Manuscrito da
Terceira Parte do Segredo escrito há 70 anos
Faz hoje setenta anos que o manuscrito
com a terceira parte do chamado Segredo de Fátima foi escrito pela Irmã Lúcia.
Pertença do Arquivo Secreto da Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano,
o manuscrito encontra-se atualmente em Fátima, na exposição temporária “Segredo
e Revelação”, mostra que pode ser visitada, diariamente, até final de outubro,
entre as 9:00 e as 19:00, na zona da Reconciliação da Basílica da Santíssima
Trindade, no Santuário de Fátima. Inaugurada a 30 de novembro de 2013, a exposição
registou até ao dia de ontem, 2 de janeiro de 2014, 11 220 visitantes.
Entretanto, por iniciativa do Santuário
de Fátima, decorre o estudo diplomático e paleográfico do documento, a cargo de
Maria José Azevedo Santos, professora catedrática da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, especialista em Diplomática e Paleografia.
A história do
documento
Em declarações divulgadas na manhã de
hoje pela Postulação para a Causa da Causa de Beatificação da Serva de Deus
Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, é recordado o contexto do
pedido à irmã Lúcia: “Nossa Senhora voltou a mostrar a Lúcia o cenário
apocalíptico da terceira parte do Segredo, porém com alguma diferença, a
vidente apenas foi autorizada por Nossa Senhora a escrever na carta aquilo que
viu e não aquilo que lhe foi dado entender”.
Segundo os arquivos do Serviço de
Estudos e Difusão (SESDI) do Santuário de Fátima, a 3 de janeiro de 1944, em
Tui, Espanha, Lúcia redige o documento com o conteúdo relativo à terceira parte
do Segredo, respeitante à revelação da Virgem Maria a 13 de julho de 1917. O
documento é, posteriormente, enviado ao bispo de Leiria, D. José Alves Correia
da Silva, num sobrescrito lacrado.
De entre os vários momentos por que
passou o documento até aos dias de hoje, passíveis de serem conhecidos através
da cronologia mostrada na exposição “Segredo e Revelação”, o SESDI sublinha a
entrega do Manuscrito à Nunciatura Apostólica de Lisboa, por D. João Pereira
Venâncio, bispo auxiliar de Leiria, a 1 de março de 1957.
No mês seguinte, a 4 de abril, o
manuscrito da terceira parte do Segredo de Fátima chega ao Vaticano, sendo
guardado no Arquivo Secreto do Santo Ofício, atual Congregação para a Doutrina
da Fé.
Dois anos depois, a 17 de agosto, o
Papa João XXIII solicita que o documento lhe seja levado, mas decide não
revelar o seu teor.
Ainda de acordo com a investigação do
SESDI, a 27 de março de 1965, o Papa Paulo VI lê o documento, tomando dessa
forma conhecimento da terceira parte do Segredo de Fátima; depois de o ler,
decide que o mesmo não seja revelado.
João Paulo II agiria primeiramente da
mesma forma. Entre 18 de julho e 11 de agosto de 1981, uns meses após o
atentado de que fora alvo em Roma (13.05.1981), o Papa lê o texto original do
documento, assim como a tradução do mesmo em italiano, mas decide reenviá-lo
para o Arquivo Secreto da Congregação para a Doutrina da Fé.
Só dezanove anos depois, ainda no
pontificado de João Paulo II, a 13 de maio de 2000, o cardeal Angelo Sodano, no
final da celebração da beatificação de Francisco e Jacinta Marto, que decorreu
no Santuário de Fátima, revelaria o conteúdo da terceira parte do
Segredo.
Assim como a sua revelação, também a
interpretação do conteúdo do manuscrito ficou ao cuidado da Igreja. A 26 de
junho do ano 2000, a Congregação para a Doutrina da Fé apresenta publicamente a
terceira parte do Segredo de Fátima, numa conferência de imprensa realizada no
Vaticano, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, autor do comentário
teológico.
LeopolDina Simões
Manuscrito
da Terceira Parte do Segredo é objeto de estudo diplomático e paleográfico
Maria José Azevedo Santos é a primeira
a destacar a decisão histórica do Santuário de Fátima ao solicitar o estudo
diplomático e paleográfico do Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de
Fátima.
O estudo ainda decorre, mas a
investigadora, em entrevista ao jornal oficial do Santuário de Fátima “Voz da
Fátima” (edição de 13.01.2014), adianta algumas conclusões e especificidades do
documento: trata-se do manuscrito autêntico, foi escrito em papel de carta sem
marca de água e, curiosamente, não tem a assinatura da Irmã Lúcia.
Irmã Lúcia |
Professora catedrática da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, especialista em Diplomática e Paleografia,
Maria José Azevedo Santos foi convidada a analisar, à luz destas duas ciências,
o Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima, propriedade do Vaticano,
atualmente confiado ao Santuário de Fátima que o colocou na exposição
temporária “Segredo e Revelação”, patente ao público até o final de outubro de 2014.
“Sou mulher, leiga. O convite que me
foi feito mostra que a Igreja está aberta a receber contributos das áreas
científicas nas quais trabalho, aliás, fundadas por religiosos no século XVII”,
afirmou ao destacar “o grande interesse na aliança entre a abordagem pastoral e
teológica”, que deixa “para os teólogos e para os que estudam a vida da Irmã
Lúcia”, e esta abordagem pelas ciências da Diplomática e Paleografia.
“Este meu testemunho é verdadeiramente
um testemunho singular, porque o encargo que recebi é também singular. Fui a
primeira mulher leiga a entrar em contato direto com o documento em apreço, com
prévia autorização de Sua Santidade, o Papa Francisco, concedida aos delegados
do Bispo de Leiria-Fátima”, destaca a investigadora.
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