também a sua “revelação” em geral: no Batismo, em
Caná, e também na multiplicação dos pães.
A leitura
contínua da Carta aos Romanos desde o primeiro domingo depois da Epifania, que
nós não celebramos por que coincidiu com a festa da Sagrada Família de Nazaré,
nos coloca diante de um dos modos da Revelação de Deus. A palavra é proclamada
com seu próprio dinamismo, tal como nela Deus foi revelando progressivamente
seu desígnio de salvação através dos diversos livros inspirados. Ler os livros
bíblicos em uma ordem dinâmica, que segue o mesmo ritmo com que Deus se dirigiu
progressivamente aos seres humanos, ajuda a reviver espiritualmente as etapas
da história da salvação e o progresso da revelação divina.
A liturgia,
onde é proclamada a Palavra Divina, porém, não tem um caráter historicista,
isto é, nós que pertencemos ao depois de Cristo, não devemos ser transportados
para um hipotético e absurdo antes de Cristo. A liturgia, como caminho de fé,
não se preocupa com a sucessão histórica dos fatos com o objetivo de trazê-los
à nossa memória, mas vê nos fatos o mistério da salvação que eles contém e com
o qual quer que nós entremos em contato. A liturgia não é mais sombra e figura
daquilo que deve vir e que deve se cumprir. A sombra e a figura são do AT; a
liturgia é, no NT, a imagem real, em outras palavras uma imagem que contém
presente o Mistério de Cristo. A liturgia não é profecia, nem promessa, mas é
presença.
Pelo anúncio
litúrgico do Evangelho, A Igreja não se contenta de nós contar um fato da vida
de Cristo, mas Ela coloca simbolicamente o Cristo e este fato diante de nós. Por
isso que não é a toa que a Igreja cerca a leitura do Evangelho das mais grandes
honrarias que se podem dirigir senão a Jesus Cristo visto como se estivesse
presente (As velas, o incenso, o beijo, a inclinação profunda diante do Livro
da Palavra de Deus, os sinais de cruz, o ambão). Assim então, no Evangelho de
hoje, a Igreja nos representa o primeiro milagre. Este milagre se reproduz de
uma maneira mais elevada ainda na Eucaristia. Daí vem que a Igreja queira
cantar, durante o banquete eucarístico, algumas frases do Evangelho (e até
algumas vezes, quando o canto da Comunhão não é suficiente, a Igreja o repete
até que a comunhão termine). Porque é no momento mais sagrado, quando Nosso
Senhor se une a nossa alma e torna-se um com ela que a Igreja diz : Vede,
é agora a verdade, o Senhor guardou até agora o vinho melhor da Eucaristia, o
milagre se realiza de uma maneira mais elevada no Santo-Sacrifício e na
Comunhão.
A união
sobrenatural de Jesus Cristo e de sua Igreja não é somente uma imagem e um
símbolo do matrimônio. São Paulo fala de um grande mistério. Nós o traduzimos
por símbolo misterioso e pleno de realidade. Trata-se pois mais de uma figura que de uma simples comparação. No
matrimônio há qualquer coisa de modelo onde ele é imagem. O homem possui qualquer
coisa da essência e da presença de Cristo. A mulher não obedece ao homem que
pode ter seus defeitos e seus caprichos, mas a Jesus Cristo que habita sobrenaturalmente nele. O homem, por sua vez, não ama mais tal
pessoa ; seu amor deve ser sobrenatural, tornando-se o amor de Cristo por
sua Igreja. Donde vem esta realidade mais elevada ? Do sacramento do matrimônio.
Os cristãos de hoje custam para compreender e crer nisto. Então é precisamente a eficácia dos sacramentos que
coloca os homens num modo de ser mais elevado. O homem e a mulher tornam-se
outros pelo matrimônio. Eles são, dentro de seus relacionamentos, seres
sobrenaturalmente elevados e participam da vida de Cristo e da Igreja.
Toda a cena
descrita no Evangelho de hoje, além de ser o primeiro milagre de Jesus, esconde
um significado profundo, que o espírito humano pode dificilmente penetrar. Para
os verdadeiros devotos da Virgem Maria, como é suave e reconfortante saber que
Jesus, graças a ela, apressa a hora de sua manifestação ao mundo! Quid mihi et tibi est mulier ? nondum venit hora mea. Qualquer
explicação que alguém queira dar a estas palavras, porque nelas o Salvador opõe
sua transcendência divina a verdade de sua natureza humana que o torna filho
respeitoso de sua Mãe, é certamente necessário
entendê-las num sentido afirmativo de graça, como as entende
precisamente a Santíssima Virgem. Nondum venit hora mea.
Mas Jesus
apressa nesta ocasião sua hora, e altera o plano maravilhoso de sua
manifestação à humanidade ? Parece-nos que o sentido do pedido de Maria
foi muito mais complexo do que nos parece e primeira vista. Ela pede o vinho,
não exclusivamente aquele que faltava para a festa das núpcias, mas este outro
também, do qual o milagre de Caná foi o símbolo : a divina Eucaristia.
Por isso aprendemos
como se devem usar os diversos dons do Espírito Santo para a edificação comum.
A distribuição diferente destas graças nos deve inspirar o máximo respeito pela
vocação do outro, sem pretender que nossa
espiritualidade individual determine as condições do caminho sobrenatural do
Espírito Santo nas almas dos outros. Cada um tem seu próprio lugar e seu
próprio dom, mas um e outro são ordenados ao bem de todos, que é o de edificar
o corpo místico de Cristo no cumprimento da
nossa vocação, a sabedoria nos faz permanecer nos nossos limites. Eis
aqui o segredo da verdadeira grandeza cristã. Este é o tema da carta de são
Paulo aos Romanos que estaremos ouvindo em modo contínuo nestes domingos, a carta
mais antiga do apóstolo e que nos mostra como a vida da Igreja se torna vida do
Corpo de Cristo pela caridade : o maior dom divino concedido a nós.
Padre Erico de Melo Falcão
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