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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Paix Liturgique: Experiência de paróquia que celebra tanto a forma ordinária como aquela extraordinária do Rito Romano


A participação da Paix Liturgique na conferência Sacra Liturgia de 2015, no início de Junho, em Nova Iorque, foi ocasião para descobrir a única paróquia de Manhattan que todos os dias oferece tanto a Forma Ordinária do Rito Romano como aquela Extraordinária: a paróquia dos Santos Inocentes (“Holy Innocents”), situada na 37th Street West, a dois passos da Broadway. O pároco, o Pe. Leonard F. Villa, nomeado em dezembro de 2014, dispôs-se a no-la descrever e a dar o testemunho da sua experiência de aplicação serena e generosa do motu proprio Summorum Pontificum.


I – Uma paróquia em plena renovação

Erigida em 1868, na parte sul de Manhattan, no coração do que era outrora a Pigalle nova-iorquina, e passando depois a ser considerada o "Garment district" (o quarteirão dos tecidos e da moda), a paróquia dos Santos Inocentes, há muito que ganhou a fama de ser a paróquia dos atores, dada a sua proximidade dos teatros da Broadway. Tendo a frequência dominical decaído no entretanto, já que se trata de um quarteirão de espetáculos e comercial, mais do que residencial, viu-se a braços nos tempos mais recentes com a ameaça da extinção, por ocasião de um plano de reestruturação diocesana. Mas eis que, de repente, o arcebispo de Nova Iorque, o Cardeal Dolan, se viu confrontado com o renascimento da paróquia desde que se abriu à forma extraordinária do rito romano em 2009-2010. De facto, desde então, a frequência das missas dominicais triplicou. Foi aí que o arcebispo não apenas confirmou o seu estatuto paroquial, como até lhe deu um novo pároco, já que era desde 2013 que a paróquia estava desprovida de um.

A igreja neogótica, construída em 1870, tem por principal atração o afresco do retábulo representando a Crucifixão, pintado por Costantino Brumidi, o artista que decorou o interior da Cúpula do Capitólio de Washington. Este afresco recuperou todo o seu esplendor em 2013, após a sua restauração, encomendada pelo Pe. Kallumady, pároco dos Santos Inocentes entre 2007 e 2013. Foi este sacerdote ordenado em 1973 na Índia, seu país de origem, que introduziu a liturgia tradicional na paróquia, o que explicou deste modo durante uma entrevista concedida à revista diocesana: "Dado que se trata de uma paróquia de gente dos arredores, que aí acorrem apenas durante a semana, estava à procura de uma comunidade que pudesse preencher os domingos, e foi aí que me virei para os fiéis ligados à liturgia tradicional. A experiência foi boa, e agora temos uma centena de fiéis que assistem todos os domingos à missa em latim. São muito ativos e participam em todas as atividades da paróquia, mesmo vindo de longe, e com alguns, que até vêm de Long Island. Todos eles são bem-vindos, e isto contribui para a originalidade da paróquia."

Depois da saída do Pe. Kallumady, a paróquia foi administrada pelo Pe. Rutler, um famoso pregador e evangelizador nova-iorquino, que, estando familiarizado com a liturgia tradicional, consolidou a renovação que se havia começado, e assim até à nomeação do Pe. Villa no Inverno passado. Depois de alguns anos passados no Exército e ao serviço dos sem-abrigo e de alcoólicos em Nova Iorque, o Pe. Villa esteve ao serviço de uma paróquia durante 22 anos, em Yonkers, um município limítrofe do Bronx, onde já havia introduzido a forma extraordinária do rito romano logo desde 14 de setembro de 2007, dia da entrada em vigor do motu proprio de Bento XVI. Condutor de homens posto ao serviço da salvação das almas, o Pe. Villa disse aos paroquianos qual era o caminho a seguir logo desde o seu primeiro sermão: consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria, a devoção ao Santíssimo Sacramento e a prática da confissão. O Pe. Villa está convencido de que, antes de se dar testemunho de Cristo com a palavra, é preciso começar a viver na Sua presença, à imagem da Bem-aventurada Virgem Maria e de São José.

