Por LifeSiteNews,
Roma, 26 de agosto de 2019 | Tradução: Hélio Dias Vian – FratresInUnum.com – A decisão do Vaticano de implementar um documento
afirmando que a “diversidade de religiões” é “desejada por Deus”, sem corrigir
esta declaração, equivale a “promover a negligência do primeiro mandamento” e a
uma “traição ao Evangelho”, disse Dom Athanasius Schneider.
Em entrevista exclusiva ao LifeSiteNews sobre
uma iniciativa apoiada pelo Vaticano para promover o “Documento sobre
Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos”, o Bispo-auxiliar de
Astana, no Cazaquistão, disse que “por mais nobres que possam ser os objetivos
de ‘fraternidade humana’ e ‘paz mundial’, elas não podem ser promovidas à custa
de relativizar a verdade da unicidade de Jesus Cristo e Sua Igreja”.
A divulgação desse documento nesta forma incorreta
“paralisará a missão ad
gentes da Igreja” e “sufocará seu zelo ardente de evangelizar
todos os homens”, disse Dom Schneider. E acrescentou: “As tentativas de paz
estão fadadas ao fracasso se não forem propostas em nome de Jesus Cristo”.
Um “Comitê Superior”
Na semana
passada, o Vaticano anunciou que havia sido estabelecido nos Emirados Árabes
Unidos um “Comitê Superior” de várias religiões para implementar o “Documento
sobre Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos”, assinado pelo Papa
Francisco em 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, juntamente com Ahmad
el-Tayeb, grão-imã al-Azhar, durante uma visita apostólica de três dias à
Península Arábica.
Os membros
da comissão de sete membros (católicos e muçulmanos) incluem o secretário
pessoal do Papa Francisco, Pe. Yoannis Lahzi Gaid, e o presidente do Conselho
Pontifício para o Diálogo Interreligioso, arcebispo Miguel Angel Ayuso Giuxot.
Em
comunicado divulgado na segunda-feira, 26 de agosto, o porta-voz do Vaticano,
Matteo Bruni, disse que o Papa Francisco “encoraja os esforços do Comitê para
difundir o conhecimento do Documento; agradece aos Emirados Árabes Unidos pelo
compromisso concreto demonstrado em nome da fraternidade humana e expressa a
esperança de que iniciativas semelhantes possam surgir em todo o mundo”.
Documento controvertido
O documento
de Abu Dhabi gerou polêmica ao afirmar que “o pluralismo e a diversidade” de
religiões são “desejados por Deus”.
A passagem
que suscita controvérsia diz:
“A liberdade
é um direito de toda pessoa: todo indivíduo desfruta da liberdade de crença, pensamento,
expressão e ação. O pluralismo e a diversidade de religiões, cor, sexo, raça e
linguagem são desejados por Deus em Sua sabedoria, através da qual Ele criou
seres humanos. Essa sabedoria divina é a fonte da qual deriva o direito à
liberdade de crença e a liberdade de ser diferente. Portanto, o fato de as
pessoas serem forçadas a aderir a uma determinada religião ou cultura deve ser
rejeitado, assim como a imposição de um modo de vida cultural que outras
pessoas não aceitam.”
Em 1º de março de 2019, durante uma visita ad limina dos bispos
da Ásia Central a Roma, Dom Schneider, cuja diocese está localizada em uma
nação predominantemente muçulmana, expressou preocupação com essa formulação ao
Papa Francisco. O Papa disse que a frase em questão sobre a “diversidade de
religiões” significava “a vontade permissiva de Deus”, e deu permissão
explícita a Dom Schneider e aos outros bispos presentes para citar suas
palavras.
Dom
Schneider, por sua vez, pediu ao Papa que esclarecesse a declaração de maneira
oficial.
O Papa
Francisco apareceu para oferecer um esclarecimento informal em sua audiência
geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, mas nenhum esclarecimento ou
correção oficial ao texto foi dado até o momento.
Nesta
entrevista exclusiva, Dom Schneider revela novos detalhes sobre sua
interlocução direta com o Santo Padre na reunião de 1º de março. Ele também
discute suas opiniões sobre o esclarecimento informal do Papa na audiência
geral de 3 de abril e a gravidade do estabelecimento de um “Comitê Superior”
para implementar o documento de Abu Dhabi na ausência de uma correção oficial
da passagem controversa.
Segundo Dom
Schneider, ao impulsionar o documento de Abu Dhabi sem corrigir sua afirmação
errônea sobre a diversidade das religiões, “os homens da Igreja não apenas
traem Jesus Cristo como o único Salvador da humanidade e a necessidade de Sua
Igreja para a salvação eterna, mas também cometem uma grande injustiça e pecam
contra o amor ao próximo”.