São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 37; PL 52, 304-306
O sinal de Jonas
Toda a história de Jonas no-lo revela como uma
prefiguração perfeita do Salvador. [...] Jonas desceu a Jope para apanhar um
barco com destino a Tarsis [...]; o Senhor desceu do céu à terra, a divindade à
humanidade, a Potestade soberana desceu até à nossa miséria [...], para
embarcar no navio da Sua Igreja [...].
É o próprio Jonas que toma a iniciativa de se
deitar ao mar: «Pegai em mim e lançai-me ao mar»; anuncia, assim, a paixão
voluntária do Senhor. Quando a salvação de uma multidão depende da morte de um
só, essa morte está nas mãos do homem que tem o poder de a atrasar, ou, pelo
contrário, de a apressar, antecipando-se ao perigo. Todo o mistério do Senhor
está aqui prefigurado. Para Ele, a morte não é uma necessidade; releva da Sua
livre iniciativa. Escutai-O: «Ninguém Ma tira, mas sou Eu que a ofereço
livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar» (Jo 10,18) [...]
Reparai no enorme peixe, imagem horrível e cruel do
inferno. Ao devorar o profeta, sente a força do Criador [...] e oferece com
medo, a este viajante vindo do alto, a permanência nas suas entranhas. [...] E,
três dias depois, [...] dá-o à luz, para o dar aos pagãos. [...] Foi este o
sinal, o único sinal, que Cristo consentiu em dar aos escribas e aos fariseus
(Mt 12,39), para lhes fazer compreender que a glória que esperavam lhes viesse
de Cristo iria também voltar-se para os pagãos: os ninivitas são o símbolo das
nações que creram n'Ele. [...] Que felicidade para nós, meus irmãos! Nós
veneramos, vemos e possuímos, face a face e em toda a Sua verdade, Aquele que
tinha sido anunciado e prometido simbolicamente.
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