Assim, para além da celebração de quatro missas de segunda a sexta-feira (uma pela manhã e duas à hora de almoço na forma ordinária, e uma na forma extraordinária ao fim da tarde) e de duas missas ao sábado e ao domingo (forma extraordinária às 13h00, aos sábados, e às 10h30, aos domingos), nos Santos Inocentes, hoje em dia, há também a recitação do Terço quotidiano, a adoração eucarística todas as tardes, aos dias de semana, e vésperas solenes ao domingo. Por regra, a forma extraordinária é cantada, exceto às segundas e às quintas.

II – Entrevista com o Pe.Villa

Paix liturgique – Quando é que começou a conhecer a forma extraordinária do rito romano?
Pe. Villa: Eu cresci com a liturgia tradicional antes do Concílio Vaticano II, e conhecia-a bem graças ao zelo eficaz dos redentoristas alemães que tinham a seu cargo a paróquia da minha infância. (Most Holy Redeemer, New York, NY).

Paix liturgique – Teve dificuldade para aprender a celebrá-la?
Pe. Villa: Na realidade, como desde os 13 anos que era mestre de cerimónias, não me custou muito começar a oferecer a missa na forma extraordinária. E, começando a praticar, veio-me logo tudo à memória.

Paix liturgique – O Sr. Padre é o que se costuma dizer um sacerdote in utroque usu, que celebra tanto numa como noutra das formas do Rito Romano. A sua maneira de celebrar a forma ordinária foi influenciada pela forma extraordinária?
Pe. Villa: Sempre me senti à vontade com a forma extraordinária, e, vistas as lacunas presentes no Novus Ordo, devo dizer que ela já influenciava a minha maneira de celebrar bem antes do motu proprio Summorum Pontificum. Diria mesmo que desde a minha ordenação que sempre tive tendência para me inspirar na liturgia antiga.

Paix liturgique – Como é que os seus fiéis reagiram, tanto em Yonkers como nos Santos Inocentes?
Pe. Villa: Muito bem. Em pouco tempo, a assembleia tornou-se tão numerosa como a da missa ordinária. Duas vezes por ano, também a celebrava para os alunos das escolas das redondezas, e os acólitos eram formados em ambas as formas do rito. A maior parte das vezes, celebrava a missa dialogada, em que os fiéis podem responder livremente em latim. Quanto ao coro paroquial, cantava gregoriano ou em polifonia tanto para a forma ordinária como para a extraordinária.

Paix liturgique – O que chama a atenção a quem quer que assista à missa nos Santos Inocentes, seja ao domingo ou à semana, é a diversidade dos fiéis: veem-se todas as etnias, todas as idades e todos os grupos sociais. Acolhem todos eles a forma extraordinária com o mesmo entusiasmo?
Pe. Villa: O que chama a atenção a quem quer que assista à missa nos Santos Inocentes, tem um nome: a reverência. Diria que ela foi muito bem aceite por todos, mesmo sendo aí celebradas as duas formas do rito.

Paix liturgique – A nova evangelização, que, de fato, é muitas vezes uma re-evangelização, é dos maiores desafios da Igreja de hoje : tendo em conta a localização dos Santos Inocentes, a dois passos dos divertimentos da Broadway e no coração do quarteirão industrial de Manhattan, é natural que não tenha mãos a medir?
Pe. Villa: A nova evangelização não é outra coisa senão evangelização: o ensino da fé católica. Aqui, temos a oportunidade de evangelizar por meio da liturgia, do confessionário, das devoções, do boletim paroquial e de uma boa imprensa. Vamos reativar a Legião de Maria na paróquia, e conto com ela para animar o centro móvel de informação católica, uma mini-biblioteca itinerante, além de um círculo de apologética, os Patrícios, durante o qual os fiéis têm a oportunidade para aprender e se familiarizar com a sua fé e para a aprofundar.

