Basílica de S. Pedro
Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2013
Venerados Irmãos,
Amados irmãos e irmãs!
Amados irmãos e irmãs!

As Leituras proclamadas
oferecem-nos sugestões que somos chamados a fazê-las tornar-se, com a graça de
Deus, atitudes e comportamentos concretos nesta Quaresma. A Igreja propõe-nos,
em primeiro lugar, o forte apelo que o profeta Joel dirige ao povo de Israel:
«Mas agora diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o coração com jejuns, com
lágrimas, com gemidos» (2, 12). Começo por sublinhar a expressão «de todo o
coração», que significa a partir do centro dos nossos pensamentos e
sentimentos, a partir das raízes das nossas decisões, escolhas e ações, com um
gesto de liberdade total e radical. Mas, este regresso a Deus é possível? Sim,
porque há uma força que não habita no nosso coração, mas emana do próprio
coração de Deus. É a força da sua misericórdia. Continua o profeta:
«Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo,
paciente e rico em misericórdia» (v. 13). A conversão ao Senhor é possível como
«graça», já que é obra de Deus e fruto da fé que depomos na sua misericórdia.
Esta conversão a Deus só se torna realidade concreta na nossa vida, quando a
graça do Senhor penetra no nosso íntimo e o abala, dando-nos a força para
«rasgar o coração». O mesmo profeta faz ressoar, da parte de Deus, estas
palavras: «Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes» (v. 13). Com
efeito, também nos nossos dias, muitos estão prontos a «rasgarem as vestes»
diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos por outros – mas
poucos parecem dispostos a atuar sobre o seu «coração», a sua consciência e as
próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e converta.
Além disso, este
«convertei-vos a mim de todo o coração» é um apelo que envolve não só o
indivíduo, mas também a comunidade. Na primeira Leitura, ouvimos também dizer:
«Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada.
Reuni o povo, convocai a assembleia, juntai os anciãos, congregai os pequeninos
e os meninos peito. Saia o esposo dos seus aposentos e a esposa do seu leito
nupcial» (vv. 15-16). A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na
vida cristã. Cristo veio «para congregar na unidade os filhos de Deus que
estavam dispersos» (Jo 11,
52). O «nós» da Igreja é a comunidade na qual Jesus nos congrega na unidade
(cf. Jo 12, 32): a fé é necessariamente eclesial.
É importante recordar isto e vivê-lo neste Tempo da Quaresma: cada qual esteja
consciente de que não empreende o caminho penitencial sozinho, mas juntamente
com muitos irmãos e irmãs, na Igreja.
Por fim, o profeta
detém-se na oração dos sacerdotes, os quais, com as lágrimas nos olhos, se
dirigem a Deus, dizendo: «Não transformes em ignomínia a tua herança, para que
ela não se torne o escárnio dos povos! Porque diriam: “Onde está o seu Deus?”»
(v. 17). Esta oração faz-nos refletir sobre a importância que tem o testemunho
de fé e de vida cristã de cada um de nós e das nossas comunidades para
manifestar o rosto da Igreja; rosto este que, às vezes, fica deturpado. Penso
de modo particular nas culpas contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo
eclesial. Viver a Quaresma numa comunhão eclesial mais intensa e palpável,
superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para
aqueles que estão longe da fé ou são indiferentes.
«Agora é o momento
favorável, agora é o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). A urgência com que estas
palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto ressoam também para nós é
tal que não admite escapatória ou inércia. A repetição do termo «agora»
significa que este momento não pode ser desperdiçado, é-nos oferecido como uma
ocasião única e irrepetível. E o olhar do Apóstolo concentra-se sobre Cristo
cuja vida se caracteriza pela partilha, tendo Ele assumido tudo o que era
humano até ao ponto de carregar sobre Si o próprio pecado dos homens. A frase
de São Paulo é muito forte: «Deus o fez pecado por nós». Jesus, o inocente, o
Santo, «Aquele que não havia conhecido o pecado» (2 Cor 5, 21), carrega o peso do pecado
partilhando com a humanidade o seu resultado: a morte, e morte de cruz. A
reconciliação que nos é oferecida teve um preço altíssimo: a cruz erguida no
Gólgota, na qual esteve pendurado o Filho de Deus feito homem. Nesta imersão de
Deus no sofrimento humano e no abismo do mal, está a raiz da nossa
justificação. O «converter-se a Deus de todo o coração» no nosso caminho
quaresmal passa através da Cruz, do seguir Cristo pela estrada que conduz ao
Calvário, ao dom total de si mesmo. É um caminho onde devemos aprender dia a
dia a sair cada vez mais do nosso egoísmo e mesquinhez para dar espaço a Deus
que abre e transforma o coração. E São Paulo lembra que o anúncio da Cruz
ressoa para nós mediante a pregação da Palavra, da qual o próprio Apóstolo é
embaixador; trata-se de um apelo que nos é dirigido para fazermos com que este
caminho quaresmal se caracterize por uma escuta mais atenta e assídua da
Palavra de Deus, luz que ilumina os nossos passos.

Amados irmãos e
irmãs, confiantes e alegres comecemos o itinerário quaresmal. Ressoe em nós
intensamente o convite à conversão, a «converter-se a Deus de todo o coração»,
acolhendo a sua graça que faz de nós homens novos, e de uma novidade
maravilhosa que é a participação na própria vida de Jesus. Que nenhum de nós
fique surdo a este apelo, que nos é dirigido nomeadamente com o rito austero –
tão simples e ao mesmo tempo tão sugestivo – da imposição das cinzas, que
dentro em breve realizaremos. Acompanha-nos neste tempo a Virgem Maria, Mãe da
Igreja e modelo de todo o verdadeiro discípulo do Senhor. Amem!
© Copyright 2013
- Libreria Editrice Vaticana
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