Jesus, meu Mestre, não quer ensinar-me, diz Santo Agostinho, a criar mundos, a causar admiração geral por milagres e prodígios, a me celebrizar por virtudes brilhantes. Mas Ele me diz: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de Coração".
A humildade de Jesus, eis, ó minha alma, o ensinamento divino do Mestre. A humildade, eis o caráter da santidade, a condição que exige para conceder Seus dons. "Deus só dá a Sua Graça aos humildes."
Deus medirá as Suas Graças pela minha humildade.
A humildade é a regra da virtude, os alicerces do edifício espiritual da perfeição. Se eu a tiver, terei a todas as virtudes e se não a tiver, minhas virtudes se tornarão em vícios e minhas boas obras em obras mortas.
Para chegar-se a mim, Deus só me pede a humildade e quanto maior for esta na terra, mais elevado será, no Céu, o meu lugar. Mas como me tornar humilde?
Imitando a Jesus e Maria
1º. - Só devo ter sentimentos humildes de mim mesmo, do meu nada. Tudo quanto tenho de bom, quer na ordem natural, quer na sobrenatural, me vem de Deus e a Deus pertence. Senhor meu que é, não abre mão do que é Seu. Só me resta, pois, em plena propriedade, o meu nada. Ora, que vale o nada? Que pode fazer? Que poder tem?
Ai de mim! - e que humilhação para mim! Esse meu nada pode, na verdade, produzir alguma coisa: o pecado, o pecado mortal. Pode, portanto, merecer-me o inferno, enquanto me leva a perder o Céu, pela ofensa feita à Infinita Bondade de Deus. Ora, esse nada culpado merece ser desprezado e grandemente. Tivesse causado um único pecado, já por isso mereceria o desprezo dos Anjos e dos homens. Não são os galés, embora convertidos e mesmo perdoados, desprezados por todos? Ah! Que desprezo mereço eu! Quantos pecados cometi! Quanto ofendi a Deus!
Quantas marcas diabólicas imprimi no corpo e na alma! Devo, pois, ser humilde, é de simples justiça. É a homenagem prestada à verdade do meu estado.
São Pedro Julião Eymard |
E Jesus, para animar-me, faz-Se humilde. Ouve, ó minha alma, a prova sublime que nos dá da Sua humildade: "O Filho do homem nada pode fazer por si, mas somente aquilo que vê o Pai fazer. As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo. O Pai que permanece em mim opera por si essas obras". Jesus coloca-Se no último lugar da humanidade. Chama-se, nas palavras do profeta Isaías, um verme, o último dos homens. E não nos diz São Paulo que Ele Se humilhou e Se aniquilou até revestir a forma de escravo? E eu teria medo de descer ao Seu encontro!...
2º. - A humildade verdadeira rende a Deus toda a glória das Suas obras, não guardando para si senão a humilhação inerente às suas imperfeições. Não se vangloria dos êxitos felizes. Não se lastima dos infelizes. Não se glorifica das qualidades, dos talentos, da posição. Tudo a Deus pertence.
Não fala em si. Receia a glória e o renome, temendo que lhe sejam a recompensa única. E, em vez de ver o que tem, vê o que lhe falta. Em vez de virtudes, vê as culpas. Em vez da força, vê a fraqueza. Conserva-se, portanto, sempre recolhida em si mesma, qual a criança que se considera a última de todas. Tal a lei da humildade.
Jesus, ó minha alma, é teu modelo. Chamado, independente de Deus Pai, de bom Mestre, reclama que só Deus é Bom. Ante o povo que O quer proclamar rei, foge para o deserto. Se Lhe louvam os milagres, Ele devolve ao Pai toda a Glória. Seu único desejo é procurar a Glória paterna pela Sua própria abjeção, pelo Seu próprio aniquilamento. E vede quão humilde é Maria! Enquanto o anjo a chama de Mãe de Deus, cheia de Graça, Ela a Si mesma se chama de serva, de escrava.
3º. - A humildade perfeita procura a humilhação e os desprezos que, para a alma verdadeiramente humilde, são um tesouro, uma glória. É o aproximar-se de Jesus humilhado, coberto de opróbrios, tanto em Jerusalém como no Calvário.
Que bela ocasião de dar uma prova de amor, de honrá-lO pelo ato mais perfeito de que dispõe o homem. Mais vale a humilhação do que o sofrimento físico, do que o sacrifício dos bens temporais.
Um só ato de humilhação feito por amor de Deus, eleva a alma até Jesus Cristo, libertando-a da escravidão da vaidade e da vã estima das criaturas.
Deus só raramente concede essas belas ocasiões. Feliz da alma que sabe aproveitá-las.
4º. - A humildade é o triunfo máximo da alma sobre o demônio, que só tem poder sobre nós na medida do nosso orgulho. Daí a palavra do Espírito Santo: "O princípio de todo pecado é o orgulho". A alma, portanto, que for humilde, será como que impecável, e o demônio não terá poder algum sobre ela. Um ato de humildade amedronta-o logo de início e, caso volte à carga, será para atacar a alma pela sua mesma humildade, que lhe é barreira e couraça.
5º. - A humildade triunfa do próprio Deus. Ele não saberá resistir à alma que, culpada, se humilhar aos Seus pés. A humildade desarma-O, arrebatando-Lhe as Graças. Nas provações que envia, nas desolações interiores, a alma que souber humilhar-se, fará violência a Deus, qual o santo homem Jó no seu monturo.
Então, para que Se vingue da derrota, Deus lhe pagará o cêntuplo, elevando-o a um alto grau de oração e à união íntima com Ele.
Se não puderes, portanto, ó minha alma, praticar grandes penitências, consola-te. Podes sempre ser humilde e a humildade supera toda penitência. Se não puderes fazer grandes coisas para Deus, não te aflijas. Podes sempre humilhar-te em Sua Presença. A humildade rende maior glória a Deus do que a conversão do mundo inteiro, sem humildade.
Não sabes orar? Humilha-te e farás a melhor das orações. Não sabes dizer a Deus o teu amor? Humilhante aos Seus pés com Madalena. Grande então terá sido o teu amor enquanto te tornarás como ela, a casta amante do Senhor.
(A Divina Eucaristia, Escritos e Sermões de Sermões de São Pedro Julião Eymard, volume III)
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