Paix liturgique – O Papa Francisco convida regularmente a que “saiam”: também lhe acontece ter de literalmente sair de dentro das suas paredes para atividades litúrgicas ou outras, pelas ruas de Manhattan?
Pe. Villa: Pelo que me toca, ando sempre vestido como sacerdote quando saio à rua. Isso suscita reações e até já me aconteceu ter de confessar na rua. No que toca à paróquia, participamos juntamente com outras paróquias numa iniciativa de apoio às pessoas que vivem na rua. A igreja e o átrio da paróquia, onde existe uma loja de artigos religiosos, atraem pessoas durante todo o dia. Além disso, há ainda as procissões por ocasião de grandes festas como a do Corpo de Deus ou no São Martinho.

Paix liturgique – É bem sabido que, na Europa, a secularização se apoderou da sociedade cristã. Ainda assim, será que há alguma coisa do catolicismo europeu de que sinta falta aqui, em Manhattan?
Pe. Villa: Muitas das raízes da nossa fé estão na Europa, onde há numerosos lugares santos. Para falar só da França, penso nos tantos santuários ou cidades ligadas a grandes santos: Notre-Dame; o São Sulpício; o santuário da Medalha Milagrosa ou o Sacré- Cœur em Paris, mas ainda Ars Paray-le-Monial, La Salette, Lourdes, etc.

Paix liturgique – Uma última palavra?
Pe. Villa: Creio que a forma extraordinária ainda não deixou de dar frutos à Igreja e constato que continua a desenvolver-se. Rezo para que possa continuar a influenciar a forma ordinária e, assim, possa contribuir para a libertar dos demasiados abusos que a afligem.

III – As reflexões da Paix liturgique

1) “Que quem tiver ouvidos ouça! ” Uma paróquia que, ameaçada de extinção, para se relançar, recorre à introdução da forma extraordinária. E funciona! Em Manhattan, coração da modernidade e da abundância. A isso chama-se “fazer experiência da tradição”, o que, na prática, é a única “reivindicação” manifestada, desde a reforma litúrgica, por tantos católicos, sacerdotes ou leigos, ligados à liturgia tradicional da Igreja. Infelizmente, deste lado do Atlântico, faz-se “orelhas moucas” e prefere-se fechar igrejas – se é que não se as promete aos muçulmanos! – em vez de as abrir ao povo Summorum Pontificum.

2) Este pragmatismo muito americano é o que podemos encontrar na atitude do arcebispo, o Cardeal Dolan, quem, tendo observado o novo despertar a que assistiu esta paróquia depois de aí se ter começado a praticar a forma tradicional, decide salvar a paróquia e dar-lhe um novo pároco que estivesse preparado para dar seguimento e desenvolver a vida paroquial in utroque usu. Este realismo explica a facilidade com que, do lado de lá do Atlântico, as comunidades Ecclesia Dei conseguem tantas novas paróquias e apostolados, e frequentemente após terem negociado pacificamente com o bispo do lugar um autêntico contrato com cláusulas muito concretas e que, em seguida, são escrupulosamente respeitadas por ambas as partes. É também por isso, enfim, que os seminaristas Summorum Pontificum são aceitos como tal em muitos seminários, que, por esse fato, mostram um aumento de entradas que podem fazer empalidecer de inveja os seminários europeus.

3) Depois de termos descoberto esta paróquia dos Santos Inocentes, muitos amigos que conhecem Nova Iorque, contaram-nos que também eles ficaram impressionados com a sua visita à paróquia. Com a dignidade das celebrações, o vigor das homilias, o fervor dos fiéis, mas ainda com esse espantoso “melting-pot”, esse cadinho que é uma imagem de Nova Iorque, onde os diplomatas da O.N.U. estão lado a lado com empregadas de limpeza filipinas da 5ª Avenida e famílias negras do Bronx. Se, a mais disso, levarmos em conta que foi um sacerdote indiano quem fez com que se instalasse aí a “missa em latim”, não podemos senão ficar fascinados com o caráter autenticamente católico, ou seja, universal, da missa tradicional.

Paix Liturgique


http://defensoresdasagradacruz.blogspot.com.br/

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