Dos Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo 4 de Natali ipsius, 2-3: PL
54,149-151) (Séc.V)
Dentre todos os homens do mundo, Pedro
foi o único escolhido para estar à frente de todos os povos chamados à fé, de
todos os apóstolos e de todos os padres da Igreja. Embora no povo de Deus haja
muitos sacerdotes e pastores, na verdade, Pedro é o verdadeiro guia de todos
aqueles que têm Cristo como chefe supremo. Deus dignou-se conceder a este
homem, caríssimos filhos, uma grande e admirável participação no seu poder. E
se ele quis que os outros chefes da Igreja tivessem com Pedro algo em comum,
foi por intermédio do mesmo Pedro que isso lhes foi concedido.
A todos os apóstolos o Senhor pergunta
qual a opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela
de modo unânime as hesitações da ignorância humana.
Mas, quando procura saber o pensamento
dos discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade
apostólica. Tendo ele dito: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus
lhe respondeu: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano
que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu (Mt 16,16-17). Quer
dizer, és feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu,
mas a inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que me revelou a ti,
mas sim aquele de quem sou o Filho unigênito.
Por isso eu te digo, acrescentou, como
o Pai te manifestou a minha divindade, também eu te revelo a tua dignidade: Tu
és Pedro (Mt 16,18). Isto significa que eu sou a pedra inquebrantável,
a pedra principal que de dois povos faço um só (cf. Ef 2,20.14), o
fundamento sobre o qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és
pedra, porque és solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que me é
próprio por prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo.
E sobre esta pedra construirei a minha
Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18). Sobre esta fortaleza, construirei um templo eterno. A
minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu deverá apoiar-se sobre a solidez
da fé de Pedro.
O poder do inferno não impedirá esse
testemunho, os grilhões da morte não o prenderão; porque essa palavra é palavra
de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no
inferno os que a negam.
Por isso, foi dito a São Pedro: Eu
te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado
nos céus; tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus (Mt
16,19).
Na verdade, o direito de exercer esse
poder passou também para os outros apóstolos, e o dispositivo desse decreto
atingiu todos os príncipes da Igreja. Mas não é sem razão que é confiado a um
só o que é comunicado a todos. O poder é dado a Pedro de modo singular, porque
a sua dignidade é superior à de todos os que governam a Igreja.
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