Por Diego López
Marina
Crédito: Diocese de Málaga
Dra. Maria Elvira Roca |
MÁLAGA, (ACI).-
A docente, filóloga e doutora em literatura Maria Elvira Roca Barea gerou um
intenso debate após a publicação de um livro no qual explica as “lendas negras”
instaladas em alguns períodos da história, como a Inquisição Espanhola.
Em uma entrevista
à Diocese de Málaga, a autora de “Imperiofobia e leyenda negra” (“Imperiofobia
e lenda negra”), que não professa nenhum credo, recomendou aos católicos não
terem um sentimento de culpa pela Inquisição que, embora tenha existido, foi
uma “pequena instituição que nunca teve a capacidade de influenciar
decisivamente na vida dos países católicos e da Espanha”.
“O mecanismo da
lenda negra funciona sempre não com uma mentira absoluta, o que se diz costuma
ser verdade. O que acontece é que se magnifica e se cala todas as outras
coisas”, ressaltou a ex-professora da Universidade de Harvard e pesquisadora do
Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha.
A autora
acrescentou que esse sentimento de culpa que permanece até hoje surgiu no
século XVIII após o período do Iluminismo, quando “os intelectuais espanhóis
começaram a assumir como verdadeira essa versão da história que diz que a
Espanha teve culpa por todas as guerras de religião”.
Na verdade,
precisou, alguns grupos geraram nas pessoas a crença de que foi “a intolerância
religiosa dos católicos, com a Espanha na liderança, que causou essas guerras e
que justifica todas as atrocidades que aconteceram na Europa nos séculos XVI e
XVII, etc.”.
Roca Barea
acrescentou que, a partir deste momento, novos intelectuais converteram aquela
visão na versão oficial da história espanhola, que é “assumida por eles como
verdade”.
Os erros sobre a Inquisição Espanhola
Entretanto, a
especialista indicou que naquele tempo a intolerância no tema da religião foi
“o modo de pensar de todos”, por isso, dizer que nesse sentido os espanhóis
foram intolerantes por causa da Inquisição “é a falsidade de todas as
falsidades”.
“O que devemos ver
é de que modo era controlada essa intolerância religiosa em cada local e, desde
o princípio, foi muito mais civilizada e mais compreensiva no lado católico e
logo na Espanha”, acrescentou.
A especialista
citou como exemplo a Inglaterra ou os principados luteranos protestantes no
norte da Europa, onde as perseguições foram “horríveis”.
“Aparte –
continuou – todo o fenômeno de caça às bruxas, absolutamente demente, que
causou milhares de mortes. Isso não aconteceu no mundo católico e nem na
Espanha porque existia a Inquisição, que evitou aquelas barbaridades”.
Roca Barea disse
que a Inquisição católica foi “uma instituição muito organizada, muito mais
regulamentada do que qualquer outra em seu tempo e na qual a religião
continuava sendo tema de religião e não do Estado”.
“Tratava-se de
delitos que ainda hoje são tais, como por exemplo, os que eram conhecidos como
delitos contra a honestidade: o lenocínio, a pedofilia, o tráfico de pessoas, a
falsificação de moedas e documentos... Tinha um campo muito amplo de trabalho”.
Rocha Barea
revelou que “todas e cada uma das sentenças de morte” que foram assinadas na
Espanha foram “muito bem documentadas” nos estudos como os do professor
Contreras ou o de dinamarquês Henningsen.
“A Inquisição
julgou cerca de 44.000 casos entre 1560 e 1700, causando a morte de aproximadamente
1340 pessoas. E essa é toda a história. Calvino colocou 500 pessoas na fogueira
em apenas 20 anos por heresia”, detalhou.
A Igreja Católica deve se
defender
Por outro lado, a
autora manifestou os católicos não “podem ter” esta atitude de “perder a
batalha cultural”.
“Deve reagir,
porque não é prejudicial apenas para os católicos, crentes ou não crentes, mas
para o mundo que a Igreja Católica gerou”, acrescentou.
A especialista
disse que “a religião católica foi responsável por conquistas muito
importantes, coisas muito boas que fez pelo mundo e pela sociedade”. “Por que
não ensina esse lado de si mesma que é lindo e que mereceria ser mais
conhecido? ”.
“Embora eu não
seja crente, levo os meus filhos na catequese e tenho as minhas discussões com
o sacerdote do bairro. Digo-lhe: ‘Vamos acabar sendo os agnósticos e ateus de
boa vontade os que limparemos o nome da Igreja, porque vocês têm uma
passividade absolutamente incompreensível’”, enfatizou Roca Barea.
Finalmente, a
especialista também criticou aqueles que pensam que agir contra o catolicismo é
sinônimo de “modernidade”, porque não percebem que estão “matando” a si mesmos,
“sendo crentes ou não crentes”.
“Porque você está
renegando o seu passado e os seus antepassados e essas são as bases que nos
sustentam. E sem eles, desabamos. E se nós desabamos, outros ficarão em cima”,
concluiu.
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